6º tema
Fazer política é comunicar
11. Setembro. 2003
(Textos não revistos pelos oradores. Quaisquer erros são
atribuídos à transcrição não revista das cassetes)
Carlos Coelho
A Vanessa pediu palavra para uma consideração prévia. Tem a
palavra.
Vanessa
Faria - Grupo Castanho
« Há dois anos atrás, pelas 13h45,
um acontecimento hediondo alterou por completo o mundo actual, não em nome de
uma fé, não em nome de Deus, mas sim em nome da cultura do terror…
Gente que traiu o Islão, matou
5.000 inocentes, soterrando-os debaixo de 450 mil toneladas de entulho.
Este acto, de natureza terrorista, fez com que diversos
princípios, valores, leis e acordos tenham sido e sejam postos em causa.
Atentou-se contra a humanidade, contra a sociedade, contra
as instituições democráticas, iniciou-se, assim, a caça ao terrorismo,
iniciou-se a luta pela total segurança, para cada um de nós – começou a idade
do medo. Actos semelhantes não podem repetir-se.
Pensamos assim até que ponto vivemos seguros, até que ponto existe uma união que nos
proteja, alianças e acordos reais, que se apliquem em termos práticos e não
apenas na sua teoria.
Se
estamos divididos, seremos solidários
Se
matam pela religião, defenderemos a fé
Se
usam a guerra, gritaremos pela paz
Porque de
facto, não há cultura que se escreva com sangue.»
Carlos
Coelho
"Muito obrigado, nós não tínhamos previsto na nossa Universidade uma
componente com esta carga emocional mas podemos sempre transformá-la numa
Assembleia democrática. Acho que o texto está muito bem escrito e dou os
parabéns a quem o fez. Penso que provavelmente todos o partilhamos, mas se nós
queremos transformar-nos numa Assembleia democrática vamos seguir os
procedimentos próprios. Quando os assuntos não estão na Ordem do Dia há vários
processos para definir os procedimentos. O processo mais simples é reduzir o
debate, a alguém que fale a favor e a alguém que fale contra. Começo, assim por
perguntar se alguém deseja pronunciar-se contra a aprovação deste Voto de Pesar
que foi apresentado pela nossa colega? Não havendo ninguém que se proponha
falar contra, não faz sentido dar a palavra a ninguém para falar a favor,
porque não há necessidade do contraditório. Assim sendo, vamos votar.
Quem vota contra levante o braço, quem se abstêm? Quem vota
a favor
Está aprovado por unanimidade. (PALMAS)
Creio que corresponderá ao espírito de todos que iniciemos
este nosso debate da tarde na sequência da aprovação deste nosso Voto de Pesar,
guardando um minuto de silêncio pelas vítimas inocentes do terrorismo em toda a
parte do Mundo".
FOI FEITO UM MINUTO DE SILÊNCIO.
Carlos
Coelho
"Muito obrigado. Vamos agora dar início à Sessão da
tarde, “Fazer política também é comunicar”, e começo por agradecer a presença
do Doutor Agostinho Branquinho.
O Doutor Agostinho Branquinho foi até há pouco tempo,
presumo eu, proprietário e administrador de uma Empresa de Comunicação no
Porto, agora é administrador da Casa da Música, estas são as suas actividades
profissionais mais recentes, mas o Doutor Agostinho Branquinho no seu passado
tem uma outra história, uma história de convergência connosco. Não é que agora
esteja em divergência, mas agora está dedicado a actividades mais profissionais
e empresariais. No passado foi um quadro político, exerceu funções na JSD, foi
dirigente nacional da JSD, foi director do Jornal Oficial da JSD, foi Deputado
da Assembleia da República do PSD e pela JSD, onde se revelou aliás um dos
melhores e mais combativos Parlamentares que a JSD, e, o PSD tiveram na
Assembleia da República.
O currículo deste nosso convidado foi distribuído como o de
todos os nossos conferencistas, uma leitura que seria extensiva e ofenderia o
sentido de modéstia do nosso convidado. Recordo o retrato falado que pedimos a
todos: o Doutor Agostinho Branquinho tem como hobby a
leitura, o ténis e o futebol, como comida preferida tripas à moda do Porto,
depois não me venham dizer que os fulanos do Porto não são bairristas, (RISOS)
podia ter preferido comida alentejana, mas não, tinham que ser tripas à moda do
Porto, o animal preferido é o cão, foi aliás como já várias vezes dissemos o
animal mais adoptado quer por participantes, quer por conferencistas, o livro
que nos sugere é de Daniel Gomman "Os Novos
Líderes", acho que tem alguma coisa a ver com esta Universidade e
com os seus participantes.
Doutor Agostinho muito obrigado por ter aceite o nosso
convite para estar presente nesta Universidade de Verão, para nos falar de um
tema em que é uma autoridade, quer como docente, quer como agente no terreno, a
palavra ao nosso orador para fazer política que também é comunicar."
Agostinho
Branquinho
"Antes de mais queria agradecer as palavras elogiosas,
não levem em conta porque o Carlos Coelho é meu amigo, e, como é meu amigo,
nestas coisas os amigos costumam ser benevolentes na avaliação que fazem de
nós.
Mas queria começar por uma parte se quiserem mais formal,
por agradecer o convite e dizer que em primeiro lugar é uma grande honra para
mim estar aqui, faço-o com um grande sentimento de orgulho por o Carlos Coelho
em devido tempo me ter endereçado o convite, espero sinceramente que no final
desta Sessão que eu não deslustre o convite e seja
merecedor dessa honra, porque acreditem no meu íntimo é das coisas que algum
dia não poderia nunca dizer não estou disponível, isto porquê? Porque para mim,
naquilo que eu hoje sou, a formação que o PSD, aos diferentes níveis, portanto,
não vale a pena estar agora aqui a criticá-los, a formação que o PSD me deu em
vários momentos da minha vida ajudou a eu ser aquilo que sou hoje, a ser
enquanto profissional, a ser enquanto cidadão e até se quiserem a ser enquanto
pai, foi sempre para mim gratificante ao longo dos anos que tenho vivido nesta
organização poder sentir que ela me dá alguma coisa, é bem mais importante do
que aquilo que dou a esta organização.
A segunda nota que vos gostava de dizer, é que aliás numa
curta entrevista que dei ao Órgão oficial da Universidade, é que para mim estar
aqui hoje é um regresso ao passado, acreditem que quando nós começamos a entrar
na idade os regressos ao passado são sempre coisas boas, na perspectiva nem
mais que não sejam de nós nos recordarmos de momentos bem importantes da nossa
vida, em que éramos bem mais novos, portanto, com menos preocupações se calhar,
e, com mais liberdade para pensar e para agir.
Conheço o nosso responsável pela Universidade de Verão há um
quarto de século. Foi das pessoas mais organizadas que encontrei na minha vida,
foi das pessoas com mais capacidade de trabalho com quem eu tive oportunidade
de conviver, devo-vos dizer que algum dos melhores livros que eu li me foram
recomendados por ele, também devo-vos dizer que se calhar o mais importante é
que ele quase sempre para além de me pôr a trabalhar fazia o favor de me pôr a
reflectir, isso é aquilo que se calhar é mais importante no meu convívio com o
Carlos Coelho. É da mais elementar, honestidade intelectual dizer hoje isto
aqui, e, com isto agradecer o convite que ele me fez.
Dizer-vos depois para terminar que este tipo de eventos é de
uma importância determinante para a construção de um novo País que nós queremos
ter, em Portugal. Infelizmente grande parte do nosso atraso deve-se, ao facto,
de não estudarmos, de não termos competência, não termos rigor. Se alguma
coisa, julgo que estes eventos podem trazer e podem ser úteis é se no fim, cada
um de vocês quando regressarem às suas terras, ao seu trabalho, à sua
Universidade, à sua escola, onde quer que seja, sinta que vai mais rico, porque
aprendeu novas metodologias de trabalho, aprendeu ainda a conhecer novos mecanismos
para avaliar o rigor, sobretudo se sentir com mais algumas competências.
Para terminar gostava-vos de dizer neste primeiro..., e,
parafraseando algo que tenha a ver com a minha juventude que mil Universidades
de Verão floresçam. Posto isto chega de palavras e vamos ao trabalho.
O tema que me propuseram falar convosco é sobre o problema
da comunicação e da política, portanto, eu construí aqui um Power Point com meia dúzia de slides, dividi a minha
intervenção em cinco pontos e depois há um sexto ponto de notas bibliográficas
que depois obviamente estarão à vossa disposição. Vou falar em primeiro lugar
sobre o enquadramento a que chamei a "Sociedades dos Nossos Dias",
vamos depois falar um pouco sobre aquilo que é no plano teórico para balizarmos
teoricamente o que é isto do marketing político, depois vamos falar de duas
coisas muito práticas, a primeira é o relacionamento entre os media e os
políticos, depois uma segunda questão que tem a ver com: como é que o marketing
eleitoral nos pode ajudar sobretudo em momentos que se aproximarão rapidamente,
e, poder-vos dar algumas pistas que quem sabe um dia no futuro poderão ser
úteis no vosso trabalho político, obviamente umas pequenas notas finais e a
bibliografia.
Sociedade dos Nossos Dias. Vivemos um momento de transição
entre uma construção que foi feita há cerca de 200 anos. Vamos simplificar as
coisas, vivemos numa transição que é hoje particularmente marcado pelos
trágicos acontecimentos que ocorreram há dois anos atrás, é a prova provada
que, de facto, estamos no fim de um ciclo e que vamos iniciar de certeza um
outro ciclo, os fins de ciclo têm sempre a ver com momentos de crise, momentos
de alguma angústia. Isso tem uma reflexão naquilo que é por exemplo a
governação dos Países, nós hoje vemos que os Governos praticamente, do ponto de
vista daquilo que são os seus programas não têm grandes divergências, é um
bocado difícil perceber quais são as divergências em termos programáticos entre
o centro de direita e às vezes o centro de esquerda, e, tem a ver com isso,
porque faltam os valores que de facto possam acentuar, fazer a clivagem que
é necessária para a vida dialéctica, para que se possa evoluir, possamos
ser confrontados com opções e caminhos diferentes no futuro.
Vivemos, portanto, um tempo de mudança, o fim daquilo que
foi ou aquilo que é a industrialização. Vamos passar para uma personalização se
quiserem em termos de economia de mercado, vamos passar para aquilo que é a
personalização de oferta ou seja para uma nova sociedade cujos contornos nós ainda
não conhecemos, ela ainda está a ser formatada e que podemos designá-la ou
neste momento pode ser conhecida pela sociedade do conhecimento, não a
sociedade de informação, a sociedade de informação restringe um pouco, se vocês
quiserem, a sociedade do conhecimento.
Ora bem, então deixem-me fazer uma síntese muita rápida daquilo que é a minha visão do
que é que é a sociedade dos nossos dias. Nós vivemos naquilo que é a sociedade
capitalista, a sociedade capitalista surge com a revolução industrial, ela
caracterizou-se sobretudo por ser uma sociedade massificada, aqueles que
estudam marketing lembram-se de uma célebre expressão "não importa tanto so fort que eu vou fazer ou fourtier é preto, cor de rosa ou..., as pessoas vão comprar
um fourtier preto, é aquilo que eu fabrico", é a
sociedade das massas. De um momento para o outro o Mundo foi confrontado, pela
primeira vez na história do homem com excesso de oferta, ou seja, havia mais
coisas para se vender do que potencialmente para poderem ser compradas, e, é
com a industrialização, é com a sociedade capitalista que surge a democracia,
ou seja, até à sociedade capitalista a organização social e política da
sociedade era feita de uma forma completamente distinta daquilo que o
capitalismo trouxe, se vocês quiserem há quem diga que inclusive o capitalismo
vem com uma ética, essa ética é a ética da eleição. No capitalismo nós hoje
podemos ser muito ricos, amanhã podemos ser muito pobres, socialmente a
sociedade é muito móvel, e, sendo muito móvel, portanto, permite rapidamente
que hoje possam ser eleitos ou então possam perder o combate seja no mercado,
seja também no campo político. No capitalismo assistimos àquilo que nós também
podemos chamar a democracia das massas, as pessoas tinham dois ou três grandes projectos,
vocês reparem que uma das maiores democracias do Mundo ainda há basicamente
dois partidos que se digladiam para poderem exercer o poder. De um lado os democratas e do outro lado os republicanos.
Estamos claramente naquilo que podemos chamar a democracia das massas, sabemos
que as coisas não são pretas, nem brancas, portanto, há uma degradação muito
grande entre o preto e o branco. Vamos, portanto, passar para aquilo cujos
contornos ainda nós não conhecemos bem, mas para aquilo que nós podemos dizer
que passar da sociedade capitalista para a sociedade do conhecimento, e, para
uma democracia mais participativa e sobretudo mais participada. Quando eu
comecei, quando tinha a vossa idade basicamente as possibilidades que eu tinha
de participar na vida política era ser membro de um partido político. Hoje
posso ser membro de uma Associação de Ambiente, posso ser membro de uma
Associação de consumidores, há outras formas de podermos participar na vida
activa enquanto cidadãos. É isto que caracteriza, apesar de tudo já os novos
tempos que vivemos. Com o capitalismo, com o excesso da oferta surgiu o
marketing. O marketing surge por uma questão óbvia, aqui há mais produtos para
vender do que pessoas que queiram comprar esses produtos, portanto, surge
aquilo que nós chamamos o marketing de massas. Mesmo no próprio marketing
estamos a passar de um marketing de massas para aquilo que nós hoje dizemos ser
o marketing relacional, onde aquilo que é importante já não é, eu vender
produtos que são massificados, muito uniformizados.
