2º JANTAR
CONFERÊNCIA
10. Setembro. 2003
Ministro Nuno Morais Sarmento
(Textos não revistos pelos oradores. Quaisquer erros são
atribuídos à transcrição não
revista das cassetes)
(Não foi possível gravar o brinde do Grupo
Encarnado)
Carlos Coelho
“Antes de
mais queria agradecer ao Grupo Bege por ter permitido que todos nós aqui na
Mesa, chamada da Presidência, tenham beneficiado da vossa hospitalidade e da
vossa companhia. Queria agradecer à Rita e ao Grupo Encarnado este brinde com
que saudaram o nosso convidado de honra de hoje e a forma muito feliz como
terminaram. Com efeito o Dr. Nuno Morais Sarmento será sempre da Jota, ele
iniciou a sua participação cívica e política na JSD, isso está-lhe com certeza
no sangue, como de todos aqueles que por lá passaram, é um homem que dispensa
apresentações, cuja coragem, cuja integridade, cuja determinação são bem
conhecidas de nós Portugueses. Tem sido muito conhecido pelo dossier RTP, que é
sempre um dossier mediático, mas ele é o Ministro da Presidência e é Vice-Presidente
do Partido, nessa dupla qualidade tem um papel “charneira” na vida política
nacional e na vida partidária.
No retrato falado que nos deu, reconheceu como um
dos seus hobbies preferidos o mergulho, ele mergulha também na política no
sentido que vê as coisas com profundidade e com rigor, a comida preferida é a
portuguesa, o que é uma resposta politicamente correcta e foge àquela
especificidade de pratos um bocadinho mais exóticos que outros ousaram
confessar, o animal preferido é o golfinho, que é para alguns considerado o
animal mais inteligente, depois naturalmente de nós mesmos os homens e as
mulheres. Sugere-nos um livro muito interessante “A Arte da Guerra”, de que é
na prática um livro de estratégia, e, sugere também um filme que marcou também
muitos daqueles que o viram “O Clube dos Poetas Mortos”.
Senhor Ministro da Presidência, Senhor Doutor Nuno
Morais Sarmento, meu caro amigo Vice-Presidente do PSD, muito obrigado por ter
aceite o nosso convite para estar entre nós. Nas suas responsabilidades
políticas cabe-lhe um papel crucial na coordenação da política e do partido
como já tive ocasião de referir. Nós não estamos sozinhos na vida, ouvimos hoje
o Doutor José Correia na sua intervenção que não estamos sozinhos no Mundo, ao
falar de política externa. Mas nós não estamos também sozinhos na vida.
Interagimos com outros, e na política também interagimos com outras pessoas,
com outros agentes, o Governo também interage com outros órgãos de poder, com
outros agentes do processo político, portanto, a questão que lhe gostava de colocar como pontapé de saída para esta
nossa conversa ao jantar, é como é que tem sido a gestão do relacionamento
entre o Governo e os restantes intervenientes da vida política nacional?
A palavra é, portanto, do Vice-Presidente do PSD –
Nuno Morais Sarmento.” (PALMAS)
Nuno Morais Sarmento – (Vice-Presidente do PSD
e Ministro da Presidência)
“Boa noite, muito obrigado pelo convite para aqui
estar. Tiveram hoje o Doutor José Correia, o Doutor Fernando Seara, portanto,
já tiveram uma palestra institucional em primeiro lugar, depois devem ter tido
uma palestra mais animada... (RISOS)
Peço desculpa, aliás, por ter chegado atrasado,
estou cansado, porque comecei o dia, não eram nove da manhã, não sou muito de
fazer madrugadas, confesso, mas estive com o nosso Senhor Primeiro Ministro que
tem insónias, e, portanto, gosta de começar cedo e acabar tarde. Começámos a
trabalhar antes dessa hora, depois vim até aqui, na auto-estrada. Como esta é
uma iniciativa partidária, tive que vir a conduzir de Peugeot. Vinha na faixa
da esquerda na velocidade permitida como é evidente... (RISOS) ...e, chegamos
ao carro da frente, e, um em cada dois, tem duas ou três atitudes, os primeiros
vêm distraídos, completamente distraídos, mas enfim, depois de estarmos de
pisca uns minutos à espera, fazemos uns sinais de luzes, acordam, dão um salto,
o carro dá um salto para o lado, temos a sensação que se vão esborrachar em
qualquer sítio, e, nós em cima deles a seguir... (RISOS) ...temos em alternativa
aqueles que são a maioria, acham que guiar na estrada é uma prova de
virilidade, portanto, ser ultrapassado é uma agilidade do condutor, nós fazemos
sinais de luzes têm que ultrapassar pelo menos mais três, antes de desistir e
de se ver com um ar muito incomodado para quem ultrapassa, para não admitir a
derrota de ter sido ultrapassado... (RISOS) ...fazendo com isso a oitenta à
hora, normalmente quando o nariz desce a oitenta centímetros do volante, com
que a gente venha em bichas sucessivas até ao destino.
Estas são as estradas Portuguesas, andamos lá
fora, em França, na Alemanha, é raro, enfim, poucas vezes me lembro de ter que
fazer sinais de luzes para ultrapassar um automóvel, noventa por cento dos
automóveis desviam-se antes, mas aqui em Portugal temos esta maneira de ser,
ditou algum atraso e peço desculpa por isso.
Segundo o vosso magnífico Reitor durante o dia têm
clientes ao vosso dispor que são os oradores pedagógicos, e, à noite têm os
oradores demagógicos... (RISOS, PALMAS) ...eu vinha com um ar muito
compenetrado... (RISOS) ...falar da relação em termos institucionais dum
Governo que segundo o tema dos restantes intervenientes da vida política
nacional, portanto, vou tentar então saltar rapidamente essa parte e passar
depois à função demagógica... (RISOS). Mas acho que o tema tem interesse,
faltam quinze minutos, vou tentar respeitar religiosamente esse tempo, não acho
que valha a pena estarmos aqui a fazer uma pretensa aula de direito
administrativo ou de ciência e organização política, sobre os poderes
constitucionais ou legais das diferentes institucionais, das diferentes
entidades e de como é que elas se relacionam, mas ainda assim acho que é
importante nesta ideia de que a política é interacção, com um conjunto de
realidades, com outros órgãos de soberania, com a sociedade civil, com partidos
políticos.
Reflectindo uns minutos e olhando para trás, acho
que, de facto, se pensarmos em poder local, regiões autónomas, parlamento,
poder judicial ou posições do Presidente da República, mas principalmente nos
planos institucionais, nos períodos marcantes da história da democracia
Portuguesa, os momentos de mudança e de evolução, de relação entre estas
instituições, com excepção talvez, da tentativa de regionalização por parte do
Partido Socialista, foram quase sempre marcados pelo PSD. Neste ano e meio
procurámos, e, procurámo-lo fazer com convicção, marcar também diferenças de
relacionamento que tem a ver com diferenças de perspectiva, tem a ver com
alterações que consideramos importantes introduzir no relacionamento e na
interacção, entre estas diferentes instituições.
Se repararmos em termos de poder local (como digo
é talvez a única área em que o PS teve uma iniciativa de má memória, que foi
aquela regionalização, mas pelo menos teve uma), os passos significativos de
descentralização do País foram dados, com convicção no tempo dos Governos do
PSD. Por uma razão muito simples, porque a tradição municipalista, a liberdade
e a forma de organização interna, e a participação interna dos autarcas do PSD,
na vida do PSD dita que no resultado colectivo do nosso pensamento haja um peso
e uma preocupação com essa matéria, e, também neste Governo já tinha acontecido
não vou “pre peu peu”, dar-vos agora aqui as referências históricas e o que
seja, mas também neste Governo penso que os passos importantes em termos de
relacionamento com o poder local que não é de menos de sublinhar, acho que
aliás a generalidade do País ainda não absorveu, a maioria de nós não
absorvemos ainda o significado de algumas das transferências de poderes e a
importância que isso pode ter em termos de futuro, que no mandato deste Governo
já se fizeram, falo na educação, falo na saúde, poderei falar noutras áreas em que há, falo na administração
da justiça, poderia falar em quase todas as áreas de governação, em que há uma
aposta séria na atribuição aos municípios de um conjunto competências
precisamente nas áreas em que têm uma melhor capacidade de ler, de sentir as
populações locais e de decidir em conformidade com esse sentimento.
Verifica-se o mesmo com as Regiões Autónomas. O
partido de autonomia é o PSD. O partido de autonomia na história da democracia
Portuguesa é o PSD, não há mais nenhum. Mais uma vez neste mandato sem
distinguir Madeira e Açores, (temos uma situação política diferente na Madeira
e nos Açores) também aí se deram nalgumas destas áreas passos muito importantes
na atribuição de poderes. Iremos até à autonomização da televisão se “Deus”
quiser, passos importantes precisamente na entrega aos Governos Regionais, às
Comunidades Regionais, na capacidade de gerir os seus próprios destinos.
No que respeita ao Parlamento, o Primeiro Ministro
teve vinte e uma vezes no Parlamento durante este ano e meio. Não há nenhum
paralelo na história, e, não é por um campeonato de presenças. E porque, ele
acredita sinceramente que a forma de relacionamento do Governo com as
diferentes Instituições, mas muito particularmente com o Parlamento, com o
Presidente da República, com as oposições, é uma medida da qualidade da nossa
democracia. E a medida dessa qualidade não era famosa. Durante muitos anos não
foi famosa, ela tem que ser dignificada e o Governo tem essa responsabilidade,
ainda que às vezes seja mais apetecível não ir lá ou não ir lá tantas vezes,
porque muitas vezes também infelizmente a discussão que lá tem lugar não é a
discussão substantiva dos temas que interessam, é uma discussão adjectiva
tantas vezes sobre questões incidentais ou mais acessórias que não interessam.
Mas ainda assim vinte e uma vezes esteve o Primeiro Ministro, mais de duzentas
presenças dos membros do Governo durante este ano e meio na Assembleia da
República, não tem nenhum paralelo na história da democracia Portuguesa, mais
uma vez porque acreditamos que é importante ter essa participação e esse
relacionamento... (PALMAS)
O Poder judicial é um tema muito sensível. Há uma
interacção permanente com todos os operadores judiciários. Os operadores
judiciários são os Sindicatos, são os advogados, são os magistrados, e com
todos eles interagimos no que respeita às reformas a introduzir no edifício da
Justiça. No que respeita à actuação da justiça “Let’s go up the driving seat”
como dizem os ingleses. O Governo não tem que se imiscuir na Administração da
Justiça, tem que respeitar a Administração da Justiça, é tão simples quanto
isto. Às vezes parece que é muito difícil abordar este tema mas não o é se for
visto sob o ponto de vista na interacção permanente na reforma das estruturas,
nos avanços que são precisos, na reforma do processo executivo, na privatização
dos notários, no código das custas judiciais. Quando se trata da administração
da justiça, na aplicação da justiça, é a justiça que o faz. O Governo a única
responsabilidade que tem é de disponibilizar meios, dentro das possibilidades
que temos, para que a justiça funcione.