Quando eu comprei o meu primeiro carro, igual ao meu carro
havia no nosso País dezenas, milhares de carros, exactamente iguais, não havia
nenhuma diferença entre aqueles carros, se uma pessoa fosse comprar um R 5, um Fiat 600, eles eram todos praticamente iguais, depois se
fosse o Fiat 600 ou o R 5S ser um bocado mais
desportista, eles eram todos iguais. Quando hoje vocês vão comprar um carro,
seja de um pequeno carro utilitário ou um carro topo de gama, vocês podem
construir o carro, cada um de nós tem a capacidade de dizer: "Eu quero os
estofos interiores cor de rosa, amarelo, azuis às riscas", não interessa,
"quero que tenha tecto de abrir, que não tenha", nós estamos numa
sociedade em que apesar de tudo já conseguimos formatar os produtos em função
daquilo que são as necessidades das pessoas, estamos a falar para uma sociedade
muito mais personalizada, e, é disso que trata o marketing relacional.
Na sociedade em que a gente vive, e, nós há frente vamos
voltar a falar sobre isso, o paradoxo é que só existe aquilo que é noticiado,
há duzentos anos atrás fazer a viagem que eu fiz hoje e que me demorou duas
horas e meia, demoraria bem mais do que uma semana. Portanto, a percepção que
as pessoas tinham das coisas é totalmente distinta da percepção que nós hoje
temos das coisas. As coisas aconteciam naturalmente, mas hoje as coisas
acontecem se elas forem notícia. Se elas não forem notícia, se a Universidade
de Verão não fosse notícia, a Universidade de Verão, de facto, nunca tinha
acontecido, no entanto vocês vão estar aqui durante uma semana, este é um dos
paradoxos da sociedade em que a gente vive. Portanto, a informação é um bem
precioso e nós temos que saber tratar desse bem. Mas há um problema também que
nós temos que ter em atenção, nesta sociedade em que ainda nós hoje vivemos,
que é aquilo que nós podemos chamar a inflação fenomenológica,
o que é que isto quer dizer? Isto é um neologismo que eu criei, e, que é
basicamente dizer-vos o seguinte: Cada vez mais todos nós somos confrontados
com mais, mais e mais informação, só que o nosso computador central tem uma
capacidade, tem um processador que não consegue trabalhar essa informação que
nós recebemos, dos milhões e milhões bits de informação que nós recebemos só
uma pequeníssima parte é que vai ser tratada. Aqui reside a importância de
comunicar na política, ou seja, a capacidade que nós podemos colocar na
comunicação, as competências que nós podemos colocar na comunicação, de modo a
que a nossa informação seja aquela que o cidadão vai tratar, vai descodificar.
Se nós não o fizermos outros vão ocupar esse espaço, portanto, é aqui que
entra, digamos, a importância da comunicação na política. Quero alertar-vos
também para algo que é de efeito perverso desta inúmera quantidade de
informação com que nós somos confrontados, ter acesso a muita informação parece
que nós sabemos tudo aquilo que se passa, só que como nós não temos capacidade
de tratar essa informação, temos limites para a capacidade de tratar essa
informação, nós muitas vezes podemos manipular a informação, pondo uma
quantidade grande de informação ao dispor das pessoas, é aquilo que se chama o
efeito biombo. Quando eu quero manipular, quando eu não quero deixar as pessoas
pensar projecto sobre elas, um conjunto alargado de informação. Como elas
vão-se perder e vão tentar seleccionar aquilo que lhes interessa e não
interessa, vou conseguindo fazer, digamos assim, aquilo que está ao meu dispor,
é uma técnica que em marketing e política é muito utilizado, o Governo anterior
foi especialista na utilização daquilo que podemos chamar o efeito biombo, que
é, dá tanta informação às pessoas, eles estavam a fazer tanto, tanto, tanto,
parecia que, de facto, Portugal estava a andar para a frente, quando depois
caímos na real nós verificamos que Portugal afinal estava parado.
Dizer-vos também que no Mundo em que a gente vive os meios
de comunicação não são tão só os jornais, a rádio, os outdoors,
as televisões. É um equívoco pensar que só isso é que são os meios de
comunicação, nesta sociedade tudo comunica e tudo são meios de comunicação.
Deixem-me voltar à vida das empresas, se eu ligar para uma empresa e se a
telefonista me atender mal, a ideia que eu vou ficar dessa empresa é que ela
não é uma empresa competente, eficaz. Se eu olhar na rua e me passar o carro
dos iogurtes que eu todos os dias como de manhã se esse camião da distribuição
estiver todo sujo, vocês o que é que acham que vai acontecer no dia seguinte
quando eu for ao frigorífico pegar no iogurte? Bom, se os tipos trazem os
carros sujos, será que lá na Fábrica as coisas também são assim? Alertar-vos
que em comunicação e na sociedade em que a gente vive tudo comunica, tudo são
meios de comunicação, não são só apenas grandes campanhas multimedia,
tudo comunica, a maneira conforme eu estou, os pequenos truques que eu possa
utilizar, o facto de não estar ali sentado e estar aqui, quer dizer alguma
coisa, estou a tentar interagir, se eu estivesse ali sentado podia estar a
dizer exactamente as mesmas coisas, mas se calhar não estava a interagir tão
forte ou de uma maneira que eu pretendo que seja mais forte convosco.
Desculpem, precisar alguns conceitos para nós nos
balizarmos. Precisar dois conceitos que são não raras vezes muito confundidos,
o problema da identidade e o problema da imagem. A identidade é aquilo que eu
sou. O Carlos fez o favor de dizer a vocês não a minha identidade, a imagem
benevolente, simpática que ele tem de mim, a identidade é aquilo que, de facto,
está por debaixo desta camisa, por cá dentro. A imagem é aquilo que vocês vêm,
aqueles que estarão comigo duas ou três horas terão uma determinada imagem,
aqueles que lidam comigo há tanto tempo como ele têm outra imagem, e, às vezes
depois estereotipam, manipulam essa imagem e dizem aquelas coisas simpáticas
que ele ali disse. Isto é importante para perceberem qual é a diferença entre
aquilo que nós somos e aquilo que as outras pessoas veem de nós. Isto é determinante para o nosso processo de comunicação.
Ora bem, falemos então da identidade, a identidade são as
coisas, o mobiliário, o local, a documentação, isso é a identidade, a
identidade são os comportamentos, os hábitos, a linguagem, a história da
empresa, das organizações, isso é a sua identidade, a imagem é a representação
que as pessoas têm dos factos, é como o outros olham para nós e nos veem, os outros são os stareholder,
os nossos colaboradores, os nossos funcionários, os vizinhos do lado, o sistema
financeiro, a concorrência, os media, os líderes de opinião, é aquilo que os
outros veem sobre nós. Para vos chamar a atenção que
entre aquilo que eu sou e aquilo que vocês veem de
mim há uma distância, por muito mais do que eu seja, por muito menos teatral
que eu possa ser, por mais verdadeiro que eu seja, há sempre uma distância
entre aquilo que, de facto, eu sou e a forma como vocês me veem,
e, se isto é válido para mim, é válido também para as organizações. Então o que
é que faz a comunicação, se estivermos a falar de política, o que é que faz a
comunicação política? A comunicação política tenta aproximar a identidade da
imagem, o óptimo seria que um dia a imagem e a identidade fossem duas coisas
sobrepostas, é obvio que isso nunca vai acontecer, mas é aquilo que a
comunicação faz, o pior que pode acontecer é nós basearmos a nossa actuação
basicamente na imagem e termos uma identidade completamente distinta, dizer que
sou um homem de acção, que quero pôr um País melhor e depois nada fazer, a
imagem pode durante algum tempo manipular as pessoas, mas mais tarde ou mais
cedo, às vezes sempre mais cedo daquilo que as pessoas pensam aquilo que vem ao
de cima é a identidade, que é aquilo que, de facto, nós somos.
Posto isto espero que como introdução nos tenhamos situado
na sociedade em que vivemos, deixem-me agora dizer três ou quatro coisas sobre
aquilo que é o marketing político para também nos balizarmos depois na parte
final nalguns exemplos práticos que eu gostava de vos deixar ficar. Como eu
disse há pouco na economia de mercado, o marketing foi a resposta à
industrialização, foi pela primeira vez na sociedade industrializada que a
oferta foi superior à procura. Até então a procura foi sempre superior à
oferta. Quando olham para história e se vêem confrontados com grandes
mortandades, grandes períodos de fome, de facto, a oferta era sempre uma coisa
muito escassa em relação àquilo que era a procura. Foi a industrialização que
inverteu esse processo. Ao inverter esse processo surgiu uma técnica. Como eu
tenho muita oferta e a minha procura já não é tanta (e então na sociedade de
hoje em que a procura, portanto, o número de pessoas começa a diminuir), se eu
tenho dois produtos tenho que fazer ressaltar um deles para que o consumidor
compre o meu produto e não compre o produto do vizinho do lado. É isso que o
marketing faz, basicamente e em termos sintéticos o marketing foi uma resposta
a essa sobre-oferta em relação à procura Mas na
sociedade em que nós vivemos, na sociedade do conhecimento, (mais à frente
vamos falar sobre isso), o marketing político é a resposta à mediatização da
sociedade. Deixem-me agora abrir aqui um parêntese, há coisas que não vale a
pena a gente perder muito tempo a não ser para chorar o "leite
derramado" como diz o povo, a sociedade mediática ela existe e existe
independentemente da nossa vontade, é nesse Mundo que existe independente da
nossa vontade que nós temos que agir, portanto, mais vale a gente conhecer as
regras do jogo e tentarmos ser melhores, do que porventura termos discursos,
temos que acabar com isto, não sei quê, as coisas continuam e a gente passa ao
lado, ora bom, então o que é que é marketing político? Bem, trouxe-vos aqui uma
definição tremendamente simples para não estarmos a perder muito tempo com
isto. Basicamente o marketing político é a actividade neste caso concreto, os
partidos, as organizações políticas prosseguem para atingirem determinados
fins, aqui surge uma primeira confusão que é não raras vezes nós confundirmos
marketing político com marketing eleitoral. O marketing político vamos ver à
frente é distinto daquilo que é o marketing eleitoral, o marketing eleitoral é
algo que faz parte do marketing político, mas é uma pequena parte do marketing
político. Quando o PSD organiza hoje a Universidade de Verão está fazer
marketing político. Se amanhã formos disputar as eleições autárquicas aqui em
Castelo de Vide estamos a fazer marketing eleitoral. O marketing político é um
conjunto de acções que fazemos para conseguirmos atingir um determinado tipo de
objectivos. Por seu turno, o marketing eleitoral tem a ver basicamente com o
período eleitoral. Sendo que o período eleitoral não é o período legal
eleitoral, porque como vocês sabem há um determinado período legal para se
fazer a campanha, mas a campanha propriamente dita é aqui lida no seu sentido
mais lato, aqueles sete/oito/nove meses antes que antecedem os actos
eleitorais.
Deixem-me só ressaltar aqui esta diferença porque é precioso
que percebermos isto. O que vamos ver mais adiante é que ao confundirmos as
actividades de marketing eleitoral com as actividades de marketing político,
estamo-nos a esquecer que o marketing político é uma actividade permanente. Não
basta ganhar uma autarquia, fazer uma boa campanha, elegermos o nosso
candidato. Na sociedade em que vivemos tem que ser continuada uma actividade de
marketing: Temos que saber vender a nossa imagem e as obras que fazemos se porventura
queremos ser reeleitos. São esses os pressupostos básicos da sociedade em que
vivemos. Enquanto o marketing eleitoral é uma actividade de curto prazo e que
tem a ver com um objectivo muito preciso, neste caso concreto se for disputar
eleições, ganhar ou ter um melhor resultado, (nem sempre o objectivo nas
eleições é ganhar, é bom que tenhamos isso presente), fazer passar as mensagens
que nós entendemos como sendo as mais importantes
Sobre o marketing político, devo dizer-vos o seguinte: não
é, ao contrário do marketing dos produtos e dos serviços em que há já um
histórico acumulado em todo o Mundo, no nosso país também. O marketing político
não só em Portugal, a primeira grande campanha política em que nós podemos
dizer aqui está marketing eleitoral..., ocorreu há menos de meio século, ou
seja, é ainda uma actividade muito, muito recente e no nosso País ainda muito
mais recente, isto é importante porque nos coloca perante grandes desafios que
se tivéssemos uma experiência acumulada hoje conseguiríamos resolver de uma
forma mais eficaz, há ainda pouca investigação sobre essa matéria, muito pouca
coisa escrita em Português sobre esta matéria. O que geralmente temos feito no
nosso País é a transposição de experiências, se quisessem num jargão técnico fazer benchmarking.
Se nos produtos a transposição das experiências é mais fácil, no marketing
político nós estamos a falar de pessoas, estamos a falar de afectos, nem sempre
é a mesma coisa, a maneira como um povo se comporta na sua vida colectiva, da
maneira como nós Portugueses nos comportamos no nosso todo colectivo é
consideravelmente diferente da forma como por exemplo o povo Americano se
comporta ou o Brasileiro se comporta, até os nossos vizinhos Espanhóis se
comportam, temos maneiras diferentes, portanto, a transposição de processos não
é uma coisa fácil. Po isso também, o marketing
político no nosso País numa fase muito embrionária
Aqueles que já estudaram o marketing ou que algum dia
tiveram uma cadeira de marketing, sabem que o marketing tem aquilo a que nós
chamamos o mix, portanto, as componentes do
marketing, elas são estas quatro, os quatro "p" porque se nós
falarmos em Inglês estamos a falar em product, price, placement and promotion, portanto, são os
quatro célebres "p" do marketing, o que é que isto quer dizer?
Basicamente não basta ter um produto, não basta que o nosso produto seja bom, é
preciso que nós tenhamos um preço que seja competitivo, nós podemos ter um bom
produto e um bom preço, mas é preciso que este produto chegue às pessoas, temos
que ter uma boa distribuição, depois não basta ter um bom produto, com um bom
preço e bem distribuído, é preciso que as pessoas saibam que esse produto
existe, isto, digamos assim, são os quatro "p" do marketing, são as
quatro variáveis que nós estudamos no marketing dos produtos. Como é que nós
podemos trazer isto agora para o marketing político? O nosso produto são as
nossa propostas, as propostas não são só eleitorais, são as propostas
políticas, as nossas propostas programáticas, é a nossa ideologia, são as
nossas personalidades, o líder do nosso partido, o líder da nossa secção, o
candidato à Câmara, seja o que for, isso é o nosso produto. Qual é o preço que
nós vamos pedir às pessoas que paguem pelo nosso produto, o preço que nós vamos
pedir é que elas nos dêem o seu voto, qual é a distribuição? A distribuição é,
digamos, todas as estruturas, a logística que um determinado partido, uma
determinada organização possui no terreno, as secções, os núcleos, as
organizações autónomas, pegando no exemplo do nosso partido é a nossa
logística, o nosso placeman, e, a comunicação
obviamente é a comunicação, mas deixem-me então aqui abrir um pequeno
parênteses: Mas então será que vender um sabonete é a mesma coisa que vender um
político? Será, fazendo fé naquilo que foi um ex-Director de dois canais de televisão. Será que nós podemos utilizando as técnicas puras
e duras do marketing dos produtos e dos serviços, transpô-las para o marketing
político e para o marketing eleitoral, ela são rigorosamente aplicáveis? Quem
diz isso não percebe que quando nós estamos a falar do marketing político, não
estamos a falar de um produto. Um homem político não nasceu quando ele chegou à
política, vocês não nasceram no dia em que porventura começaram a participar
nestas coisas da JSD ou do PSD ou o que quer que seja, o homem político tem uma
história que vai muito para além daquilo que é a sua actividade, e, ainda bem,
muito para além daquilo que é a sua actividade política ou partidária,
portanto, ele de repente não pode, apagar o resto da sua personalidade e ser
isso. Há um celebérrimo estudo de uma personalidade que chamava-se Gany Hart, de repente os
democratas nos Estados Unidos na busca de um candidato para as eleições, um
conjunto daquilo que nós hoje chamávamos os manipuladores da comunicação,
pegaram num congressista do interior dos Estados Unidos e formataram o
congressista em função dos estudos de opinião. Mais há frente vamos ver,
mudaram-lhe o nome, mudaram-lhe a idade, e, o que é que aconteceu? Durou o
tempo efémero de dois/três meses de campanha eleitoral, até que se descobriu
que ele não era Heart (coração), mas era Hartman, afinal não tinha x anos porque dentro da idade
média era ligeiramente mais velho ou seja, não era a mesma coisa. Estamos a
falar de pessoas, estamos a falar de emoções, de afectos, ou seja, de bens
muito mais intangíveis do que aquilo que são os bens do marketing dos produtos
e dos serviços.
Gostava de ainda neste momento vos chamar a atenção para
duas questões que são na minha opinião importantes. Em primeiro lugar é que
conforme vos disse a sociedade onde a gente vive é esta, podemos meter-nos no space shutle e ir para a estação
arbitral, mas é esta a sociedade em que a gente vive-se não conseguir o lugar
ou não tiver o dinheiro para comprar o ticket para
entrar no próximo voo. Portanto, se assim é, vamos utilizar os mecanismos, e, o
marketing pode ajudar e deve ajudar, deve ser um instrumento que ajude a
fortalecer a própria democracia, que é aquilo que eu vos dizia à bocado, não
chega ter um produto, não chega esse produto ter um bom preço para que as
pessoas possam comprar, não chega que esse produto esteja disponível nos pontos
de venda, é preciso que as pessoas saibam que esse produto existe. Não basta
termos um programa, não basta fazermos obra no Governo ou nas autarquias, não
basta procurarmos lutar pela coesão nacional, portanto, fazermos obra não só no
Alentejo, como no Norte, não só no Centro como no Algarve ou nas regiões
autónomas, não basta isso, é preciso que as pessoas saibam da existência das
nossas propostas, saibam daquilo que estamos a fazer. E se fizermos isso,
depois não se esqueçam que não estamos isolados, a oposição vai fazer a mesma
coisa, tentar pôr a nu as nossas fragilidades. Estamos a fortalecer aquilo que
é a democracia. Não se esqueçam também de uma coisa, que aliás me impressionou
fortemente quando eu entrei, a organização em tudo é a chave do sucesso, as
pessoas organizadas, até numa corrida de cem metros já saíram daquela fase dos
elementos de partida, já estão a correr, portanto, se nós queremos ser
organizados, se nós queremos ter sucesso temos que ser inevitavelmente
organizados.
Quando estamos a falar da gestão do marketing eleitoral,
estamos a falar sobretudo de três tipos de recursos, quando estamos a falar em
gestão, estamos a falar em gerir os recursos. É disso que se trata, nas
empresas, no marketing eleitoral também. Estamos a falar de gerir recursos
financeiros, estamos a falar de gerir os recursos técnicos, estamos a falar de
gerir recursos humanos. Mais há frente vamos falar sobre isto, porque hoje no
marketing cada vez mais estes dois tipos de recursos humanos actuam os
profissionais e os voluntários que são geralmente os militantes ou os
simpatizantes dos partidos. Temos assim que ter a noção de que é preciso, somar
para multiplica. Gerir o marketing seja o político, seja o eleitoral, é gerir
recursos, é bom que tenhamos esta questão sempre presente.
Posto isto, ditas estas generalidades sobre a sociedade em
que vivemos e sobre aquilo que é o marketing, e, fazendo aquelas destrinças que
eu procurei fazer e que espero que tenha sido claro, que abordar duas questões
mais concretas da sociedade dos nosso dias. A primeira questão que gostaria de
abordar é a sociedade em que vivemos. Tenho aqui uma citação do Daniel Proença
de Carvalho e, é só para vos dizer o seguinte: nós temos que saber fazer e
fazer de uma forma positiva, estabelecer este relacionamento entre os media e
os políticos, e, porquê? Porque a comunicação política age num espaço onde
conflituam três tipos de poderes, e, são poderes em que cada um quer mandar
mais do que o outro, cada um quer ter a primazia. Em tudo na vida há sempre
alguém que quer ter a primazia, portanto, na sociedade em que vivemos há três
tipos de poderes, o triângulo infernal, pegando naquilo que um sociólogo
Francês que estuda estas coisas, o Volten diz, três
tipos de poderes que interagem e que são muito importantes, e, cada um quer ter
uma supremacia em relação ao outro, que são:
Os políticos, os jornalistas e a opinião pública.
Aqui falo de opinião pública, não falo de opinião publicada.
Falo na opinião pública, nos cidadãos, no seu todo. Temos que perceber que é
disso que a comunicação política trata, portanto, é aqui que nós temos que
actuar. A primeira constatação que temos que fazer neste relacionamento entre
os media e os políticos, é aquilo que eu disse logo no início sobre a questão
que as coisas só existem quando são noticiadas. Por muito que isto pareça
conversa de há 60 anos atrás é uma constatação: uma coisa só acontece se vier
noticiada. Outra coisa que temos que ter em linha de atenção
é que os media geralmente repetem as mesmas afirmações (mais frente
vamos fazer uma breve nota sobre isso). Ser é ser-se visto, ou seja, estamos
numa sociedade em que a identidade perde para a imagem, é bom que nós
percebamos isso. Reparem que ainda hoje se discute por exemplo aquilo que veio
relatado sobre a "Guerra na Bósnia" ou aquilo que aconteceu no
Iraque, no Kuwait, quando os Americanos lá chegaram na Guerra do Golfo, ainda hoje
se discute se, de facto, aquilo que aconteceu, foi aquilo que os media
transmitiram, mas dado que repetiram tantas vezes, tantas vezes aquilo daquela
maneira, a repetição confunde-se com o que realmente aconteceu.
Nesta sociedade nunca nos podemos esquecer que os
jornalistas apenas se interessam por aquilo que é excepcional, mas não é um
excepcional qualquer, é o excepcional que eles vêem, ou seja, nós podemos
pensar por exemplo que esta Universidade de Verão é uma coisa excepcional e os
jornalistas acharem que isto é propaganda política, não vale a pena, ou seja,
temos que perceber que o excepcional, aquilo que é excepcional para nós, pode
não ser excepcional para um jornalista. Na sociedade em que nós vivemos, há
duas frases que tratam um pouco a realidade, a primeira que é o paradoxo do
plágio, é que os jornalistas na busca de serem diferentes, de quererem as
caixas, acabam todos por se plagiar uns aos outros, se vocês repararem aqueles
que fazem esse exercício, se nós lermos o Diário de Notícias, o Correio da
Manhã, o Público, para pegar na política na busca de serem diferentes todos
eles acabam basicamente por dizer as mesmas coisas, isto porquê? Porque nós
vivemos aquilo que alguns autores dizem o jornalismo do fast food, não há investigação em Portugal, a maior parte
das caixas jornalísticas, todos nós sabemos são dadas pelas fontes, há pouca
investigação, há poucos jornalistas de investigação em Portugal, eu aponto-vos
aqui a preguiça. É evidente que se eu ficasse só pela preguiça também estava a
ser manipulador. Hoje as redacções pelos custos inerentes à actividade, são
muito mais pequenas, há também outros factores endógenos à própria actividade
que nós temos que ter em linha de conta, mas para aquilo que interessa, para
aquilo que nos interessa a nós, temos é que ter a noção destas três afirmações
que estão aqui, não é o que é excepcional para nós, é o que é que é excepcional
para eles, que eles se plagiam uns aos outros na busca, procurando ser
originais acabam nunca por o ser, e, que ou a gente lhes prepara a papa, (é
como se diz na gíria) ou então corremos um sério risco de não ter nenhuma
notícia no jornal sobre o que quer que seja. Perceber ainda que nesta sociedade
mediática, aquilo que os media de um modo geral fazem não é enaltecer a qualidade
das pessoas, é exacerbar os seus defeitos. Não é notícia: "O cão mordeu no
homem", é notícia: "O homem morder no cão". Aquilo que é
diferente, portanto, o que é diferente é o indivíduo, não é o que ele fez pelo
País, o que ele fez pela sua terra, fez pela sua organização, é porventura o
pequeno lapso que ele teve na sua vida, isso é que é, relevante, isso é que é
interessante para se publicar. Também temos a noção que nesta sociedade
mediática dos tais milhões de bits que passam por esta sociedade, em primeiro
lugar aquilo que é preciso saber é quem é o nosso mercado alvo, para quem é que
nós queremos falar. Isto muitas vezes não é uma resposta tão fácil quanto à
primeira vista parece. Nas últimas eleições autárquicas estive envolvido em
várias campanhas eleitorais, fui director de uma dessas campanhas eleitorais,
e, uma das coisas em que nós perdemos mais tempo foi a tentar perceber quem é
que era o nosso público alvo. Julgo que a primeira
razão do sucesso e do resultado inesperado das eleições foi que nós conseguimos
definir claramente com quem queríamos falar e com quem não valia a pena gastar
energias porque não as tínhamos.