O Presidente da República também é, estou a falar
da relação Presidencial e não da questão Presidencial, bem entendido... (RISOS)
...não vou falar da questão Presidencial, porque acho que, em primeiro lugar o
Presidente do Partido disse-o: “não é momento para falar na questão
Presidencial”, eu sou um militante disciplinado, e, em segundo lugar porque
concordo com ele. Acho que, de facto, não é o momento para estarmos a falar
dessas questões. Temos outras mais urgentes em cima da mesa. Temos antes dessas
eleições, eleições Regionais e eleições para o Parlamento Europeu, que são
decisivas, são eleições importantíssimas. Temos matéria suficiente para
trabalhar, e há questões que o tempo responde. Acho que ter alguma experiência
em política é perceber que o tempo responde. Acho que ter alguma experiência em
política é perceber que o tempo como na vida nos dá muitas vezes respostas ao
longo do caminho que não vemos quando começamos o caminho. O tempo para mim é
como concentrarmo-nos num carreiro de floresta. À partida vemos o caminho em
que estamos, à medida que vamos avançando vamos vendo as derivações, as
alternativas que ele tem. Da entrada não as vemos, não temos que no ponto de
partida ver todas as alternativas, considerar todas as alternativas, resolver
todas as alternativas, muitas vezes quando chegamos lá a equação não é a mesma.
Portanto, com calma, com serenidade, com
inteligência, vou deixar a questão Presidencial para a próxima Universidade de
Verão, e, falar-vos da relação Presidencial. É uma questão que parece, nos
mídia, uma questão picante. Não tem pico nenhum. Porém é uma relação
institucional. O que aconteceu entre este Governo e o Presidente da República
foi uma relação leal e de respeito mútuo, ponto final. O Presidente da República
correspondeu, e, o Governo correspondeu ao Presidente da República, há respeito
sério e há colaboração leal, respeitam-se as competências distintas de cada um,
e as coisas funcionam como devem funcionar. Mais uma vez devo dizer, deve-se
obviamente à qualidade das duas pessoas, mas deve-se de uma maneira muito
particular, em minha opinião, à qualidade de um Primeiro-Ministro que sabe não
viver acossado no protagonismo das competências alheias, e, viver antes
concentrado no exercício das competências próprias... (PALMAS).
Depois poderíamos detalhar, uma infinidade de
outras entidades com que nos relacionamos. Eu salientaria em particular o tipo
de relação não institucional, que é a relação do Governo, ao fim ao cabo com o
País, com a sociedade civil directamente, nas suas diferentes formas de
organização. Houve uma intenção, houve uma agenda intencional de envolvimento
por parte deste Governo nessa aposta, nessa relação. Se perceberem o pensamento
do Primeiro-Ministro é simples, é lerem uma Moção que ele apresentou num
Congresso em Coimbra quando assumiu a Presidência do partido. Ler essa Moção é
perceber um bocadinho a forma como ele vê esta relação entre o Estado e a
sociedade civil, e, a importância que ele atribui à libertação da sociedade
civil, do peso do Estado, da asfixia, da insuficiência tantas vezes penalizante
do Estado. Fizemo-lo com os parceiros sociais, num quadro difícil. O código de
trabalho levámo-lo contra todas as críticas, ao ponto de envolvermos o conjunto
dos parceiros não apenas das entidades patronais, mas dos sindicatos, e, ter a
assinatura da UGT para esse efeito, porque achámos que era importante nesse
quadro ter o conjunto dos parceiros sociais nessa como noutras matérias. Nós
temos um tecido muito frágil em termos de parceiros sociais, quer do lado
patronal, quer do lado sindical. Temos um tecido frágil, nuns casos
ultrapassado, noutros casos envelhecido, noutros casos frágil na sua base de
sustentação. É assim muito importante que o Governo tenha a iniciativa de
ajudar a fortalecer o papel dos parceiros sociais, de grupos privados. Uma
ideia transversal a toda a governação, são as parcerias público privadas, em
várias áreas. A ideia é esta mesma, é entregar à sociedade civil. Nós temos que
cortar fatias do Estado, não há nenhuma razão, poder-se-iam dar outros, mas dou
o exemplo das cartas de condução. São os milhares de funcionários públicos que
passam que estão à volta do sistema de passar as cartas de condução. Não há
nenhuma razão para que seja o Estado a passar as cartas de condução, não há
nenhuma.
Tivemos aliás nessa matéria o cuidado de pegar na
situação teoricamente mais difícil que são os notários, porque nos actos
notarias toda a gente dizia: “não se pode mexer nos notários, porque nos
notários está a segurança do comércio jurídico, portanto, cuidado com o que
fazem aí, porque se não põem em causa a segurança do comércio jurídico”. Nós
avançámos para a privatização dos notários desassombradamente. Aliás não
inventámos nada. Noutros Países da Europa essa privatização está feita. E até
para mostrar que se podemos ir aí num acto que tem fé pública, que garante a
segurança do comércio jurídico, do comércio entre pessoas, entre sociedades
comerciais, porque é que não podemos (quem pode o mais, pode o menos), cortar
uma série de outras funções do Estado, e, pura e simplesmente entregá-las à
sociedade civil. Elas são mais eficientemente feitas com vantagem para todos
pela sociedade civil do que pelo Estado. Na dois, dizia-se que era impossível.
Primeiro, queria matar a televisão, depois queria estrangular a televisão,
depois queria assassinar a televisão. Depois em relação ao canal dois, tinha
encontrado uma ideia, que não era uma ideia de início, era um escape de
chegada. Reencontrei outro dia, devo dizer que andei oito meses há procura
dele, um papel que recebi e que depois trabalhei com a Helena Vaz da Silva em
Maio, quando tínhamos a RTP em pleno prec, e, que foi o papel inspirador.
Estava a vê-lo oito meses depois. Chegámos precisamente, ano e meio depois,
àquela que era a ideia original que tínhamos no ponto de partida. Tenho-a por
convicção, acredito que é possível, se não funcionar é porque o País não
funciona. Eu acredito que o País funciona. Acredito que temos uma série brutal
de energias na sociedade civil portuguesa que muitas vezes não aproveitamos, e,
que muitas vezes o Estado asfixia, porque habitua negativamente a sociedade
civil a uma dependência ou a uma substituição pelo Estado que não é positiva.
Poderia, continuar a falar de relacionamentos.
Darei a minha opinião pessoal em relação a todos estes relacionamentos que
referi, muito rapidamente, Poder Local: diria positiva mas tensa,
excessivamente tensa, na minha opinião pessoal. Sou militante do partido, tenho
direito a dá-la. Estamos aqui na Universidade da JSD. Acho que foi
excessivamente tensa. É um diálogo difícil, um tempo difícil, dificuldade,
contenção, etc., mas foi excessivamente cooporativa por vezes a reacção do
Poder Local durante este ano e meio, isso criou tensões desnecessárias que não
foram positivas nos resultados; Regiões Autónomas: francamente positiva,
procurando do lado do Governo não fazer política encontrando na região autónoma
nos Açores, um Governo que muitas vezes, não tem cara de nos criticar, porque
penso que reconhece termos actuado nas mesmíssimas condições para uma e outra
Região Autónoma, mas que nem sempre teve um relacionamento institucional, fez
muita política, está em pré-campanha eleitoral cedo de mais. Penso que as
pessoas respondem pelos seus actos, portanto, é uma avaliação que no próximo
ano as eleições regionais fará, e, devo dizer que nessa matéria, tenho, como
militante do PSD, uma enorme alegria e devo dizer orgulho, em ver alguém que
também foi militante da JSD que é o Vítor Cruz, que é um homem de
extraordinária qualidade, como candidato do PSD nas próximas eleições a
Presidente do Governo Regional, orgulha-me ver neste caso como noutros, pessoas
da nossa geração, estou a falar da do Carlos, eu ainda me acho da JSD, tenho o
síndroma da eterna criança... ( RISOS ).
Lembro-me que aos dez anos, quando os meus pais
fizeram quarenta anos, eu tinha cerca de dez anos, lembro-me ter tido a
sensação estranhíssima que a partir daquele momento eu tinha que começar a
tomar conta dos meus pais, eles tinham que ser protegidos. Lembro-me de ter
dezoito anos e achar que os meus pais estavam, enfim, completamente
ultrapassados, incapazes de produzir uma ideia positiva que fosse para o meu
desenvolvimento enquanto ser humano... (RISOS) ...agora tenho quarenta anos e
não estou muito disponível para ouvir alguém dizer-me isso... (RISOS, PALMAS)
Em relação ao Parlamento, tenho pena que o
Parlamento não aproveite. Acho que temos que dar uma volta no nosso sistema.
Quando o Parlamento não aproveita, e, tempo inútil se perca no Parlamento,
perdemos todos. Eu nunca fui parlamentar, tenho o maior respeito pela função
parlamentar, mas nunca fui. A primeira vez que isso se pôs como hipótese, eu
era Presidente da Distrital de Lisboa da JSD, o Carlos Coelho não gosta que eu
lembre essas coisas... (RISOS) era Presidente da Distrital de Lisboa da JSD,
fui durante vários anos, e, a Distrital de Lisboa era uma aldeia de
irredutíveis gauleses, cercada de romanos por todos os lados ou seja pelo resto
da JSD, portanto, vivíamos em oposição permanente à Comissão Política Nacional,
que era o Carlos... (RISOS) ...a certa altura houve o Pedro Pinto, nós vivíamos
ali em oposição. Quando chegava a altura das eleições havia aquela
possibilidade da JSD indicar um Deputado para Lisboa, se o resultado fosse
muito bom podiam indicar dois Deputados, nós fazíamos a nossa escolha, depois a
Comissão Política Nacional da JSD (?) punha os deles... (RISOS) ...portanto, a
gente não conseguia... (RISOS) ...a certa altura lá se colocou a hipótese, eu
estava a meio do curso, e, a nossa discussão na JSD tinha muito a ver, alguns
dos que aqui estão já me ouviram falar sobre isso em Santarém, tinha muito a
ver com a maneira como eu sempre entendi, a passagem pela política. Li algures
no Jornal que o Mota Amaral falou aqui também disso. Sempre achei que a JSD é
uma coisa fantástica, e, acho, pode ser uma coisa trágica na vida de qualquer
um nós se não percebermos que isto é uma passagem, um sonho, é uma causa, não é
um modo de vida... (PALMAS) ...temos que encarar a política desta forma, achei
que não podia deixar de acabar o meu curso empacotado, e, se fosse empacotado
não acabava curso coisa nenhuma, portanto, a coisa não se proporcionou, depois
é como aqueles desencontros que quando não acontecem à primeira, já não
acontecem nunca mais... (RISOS).