Se a primeira questão importante é com quem é que nós
queremos falar, é estudar a procura, estudar os cidadãos, a segunda é estudar a
oferta, o nosso posicionamento, aquilo que nós queremos que as pessoas vejam
que nós somos, quais são os temas da minha candidatura, é o posicionamento. É
bom que à partida definamos de forma clara estas matérias, depois é preciso
definir um plano estratégico, e, esse plano estratégico tem quatro questões. A
política de comunicação é a quarta questão, não pensem que a comunicação
resolve os problemas, a comunicação pode potenciar os problemas, se nós antes
da comunicação não tivermos uma organização, uma disciplina, se não tivermos
reflexão. Sobre a organização dizer-vos que uma estrutura de campanha não é um
conjunto de amigos que se reúne de vez em quando para discutir, dizer-vos que
sendo necessário nós contratarmos pessoas ou serviços (hoje cada vez mais
sobretudo para aquelas eleições que tem maior relevo contratarmos
profissionais), nada é substituível à experiência em marketing político,
conforme eu vos disse no início. Não há ainda um conhecimento adquirido
suficiente para que a gente possa, dizer isto vai ser assim, e, porque cada
eleição é um caso diferente, portanto, esta questão da experiência é bastante
importante.
Sobre a disciplina dizer só o seguinte: quando nós nos
disponibilizamos enquanto militantes, simpatizantes, aderentes de uma determinada
causa, de um determinado partido ou de uma candidatura, nós estamos lá para ser
executantes. Não somos nós os autores principais, nós
temos que eleger alguém, é para essa pessoa e sobre as orientações de alguém
que nós devemos trabalhar.
Parando um pouco aqui na comunicação e sobre a identidade e
a imagem dizer-vos que uma boa imagem é aquela que faz um compromisso entre
aquilo que eu sou e aquilo que o meu eleitorado espera de mim, ou seja, se o
eleitorado quiser uma pessoa de rigor, se eu chegar sempre tarde às Sessões de
certeza que o meu eleitorado vai rapidamente aperceber-se disso, ou se quando
me perguntam quantas pessoas é que vivem na minha terra e eu disser: "Mais
ou menos não sei quê. Deixem-me repetir novamente isto, não esquecer que nesta
sociedade em que a gente vive onde existem milhões e milhões de mensagens, a
estratégia correcta para que a nossa mensagem passe é se ela for uma mensagem
simples, escorreita e não procurar passar muitas mensagens ao mesmo tempo, ou
seja, cada vez em cada operação tentar passar uma e apenas uma mensagem.
Vou passar aqui à frente, vou-vos deixar os acetatos,
deixem-me só falar sobre esta matéria. Cada vez mais fazer campanhas eleitorais
tem a ver com gestão de recursos financeiros. Os partidos, no passado, passavam
a imagem, (que era por acaso bastante real neste caso concreto), que tudo era
fácil. É bom que se perceba que os recursos financeiros dos partidos têm
limites, e, que uma campanha eleitoral ou a nossa actuação no terreno deve
obedecer a esses limites sob pena de se não obedecermos a esses limites, irmos
por esse Paíse fora interrogarmo-nos porque é que
temos o urbanismo que temos? Porque é que temos a costa da forma que temos?
Porque é que temos as cidades da forma como elas estão neste momento a ser
movidas? Porquê? Porque a maior parte dos partidos, nós próprios também,
esquecemo-nos de alguma contenção nesta matéria.
Não sei se o Senhor Presidente me permite ainda umas notas
finais? Sobre as notas finais tenho uma nota sobre as sondagens, portanto, vou
lá. Em primeiro lugar, campanha eleitoral propriamente dita visa um objectivo
central que é ganhar os indecisos. Quando nós chegamos à luta eleitoral temos
pela frente basicamente três tipos de pessoas, as que votam em nós, as que não
votam em nós e aquelas que estão indecisas, portanto, quando nós definimos uma
estratégia eleitoral, nós não vamos definir uma estratégia eleitoral a pensar
ganhar as pessoas que votam em nós, essas já votam em nós, também dificilmente
vamos conseguir trazer muitos daqueles que estão engajados nos partidos da
oposição, a nossa estratégia eleitoral deve ser dirigida àquilo que são os
indecisos. Se repararem nas sondagens, quando começa uma campanha eleitoral os
indecisos são uma fatia importante do eleitorado, (e, cada vez se alonga mais
no futuro). Quando começamos uma campanha eleitoral uma das coisas mais
importantes para o sucesso dessa campanha eleitoral é nós fazermos endomarketing, ou seja, fazermos marketing no interior da
nossa organização. Só conseguimos vender um produto se as pessoas que forem
vender o produto acreditem nele e estiverem mobilizadas para vender esse
produto. Dizer-vos também que o marketing é uma coisa muito importante,
dizer-vos que com marketing apenas não se ganham eleições, nós não conseguimos
apenas com o marketing ganhar as eleições. Recordem-se dos tempos que ainda há
pouco tempo vivemos em Portugal com o PS no Governo, mas também dizer-vos que
nesta sociedade em que vivemos sem marketing não se conseguem ganhar eleições.
Deixem-me falar-vos agora aqui nas últimas notas finais
sobre o problema das sondagens. O problema das sondagens é um problema novo, as
sondagens têm uma importância vital, não tanto por causa delas, mas por causa
da leitura que os media fazem das sondagens. Quando os media de um modo geral
dizem, as sondagens dizem que este partido vai perder, criam uma dinâmica
negativa para esse projecto eleitoral. É bom que nos apercebamos disso,
primeiro desmobiliza o próprio partido, desmobiliza os nossos vendedores,
desmobiliza o nosso partido, depois começa a criar na opinião pública um
sentimento de que há um ganhador. Como sabem as pessoas geralmente gostam de
estar com os ganhadores, isto é regra, como todas as regras esta também tem
excepções.
Dizer-vos que é importante nós sermos populares, os nossos
projectos serem populares, porque significam que eles têm adesão, mas quando
nós fazemos política e fazemos marketing político, fazemos comunicação política
só a pensar naquilo que é popular, geralmente aquilo que acontece é que a dada
altura ou fugimos ou somos postos fora.
Dizer-vos que o marketing não fabrica políticos, quando
muito o marketing ajuda os políticos a apresentarem-se melhor, a serem mais
bonitos, a comunicarem melhor, mas não fabrica políticos. Dizer-vos que em
política não há improvisos, em comunicação não há improvisos, os melhores
improvisos são aqueles que são muito bem preparados, a corrida de cem metros
dura hoje nos campeonatos mundiais pouco mais de dez segundos. Os corredores
passam anos para conseguir obter aqueles dez segundos. Fixem esta imagem porque
é importante. Muitas vezes para uma pequena coisa estão muitas horas, muitos
dias, muitos meses, muitos anos de trabalho, ou seja, apesar da efemeridade do
evento temos que ter a noção que por detrás tem que haver muito trabalho
A terminar dizer-vos o seguinte: o papel de um líder na
política, por isso é que o marketing tem uma importância grande na sociedade em
que a gente vive, é que um político, sobretudo um líder político aquilo onde
ele deve focar melhor a sua actividade é a gerir expectativas. Se um líder
político for capaz de vender sempre novos sonhos, ir concretizando e vender
sempre novos sonhos, esse líder político será imbatível. Quando os líderes
políticos deixam de vender sonhos, deixam de criar novas expectativas
geralmente perdem as eleições. Deixem-me terminar com uma frase de um líder
político notável republicano, um homem de direita, que foi o Mayor de Nova Iorque porque estamos no dia onze de
Setembro, e, chamar-vos a atenção que no livro que ele publicou recentemente,
houve algo que me tocou profundamente: "Deus está nos pormenores". É
bom que nós percebamos. Muitas vezes o sucesso não está nas grandes coisas,
está na nossa capacidade de organização, na nossa capacidade de fazermos bem
feitas as pequenas coisas, e, aquilo que mais espanta na democracia, com o
marketing, com a sociedade mediática, é que ela não é um bem de geração
espontânea, ela é algo que os homens criaram, portanto, é em nós homens que
compete cada vez mais melhorar e aprofundar a democracia, o marketing é
meramente, e, a comunicação política são meramente pequenos instrumentos que
podem ajudar a melhorar a democracia.
Obrigado." (PALMAS)
Rui Duarte - Grupo Amarelo
"Antes de mais boa tarde. É um facto que qualquer
político para ascender na sua carreira necessita de meios de comunicação para
difundir a sua mensagem e imagem, se por um lado os meios de comunicação podem
ajudar no crescimento de um político, por outro apoiam o fim da mesma com um
simples boato. Hoje em dia chegámos ao ponto que já não há barreiras para os
meios de comunicação, onde uma curta frase colocada em outro tipo de contexto
contrária ao original põe pura e simplesmente fim às suas ambições. Posto isto
o Doutor Agostinho concorda ou não com a criação urgente de uma nova legislação
em que sejam estabelecidos limites para impedir uma desenfreada manipulação de
mentes pelos órgãos de comunicação social, e, assim existir efectivamente um
quarto poder, haverá coragem política para que tal aconteça ou não?
Obrigado." (PALMAS)
Bárbara - Grupo Laranja
"Boa tarde. Considero que Portugal ainda tem uma fraca
tradição em marketing e em marketing político, no entanto nas últimas
eleições quer legislativas, quer autárquicas, demonstrou-se uma preocupação em
aplicar algumas dessas metodologias. Como prevê o futuro do nosso País nesta
área
Obrigado." (PALMAS)
Agostinho
Branquinho
"Podia responder, aliás, vou responder conforme as
respostas devem ser dadas na sociedade mediática, é assim: deve haver fiscalização
dos media, é um debate que atravessa todo o nosso universo, aqueles que são
agentes dos media dizem que a auto regulação é o caminho correcto, geralmente
os políticos acham que o caminho correcto é a criação de órgãos mais
institucionais para fiscalizar os media, julgo que nem uma coisa nem outra são
solução. Já vimos que a auto regulação deu no que deu, concordo em absoluto com
a sustentação da sua pergunta, portanto, acho que deve haver legislação
especial, a minha opinião sobre essa matéria é que deve haver legislação
especial para os crimes que sejam praticados pelos media, deve haver Tribunais
especiais para os crimes que são praticados pelos media. E, deve ser posto um in foco muito na criação daquilo que nós podemos chamar os
media watchers, ou seja, na criação de associações de
consumidores, vão ter um papel cada vez mais importante e se calhar bem mais
determinante do que os mecanismos de auto regulação ou os órgãos mais
institucionais, tipo auto autoridade de qualquer coisa.
Deixe-me dar uma pequena sustentação. A sustentação porque é
que eu acho que deve haver legislação mais dura e Tribunais especiais, é porque
é um problema do tempo, o tempo mediático é medido com a expressão
"já", enquanto o tempo judicial é um tempo muito lento, raramente um
processo chega ao seu fim, qualquer que ele seja, mesmo em Países onde a
justiça é mais célere, do que um ano/dois anos com os recursos, etc., portanto,
aquilo que acontece é para julgar coisas de um tempo que é o "já",
essas coisas não podem ser julgadas, não podem ser avaliadas com processos que
são lentos, daí que eu defenda, aliás é o exemplo do que está a acontecer
nalguns Países, nomeadamente, na Inglaterra, o que é aliás o berço da
democracia contemporânea se nós quisermos, que deva ser criado esse tipo de
legislação, dizer também que não vejo nisso nenhuma atitude persecutória em
relação aos media, porque se não então também não era persecutório nós impormos
a censura prévia, ou seja, que a confirmação das fontes fosse feita por uma
entidade qualquer que ela seja, um Big Brother qualquer, que não fizesse nem uma coisa, nem outra,
vamos é criar legislação especial, Tribunais especiais, mais céleres, mais
rápidos, que possam julgar, e, vamos estimular o aparecimento dos media watchers, as associações de consumidores desses meios que
possam, digamos, zelar pela isenção desses meios, isenção não quer dizer
objectividade, não há objectividade na comunicação, o que tem que haver é
honestidade na comunicação.
Sobre a segunda questão. O marketing político é obviamente
uma coisa muito recente no nosso País, o nosso País praticamente se vocês
quiserem, é na década de 90 que começa a haver uma atitude sustentada de
técnicas de marketing político no nosso País, aos mais diferentes níveis, desde
o nível central ao nível local, o que é que vai acontecer no futuro? No futuro
vai acontecer uma coisa inevitável na sequência daquilo que eu procurei dizer
na hora anterior, cada vez mais nós temos que ter a noção de que o jogo é este,
de que o jogo se disputa numa sociedade muito aberta onde há milhares de olhos
que estão, digamos, à procura daquilo que é excepcional de acordo com os olhos
deles, portanto, nós temos que utilizar as técnicas da comunicação o mais
profissionalmente possível, sendo certo que isso também não é mal nenhum,
porque nós não vamos confundir nunca comunicação com manipulação, e, quando
isso acontece, às vezes acontece, eu acredito nos homens, volto a dizer-vos
quando a política é só marketing, eles ou fogem ou são depostos." (PALMAS)
Mafalda
Cardoso - Grupo Bege
"Obrigado Jorge Nuno, Doutor Agostinho Branquinho vou
tentar ser sucinta tal como nos pediu o nosso Director, mas não antes sem o
felicitar pela excelente intervenção sobre o marketing que nos propocionou, e, que é importante, nós como JSD é importante
começarmos a perceber isto do marketing político, o que é que é? Como é que
funciona? (PALMAS)
Em nome do Grupo Bege, a questão que lhe tenho a colocar
engloba-se no seguinte contexto. Temos um terminator que quer ser Governador da Califórnia, temos um big brother Francês de políticos, com tanta preocupação com o
voto e com a imagem do político, a procura do sound byte e o populismo que sem dúvida se traduzem em bons resultados eleitorais,
Doutor Agostinho não estamos a hipotecar a definição e concretização de
estratégias de fundo? Gostaríamos de saber como é que isto pode ser no fim
contrariado?
Obrigado." (PALMAS)
Vanessa
Faria - Grupo Castanho
"Boa tarde Doutor Agostinho Branquinho. Parafraseando o
Professor Fernando Seara "governar é aparecer, e, aparecer é dar sentido à governabilidade". Aparecer associa-se há imagem
traduzida na presença, por sua vez à forma de comunicar é um modo de ser, sendo
o marketing eleitoral uma área importante pertencente ao marketing político que
aproxima o Governo dos Governados, pode um político em processo eleitoral
prejudicar-se por um plano de marketing mal elaborado? Será que por vezes a
imagem se sobrepõe ao discurso político?" (PALMAS)
Agostinho
Branquinho
"São outra vez duas perguntas que tenho que responder telegráficamente, se não vocês não se vêem livres de mim,
mas levantam questões... (RISOS). Vivemos numa sociedade que é feita de
pessoas, não é? Nós "graças a Deus" temos virtudes e temos defeitos,
tudo aquilo que o homem faz, o homem ou a mulher, com M grande, e, o homem com
H grande, têm coisas que são bem feitas, têm coisas que são mal feitas, pronto,
isso faz parte da nossa vivência na sociedade. No marketing há coisas que o
marketing faz bem feitas, e, há coisas que o marketing faz mal feitas. A
sociedade em que vivemos de uma grande exposição obriga-nos a ter uma grande
ética da responsabilização, portanto, essa ética da responsabilização deve ser
ainda muito mais aprofundada, mais cuidada quando nós estamos no domínio do
marketing político. Não basta ser um bom marketier para se poder fazer marketing político, para ser um bom marketier político exige-se ainda mais fundamentos éticos, nobreza de carácter, valores
consistentes para se poder estar nisso, nessa actividade. Como em tudo na vida
às vezes há fenómenos, sobretudo numa sociedade que está em mudança, há por
vezes esses fenómenos dos terminatores, dos big brothers políticos, quem é
que não se lembra, até em Portugal já houve, vejo nos jornais que há agora essa
coisa do programa em França dos políticos, já houve cá em Portugal um programa
com contornos muito semelhantes, sobre essa matéria a gente até tem os que ter
algum cuidado por causa da nossa memória para não trazer algumas coisas ao de
cima, não é pelo menos politicamente correcto, mas os excessos obviamente que
têm que ser corrigidos. Mas eu sou uma pessoa optimista e sendo um crente,
julgo que mesmo com estes excessos, por exemplo nos grandes momentos eleitorais
em Portugal, o povo raramente se enganou. Acredito que esses excessos são
manifestações normais de homens que não são perfeitos, portanto, por vezes
acontece, mas reparem quando apenas é só marketing, quando apenas é só imagem
geralmente as pessoas saem pela porta baixa.
Sobre o problema do marketing eleitoral, é evidente que uma
gestão errada do marketing eleitoral, ou seja, se nós não definirmos de uma
forma precisa com quem queremos falar, e, se não definimos de forma precisa o
que é que vamos dizer, é evidente que se isto não acontecer temos o flanco mais
aberto para que pequenos eventos tenham uma dimensão maior. Temos de definir
bem aquilo que vamos dizer, que seja consistente, não seja supérfluo, não seja
só sound byte. Se nós formos só sound byte, formos só gravata bonita para a televisão, gel ou não sei o quê, é evidente que estamos mais expostos a esses efeitos laterais e pequenas
coisas que depois têm uma repercussão enorme. Um político pacato, (não é hoje
se calhar politicamente correcto), está mais defendido dos media do que um
político que quer estar sempre na "crista da onda", esse político que
quer estar sempre na "crista da onda" obviamente que é muito mais
vulnerável àquilo que é, digamos assim, às vezes a importância nefasta dos
media." (PALMAS)
José
Governo - Grupo Cinzento
"Boa tarde a todos, queria cumprimentar o Doutor
Agostinho Branquinho e aproveitar para felicitar o Reitor da nossa Universidade
de Verão por ter introduzido esta temática no programa, porque acho que ela é
fundamental e extremamente importante no contexto político, não basta fazer,
mas saber fazer. Ainda conhecemos muitos políticos que tentam fazer política
sem comunicar, todos nós sabemos e já aqui se falou da questão do desinteresse
de cidadãos pela política diagnosticada pelos níveis de abstenção nacional, ou
seja, no aumento do factor preço do... político, ora a nossa pergunta vai no
sentido de saber se é pelo marketing político que esse problema se resolverá? A
era pelo marketing político será o produto fraco, a distribuição ineficaz ou a
comunicação desajustada?" (PALMAS)
Jaime
Alves - Grupo Azul
"Boa tarde a todos, em primeiro lugar o Grupo Azul
gostava de saudar o ilustre convidado, o nosso magnífico Reitor e aquele que é
o nosso Presidente e Líder Jorge Nuno, que certamente também colaborou para que
esta Universidade de Verão seja uma realidade.
Como é do conhecimento geral, depois de 1974 a abstenção é
um fenómeno que tem vindo a crescer, ou seja, os eleitores participam menos
através do voto directo, porém estudos demonstram que os cidadãos não põem em
causa o actual modelo democrático representativo e que a vontade de
participação política é uma realidade, disso é exemplo as ONG'S, contudo as
estruturas partidárias tradicionais não são um atractivo, nem convidam à
participação, isto demonstra em parte o porquê da falta de confiança dos
representados aos representantes.
Assim a questão do Grupo Azul é a seguinte: se fazer
política é comunicar, quais são na sua opinião as medidas a tomar pela classe
política e pelos aparelhos partidários com vista pelo menos atenuar a falta de
confiança dos eleitores em relação aos políticos. Já agora o principal desafio
da democracia não será continuar a democratizar-se?
Obrigado." (PALMAS)
Agostinho
Branquinho
"As duas perguntas são muito próximas, portanto,
obrigado, mas se calhar englobo e respondo às duas de uma vez só.
Primeiro para dizer o seguinte: a primeira pergunta foi-me
colocada por alguém que sabe comunicar, porque se não soubesse comunicar, isto
é, afastava-se das pessoas, não ocupava as relevantes funções que ocupa, portanto,
é alguém que tem obra feita para poder falar com sustentação sobre estas
matérias. Dizer que o afastamento das pessoas da política e a pouca atractividade das estruturas partidárias têm um pouco a ver
com aquilo que são os pressupostos das duas perguntas, se calhar os produtos
estão um pouco desajustados, ou seja, os programas dos partidos, as propostas
dos partidos ainda estão um pouco afastados daquilo que são as reais
necessidades das pessoas. Lembro-me que o Carlos Coelho antes de ser magnífico
Reitor desta Universidade, há uns anos atrás coordenou um grupo de jovens que
puseram cá fora um conjunto de pressupostos programáticos que fizeram com que
nós pudéssemos alcançar duas maiorias absolutas, isto nunca foi relevado mas é
uma coisa tremendamente importante. O PSD chega ao poder com o Professor Cavaco
e com um conjunto de pessoas na governação do Professor Cavaco, com base num
programa com coisas novas, (hoje é vulgar haver preocupações ambientais). Se
recuarem 17 anos atrás o ambiente não estava na ordem do dia, e, a JSD foi na
altura coordenada pelo Carlos Coelho e fez uma coisa chamada o PPJP - Programa Político para a Juventude Portuguesa, onde pela
primeira vez se debateram coisas novas como o ambiente, como os novos valores
da sociedade emergente, que hoje já está aí. Se calhar isto tornou mais
atractivo as pessoas quando nós fomos para a campanha eleitoral de então, fomos
com um líder respeitado e que programaticamente depois conseguia colocar
questões na ordem do dia que eram as questões que, de facto, interessavam às
pessoas. Foi possível ter uma prática política que estava de acordo com aquilo
que eram as necessidades das pessoas, eu julgo que uma parte do afastamento das
pessoas da vida política e das estruturas formais têm a ver exactamente com
isso, a necessidade que o nosso produto, ou seja, as nossas intenções
programáticas devem ser reactualizadas de forma constante, caso contrário as
pessoas não sentem o mínimo de atractividade.
Por outro lado, uma reflexão que já agora deixo ficar aqui,
é percebermos se as estruturas formais, os partidos políticos são hoje também elas próprias fóruns de debate e de discussão para as
pessoas. Reparem se eu for um militante anónimo do partido, eu inscrevo-me na
minha secção residencial e depois quero discutir o quê? Vou discutir o quê? É
depois também nós na logística criarmos fóruns de debate. Temos de pensar se a
estrutura do nosso partido, da Jota, hoje é a
estrutura que corresponde às necessidades das pessoas que estão lá fora para
elas se sentirem atraídas para virem cá para dentro discutir os problemas. Por
isso é que cada vez mais as ONG's se vão fortificar.
E também é um bom caminho nós não reduzirmos a
participação dos cidadãos à sua participação só na sua vida política. Portanto,
algumas formas para combatermos o abstencionismo das pessoas nos actos
eleitorais, o afastamento dos partidos tem a ver com o facto dos partidos terem
a necessidade cada vez mais urgente de terem mais propostas programáticas, e,
de terem uma logística mais atractiva para que permita às pessoas participarem
nas discussões e não serem meramente utilizadas como peso eleitoral em eleições
internas. As pessoas perceberem que são bem mais importantes do que isso e que
elas podem ajudar a definir aquilo que vão ser as medidas que vão melhorar a
vida de todos nós." (PALMAS)
Ednilson - Grupo Roxo
"Antes de mais nada boa tarde, queria agradecer ao
nosso ilustre convidado Senhor Doutor Agostinho Branquinho, agradecer também ao
nosso Reitor Doutor Carlos Coelho, ao nosso Presidente da Jota,
também agradecer ao pessoal da organização, aos caros companheiros e colegas,
agora vamos à pergunta... (PALMAS)
A pergunta do Grupo Roxo é: tendo em conta o contraste entre
o anterior Governo, que foi o Governo do diálogo, e, o nosso Governo que é um
Governo acima de tudo de acção, que análise comparativa faz da eficácia da
comunicação de um e de outro? Doutor Agostinho Branquinho é a nossa
pergunta." (PALMAS)
Carina
Gomes - Grupo Rosa
"Boa tarde. Nós queríamos saber se o marketing, como é uma
arma assim tão poderosa é capaz de influenciar massas ou até levado ao extremo
até mesmo manipulá-las, queríamos colocar a seguinte questão: se o nosso Grupo
contactasse uma Empresa de Marketing ou a si próprio, disponibilizasse
orçamento que considerasse necessário e pudesse escolher a equipa que
desejasse, conseguiria vender qualquer produto, como por exemplo, com as
condições que eu já referi, julga que o marketing num País como Portugal
consegue levar um produto com o Tino de Rans a
Primeiro-Ministro? Já agora só apenas a título de curiosidade, se tivesse feito
a campanha de Santana Lopes em Lisboa, e, a equipa Brasileira tivesse feito a
de Rui Rio no Porto, acha que os candidatos teriam obtido resultados
diferentes?" (PALMAS)
Agostinho
Branquinho
"Rapidamente a primeira pergunta, a segunda é
politicamente incorrecta... (RISOS) ...lá tenho que ir
a isto, deixem-me ver se eu consigo.
A primeira questão é assim, quando nós dizemos que o Governo
anterior era um Governo de diálogo, e, este Governo é um Governo de acção
estamos no domínio do marketing político Acho que o outro Governo não foi nada
um Governo de diálogo, e, acho que este Governo não é um Governo de acção, mas
ainda falta mais alguma coisa, mas estamos lá, estamos no caminho certo, também
"Roma e Pavia não se fizeram num dia", mas estamos com dois
estereótipos, dois adjectivos qualificativos próprios do marketing político. O
outro Governo não foi um Governo de acção, foi um Governo de diálogo, foi um
desgoverno, isto tem a ver com o seguinte: o outro Governo tinha muita
comunicação, basicamente só comunicação, mas verificámos que isso não foi
suficiente, mesmo assim utilizando enormes esforços, fazendo investimentos
brutais em comunicação, isso pareceu que não foi suficiente para eles obterem
uma maioria absoluta quando foram julgados pelos portugueses, depois
confrontados com a realidade que tinham criado decidiram fugir do Governo.