Não aconteceu, mas tive pela primeira vez a
experiência de Parlamento como membro do Governo. Devo dizer que me faz
confusão o tempo que se perde, a quantidade de pessoas capazes que estão ali a
produzir zero, aquelas Sessões intermináveis, estamos ali cinco horas, cinco
horas sem fazer nada, quando são aqueles debates mensais, etc. . Eu não posso
falar, não posso aplaudir, não posso assobiar, não posso fazer caretas, o mais
que posso é ir à casa de banho de vez em quando. Aquilo tem tantos tempos, que
me faz confusão a organização, enfim.
Relação com a oposição, aqui tenho uma opinião
muito pessoal, acho que nós não conseguimos que o nosso sistema político dê um
passo em frente, acho que esta é uma questão que daqui por dez anos continuará
provavelmente, infelizmente, em cima da mesa, que é uma questão para muitos de
vocês decidirem daqui por dez anos provavelmente, enquanto não mudarmos o
estatuto da oposição. Não é dar à oposição mais tempo para fazer mais “sound
bytes” alucinados ou não alucinados, naquela diatribe parlamentar ou no diálogo
político, não é isso. É criar condições para que os partidos da oposição,
principalmente os partidos de poder, os partidos de Governo, possam, não
estando no Governo, ter condições de ter escolas de formação, condições para
que mais novos ou mais velhos possam fazer reflexão, possam fazer carreira
académica, continuando a dar conta e luta aos partidos. Neste momento, tirando
o Parlamento, não existe em Portugal. Noutros Países, é mais simples, são
Países com sistema de dois partidos, em que há esses espaços. Se é no Banco de
Portugal, se é no Instituto Nacional de Administração, se é no Instituto de
Altos Estudos Militares, é em Órgãos do Estado de natureza reflexiva e não
executiva, onde há espaço para que aqueles que estão na oposição possam ter
alguns dos seus melhores quadros, a contribuir para essas reflexões, mas a ter
tempo disponível para fazer política com qualidade, porque se não o que
acontece é que a oposição não tem condições de fazer política com qualidade, e,
acaba em cada proposta, em cada reforma, não a discutir a substância da
reforma, porque não tem condições, muitas vezes não tem. O Carlos Coelho esteve
no Grupo Parlamentar e sabe o que é que é este calvário, tudo o que há são os
Assessores do Grupo Parlamentar, que são alguns, e, os Deputados. Não há mais
nada. Os partidos quando estão na oposição não têm outras condições, porque as
pessoas estão nas suas vidas, e, não há esta cultura de haver a possibilidade
de as pessoas desses partidos estarem noutras funções que lhes permitam
contribuir para a vida destes partidos, e, fazer com que a discussão da
oposição com o Governo, não seja uma discussão tantas vezes desigual, e, que
por isso a oposição reconduz necessariamente, não há discussão da substância,
mas há discussão da forma da política. Portanto, critica-se, por se criticar,
“vai-se”, atira-se ao Ministro, não se sabe da matéria, não se tem condições,
não se teve tempo, não se pode preparar. Acho que isto prejudica os partidos da
oposição, prejudica o Governo, prejudica o diálogo positivo, que devia ser um
diálogo positivo, entre o Governo e oposição, em que a intervenção da oposição
devia contribuir para elevar a qualidade da actuação do Governo por níveis de
exigência. Descentra a discussão das questões que interessam, para as questões
de forma e para as questões meramente adjectivas, e, impede que haja um
percurso de quadros nos partidos, que possam fazer este percurso com dignidade,
com condições, contribuindo para a vida do partido.
Não sei se no partido toda a gente concorda,
porque o partido agora é poder, mas acho que nós ou um dia somos inteligentes e
percebemos que não é dos partidos que estamos a falar, estamos a falar do País,
e, que isto é um passo inevitável, ou não conseguirmos sair deste bloqueamento.
Grande parte dos maus momentos políticos têm a ver com isto. Por não haver
condições técnicas de discutir os assuntos, não se pode discutir a técnica, a
gente não pode discutir a substância, discute a forma, diz umas bocas, critica,
manda umas coisas, fica-se por ali, e, quem perde, o que perde é a solução dos
assuntos.
Outra nota sobre relação, tem a ver com a
participação da sociedade civil. Isto tem a ver com a JSD, acho que falando por
exemplo da JSD, também já tenho dito isto, já digo isto desde o tempo do Pedro
Passos Coelho. Acho que nós temos que acordar um dia para uma realidade que se
verifica no partido, como na JSD, mas particularmente na JSD. Os jovens hoje
têm menos vontade de participar através de estruturas tradicionais, do que
através de outras formas. Temos que olhar para isto. Não são nem melhores, nem
piores os que estão de uma forma ou de outra, mas há uma diversificação de
formas de participação. Não vou ao exagero da Alemanha, onde através de um blog
se juntam cinquenta pessoas que tiram as calças à mesma hora num sítio
qualquer, também é uma forma de participação... (RISOS) ...mas há uma
multiplicação de formas de participação, não há um défice, ao contrário do que
se pensa os partidos esvaziam-se, a juventude esvazia-se. Não é porque os
jovens não querem participar, não é verdade. Hoje em dia há uma participação
muito maior de jovens noutras formas menos orgânicas, menos institucionais,
menos estruturadas de participação na vida do colectivo, na área desportiva, na
área cultural, na área social, particularmente na área social, aquilo que as
organizações de juventude têm que fazer, parece-me, é saber interagir com essas
realidades, é ter umas parcerias partidárias ou civis, é saber ir buscar essas
realidades, interagir com elas, nas áreas de intervenção delas. Não há nenhum
problema em que a JSD interaja com algumas dessas organizações estruturadas,
com algumas dessas intervenções culturais, sociais ou religiosas, algumas na
fronteira, desportivas, de outro tipo, não há nenhum problema, não vejo nenhum
problema. Estão aí as energias de muitos dos nossos jovens que têm o mesmo
ideal daqueles que aqui estão, que é um ideal de dar qualquer coisa de seu ao
colectivo, é por isso que eles estão em muitas dessas formas de participação,
portanto, há uma conjunção à partida, há que saber ir buscar. Em termos de
Governo é um pouco a mesma ideia, é o saber ir buscar à sociedade civil estas
energias, que são as energias verdadeiramente estruturantes e marcantes nestas
áreas da sociedade portuguesa. Eu acho que no fundo é tão possível em 2003 ou
em 2004, sonhar como se sonhava em 1975. Entrei para a JSD em 1975. É tão
possível hoje como ontem. E sinto de maneira diferente, às vezes com umas
nuvens, às vezes com uns sobressaltos, mas no fundo é o mesmo sonho que eu
tinha em 1975 aquele que me leva a estar aqui hoje. Naquilo que é importante
ele está intacto. É essa capacidade de continuar a ver aproveitando as energias
que existem em novas formas de organização, em novas disponibilidades, para
enfrentar desafios que também são novos, que é a chave do sucesso do futuro das
organizações. E, sendo a chave do sucesso do futuro da JSD, é também uma parte
da chave do sucesso do futuro do PSD. Deixando este tema todo, aquilo que mais
importante, aquilo que mais sinto no fundo olhando para trás, olhando para este
percurso é: só vale a pena estar nesta sala enquanto formos capazes de sonhar,
no dia em que não formos capazes de acreditar que o impossível é possível, que
vale a pena esta ideia de que o Mundo pode ser diferente, porque nós o
conseguimos fazer diferente, nesse dia quem aqui esteja tenha e deixe de sentir
isso, não vale a pena aqui estar, seja na JSD, seja no PSD... (PALMAS) ...e,
que sejamos capazes, porque é isso que não percebem muitos dos nossos
adversários, quando dizem: “bom, mas o PSD é da esquerda, é da direita, o PSD é
de assim, é de assado, o PSD tem o António Borges, tem o Major Valentim
Loureiro, tem o Pacheco Pereira, tem o outro não sei de aonde, como é que as
pessoas convivem”, é esta capacidade de interpretar, de partilhar um sentimento
colectivo que vai muito para além das baias ideológicas, começou assim com Sá
Carneiro, não havia estribos ideológicos fechados, como existem no PS, que
estrangulam o Partido Socialista ainda hoje em dia, é esta capacidade de sentir
colectivamente, de viver o partido, um bocadinho como vivermos as nossas vidas
com a mesma liberdade, mas com a mesma generosidade e capacidade de acreditar
que a chave do futuro, que a chave do vosso futuro, do nosso futuro, do futuro
do PSD.
Muito obrigado.” (PALMAS)
Carlos Coelho
“Muito obrigado. Vamos agora iniciar a fase das
perguntas, de acordo com aquilo que está combinado vamos ouvir duas perguntas e
depois as respostas, portanto, temos cinco blocos de duas perguntas e cinco
respostas do nosso convidado de honra Doutor Nuno Morais Sarmento.
Luís Milton – Grupo Encarnado
“Muito boa noite. Em nome do Grupo Encarnado quero
agradecer a presença de Sua Excelência o Ministro da Presidência – Doutor Nuno
Morais Sarmento, na nossa Universidade, permita-me também que o saúde como
destacado freguês, da freguesia cujo Executivo eu integro, essa nobre freguesia
da Lapa, em Lisboa, e, que como acredito na proximidade entre a população e os
seus eleitos locais... (RISOS) ...estarei totalmente disponível para o
esclarecer sobre as políticas e projectos estabelecidos pelo Executivo...
(RISOS, PALMAS)
Queria também aproveitar esta oportunidade, uma
vez que julgo estarmos todos verdadeiramente agastados de ver a oposição
minimizar o seu trabalho, rotulando Vossa Excelência de Ministro da RTP, para
lhe solicitar que me esclareça sobre as áreas onde incide a actividade de um
Ministro da Presidência, e, se preferir terminando com alguns dos outros
projectos em que está actualmente envolvido.