A comunicação tem uma importância enorme que os Governos não
devem descurar, já aqui falámos sobre isso, acho que este Governo tem sido
q.b., o que é que quer dizer sido q.b.? Nós temos que
ter a noção que um Governo governa durante quatro anos, portanto, há um ciclo
que nós temos que gerir, nesse ciclo que temos que gerir, nós temos que ter a
noção em que há um momento em que nós temos que baixar as expectativas, e,
depois há um momento que se têm que criar novas expectativas, e, a herança que
nós recebemos era uma herança muito complicada, portanto, havia necessidade de
se baixar as expectativas. Julgo que a comunicação do Governo sobre o baixar
das expectativas foi correcta, em minha opinião, como pessoa que trabalha nesta
área, portanto, aquilo que agora se torna necessário ou que se torna cada vez
mais urgente é que comecemos a dar novas expectativas às pessoas. Volto a dizer
(era das frases que eu tinha ali num dos slides), não basta um líder, não é
gerido unicamente pelos resultados, um líder tem que focalizar-se sobretudo na
gestão das expectativas, ou seja, não basta ter acção, é preciso também vender
sonhos, se um líder não for capaz de ir concretizando e de criar novos sonhos
de certeza que nós vamos perder as eleições, estou convicto que obviamente que
há alguns problemas como em tudo sempre na comunicação, mas genericamente estou
de acordo com a estratégia, depois é obviamente questões de afinação, mas acho
que as coisas tendem a melhorar.
A segunda questão é uma questão hiper complicada, a primeira
parte é fácil, a primeira parte é dizer o seguinte: não foquei o Tino Rans que podia ser um bom exemplo, foquei o Garry Hart. Julgo que respondi um
pouco a isso, ou seja, quando nós fazemos construções artificiais rapidamente
essas construções artificiais acabam por cair, ou seja, eu posso estar em casa
e ver uma publicidade muito bem feita a um determinado produto que me tira a
caspa do cabelo, chego ao Supermercado ou à Farmácia e compro o champôo, depois lavo três ou quatro vezes a cabeça e vejo
que, de facto, continuo com caspa, a minha reacção é: "Nunca mais compro
este produto e vou dizer a toda a gente que não compre este produto", é
típico de toda a gente. Quando nós dizemos que os tipos da comunicação, da
publicidade, do marketing são uns mentirosos, é uma falsa questão, porque
ninguém é enganado toda a vida, é impossível enganarmos toda a gente toda a
vida, portanto, é impossível que essas construções durem muito tempo, na
democracia há apesar de tudo mecanismos que permitem que essas construções
acabem por se desfazer como as "ondas na areia".
Agora a segunda questão é assim, deixem-me dizer-vos o seguinte:
disse-vos que a nossa experiência do marketing político, ela é muito residual e
baseia-se muito em transposição de experiências, temos que ter algum cuidado
quando nós transportamos experiências, porque isto estamos a falar de pessoas,
a falar de emoções, de afectos, portanto, cada pessoa é uma individualidade.
Agora do ponto de vista abstracto a campanha de Lisboa, não era uma campanha
ganhadora no Porto. A campanha do Porto não era uma campanha ganhadora em
Lisboa. Porquê? Porque o líder de Lisboa tem um conjunto de atributos, de
valores, de competência que são diferentes, e, diferentes é bom, porque se não
éramos todos iguais e isso era uma chatice.
Sr. Grupo Encarnado
"...dado que
fazer política é comunicar, que a comunicação tem que chegar a todas as classes
sociais e sobretudo ao chegar tem que ser entendida, gostaríamos muito dado
termos esta oportunidade de nos esclarecer que nos pudesse dar umas achegas
como abordar tantos cidadãos por este País que têm imensas dificuldades na compreensão,
e, alguns termos técnicos e palavras tão complexas, não será esta uma das
causas do afastamento das pessoas da política?
Muito obrigado." (PALMAS)
Nuno Agostinho - Grupo Verde
"Boa tarde a
todos. A pergunta do Grupo Verde vem um pouco aqui na linha do Grupo Roxo, mas
que eu queria que fosse um pouco mais objectiva. Tendo em conta a natureza
reformista do actual Governo, uma vez que fazer política é comunicar, sendo que
neste sentido de comunicar estamos a falar de todos os seus instrumentos, ou
seja, num sentido mais lato, quer ao nível da própria imagem, eventualmente num
instrumento aqui que me parece fundamental e que não foi referido, mas
manifestamente por falta de tempo com certeza, ao nível das relações públicas,
que me parece um instrumento fundamental do partido que está no Governo,
portanto, tendo em conta isto como avalia o modelo e a estratégia da
comunicação adoptada por este Governo um pouco à luz da expressão que "à
mulher de César não basta ser, tem que parecer".
Obrigado." (PALMAS)
Agostinho
Branquinho
"Bom,
deixem-me dizer à primeira questão que foi colocada sobre a linguagem hermética
e dos termos não sei que mais, estamos na forma, não estamos no conteúdo, eu
acho que o marketing pode ajudar na forma, ou seja, é bom que o marketing ajude
a descodificar essa linguagem hermética e transforme os conteúdos em mensagens
simples e fáceis de serem entendíveis, mas é preciso
haver conteúdos. Ou seja, sem conteúdos o marketing não vai fazer nada a não
ser dizer algumas verdades evidentes que rapidamente depois se vêm a descobrir
que eram tão evidentes que não valia a pena as pessoas acreditarem muito tempo
naquilo. Os partidos têm que se preocupar sobretudo, e, aqui não é o marketing
que se tem que preocupar, são os partidos que têm que se preocupar sobretudo
nos conteúdos a reflectir, quais são os programas, depois então podem convidar
alguns especialistas, uns mais dotados, outros menos dotados, para transformar
esses conteúdos em mensagens na forma mais correcta de se fazer chegar às
pessoas. Portanto, essa é a questão e obviamente quanto mais simples e mais
rápida for a mensagem, mais sound byte ela for
melhor, mas se ficar só por sound byte as coisas não
vão a lado nenhum, como já tive oportunidade de referir em respostas anteriores
e também algures na minha intervenção
Sobre a questão da comunicação do Governo. Também já de certo modo disse isso,
nós temos que ter a noção, primeira questão: as pessoas que andam na vida
política são todas pessoas com uma grande capacidade de entrega, portanto, são
pessoas que gostam muito de participar. Temos uma grande capacidade de entrega
e gostamos muito de participar, somos todos muito ansiosos. Depois quem olha
para o País que tem e que acha que este País não deve estar irremediavelmente
condenado a ficar na cauda da Europa. Temos aqui matéria
prima para podermos ser dos melhores, e, ficarmos no tal pelotão da
frente dos Países mais avançados. Temos esse direito. Quando as coisas não
andam ao ritmo que queremos, nós próprios somos às vezes levados a ser
tomados por uma descrença e porventura a desconfiar se as opções que estamos a
tomar não foram porventura as opções mais correctas
Dito isto, agora deixem-me "ir chutar à baliza", não é? "Chutar
à baliza" significa o seguinte: já há pouco disse, é impossível gerir
correctamente a imagem de um Governo tendo sempre esse Governo um grande grau
de aceitação, ou seja, se vocês quiserem intenções de voto muito positivas, é
impossível, e, é estrategicamente errado, algo está mal na estratégia, porque é
impossível quatro/cinco/seis anos estarmos sempre na crista da onda. É
impossível. Não existe isso na sociedade em que vivemos. É a supremacia da
forma sobre os conteúdos. Olhando para o nosso ciclo político que é isso que
interessa, num ciclo político de quatro anos é obvio que existe um primeiro
momento em que é preciso fazer as coisas que custam mais, que porventura
poderão ter impacto mais negativo nas intenções de voto para num segundo
momento começarmos a demonstrar que as nossas propostas estão correctas,
começar a mostrar que tínhamos razão. Se isto fosse meramente um concurso de
popularidade, nós tínhamos que ser sempre populares, mas a função da liderança
em qualquer domínio e muito mais na governação, não é só fazer aquilo que as
pessoas gostariam de ser feito, é impossível, isso também não existe, era
preciso também ter todo o dinheiro do Mundo. Infelizmente não temos todo o
dinheiro do Mundo e aliás estávamos sem dinheiro. Temos assim que hierarquizar
a nossa acção e muitas vezes quando hierarquizamos a nossa acção, as pessoas
não se apercebem que algumas das medidas que nós estamos hoje a tomar vão ter
impacto positivo passado algum tempo. Portanto, nos ciclos políticos geralmente
os primeiros momentos, são momentos de refrear as
expectativas, para haver depois um segundo momento que é o momento para
aumentarmos as expectativas. Isto é correcto, porque é assim, é um ciclo. Se
fossem 5 anos seria de outra maneira e se fossem dois anos era de outra maneira
ainda. É uma inevitabilidade de quem tem que fazer a constatação e tem que
definir uma estratégia. Isso não significa que não haja sempre coisas a
corrigir, julgo que o nosso Governo tem do ponto de vista global uma estratégia
correcta. mas há muito que fazer, está-se no bom
caminho, depois pontualmente há de facto algumas coisas que são os
imponderáveis da política. Por isso é que vivemos em democracia e ainda bem.
Surgem problemas, surgem agentes políticos que não estão tão bem preparados
conforme deviam estar, há políticas que não foram se calhar tão bem pensadas
quanto o deveriam ter sido, portanto, é necessário fazer ajustes.
Mas tenho sempre receio dos homens perfeitos, acho que nós temos limites,
portanto, temos que errar, até porque aprendemos sempre com os erros,
aprendemos sempre muito mais com os erros do que com as vitórias. Acho pois que
estamos no bom caminho. Oxalá que assim seja e que daqui por dois anos e meio
ou três anos possamos vencer as eleições. Porque só passou um ano e meio. É bom
que não pensemos que as eleições são amanhã. Não são! Fascina-me como é que
alguns políticos conseguem definir uma estratégia tão a longo termo, de estar
sempre na "crista da onda". Tornam-se tão vulneráveis, tão
vulneráveis, que depois o facto de um dia estarem mais mal dispostos e darem
uma resposta torta transformam isso num fenómeno nacional, portanto, com
proporções incomensuráveis na sua própria vida política." (PALMAS)
Nuno Lebreiro
"Antes de mais boa tarde a todos, em particular ao nosso orador e ao nosso
magnífico Reitor. Não podia deixar de começar, porque hoje é o dia onze de
Setembro, se me permitirem um pequeno comentário, que era estender a minha
solidariedade e penso que a de todos nós, àqueles que morreram indirectamente
depois do onze de Setembro na guerra do Afeganistão, na guerra do Iraque,
soldados, civis, toda a tragédia humana, porque para mim a terceira Guerra
Mundial pode ser muito diferente mas já começou, e começou no dia onze de
Setembro de dois mil e um. (PALMAS)
A minha pergunta tem a ver com o facto de em Portugal, penso que a transição
entre os partidos de massa para os catch all parties, porque a militância
ainda felizmente para nós ainda é muito importante, mas somos partidos que
queremos ir buscar todos os votos, a minha questão é esta: é evidente que a ideologia
não se coaduna com este objectivo, com este princípio e o programa político
também não, o programa político que é apresentado a sufrágio, a questão que eu
gostava de colocar é como é que é possível apresentar um programa político que
consiga agradar a toda a gente para sermos eleitos, mas que depois seja um
programa político que seja viável, que seja um programa positivo para uma
governação com vista a objectivos duradouros e não objectivos efémeros, será
que o marketing efectivamente terá capacidade de nos dar uma resposta para que
uma campanha eleitoral tenha "sumo", tenha essência política e não
seja apenas um exercício de vaidades Obrigado." (PALMAS)
André Ambrósio
"Boa tarde a todos, principalmente ao Doutor Agostinho Branquinho a quem
ainda não tive o prazer de cumprimentar
O Senhor Silvio Berlusconi é uma pessoa que tem mexido muito com a Europa, ...recentemente
lançou um desafio a esta personagem, peço desculpa pelo termo, para legitimar a
sua posição perante os Italianos relativamente à sua relação com a justiça
Italiana, que é sobejamente conhecida, com que efeito Berlusconi para além das piadas de mau gosto com que nos tem presenteado no Parlamento
Europeu, tem imensos casos pendentes com a justiça, que no fundo minam um pouco
a sua imagem perante a opinião pública. Perante esta situação, perante a
ligação que ele tem com os órgãos de comunicação media, ele é dono de três
órgãos de comunicação social, não será isto um processo que devido à
democracia, todo um sinal que a relação entre o media e a política pode criar
uma não promiscuidade, pode questionar toda a legitimidade da democracia?
Obrigado." (PALMAS
Agostinho Branquinho
"Bom, primeira questão, é possível definir um programa para agradar a toda
a gente? Acho que para mim isso é claro, é impossível definir-se um programa
para agradar a toda a gente, e, ainda bem, quando nós queremos agradar a todos,
nós na matemática temos o máximo divisor comum, quando nós vamos á procura do
máximo divisor comum geralmente ficamos na banalidade. Ou seja, quanto maior
for o número de pessoas a quem queremos agradar, conquistar ou provocar adesão,
mais genérica vai ser a nossa plataforma programática, portanto, é bom que
assim não suceda, ou seja, é bom que na sociedade as plataformas não sejam genéricas,
quando acontece aparecer, na sociedade Portuguesa muitas vezes alguns
movimentos organizados de plataformas programáticas muito genéricas vivem do
imediatismo, elas acabam por ser rejeitadas, devo-vos um exemplo muito concreto
que é o PRD. O PRD foi claramente uma plataforma programática baseado num
conjunto de banalidades e generalidades, os políticos são todos uns corruptos,
os políticos não se entendem, o que é preciso são uns salvadores e uns
homens de bem para pôr cobro a esta bagunça, (desculpem lá as expressões), que
se vive no mundo da política. O PRD teve um grande crescimento mas as pessoas
ficaram a perceber: "bom, mas eles são piores do que os políticos",
ou seja, o fundamental não é termos um programa para agradar a toda a gente,
aliás quando eu vos falei na segmentação há pouco disse que quando vamos fazer
marketing eleitoral, sabemos que há uns que estão connosco, há outros que nunca
estarão connosco, pois há ali o meio que cada vez é maior. Isso é uma verdade,
cada vez mais o meio é maior. Hoje nas eleições o meio tem um peso já de 50%.
Hoje em Portugal aquilo que nós consideramos, quando partimos para um acto
eleitoral geralmente entre 45 a 50% das pessoas estão
indecisas. Temos ali um meio que temos que conquistar, provocar a adesão
dessas pessoas, e, a adesão é para que elas nos vão dar o seu voto com questões
programáticas que tenham a ver com o futuro e ditas de uma forma clara, de uma
forma que provoque afectos positivos, mas nunca ter a preocupação de agradar a
todos, é impossível. É impossível agradar a "gregos e a troianos" já
diz o povo, e os ditados geralmente traduzem muito da sabedoria. Temos que nos
focalizar nas coisas que, de facto, a nossa leitura daquilo que deve ser o
nosso País, daquilo onde nós queremos colocar o nosso País e em função disso
definir conteúdos programáticos e depois lutar por eles, e, tentar passar essa
mensagem o melhor possível. Se quisermos meramente agradar às pessoas não há
conteúdos, aí de certeza absoluta que não há conteúdos, há só forma. Até podemos
por meras situações conjunturais ganhar, mas acabamos por perder num médio e
longo termo, para quem quer discutir a liderança do País. Quem quer lutar por
um País melhor, tem que ter sempre objectivos de longo termo.
Aquilo que eu diria
sobre essa matéria é que é impossível agradar a todos, mas mais do que saber se
vamos ou não vamos agradar é termos a capacidade de definir quais são os
conteúdos programáticos, e, a partir daí então envolve-los numa embalagem para
que o maior número de pessoas possam ser atraídas por essa embalagem, mas ela
tem que ter algum conteúdo, porque se for só a embalagem nós não vamos de
certeza ganhar.
O problema da promiscuidade entre os media e os políticos, andava aqui à
procura para ler, na preparação da conferência de hoje recitei alguns autores
que gosto de ler, um dos autores que gosto de ler sobre estas questões dos
media e dos políticos, é um Senhor chamado Inácio Ramoné,
que foi Director Du “ Le Monde Diplomatique”, portanto, passo a publicidade,
porque é uma publicidade positiva, a "Campo de Letras" que é uma
Editora do Porto tem vindo publicar em Portugal várias obras do Ramoné, para quem se interessa por isso já agora aconselho,
porque acho que estão lá, está bem tipificado, ele tipifica de forma muito
clara essa promiscuidade que existe, que é real entre o mundo da política e o
mundo da comunicação
Agora feita esta introdução, primeira questão que colocou: não é
inevitavelmente impeditivo para qualquer cidadão o facto de ele ser dono de um
media, de vários media ou de um grupo de media, ser Primeiro-Ministro e que
isso o transforme imediatamente num manipulador. O único fundador do nosso
partido vivo é dono de um grupo empresarial com peso nos media em Portugal, ele não manipulou da forma como outras pessoas ou como ele poderia
porventura tê-lo feito enquanto foi Primeiro-Ministro pondo os media ao seu
serviço. Ou seja, significa que ele tinha uma ética de comportamento, um
conjunto de valores, um traço de carácter que fazia com que não utilizasse
esses meios para isso. Não significa que ele possa ter sido melhor ou pior
Primeiro-Ministro, não é isso, mas tinha era um conjunto de valores que fazia
com que não utilizasse esses meios. Porventura existem outros, o Senhor Balusconi é um exemplo se calhar ao contrário do Doutor
Balsemão, onde essa utilização abusiva dos media, de facto, leva-nos a poder
pensar que mecanismos nós podemos introduzir, quer legais, e, sobretudo de
participação cívica para impedir que estas possam, digamos, manipular o poder
Agora dito isto deixem-me fazer uma outra consideração.Disse-vos que há na comunicação política poderes que conflituam. Portanto, nós estamos
claramente numa área em que há um poder que quer estar no primeiro lugar, há
poderes que lutam para estar no primeiro lugar, mas só há um primeiro lugar.
Aquilo que eu vos posso dizer é que é o seguinte, a minha reflexão vai um pouco
neste sentido, a política há muito que perdeu o primado. Sou daqueles que acham
que o primado deve estar, o poder político deve ser o poder primeiro, qualquer
que sejam depois os agentes da política, os outros poderes devem estar
subordinados ao poder político, agora há muito que a política perdeu em termos
globais essa posição primeira na sociedade. Se formos a Países mais avançados
que o nosso, pegando no exemplo dos Estados Unidos, da própria Europa, nós
verificamos que o poder económico há muito que é ele que determina as grandes
regras e os grandes desafios que se colocam a essas sociedades, nuns casos isso
tem dado para o bem, mas o que nós temos visto também é que quando a sociedade
é gerida pela economia nem sempre os resultados são os melhores, porque a
economia acaba por ter sempre uma visão a curto prazo, portanto, acaba por
faltar à economia, no sentido nobre do termo a visão de médio e longo termo que
só a política é que dá. Ela é que introduz outros valores, nós não vivemos só
para ter muito dinheiro no bolso, nós enquanto pessoas vivemos para sermos
muito felizes, o dinheiro pode ser um caminho para a felicidade, mas não é esse
o objectivo, o objectivo não é ser rico, ninguém nasce para ser rico, nasce-se
para ser feliz, é a perspectiva que eu tenho da vida.
Hoje acho que há laivos que demonstram que aqui e além o poder económico está a
ser substituído pelo poder mediático, portanto, o Senhor Berlusconi é uma das erupções desse tipo de doença que para aí anda, o que eu acho sobre
essa matéria é que isso só resulta desta sociedade que está em mutação, nós
estamos a sair do capitalismo, da industrialização para a sociedade do
conhecimento, portanto, estamos num momento de crise de valores, de ideologias,
portanto, jugo que rapidamente a sociedade se vai ajustar, rapidamente,
obviamente que não é no tempo mediático, é no tempo global, rapidamente a
sociedade vai-se ajustar, eu acho que a política no sentido... vai voltar a ter
o primado, agora não vai voltar mais a ser a política da industrialização, vai
ser um novo tipo de política, já aqui se falou vão ser os partidos, vão ser as ONG's, vão ser outras formas de participação dos cidadãos,
até porque as próprias tecnologias de informação permitem que novos mecanismos
decisórios possam ser introduzidos, portanto, que permitam esta aproximação
entre aqueles que dirigem, aqueles que elegem os que são dirigidos, seja muito
mais próxima e muito mais eficaz." (PALMAS
Carlos Coelho
"Deixem-me só fazer um comentário sobre esta questão a propósito de Berlusconi, e, daquilo que o Dr Agostinho Branquinho sublinhou (e quanto a mim muito bem), a questão da imagem
e da identidade, ou seja, da credibilidade do discurso que é uma questão
essencial e que aliás também referiu a propósito do PRD. Tudo o que é pouco
consistente é efémero. Recordo-me de uma coisa que vi de Berlusconi. Berlusconi da primeira vez que foi Primeiro
Ministro de Itália, (não desta segunda), deu uma entrevista crucial num
momento em que estava a ser muito atacada a TV5. Uma das melhores jornalistas
da Televisão Francesa, Anne Sinclair,
conduziu uma entrevista muito forte, e, a determinada altura num dos momentos
mais duros da entrevista a questão que foi colocada ao Primeiro-Ministro Berlusconi foi a prisão recente do seu irmão. Ele tinha
acabado de ser preso e a jornalista diz-lhe à queima roupa:
"Senhor Primeiro-Ministro tanto quanto sei o seu irmão está a ter
problemas com a justiça". Há um gelo que se abate no estúdio, e que se
abate, e em todos os milhares para não dizer milhões de espectadores que
estavam a seguir aquele debate. Berlusconi faz um
sorriso de orelha para orelha, como se ela o tivesse cumprimentado e tivesse
feito um grande elogio e diz: "Não minha Senhora, está muito enganada, a
justiça é que está com problemas com o meu irmão". Isto foi uma reacção
instantânea, é um momento fabuloso de repentismo televisivo, de um Primeiro-Ministro que consegue sair de uma pergunta difícil mas
com uma resposta que não lhe dá credibilidade. As pessoas no fim daquilo dizem:
"Este homem é muito hábil, mas é pouco sério".
Acho que esta distinção é muito importante na política." (PALMAS)
Ricardo Leite
"Boa tarde mais uma vez... (RISOS) ...a minha
pergunta vai no âmbito do marketing eleitoral, hoje de facto assistimos a uma
exposição pragmática e extremamente útil sobre como se deve pensar e elaborar a
promoção da imagem de um político. Nós como militantes de uma juventude
partidária, penso eu, antes de fomentar a social democracia propriamente dita, temos como missão criar uma consciência política entre os
jovens Portugueses. Desse modo o que eu gostaria de saber é: como é que
poderíamos usar o marketing político de modo a promover o acto eleitoral em si
como forma de combate à abstenção?
”Obrigado." (PALMAS)
Luís Milton
"Muito boa tarde Doutor Agostinho Branquinho. A temática do marketing é
sem dúvida fundamental, porque entendo que estabelece a ponte entre o conteúdo
e o público alvo, assim gostaria de poder ter a
informação que me permite, uma vez que necessitamos sempre de especialistas,
comunicar eficazmente com eles, eles os especialistas. Queria sugerir que nos
fornecesse agora ou mais tarde eventualmente, informação bibliográfica que como
especialista que é, o que recomenda que consultemos para nos instruirmos?
Muito obrigado." (PALMAS)
Paulo Cavaleiro
"Muito boa
tarde. Eu não acho que devemos ser um Governo de imagem, não ser aquilo que
foram os Socialistas, que eram basicamente isso e que governavam por sondagens.
Já várias vezes manifestei a preocupação de como o nosso Governo passa a
imagem, quer para o partido, quer para os Portugueses das medidas que toma. Há
muitas coisas que acontecem sem que tenhamos a oportunidade de saber que estão
a acontecer, porque estão a acontecer e quais os objectivos, quando todos nós
temos obrigação, (pelo menos a maioria dos que aqui estão), de defender o
partido, de defender as suas ideias, de passar a mensagem, de ajudar a que os
Portugueses percebam. Porque já muitas vezes foi dito que aquilo que estamos a
fazer hoje, só se vai perceber amanhã, porque é aquilo que dizia o Ministro
Bagão Félix "Governar para as gerações, não governar para as eleições
Não sei se percebi bem ontem o Ministro Morais Sarmento, se o Governo está a
criar um Centro de Comunicação ou de informação, onde centralize toda a
política ou a comunicação do Governo. Se tem sentido concordar ou não com o que
está previsto? Acha que o Governo devia criar um Centro de Informação e Imagem
para uniformizar a imagem do Governo e a forma como ela sai e como é
transmitida para o exterior entre todos os Ministérios? Eu sou de uma Câmara
Municipal onde não há um Departamento de Ambiente, nem um Departamento de
Cultura. Somos todos da mesma Câmara, quem faz uma iniciativa é a Câmara
Municipal. É ela quem vai a votos.É o partido da
Câmara, não é a acção social, o desporto ou a cultura.
(PALMAS)
Agostinho Branquinho
"Sobre a
primeira questão, e, até que ponto é que o marketing eleitoral nos podia ajudar
a combater a abstenção, ou seja, a aumentar as formas de participação das
pessoas? Eu acho que com o actual modelo, (este modelo não é um problema só
nosso, o actual modelo da antiga sociedade ocidental), dificilmente nós
baixaremos os níveis ou aumentaremos os níveis de participação. Tem a ver com
entropias que o sistema democrático tem. Não é o marketing que vai resolver. O
marketing pode num dado momento, a campanha pode estar muito disputada, ou
seja, a comunicação ser um pouco mais agressiva, mais árdua, portanto, haver um
ligeiro acréscimo da participação eleitoral, mas não é um problema do
marketing, porque não é um problema da forma. É um problema da entropia que o
sistema democrático neste momento vive. O sistema democrático tem que encontrar
novos mecanismos de decisão que permitam diminuir drasticamente a abstenção.