Muito obrigado.” (PALMAS)
Mário Pimenta – Grupo Verde
“Boa noite Dr. Nuno Morais Sarmento, bem-vindo, eu
iria chamar o segundo “round”, mas desta vez será o segundo golpe.
Do Grupo Verde segue a seguinte pergunta: defina
serviço público, e, refira onde é que ele existe para os jovens, repito para os
jovens... (RISOS) ...na RTP e na Antena 3, que por si só já é dedicada aos
jovens.
Muito obrigado.” (PALMAS)
Nuno Morais Sarmento
“Então vamos ao primeiro “round”... (RISOS) ...sem
problema nenhum. Primeiro ponto: a minha freguesia do coração não é a Lapa, é
S. Sebastião da Pedreira, Secção B, militante desde 1975. Sou, por residência
agora, da Lapa, onde esclareço o meu distinto colega, fui candidato à
Assembleia de Freguesia destas duas últimas vezes, lá estive inteirado e
preocupado com os problemas da Lapa, onde acho que uma mudança geracional...
(RISOS) ...ao nível do Poder Local, nos poderia ajudar a resolver esses
problemas e outros que tal... (RISOS).
Quanto ao papel do Ministro da Presidência, enfim,
é um papel muito variável em função dos diferentes Governos, já tem tido
funções diferentes. A Presidência do Conselho de Ministros é um órgão central
do Governo, é uma espécie de centro, de epicentro se quisermos, de várias actividades
do Governo a nível legislativo e não só, onde estão muitas das intervenções que
têm natureza transversal. É depositário também de algumas outras coisas que às
vezes não se sabe bem onde se devem pôr. De entre as mui nobres funções, em
primeiro lugar e com toda a seriedade, porque são aquelas que no fundo, aquelas
em que eu mais tenho possibilidade de contacto com pessoas, principalmente com
situações difíceis, não digo acção social, mas situações socialmente difíceis,
imigração, o problema da integração dos imigrantes, é talvez o desafio mais
estimulante, porque estamos num tempo em que é muito fácil entrarmos em
discursos demagógicos, de exclusão, de acusação, portanto, de desvalorização
daqueles que são os seres humanos imigrantes que recebemos entre nós, que
trabalham entre nós, e, depois tantas vezes esquecemos com facilidade no
acolhimento que tínhamos a obrigação de lhes dar. É talvez o desafio
humanamente mais rico. A área da igualdade, nova para mim, com a
particularidade de alguns temas, a violência doméstica, alguém falava aqui numa
pergunta, é um dos temas que procurámos sublinhar, porque é um daqueles temas
esquecidos pelo peso da cultura portuguesa, e, que têm uma dimensão
verdadeiramente impressionante em Portugal, e, violência doméstica não é só
sobre as mulheres, é sobre as crianças e sobre os idosos, o nível de violência
sobre idosos e sobre crianças no seio da família ou da pseudo-família é
completamente intolerável em Portugal. Portanto, imigração, igualdade, processo
legislativo que é de si uma missão relativamente ciclópica e interminável,
acompanhar o processo legislativo desde que ele se inicia, o que os diferentes
Ministérios propõem e que chega à Presidência do Conselho de Ministros. Eu
presido ao Conselho de Secretários de Estado, é preciso fazer a preparação dos
diplomas, é preciso fazer toda a articulação, por vezes negociação no sentido
técnico entre Ministérios, quando há matérias que respeitam a vários
Ministérios. Um dos motores do Governo é o motor legislativo, é ali que em
parte se decide o ritmo das diferentes intervenções do Governo, as prioridades,
as complementaridades. Depois fazer a ligação com o Primeiro-Ministro a
articulação com o Conselho de Ministros, a articulação com a Assembleia da
República, aí com a ajuda do Ministro dos Assuntos Parlamentares, que é um
velho experimentado combatente. Portanto, processo legislativo, imigração,
igualdade. O Instituto Nacional de Estatística é uma coisa esquecida, mas tem
uma importância em Portugal muito particular na necessidade que temos de
actualizar informação. Avançar com as sociedades hoje em dia é tratar
informação, é avançar com informação. Depois o Conselho Nacional para a Ética e
Ciências da Vida, a Empresa Nacional - Casa da Moeda, a Comissão Nacional da
Segurança, enfim, são mais de dezoito entidades deste tipo que estão na
Presidência do Conselho de Ministros, que acompanhamos. Na comunicação..., RTP,
RDP, a relação com os restantes operadores de comunicação, é falar de
comunicação e de telecomunicações, é falar de cabo, é falar de diferentes
plataformas, é falar de imprensa regional, é falar de rádios locais, que são
realidades estruturantes na comunicação em Portugal. E fazer um bocadinho de
“João Semana”, há umas semanas que é ensino recorrente, há outras semanas que é
o problema das águas, há outras semanas que é o problema da GALP e da EDP. Na
função natural que o Ministro da Presidência tem, e, que é uma função que se
pretende invisível, já houve os que usaram esse protagonismo, mas que deve ser
invisível auxiliando o Primeiro-Ministro, nos assuntos em que ele pede, um
momento facilitador, negociador, desbloqueador das tensões.
RTP, RDP serviço público. Acho que a Antena 3 faz
serviço público, desde logo é uma estação que defende e não defende por quota a
música portuguesa como mais nenhuma. Portanto, acho que faz serviço público.
Gosto da Antena 3, e, acho que a Antena 3 poderia ser um bom exemplo para
contaminarmos, com as devidas adaptações, a Antena 2 e a Antena 1,e, é muito
nessa linha de agilização da realidade do universo da RDP, que a nossa reforma
vai na Antena 2. Também vieram aí uns dizer: “lá vai a besta do Ministro, que
vai acabar com a música clássica... (RISOS) ...porque não deve perceber música
clássica”. Não tem a ver com isso. Tem a ver, conheço outras estações de música
clássica na Europa, em França por exemplo, para mim o melhor exemplo, onde a
música clássica não são duas horas num concerto de cravo, que é um instrumento
que a maioria de nós às vezes nem sabe bem o que é, em que parece que o homem
que põe a música se foi embora e nos deixou lá a ouvir aquela sanfona...
(RISOS) ...e, a gente leva duas horas de um “show”, porque aquilo pode ser para
melómanos, muito eruditos, mas não é a maneira de interagir música clássica com
a generalidade do público. E há outras maneiras. A música clássica tem que
chegar aos mais novos. Eu gostaria de saber qual é a percentagem de jovens que
ouvem a Antena 2? E, ela pode chegar. Em França é mais até aos trinta e cinco,
do que dos trinta e cinco para cima, a faixa etária que ouve a emissão de
música clássica. Em Portugal é completamente ao contrário. Portanto, há outras
maneiras de tratar, de fazer a música clássica uma realidade interactiva,
interessante, etc., estou a falar sobre a RDP.
RTP serviço público, temos um caminho longo a
percorrer, acho que neste modelo da 2 haverá ali algumas novidades engraçadas.
Acho que são serviço público para jovens. Na RTP 1 temos um longo caminho a
percorrer, mas não acho, (para mim os jovens não vivem num gueto), que tem que
haver tipo para jovens, para azuis, para amarelos. Não tenho bem essa ideia.
Temos é que fazer com que conteúdos, que são conteúdos em informação, sejam
conteúdos que interessem também aos jovens, não é guetizar os jovens. O
raciocínio que penso mais idiota que podemos fazer é pormos uma espécie de
gueto e reclamarmos um couto, ficamos fechados e sitiados. O que temos é que
exigir que aquilo que é feito para todos tenha uma atenção para os jovens, é
esse o caminho. Portanto, é nesse caminho que procuro insistir junto da RTP,
dizendo que temos na RTP ainda, mesmo na RTP 1, um longo caminho a percorrer
para que aquela programação seja de uma maneira consensual e satisfatória uma
programação verdadeiramente serviço público.” (PALMAS)
Miguel Pinto Luz – Grupo Amarelo
“Muito boa noite Senhor Ministro – Doutor Morais
Sarmento. Sabemos que está a preparar uma estrutura de acompanhamento e
controle da acção política e de comunicação deste Governo, será porventura uma
espécie de central de comunicação e imagem que ficará sobre a sua directa
dependência? O objectivo pensamos será optimizar de uma forma mais eficiente a
divulgação de informação deste Governo. A pergunta do Grupo Amarelo vai no
sentido de saber o que podemos esperar para o futuro desta estrutura, como
pretende implementá-la, com que meios e recursos humanos?” (PALMAS)
Francisco Cabral – Grupo Laranja
“Muito boa noite. Como todos sabemos, Portugal é
um País tradicionalmente de imigrantes, mas sabendo que essa tendência cada vez
mais tem vindo a inverter, nós, o Grupo Laranja, gostaremos de saber quais são
as medidas que estão a ser tomadas para salvaguardar a integração de todos
aqueles que escolhem o nosso País para começar e recomeçar a vida, e, também
quais os trunfos que tem para combater a imigração ilegal, também falando nas
máfias?
Muito obrigado.” (PALMAS)
Nuno Morais Sarmento
“Muito obrigado. Em primeiro lugar a pergunta do
Grupo Amarelo, para dizer que não há nenhuma estrutura de comunicação. Também
li isso mas, não há nenhum serviço especial. Há é um trabalho. Havia duas
maneiras no início deste Governo de ter encarado a situação, ter procurado
privilegiar a comunicação, definir estratégias de comunicação e desenvolver
campanhas de comunicação, primeiro de reflexão e depois de comunicação. Se o
tivessemos feito estaríamos agora a tomar as primeiras medidas. Optámos,
sabendo o preço de algum défice de comunicação que isso implicava, pela
urgência de um conjunto de situações, por menos conversa e mais acção, intervir
nalguns casos num calendário que não permitia pré-comunicação suficiente. Temos
a noção de que há um caminho a percorrer em termos de ultrapassar este “gap”,
este défice de comunicação, que nalgumas áreas, nalguns momentos
inevitavelmente acontece, acontecerá sempre, mas também pode ser sempre
minorado. Portanto, aquilo que há é uma preocupação e uma reflexão sobre, como
de uma maneira integrada, podemos garantir previamente e à posteriori adequada
informação. Não é propaganda, não há aqui nenhum serviço de propaganda. Há uma
preocupação de disponibilizar informação. Muitas vezes constatamos que, as
opiniões são feitas pela ausência de informações, opiniões negativas são feitas
por ausência de informação, porque as pessoas não sabem. Não vale a pena
ficarmos o resto da vida a chorar, quer dizer podemos fazer dez explicações se
houver um “espirro” na comunicação, é isso que a comunicação social pega e
noticia, é um bocadinho assim. Temos é que trabalhar em cima disso, portanto,
colmatar esse “gap”, e, o Governo pode fazê-lo através das estruturas do
Governo, pode fazê-lo na articulação com a Assembleia da República, pode
fazê-lo na articulação com o partido, pode fazê-lo na própria forma de
comunicação do Governo que pode e deve ser sempre melhorado.
Eu não sou porta-voz do Governo, sou porta-voz do
Conselho de Ministros. Mesmo aí sinto que todo o processo legislativo e a
explicação subsequente do processo legislativo, é muitas vezes, vitima da
pressa das notícias. A comunicação social pega no “briefing” do Conselho de
Ministros, pega nas notícias e depois não há desmultiplicação. E muitas vezes
estamos a falar de matérias que precisavam de ser tratadas durante semanas para
que se percebesse o que é que elas combatem. Portanto, o que temos que fazer é
desmultiplicá-las durante semanas. As maneiras são muitas, mas a ideia central
é esta. Não é nenhum serviço subterrâneo de propaganda escondido na Presidência
do Conselho de Ministros. É apenas um esforço de quem tem experiência política,
para optimizar a comunicação no Governo e fora do Governo.
Imigração ilegal, emigração. Emigração, poderia
dizer muitas coisas sobre a emigração, digo uma: RTP Internacional. As pessoas
não realizam o quanto é importante o peso que tem a presença de uma voz
portuguesa, de uma bandeira portuguesa como a RTP Internacional para os nossos
emigrantes. Há muito a fazer aí. Nós estamos cá, não estamos lá, não vemos, mas
mudámos. Passámos de uma/uma hora e meia de transmissão simultânea para seis
horas de simultânea transmissão com a RTP, portanto, com conteúdos mais
actuais, mais variados. Estamos a tentar (mas é difícil) introduzir temas
locais.e conteúdos locais. É difícil, porque na África do Sul são uns, no
Canadá são outros, em França são outros, não é fácil a introdução de conteúdos
locais. Na agenda há já uma ideia em que eu aposto francamente e que ainda não
trabalhei com a RTP, é uma ideia minha que é aumentar a legendagem em
Português, mesmo dos programas em Português, porque não é só um problema de
fonética, é um problema de saber escrever. Os nosso emigrantes de
primeira/segunda geração perdem o contacto, quer dizer, mesmo os que cá vivem,
o Francisco está aqui à minha frente, se virem um papel escrito por ele ninguém
consegue perceber... (RISOS) ...mesmo os que cá estão às vezes não escrevem
famosamente, então aqueles que estão lá fora como maioria da razão escrevem com
alguma dificuldade.
É um exemplo, poderia falar de outros. Poderia
falar de uma rede montada nas Autarquias para trabalhar com os emigrantes no
momento do seu regresso. Através da Banca Portuguesa lá fora e dos produtos
oferecidos. Podia falar de uma multiplicidade de trabalhos que estamos a
desenvolver. Imigrantes, Lei da Imigração, a ideia é tão simples quanto esta:
“rigor à entrada, generosidade no acolhimento”. Só podemos, de facto, acolher
em Portugal o número de pessoas que temos capacidade de integrar, mas aqueles
que acolhemos, ou seja, que deixamos entrar temos obrigação de integrar. A
minha preocupação maior é com a integração daqueles que cá estão. Neste momento
temos uma Lei de Imigração que tem que ser severa, até porque vivemos num
espaço Europeu. Dou-vos um exemplo relacionado com as matérias da igualdade,
nós, eu e o Primeiro-Ministro em dois momentos referimos: “a questão da
mutilação genital feminina”, porque existe indicações de que em determinadas
comunidades entre nós ela pode ser praticada. Há uma tradição cultural em
determinadas comunidades de imigrantes, portanto, chamámos a atenção. Foi um
alerta que o Governo deu a dizer: “atenção que não pactuamos com isso”, e, nós
tivemos, mais de uma centena de pedidos de asilo por esse motivo imediatamente
a seguir.
Temos hoje em dia no espaço Europeu, movimentos
organizados de tráfico de pessoas que têm especialistas jurídicos, têm juristas
todos os dias a trabalhar e a ver apenas onde é que está a “brecha”. Onde está
a “brecha” é para onde se encaminham os fluxos de imigração. Nós vivemos num
espaço geográfico denso, temos o Magrebe perto de nós, somos porta de entrada
na Europa, temos particulares responsabilidades, não podemos ter uma legislação
mais flexível que o resto da Europa. A muralha tem que ser relativamente
uniforme, os procedimentos têm que ser relativamente uniformes, mas depois
temos que ser generosos no acolhimento. Nem é generosos, é justos. Eu não aceito
que tenhamos (e temos), crianças nascidas em Portugal, estamos a falar de
imigrantes que estão cá há um/dois/três anos, crianças com um/dois/três anos,
imigrantes ilegais que têm crianças em Portugal e que pela sua situação de
ilegalidade se a criança está doente não vai ao hospital, porque ir ao hospital
é denunciar a situação dos pais. Temos assim crianças em Portugal com um/dois
anos de idade a quem são negados, pela situação dos seus pais, os cuidados
básicos de saúde, de educação ou de assistência; que vivem em condições
absolutamente infra-humanas e de clandestinidade, porque não temos resolvida a
situação dos seus pais. Ou podem estar ou não podem estar, não podemos é viver
neste meio termo e fingir que a nossa consciência dorme bem com isto. Eu não vivo,
portanto, não me calo, não me calarei, no seio do Governo, fora do Governo,
onde for, dizer que quero saber como é que ficamos. Aqueles que tivermos
consciência, no dia em que houver azar com uma destas crianças por causa desta
situação de ilegalidade, como é, cada um de nós nesse dia vai para casa e diz:
“sinto-me em paz com o que não fiz durante este tempo, sabendo que estas
situações existiam”, poderia referir outras... (PALMAS) ...é um exemplo
concreto e calo-me. Aproveito as palmas, calo-me.” (RISOS).
Carlos Coelho
“É altura de eu dizer ao nosso convidado de honra
que a ordem das perguntas, não é uma ordem arbitrária, foi uma ordem que foi
fixada pelos coordenadores de todos os Grupos, isto só para explicar que quando
ele acusou o Francisco de não saber escrever, ignorava que ele seria o próximo
orador.” (RISOS)
Francisco – Grupo Bege
“Boa noite a todos. Senhor Ministro vou então
tentar ler o meu hebraico, os meus gatafunhos... (RISOS, PALMAS). Em primeiro
lugar e antes de me dirigir ao Senhor Ministro, já aqui se falou da qualidade
de organização em nome do nosso magnífico Reitor, gostava também de pedir uma
salva de palmas para a cozinha, e, para quem todos os dias nos tem servido as
refeições... (PALMAS) ...sem isso era difícil aguentar o ritmo infernal que nos
tem sido imposto, e bem... (RISOS, PALMAS).
Senhor Ministro da Presidência deixe-nos ao Grupo
Bege em primeiro lugar, saudá-lo pelo empenho e determinação ao longo de todo o
processo de salvação do serviço público de Televisão, e, restruturação do
sector audio-visual do Estado. Não deve ter sido fácil ouvir a demagogia
daqueles que em seu tempo nada fizeram, mas deve ser bom constatar agora o seu
silêncio, é sinal que o Senhor Ministro tinha uma visão e sabia muito bem para
onde queria ir, é uma honra estar na sua Mesa, Senhor Ministro. (PALMAS)
No entanto, não foi isso que trouxe aqui hoje o
Senhor Ministro, a nossa questão tem a ver com a coordenação política do
Governo. Este é um Governo de coligação que reuniu dois programas eleitorais
distintos, pelo menos duas formas diferentes de encarar a governação, o Senhor
Ministro Bagão Félix que ontem nos brindou com uma magnífica intervenção
disse-nos que este nem parecia um Governo de Coligação, de facto, não parece,
concordamos, no entanto deve ter havido portas que se abriram e outras que se
fecharam... (RISOS) ...há com certeza diferentes sensibilidades para gerir.
Senhor Ministro como é que se tem conseguido fazer destas duas forças políticas
uma só força de Governo?
Muito obrigado.” (PALMAS)
Rui Costa - Grupo Castanho
“Eu sou o número dez da selecção. (RISOS)
Boa noite Senhor Ministro – Doutor Morais
Sarmento. Iniciou-se hoje uma reunião dos Ministros da Comunicação Social dos
PALOP’s, que vai decorrer no Palácio da Foz em Lisboa. A pergunta que o Grupo
Castanho lhe apresenta é a seguinte: representando este encontro um passo
importante para reforçar a cooperação entre Portugal e os PALOP’s, que mais
medidas pretende o Senhor Ministro levar a cabo de modo a aprofundar ainda mais
as relações de amizade que historicamente unem estes Países?” (PALMAS)
Nuno Morais Sarmento
“Muito obrigado. Nas perguntas é o quarto round?
Não é o terceiro.
Queria agradecê-las, queria dizer que referi a
caligrafia do Francisco, porque o conheço... (RISOS) ...só para o continuar a
encavacar andei com o Francisco ao colo... (RISOS) ...tenho uma fotografia que
prova que andei com o Francisco ao colo, portanto, conheço-o desde sempre e
tenho, aliás, estima e amizade por ele, por isso lhe digo estas coisas e
outras... (RISOS).
Coligação, Governo de Coligação. Já foi dito e
pode ser entendido: “bom este é um dever de ofícios, estão no Governo têm que
dizer que se entendem às mil maravilhas, “Deus com os Anjos”, e, mesmo que
tenham visões diferentes ou sensibilidades diferentes vão ter sempre este
discurso”. Devo dizer honestamente, já trabalhei em equipas, na maioria das
vezes que trabalhei em equipas apenas do PSD, tive mais problemas do que nesta.