Temos que ter a noção que, por exemplo, naquelas que são as eleições, que
geralmente mais se diz que têm a ver com as populações, para aquelas pessoas
que estão mais próximas dos eleitores, os níveis de participação são dos mais
baixos no nosso país. Ou seja, teoricamente devia ser o contrário. Significa
que o sistema tem algumas entropias, eu não acho que o marketing vá fazer
grande coisa para diminuir. É uma reflexão global que a sociedade tem que
fazer. Algumas sociedades, nomeadamente, no Norte da Europa têm vindo a testar
outras formas de participação, onde esses níveis de participação acabam por ser maiores.As eleições são hoje também muito
personalizadas, e, quando as coisas aquecem mais um bocado os níveis de
participação aumentam. Por isso é que as Presidenciais geralmente têm taxas de
participação mais elevadas, quando os mandatos acabam ao fim de dez anos.
Deixei ficar um conjunto de notas bibliográficas a que vocês vão ter acesso.
Procurei que exista um misto de obras mais gerais e coisas mais particulares.
Não faria sentido vir a uma Universidade e não cumprir com aquilo que é da
praxe, que é dizer o programa é este, a bibliografia é esta, vocês encontrarão
as notas que estão, e, já estão na Intranet, portanto, já podem ver. Procurei
que os livros estejam acessíveis aí, os livros estão nas Livrarias ou estão na Net, vão à Amazon ou vão à FNAC.
Depois a terceira questão tem a ver com os níveis de centralização da
comunicação do Governo. Tenho uma experiência sobre essa matéria porque a dada
altura da minha vida estive com algumas responsabilidades nessa área.. Acho que deve haver ao nível do Governo alguma
centralização, porque a agenda política não é uma coisa que todos possam gerir.
Todos sabemos que aquilo que eu disse, vivemos num Mundo onde existem milhares
de bytes, milhares de fenómenos que são motivo de atracção, e, só meia dúzia
deles é que as pessoas conseguem apreender. É bom que num dia não tenhamos um
Ministro a dizer uma coisa importante num sítio e outro Ministro a dizer uma
coisa importante noutro sítio. Gerir a agenda política de um Governo é uma
coisa importante, só se consegue gerir a agenda política de um Governo se
houver centralização dessa gestão. portanto, eu julgo
que há um conjunto de medidas que devem ser tomadas na busca dessa
centralização, porque essa centralização permitirá tirar melhores efeitos,
potenciar os efeitos positivos da actuação governativa. Mas centralização em
excesso poderia ter um efeito perverso. Estamos a falar de pessoas, portanto,
às vezes também temos os nossos pecadilhos. Portanto, centralização
em excesso podíamos também criar formas de uma linguagem moderna, mais
tipo big brother, uma forma
mais antiquada, mais tipo bobiliana, portanto, onde
tudo é filtrado, tudo é testado. Acho que deve haver centralização porque isso
aumenta a eficácia, mas deve haver alguma liberdade para que não haja um
Senhor, um spin doctor qualquer que mande mais do que o Primeiro-Ministro ou que mande mais do que os
Ministros." (PALMAS)
Vanessa Faria
"Novamente boa tarde. Referiu que as campanhas eleitorais servem sobretudo
para ganhar os indecisos, contudo ao referir o marketing mix político, referiu a distribuição. Sabemos que relativamente a um produto
elaboram-se estudos de mercado para acertarmos no segmento e na sua
distribuição, no entanto a nível político como se pode saber onde estão os
flutuantes, os indecisos, será que neste caso a distribuição não é um tiro no
escuro?" (PALMAS)
Carlos
"Muito boa tarde a todos, um
cumprimento muito especial para o Doutor Agostinho Branquinho, a quem felicito
muito sinceramente pela objectividade e pela clareza da sua exposição.
A minha pergunta é fundamentalmente uma curiosidade pessoal muito rápida. Tem a
ver fundamentalmente com aquilo que é a sua experiência nesta área temática, se
consegue definir em três/quatro ou cinco características e momentos
fundamentais, aquilo que, no fundo, são as características, valores e atributos
de um bom político, isto é: aquilo que é mais valorizado pela sociedade, pelo
eleitor, pelo povo se preferirmos, no fundo quais dessas características, sendo
um pouco mais concreto no fundo, preferimos políticos irreverentes ou
preferimos políticos austeros, preferimos políticos mais conservadores ou mais
liberais, no fundo se consegue ter já uma perspectiva daquilo que a sociedade
Portuguesa, uma perspectiva psicossociológica que
valoriza objectivamente, e, de um ponto de vista se calhar de terapêutica, aqui
consegue dar nota daquilo que são qualidades inatas e qualidades que podem ser
trabalhadas?
Muito obrigado." (PALMAS)
Mafalda
"A questão que tinha para colocar foi o meu caríssimo colega Ricardo Leite
que a colocou, mas também nesse âmbito da abstenção, das questões eleitorais,
mas ia mais no sentido da questão Europeia, no sentido que para ao ano haverá
eleições Europeias e o nível de abstenção nas eleições Europeias é preocupante,
as pessoas pela Europa, o facto de sermos cidadãos europeus parece que não
motiva as pessoas, enfim, não ligam muito às questões europeias, sobretudo nos
jovens que mal conhecem o funcionamento da própria União Europeia, no sentido
do marketing a nível Europeu aquilo que deveria ser feito em Portugal em
relação aos nossos Euro-Deputados, neste caso até
temos aqui um, que cá para fora, ou seja, para dentro de Portugal não se sabe
muito, as pessoas não se interessam, julgo, na minha opinião, aí sim o
marketing era muito necessário, sobretudo porque a democracia acima de tudo
acho que precisa de um bom marketing, porque as pessoas perderam sobretudo o
facto de irem votar, não valorizam, essa questão sobretudo a nível europeu
preocupa-me de certa forma, julgo que aí seria necessário o marketing, gostaria
de ouvir a sua opinião em relação às próximas eleições Europeias."
(PALMAS)
Jorge Nuno Sá
"Sendo agora a última intervenção do Senhor Doutor Agostinho Branquinho
queria agradecer o excelente contributo que trouxe a esta Universidade de
Verão, e, passar-lhe imediatamente a palavra para estas últimas respostas,
dizer foi o primeiro convidado que conseguimos concluir todas a lista de
perguntas para além dos Grupos." (PALMAS)
Agostinho Branquinho
"Essa é uma provocação, começa por "b" mas sou mais preto e
branco... (RISOS) ...não se pode ser perfeito não é?
(RISOS)
Mas então vamos às questões. A primeira questão insere em si uma coisa que nós
temos que distinguir, uma coisa é o marketing político, outra é o marketing
eleitoral, essa questão é uma questão determinante, porque é assim: marketing
político nós temos estado a fazer hoje, e, no marketing político o mix do marketing, ou seja, os conteúdos programáticos, as
estruturas do partido, a comunicação que o partido ou que as estruturas
autónomas ou que o Governo faz, todas elas têm que ser homogéneas, têm que
funcionar com coerência, tem que haver um todo coerente, outra coisa depois é o
marketing eleitoral, uma coisa mais curta, mais limitada no tempo, portanto,
uma filosofia de gestão diferente. Regressando ao marketing político, o grave
problema do PSD, é disso que nós estamos aqui a falar, (dos outros eles que
vivam com os seus males), o grave problema do PSD, é que o PSD praticamente não
tem marketing político, essa é que é a questão de fundo não é? O PSD tem uma
enorme experiência e tem uma grande capacidade de fazer marketing eleitoral,
ter sucesso nessas actividades, tem pouca experiência de fazer marketing
político, aliás a JSD tem bem maior experiência de fazer marketing político que
o próprio PSD. Isto é marketing político que o PSD está a fazer, ou seja, esta
Universidade de Verão tem a ver com marketing político. O PSD conseguir ter no
terreno, agora PSD latu sensu,
ter no terreno, distribuição, boa distribuição, ou seja, boas pessoas, bem
preparadas, que podem reflectir e que não são meramente máquinas eleitorais
internas, julgo que é... Acho que é bom que o PSD volte a fazer este tipo de
acções estruturadas, preparadas, porque de certeza que nós vamos ter melhores
resultados no futuro, o PSD andou muito tempo preocupado com o marketing
eleitoral, muito pouco preocupado com o marketing político... (PALMAS) ...depois, não há uma standardirzação.
Eu podia responder qual é o atributo mais importante que um político deve ter.
O atributo mais importante que um político deve ter é ser verdadeiro, ser
verdadeiro consigo próprio, Regresso àquela questão que me colocaram à bocado sobre as eleições do Porto e as eleições de Lisboa.
Não há estereótipos, e, o mal é que nós julgamos que há. O mal é eu pensar que
para ganhar as próximas eleições era fazermos uma metamorfose do Doutor Santana
Lopes no Doutor Rui Rio, ou então fazermos uma metamorfose do Doutor Rui Rio no
Doutor Santana Lopes. Isso é o que há de pior, o que há de mais repugnante, do
ponto de vista do marketing até se poderia conseguir durante algum tempo mas
nós íamos perder as eleições no Porto e em Lisboa. Portanto qual é a
característica mais importante? É ele ser verdadeiro, é ele ser ele, se ele for
ele depois o marketing pode ajudar, ajudar a comunicar, como é que ele pode
comunicar melhor, quais são os tiques que deve perder, como é que ele se deve
vestir, o marketing pode depois ajudar, isso é que é a função do marketing,
ajudar, não é ele a ser diferente, ele tem que ser ele próprio
Sobre a última questão e acabamos em beleza, porque é uma questão sobre a
Europa, portanto, acabamos em beleza em homenagem ao nosso magnífico Reitor
Deixem-me dizer uma
coisa, um dos graves problemas que a Europa tem é que a construção Europeia ao
nível do eleitor médio, portanto, aquele eleitor que não pertence às elites,
que não são líderes de opinião, a Europa não tinha signos, não se materializava
em nada a não ser nas tabuletas que nós víamos: "Olha vieram para cá mais uns fundos, mais uns fundos para
cá". Julgo que o facto de nós andarmos com dinheiro no bolso, iguais
àqueles que trazem os nossos colegas Espanhóis ou os nossos colegas Franceses,
foi um passo decisivo para que o eleitor médio se começasse a consciencializar
o que é que é a Europa, faltava alguma materialização, era uma construção muito
ideológica, muito elitizada, faltava que essa
construção ideológica, muito elitizada descesse às
pessoas. Desceu com o euro, podia ter descido com outras coisas quaisquer, mas
desceu com o euro. Quando um Português, mesmo aquele Português que conseguiu ir
a Espanha sem trocar a moeda, começou-se a aperceber, a consciencializar-se
pela primeira vez dessa vantagem de estar na Europa. Acho que é esse o caminho,
ou seja, o caminho é a desconstrução desta ideia
muito elitizada, muito programática do que era a
Europa, para coisas muito concretas de manifestações muito reais que não sejam
meramente os Fundos Comunitários que são tão efémeros. Acho que esse é o
desafio que se coloca aos novos líderes da Europa, por isso é que a Europa
neste momento se calhar está num período de alguma indecisão, sendo certo que a
entrada de novos Países vai de certeza revitalizar a Europa, vai trazer sangue
novo à Europa, é preciso dar sangue novo, porque a dada altura perdeu-se um
bocado a definição de metas muito claras e objectivas, sobretudo não se
percebeu que era preciso envolver a população da Europa. Depois, de facto, do
ponto de vista eleitoral isso traduz-se num certo alheamento: "Vou votar
para quê? Isso não me diz nada, para pôr as pessoas lá, não sei quê",
falta essa materialização, nós temos que ter a noção de que só o ser humano, só
o homem é que é capaz de abstrair, mas a abstracção que no limite é uma coisa
das elites. Ou seja, nós temos que criar abstracções menores, se me permitem a
falta de rigor nesta expressão, e, temos que criar coisas materiais, mais
visíveis para que as pessoas sintam que fazem parte das coisas. Ter um emblema,
ter o cartão do partido, ter o cartão do clube, reparem o marketing desportivo,
é um marketing altamente sofisticado mesmo que não esteja organizado, o ter o
cachecol, a claque, são coisas que visam materializar afectos. O difícil nos
afectos é como é que a gente consegue materializar esses afectos, é muito
difícil, porque os afectos são intangíveis, é esse o desafio que se coloca à
Europa.
Já agora para terminar aproveito esta minha intervenção final para vos
agradecer a paciência com que me ouviram, pedir-vos desculpa porventura de ter
defraudado algumas expectativas, dizer que estou à vossa disposição. No mail interno ou na intranet encontrarão se calhar
mecanismos de comunicação. Estou à vossa disposição. Agradeço imenso a
oportunidade que me deram de poder estar hoje aqui convosco, foi uma grande
alegria, vou mais feliz hoje e nós queremos é ser felizes." (PALMAS)
Carlos Coelho
"Adeus
Agostinho, podes ter a certeza que não defraudaste, tal como é da praxe nós
vamos acompanhar o nosso convidado à saída, tal como é da praxe peço-vos imensa
desculpa, sei que é das coisas mais penosas que vocês têm na Universidade de Verão
são estes momentos de diálogo com o Gonçalo, mas tem que ser mesmo, Gonçalo vem
para aqui se não te importares, vão-se fazer os vossos procedimentos habituais,
o intervalo para o café é agora no Bar, lá em cima no primeiro andar, depois do
Gonçalo fazer o número dele, os Trabalhos de Grupo são às cinco e meia como
sabem."