Também tem a ver com o PSD... (RISOS) ...mas tive mais problemas. Devo dizer
isto é como em tudo, quando há um piloto as coisas funcionam e aqui há um
piloto que é o Primeiro-Ministro. Devo dizer-vos “primeiro a César o que é de
César”. O mérito é muito da forma da capacidade de integração e de liderança
que o Primeiro-Ministro tem tido, e da capacidade que o líder do Partido da
Coligação tem tido de se integrar. Na situação particular ele é um Ministro
como os outros mas é líder de outro Partido, portanto, tem uma situação
particular, e, ele tem sabido também com grande inteligência, com humildade
quando ela é preciso, com firmeza quando ela é preciso, tem com grande
inteligência sabido integrar-se numa família maior, na relação com uma família
bem maior, que é a família Laranja. Portanto, as equipas têm funcionado. É
normal que existam diferenças sobre temas, devo dizer que não aconteceu em
nenhum até aqui, mas é normal que existam. Temos agora pela frente as Eleições
Europeias. Nas Eleições Europeias há um património de aproximação e há um
património de diferença, não tiro daqui a conclusão, “mas vão em Coligação, não
vão em Coligação”, acho que é uma decisão política, acho que o património que
temos é suficiente para que possamos estar juntos, um património comum que
temos nas questões essenciais, acho que também existem traços distintivos
suficientes para que os Partidos possam ir separados. Acho que as questões
devem-se enfrentar desta forma simples, desassombrada e clara, porque os
portugueses percebem assim, é assim que as pessoas pensam e entendem. Devo dizer
aliás que tenho mais diferenças no pensamento em relação à Europa face a
companheiros do PSD, do que tenho face a posições do PP, e nunca me senti mal
com eles dentro do PSD, e, já vi, quem diz na Europa, diz no aborto, diz na
regionalização, diz não sei quê. Temos um património de diferenças e
conhecemo-las e recordamo-las dentro de nós. Nunca isso me impediu de trabalhar
com muitas dessas pessoas com absoluta eficiência. Não vejo nenhum problema
nessa diferença que pode ser positiva, complementar nalgumas matérias, e que
não tem franca e honestamente pesado minimamente no funcionamento do Governo.
Comunicação Social, PALOP’s sendo rápido. Esta
reunião foi, é um convite meu. Nasce de um problema que tivemos, acho que é
importante que percebam não apenas a resposta formal, mas como é que as coisas
acontecem. Para além de uma reflexão que o Governo foi fazendo sobre os canais
África e a presença da RTP África, se deve existir, se não deve, como, não é
uma questão simples também, temos opiniões diferentes e justificadamente
diferentes, tivemos um problema na Guiné-Bissau aqui há algum tempo. O
Secretário de Estado acabou por expulsar durante algum tempo o Delegado da RTP.
Depois tivemos umas queixas mais recentemente em S. Tomé quando foi do golpe de
Estado, porque tínhamos dado ou não dado mais cobertura à RTP África,
entenda-se, mais ou menos cobertura à oposição, aos golpistas, aos não
golpistas. Tivemos também num ou dois dos outros três Países alguma reacção num
ou outro momento. No fundo acho que nos encontrámos em relação à RTP África
nesta situação: muitas vezes somos criticados, no mesmo dia já me aconteceu ser
criticado, no mesmo dia face à mesma situação em África, no País em causa, por
nos dizerem termos uma posição ou colonialista no sentido negativo, ou então
uma posição de ingerência na realidade política local, porque, estamos a dar
voz à oposição local… Estamos a ser criticados no mesmo momento, no mesmo dia
sobre os mesmos factos. Criticados cá porque a RTP África está ao serviço dos
mandaretes locais dos diferentes Países. Acho que em parte será uma contradição
que existirá sempre. Podemos optar pelo modelo mais francês que tem uma missão
para África que se distanciou se quisermos do noticiário diário, e faz uma
informação mais de documentário, até pode ser mais rica sobre as realidades
locais, mas sai desta notícia da política diária para evitar precisamente esta
subjectividade que necessariamente existe. É uma das variantes que eu acho que
é interessante desenvolver e depois temos que apostar seriamente em, não é dar
o “peixe”, é dar a “cana”, para que eles aprendam a pescar, ou seja, apoiar
decididamente a criação de capacidades locais para que os nossos Países irmãos
possam desenvolver os seus próprios órgãos de comunicação social.
Havia um protocolo feito pelo anterior Governo
que, era impossível. Como de costume é mais uma área em que, como todas as
outras, pelo menos as da minha responsabilidade, levámos o primeiro ano a pagar
as contas do inquilino anterior... (RISOS) ...também ali temos um protocolo que
foi assinado 1998 que nunca foi cumprido, nem um euro, nem um equipamento,
nada. O que é constrangedor é que, de facto, a irresponsabilidade foi tal (é o
que me dizem agora, enfim, os responsáveis dos PALOP’s e a própria RTP, RDP),
que nada foi feito daquele protocolo. Estamos na situação que se imagina, com a
dependência que existe, temos uma perigosa relação alternativa de alguns desses
Países com outros Países Europeus, ou com o Brasil, ou com outros Países do
Continente Americano, ou com Países Europeus, a França, etc. . A presença de
Portugal lá é muito importante, daí que tenhamos que recuperar o tempo perdido. Esta reunião é para isso, é para
negociar o calendário, é para fazer levantamentos. Houve uma reunião em Luanda,
há esta, com bom senso, com a verdade de lhes dizer que não temos a capacidade
de cumprir aquele protocolo. Vamos programar acções, vamos trabalhar com
seriedade e fazer aquilo com que nos comprometemos. Uma última nota que as
pessoas se esquecem sempre que tem a ver com a RTP África. A RTP África não é
só importante lá, a RTP África é muito importante cá, as pessoas nunca
valorizam isto. As comunidades dos PALOP’s que vivem em Portugal têm na RTP
África a única ligação permanente com os seus Países de origem, e não são
poucos, também por isso se justifica e se continuará a justificar a aposta na
RTP África.
Muito obrigado.” (PALMAS)
Ângelo Pereira – Grupo Cinzento
“Boa noite a todos. Em nome do Grupo Cinzento
gostaria de perguntar ao Senhor Ministro a seguinte questão: com a anunciada
fusão dos grupos de comunicação social públicos, a RTP e a RDP, não teme que no
futuro possam surgir tentações ao nível da interferência do poder político na
comunicação social pública?” (PALMAS)
Ricardo Baptista Leite – Grupo Azul
“Boa noite. Antes de mais não posso evitar de
dizer que folgo em saber que há companheiros de outros Grupos que gostariam de
fazer parte do Grupo Azul... (RISOS, PALMAS) ...mas tenho que dizer que Miguel
não tem culpa daquilo que disse, ele é meu colega de quarto... (RISOS)
...quando estamos sozinhos no quarto... (RISOS, PALMAS, ASSOBIOS) ...calma,
calma deixem acabar a frase, a malta da Jota não perdoa... (RISOS) ...mas não
consigo parar de dizer quão produtivo, quão agradável é o Grupo Azul, e, é
natural, é desculpável... (PALMAS)
Mas queria dizer antes de formular a questão
estou, de facto, feliz e muito contente por poder estar na Universidade de
Verão e poder participar nesta iniciativa, e, é também com enorme prazer que
poderei colocar uma questão em nome do Grupo Azul ao Ministro, que em tantas
coisas tem contribuído decisivamente para acabar de vez com o pseudo
intelectualismo de esquerda em Portugal... (PALMAS)
No entanto Senhor Ministro Nuno Morais Sarmento,
tivemos acesso a uma entrevista que deu no final do primeiro trimestre do
presente ano, em que refere que no contexto actual a fusão e a criação de uma
única entidade reguladora de telecomunicações e da comunicação social não é
possível neste momento em Portugal, pois seriam só demasiadamente ambicioso
perante a atrofia actual resultante da passividade no passado, assim sendo, o
Grupo Azul gostaria de saber se acredita que é possível acompanhar e regular as
telecomunicações e a comunicação social em Portugal, e, se é possível estender
tal regulação na auto-estrada da informação onde proliferam diariamente fóruns
de distorção e contra-informação, tais como os blogs tantas vezes referidos ao
longo desta Universidade de Verão?
Muito obrigado.” (PALMAS)
Nuno Morais Sarmento
“Muito obrigado. Fusão RTP/RDP era um gesto de
racionalidade elementar, eu acho que é bom que saibam porquê. De facto, é um
exemplo académico do que é que é irracionalidade dos gastos dos dinheiros
públicos. A Phillips tinha sede no edifício das Amoreiras, um edifício inteiro
para a Phillips, e, a Phillips multinacional lucrativa achou que era irracional
do ponto de vista económico, com o custo que representava o metro quadrado nas
Amoreiras, ter as instalações nas Amoreiras. Portanto, um belo dia colocou à
venda, com o dinheiro fez de raiz umas instalações onde ainda hoje está, fora
de Lisboa, e, onde o metro quadrado francamente mais barato lhe permitia
melhores instalações e a uma distância curta. Qual foi a entidade milionária
que se foi instalar no prédio da Phillips? Não foi a Saloman Brothers, não foi
nenhuma entidade endinheirada, foi a RDP que vive do nosso orçamento. Este é o
exemplo acabado do que é que é a irracionalidade na gestão dos dinheiros
públicos. Portanto, é evidente que se vai vender e vão direitinhos para o mesmo
sítio, que é a RTP. Estamos a falar de uma operação que, no seu conjunto,
considerando o Lumiar ou a 5 de Outubro, a RDP permite bem mais do que uma
dezena de milhões de contos de poupança, e vão ficar com umas instalações muito
melhores do que alguma vez tiveram. Há aqui um cuidado, estamos a falar de uma
fusão progressiva, não estamos a falar de fusão de redacções. São redacções
diferentes, é um processo novo, tem que se avançar com cuidado, tem que se
respeitar a cultura das casas, mas é uma fusão que tem corrido bem. É bom ter
presente que a RDP gasta sozinha muito mais do que todas as outras estações de
rádio juntas, não me vou alongar sobre os gastos e as ineficiências económicas.
Interferência do poder político. Eu acho que com
honrosas excepções, a relação do poder político com a televisão foi
tradicionalmente apenas e só uma preocupação com o controle da informação, e
nenhuma preocupação com a televisão. Para sermos verdadeiros foi assim, ao
longo dos tempos. O poder político tendeu a fazer isto, pouca ou nenhuma
preocupação com a televisão, toda e única preocupação com o controle de
informação. Naquela casa há honrosas excepções, um companheiro nosso, já falei
nele, Luís Marques Mendes, fez a RTP Internacional, avançou com projectos
estruturantes, esse é um projecto de facto estruturante que mostra alguém que
se preocupou em pensar na televisão, mas tirando isso pouco se recorda de
outras intervenções estruturantes para a televisão, apenas controlar mais ou
menos o Telejornal. É uma confusão naquela casa. Eu não telefono para lá, falo
com a Administração. Trabalho muito com a Administração, mas não telefono para
a Direcção de Informação, não falo para os editores, e, muitas vezes tenho,
acreditem, pressões de Membros do Governo, de pessoas, de cidadãos anónimos que
me dizem: “é uma vergonha isto, e a cobertura que fizeram ao Ferro Rodrigues
foi dez vezes maior do que a que fizeram à do Durão Barroso, veja o tempo de
uma e de outra”... (PALMAS) ...volta e meia quando vejo estas críticas peço as cassetes,
peço as informações e falo com a Administração, digo à Administração: “olhe,
recebi”, volta e meia faço assim uns pacotes: “recebi estas informações, os
Senhores avaliarão se são, se não são”. A Direcção de Informação até hoje, o
Director de Informação é o José Rodrigues dos Santos, não conhecia, falei com
ele uma vez num almoço que ele entendeu fazer. Sei também, aliás antes de mim
foi almoçar com o Doutor Ferro Rodrigues, depois foi almoçar comigo, o critério
é dele. Veio falar para nos conhecermos, almoçámos e francamente falámos de
televisão, disse-me no outro dia, reencontrei-o outra vez, tenho-o encontrado
numa ou outra cerimónia, num ou noutro momento, disse-lhe que gostaríamos que
almoçássemos outra vez para discutirmos televisão. Discutir televisão não é
informação. Acho que a RTP fez um esforço muito grande e não pode folgar agora.
Tem um esforço muito maior pela frente do que aquele que já fez até aqui, em
termos de programação, em termos de organização de informação, não é de
conteúdos, não é o tipo de notícias, é de organização, de sair mais do registo
tabolóide, em cortar noticiários, de avançar com outro tipo de programação.
Portanto, neste sentido, um dia destes temos que falar outra vez, mas isto para
eles é uma coisa absolutamente surpreendente, e que os deixa muito incomodados
é que nunca falei com ninguém da Direcção de Informação da RTP, mentira,
almocei com a Judite de Sousa porque sou amigo do Fernando Seara, almoçámos
juntos... (RISOS) ...nunca falei com ninguém da Direcção de Informação, nem
nunca falei com ninguém da Direcção de Informação da RDP, porque acho que é
assim que deve ser, acho que temos que passar a ser um País a sério onde, de
facto, as coisas funcionem. É como com as crianças, quanto mais não lhes não
dermos responsabilidades, menos responsáveis eles são, é tão simples quanto
isto. Têm que ser eles os responsáveis pelo que fazem e responder pelo que
fazem, depois haverá momentos de discutir, mas discuto abertamente, discuto com
eles como posso discutir aqui aquilo que acho que está bem e que está mal, não
há uma relação de interferência directa. Faz-lhes a maior das confusões mas
acho que é assim que deve ser, e, acho que é assim que deve ser a bem da
relação do Governo com a comunicação social, da emancipação verdadeira e da
responsabilização verdadeira dos órgãos de comunicação social do Estado e do
País.
Entidade reguladora. De facto, a actual entidade,
penso que é um modelo esgotado, não é culpa das pessoas que lá estão, estimadas
que sejam, mas é um modelo esgotado, acho que temos que avançar cada vez mais
para entidades reguladoras com potências técnicas. Acho que é um sinal
diferenciador dos Países subdesenvolvidos para os Países desenvolvidos. É que
nos Países subdesenvolvidos a única maneira de garantir a independência é com
colégios de representação política. Nos Países desenvolvidos garante-se com
colégios de especialização técnica, porque há especialização técnica, porque os
especialistas técnicos não se sujeitam aos dictates (?) de qualquer poder político
seja ele qual for. É nos Países em que não existem elites técnicas, capacidades
técnicas que, temos que andar a reproduzir parlamentos miméticos para todas as
soluções onde queremos teórica independência. Acho que também aqui, tudo isto
que vos tenho dito hoje é muito numa ideia de modernização, temos que mudar o
paradigma do País, este Governo não veio para governar de maneira diferente a
mesma coisa, veio para mudar a coisa, gostem ou não gostem. Para governar
melhor a mesma coisa vêm outros e estragam a coisa, não vale a pena. Ou é para
mudar a coisa ou não saímos um bocadinho da “cepa torta” nos bloqueamento
crónicos que conhecemos na sociedade portuguesa a diferentes níveis, portanto,
é para mudar de facto a coisa doa a quem doer que nós estamos.
A nova entidade reguladora, se “Deus” quiser vai
ser uma realidade, eu acho que, há um conjunto de reformas, tem a ver com o
cabo, com a imprensa regional, com as rádios locais, mas estamos a chegar a um
ponto em que a questão, porque acho que essa é a questão central de comunicação
social em Portugal, chama-se regulação. Auto-regulação não funcionou, não
acredito na regulação administrativa imposta pelo Estado, acredito nas
potencialidades da co-regulação. O Protocolo que a RTP fez com os operadores
privados é um bom exemplo. Gostava que o Doutor Carrilho um dia explicasse
porque é que não fez um Protocolo correspondente quando eu reduzi um minuto e
meio, e, há quem acuse de que: “é desproporcionado ter feito esta redução de
publicidade”, que assumo, e ter estas contrapartidas que são importantes de
serviço público nas televisões privadas. No mandato do anterior Governo
desapareceu pura e simplesmente a publicidade da RTP 2, reduzida de doze
minutos para sete minutos e meio a publicidade da RTP 1, e, não houve
inteligência nesse génio da cultura portuguesa que é o Doutor Manuel Maria Carrilho... (RISOS)
...de pedir uma contrapartida às televisões privadas. E o mais curioso é que
encontro nelas agora a resposta de que teriam tido nessa altura a mesma
disponibilidade que têm hoje mas ninguém lhes pediu. É assim…, há os que dizem,
que falam…, O Ministro da Cultura o Dr. Pedro Roseta tem, diz uma coisa que
acho que marca a diferença. O grande problema que o Doutor Manuel Maria
Carrilho tem em relação à cultura, é que ele acha que a cultura é um ter. A
cultura não é um ter, é um ser. A cultura não se tem, não é um novo-riquismo
que se adquire, não é uma comoditi (?) para lustrosamente passear nas
passereles da vida. É um ser que tem a ver connosco próprios. Por isso a
cultura é tão diferente de um para o outro, tem a ver como a vivemos, como a
sentimos. O nível académico, não é nível cultural, o nível académico não é
maior ou menor preocupação cultural.
Entidade reguladora. Acho que vai ser possível uma
entidade reguladora. Temos estado a trabalhar, não vejo nenhum ponto de
divergência com, por exemplo, o Partido Socialista no caminho que tinham
começado a fazer. Não acredito numa entidade reguladora, (isto é muito técnico,
não interessa à maioria dos presentes), que faça já a convergência
telecomunicações, comunicação social. Acho que é um salto maior, podermos fazer
já a fusão da ANACOM como entidade reguladora da comunicação social. Vamos
fazer uma entidade reguladora de comunicação social, depois trabalhar num projecto
de convergência com a ANACOM mais à frente. Por isso telecomunicações é ANACOM,
comunicação social será com esta entidade reguladora. Espero que ela seja uma
realidade. Depende obviamente de um consenso amplo, porque temos disposições
constitucionais em causa, mas se não o conseguirmos podemos pôr em causa aquela
que acredito sinceramente é a questão mais séria para o futuro, para um
desenvolvimento positivo da comunicação em Portugal que é a questão da
regulação.” (PALMAS)
Carlos Coelho
“Chegámos à última ronda. Tal como fiz ontem, por
uma questão de cortesia para dar a última palavra na Sessão de hoje ao nosso
convidado, aproveito esta oportunidade, para lhe agradecer sinceramente em nome
de todos a presença e a magnífica intervenção e resposta que nos está a dar, e
aquelas que ainda vai dar. Em nome de todos desejar-lhe a continuação do maior
sucesso nas funções partidárias e governativas em que está investido.”(PALMAS)
Nuno Camilo – Grupo Roxo
“Boa noite a todos. Na qualidade de porta-voz do
Grupo Roxo, gostaria antes de mais de cumprimentar o Senhor Ministro,
cumprimentar também o Reitor da Universidade de Verão, bem como o Presidente da
JSD nacional.
O Grupo Roxo gostaria de saber quais as
prioridades estratégicas deste Governo no que concerne ao papel regulador e ao
efeito da comunicação social, bem como também, saber qual será o futuro para as
licenças a serem atribuídas para as Rádios Universitárias?” (PALMAS)
Carla Afonso – Grupo Rosa
“Muito boa noite a todos. Senhor Ministro a
questão que o Grupo Rosa tem para lhe fazer pode parecer um pouco provocatória,
mas não é essa a nossa intenção, mas a desmontar um pouco a política do Senhor
Ministro relativamente à RTP, a questão é a seguinte: se a igreja com o seu
poder não foi capaz de gerir um canal como a quatro, como conseguirão uma
amálgama de entidades da sociedade civil relativamente ao canal Sociedade? Não
será esta uma forma de deixar entrar pela janela o que não deixaram entrar pela
porta, ou seja, a extinção a prazo do segundo canal?” (PALMAS)
Nuno Morais Sarmento
“Como sou o último a falar já vai ver o que é que
eu lhe respondo, depois não pode... (RISOS). Agradeço ambas as perguntas. Pegar
na regulação é voltar um pouco ao que disse, mas só acrescentar regulação –
entidade reguladora. Temos competências de relação dispersas, não vale a pena,
a Comissão da Quarteira, o Instituto das Comunicações, o Instituto da
Comunicação Social, Alta Autoridade para a Comunicação Social, uma dispersão
total, uma completa ineficácia nas regras de regulação. As sanções não são
aplicadas, Alta Autoridade não consegue actuar a tempo, enfim, é o panorama que
se conhece, portanto, acredito na eficácia de uma entidade reguladora
organizada, como a ANACOM mas garantindo aqui, porque há uma matéria de direitos
de liberdades e garantias que é muito sensível, adequada legitimidade política
ou parlamentar. Se separar nessa entidade reguladora, regulação de mercado,
voltando ao que disseram aqui uns atrás há pouco telecomunicações, licenças,
cabo; Se separar o mercado da matéria de direitos, liberdades e garantias, e de
um terceiro conjunto de matérias que é a ética em sentido amplo, a entidade
reguladora, uma das prioridades estratégicas é o auto desenvolvimento de
soluções de co-regulação. Aquele Protocolo que foi feito com as televisões
privadas é, no fundo, um pontapé de saída nessa direcção, e, aquilo que falei
com os Presidentes das três estações de televisão foi da minha intenção de
desenvolvermos estes contactos periódicos que tivemos ao longo. Foram dez meses
de negociação para chegarmos àquele Protocolo. Estamos a ver como, para
precisamente trabalharem co-regulação, e aquilo que querem em primeiro lugar é
uma ética de antena, é uma ética de redacção que tem que nascer dos próprios,
não pode ser imposta por cima, e que pode ser a solução para alguma da
disfunção que aqui se fez.
As rádios universitárias. Acho que muitos de vocês
não viram, mas havia um sketch do Herman José em que ele ia lá e
perguntavam-lhe sobre incêndios, ele sentava-se com um ar assim muito caladinho
e dizia: “não, eu sou padeiro, portanto, posso falar de bolos, posso falar de
pães, tenho é um cunhado que pode vir falar para a semana”, isto só para dizer
que não é assim que eu estou, mas quase, em relação à questão das rádios universitárias...
(RISOS) ...ou seja, toda a discussão das frequências de rádio está a ser neste
momento trabalhado, à data de hoje, tiveram ontem uma reunião por exemplo,
entre o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Presidência – Dr. Feliciano
Barreiras Duarte e a ANACOM, portanto, há um trabalho que está a ser feito, não
sei antecipar os resultados. Esse Senhor pode vir cá, esse meu
“cunhado”...(RISOS) ...e, explicar como é que é essa matéria, não vou estar
aqui a fugir, nem a dizer aquilo que está ainda a ser trabalhado neste momento.
Segundo canal. Por que razão a 2 pode funcionar, é
porque se disse a Igreja com todo o poder não conseguiu, a 2 é um projecto
anti-poder. O objectivo é que a RTP saia do lugar do “volante”, que a RTP seja
um mero facilitador entre as Instituições relevantes da área cultural, da área
social, da área desportiva, de tudo o que tem a ver com as matérias do
conhecimento, entre essas Instituições que existem na Sociedade Portuguesa. Fala-se
muito, do programa Acontece, não vou sobre isso alongar-me, mas queria só dizer
isto, com todo o respeito, foi um programa importante, o único, vi-o muitas
vezes, respeito-o, acho que teve um papel marcante, era o único, houve alguma
autofagia de outros espaços culturais que existiam na RTP 2 sobre artes
cénicas, sobre música, sobre teatro que desapareceram, e aquele tempo não era
suficiente
Estamos a transformar preocupações, intervenções e
patrimónios culturais de cada uma dessas entidades e de outras, com intervenção
em conteúdos televisivos. Como na cultura em cada uma das outras áreas, a ideia
é tão simples quanto esta. Falei com o Presidente de uma dessas importantes
Fundações e ele dizia-me: “mas Senhor Ministro veja, é que nós percebemos, de
facto, de teatro, percebemos de música, percebemos não sei de quê, mas não
percebemos de televisão”, eu disse-lhe: “pois olhe, fantástico, eu só percebo
de televisão, RTP, mas não percebo nada nem de cultura, nem de teatro, nem sei
do quê, o que quero é casar estas sinergias”. Portanto, a RTP tem, aquilo é uma
espécie de uma sociedade, o capital social é realizado em espécie, a RTP tem
para realizar nesse capital social o seu manual técnico, os seus recursos
humanos e os seus equipamentos... estão lá, é uma capacidade instalada que ali
está, estas instituições não sabem fazer televisão, mas têm patrimónios ou
intervenções culturais, sociais na área do conhecimento ou na área desportiva,
nas cinco ou seis áreas identificadas como prioritárias. Elas têm um saber, um
património, uma preocupação, uma capacidade que ninguém na televisão tem.
Portanto, o que se trata é de transformar isso em conteúdos televisivos, este é
o meio facilitador. Pela primeira vez o serviço público vai ser feito pelo
público, porque essas instituições não são mais do que o reflexo da organização
da sociedade civil. É da sociedade civil para a sociedade civil. Eu acredito
que essa forma de comunicação directa, estou farto de comunicação mediada, a
comunicação mediada não é a única forma de comunicação, e, em áreas destas eu
acho que é melhor que ela não seja mediada, é melhor levá-la directamente. A
televisão é um bem precioso, não tem preço comunicação em televisão. Aquilo que
estamos a dar é disponibilizar a essas instituições de referência esse bem
precioso. Eu acredito! Primeiro diziam que não ia haver, depois diziam que não
ia haver sociedade civil, foram cinquenta entidades que responderam, não estão
todas, porque não podem estar todas, Também não inventámos nada. Há na Europa,
há em França, há em Inglaterra, há nos Estados Unidos, há nos Países Nórdicos.
Há exemplos disto, de procuras de parcerias de maneiras diferentes entre
canais, entre instituições. Há outras formas, para quem conheça minimamente o
panorama televisivo, há outras experiências deste tipo, também não inventámos nada,
estamos a interpretá-la adaptando-a à realidade, e à necessidade da sociedade
portuguesa. Nós temos um enorme défice de acessos a bens culturais por parte de
generalidade da população portuguesa. Um enorme déficit, é bom que as pessoas
metam isso na cabeça. Há uma larguíssima faixa da população portuguesa que não
tem acesso directo a outros bens culturais alternativos, a bibliotecas, a
espectáculos, sejam espectáculos de música, seja teatro ou seja espectáculo de
dança, não têm acesso a esses bens, o que nós queremos é também ultrapassar
esse “gap”. Ultrapassar esse “gap” é ajudar mais uma vez, a palavra é sempre a
mesma, a modernizar a sociedade portuguesa. Com certeza que é difícil, é uma
ideia nova, é de todas as reformas a mais estimulante, de todas aquelas que se
fez, é mais estimulante porque é uma ideia nova. O Mundo nunca mudou sem ideias
novas. O Mundo só muda quando arriscamos as nossas ideias e acreditamos que é
possível. Não temos a pretensão do saber universal, mas temos a convicção das nossas
ideias, e a força, e a determinação de a desenvolver. É essa a aposta com este
modelo simples. Não tem nenhum segredo de polichinelo, e, que permite custos
para baixo, não vou falar dos custos do “Acontece”, mas custos para baixo, e
que permite, penso eu, que possamos ter em Outubro o início de uma alteração
muito engraçada no bom sentido, muito positiva da programação no segundo canal.
Espero que em Março do próximo ano, possamos estar a fazer um balanço, uma
mudança completa de grelha.
Também a terminar agora sou eu, que quero
agradecer, não agradeci ainda ao Carlos Coelho. Eu assisti ao nascimento desta
Universidade no papel. Comentei, deve haver aí um ponto qualquer que seja meu,
no modelo desta Universidade de Verão. Ele é o autor mas pediu-me a opinião, lá
fiz uns comentários, para aí dois... (RISOS) ...assisti ao nascimento, já lá
vai algum tempo, da ideia desta Universidade é muito difícil a um partido. É
uma questão sempre difícil, a relação de um Partido com o Governo. Há quem
diga: “bom, um partido ajuda a conquistar o poder, tendo o poder o que o
partido tem que fazer é não chatear”. Eu acho que isto é suicidário. Conhecemos
no passado e noutros Países, consequências disto. Mas é difícil, porque se há
iniciativa partidária sobre matérias governativas é porque estamos a partidizar
a governação, se é o Governo a impor ritmos ao partido é porque estamos a
tentar governamentalizar e isso cabe ao partido. É muito difícil encontrar este equilíbrio, conseguir encontrar
formas de esta relação ser uma relação, viva, positiva e complementar. Acho que
uma, entre outras, das formas evidentes de fazer isso é formação. Quando, o
Governo tem uma relação com o partido há uma disponibilidade de informação. Se
eu estivesse aqui há três anos a falar, se me fizessem qualquer destas
perguntas, não digo todas, mas uma boa parte, eu teria que chamar o tal
“cunhado”... (RISOS) ...porque não sabia responder em muitas das matérias. É
normal que muita da informação que aqui podemos trazer, é uma informação que
resulta de facto de um contacto directo com um conjunto de matérias da nossa
directa responsabilidade. Os Ministros que estão numa função mais política têm
a obrigação de terem um pretenso saber mais universal ou transversal. Há todo
um saber, um património de saber acumulado de informação disponível,
disponível, que de facto, é precioso, e pode ser disponibilizado principalmente
aos mais novos. Quando estamos na oposição não o há da mesma maneira. Este é um
dos exemplos de como é possível utilizar positivamente, outro será encontrar
formas de fazer sair do partido ideias, não é só áreas técnicas, é um desafio
que deixo, não é sobre áreas temáticas, porque se não lá está o Partido a dizer
ao Governo o que é que o Governo deve fazer, mas há tantos temas que não são temas
compartimentados a um Ministério, são temas dos quais depois podem resultar
propostas determinadas, mas que são temas transversais que um Governo por
definição não tem apetência para discutir, mas podem ser discutidos no partido,
do qual podem sair pistas e interessantes para os caminhos da governação. Há
espaço para fazer isso, é saber e ter a imaginação e a vontade de identificar
esses temas transversais, não os vou identificar, mas rapidamente conseguimos
imaginar vários que não são temas nem de um Ministério, nem porventura de um
Governo, são temas que interessam à Sociedade. Falou-se de blogs, de sociedade
de informação, se pensássemos um bocadinho no que é que é influência, a
relação, a enorme, a brutal transformação na vida de cada um de nós, este fenómeno
da globalização e da sociedade de informação já trouxe, sendo que ainda não o
assimilámos em termos sociais, económicos, culturais, educativos, políticos, o
quanto aí há para trabalhar, para discutir, para encontrar soluções e pistas de
trabalho para um Governo qualquer que ele seja. É um exemplo, poderemos dar
outro, mas essa é outra forma que acho que pode ser uma forma positiva de imput
do Partido para o Governo. Esta é uma forma extraordinariamente positiva,
insubstituível, de imput do Governo para o Partido, que não se repete quando os
partidos estão na oposição- Conheço o Carlos Coelho e sei que os papéis
chegam-vos antes de vocês falarem, já lá está o que vocês disseram... (RISOS)
...e, ainda não acabaram uma, já estão com outra... (RISOS) ...vão com não sei
quantos papéis, não conseguem ler os papéis, e não aguentam o ritmo, mas quero
dizer que além da qualidade com que ele faz, mais do que isso, a ele e aos
outros que o ajudaram, é, e isso é importante, é o coração com que ele faz,
portanto, a todos muito obrigado.” (PALMAS)