4º JANTAR
CONFERÊNCIA
12. Setembro. 2003
Ministra
Manuela Ferreira Leite
(Textos não revistos pelos oradores. Quaisquer erros são
atribuídos à transcrição não
revista das cassetes)
Daniel – Grupo
Boa noite para todos os convidados.
Caros Companheiros.
Caras Companheiras.
Senhora Doutora, se não foi informada daquilo que
estou a fazer, há-de estar, nesta altura a pensar que eu sou doido! Mas não!
Mas não sou! (RISOS)
Uma das muitas tarefas, que me são distribuídas
pelo nosso Reitor, é precisamente esta de brindarmos com o convidado, que aqui
vem jantar connosco e que neste caso é a Senhora Ministra.
E, devo-lhe dizer, antes de mais e partilhar uma
vez que também tem sido um ponto em que todos os Grupos se têm debatido que,
estamos na presença dum excelente Reitor ao contrário do que alguns pasquins
(RISOS) (APLAUSOS) de origem duvidosa têm andado aí a dizer. Eu aqui tenho que
ser justo, porque também faço parte do corpo editorial desse mesmo pasquim
(RISOS) e tenho que admitir perante todos até porque não ficava bem ali com o
meu amigo Gonçalo Capitão (RISOS) (APLAUSOS).
Mas devo-lhe dizer, Senhora Ministra, que esta é,
talvez, a mais engraçada de todas as tarefas, que temos ao longo do dia e
portanto, vou fazê-la com grande ânimo e com muita vontade.
A Senhora Ministra disse uma vez a um grupo, aonde
eu também me encontrava, creio que na Secção “A”, em Lisboa ou talvez no meio
de JSD’s, não me recordo, mas disse-me que gostava muito de vir a estes
jantares, porque normalmente na sua vida política; Assembleia de República ou
de Governo era muito criticada e depois nesta fase, gostava de vir, porque
normalmente aqui era elogiada. E, é precisamente isso que eu pretendo fazer:
quero-lhe dar, em primeiro lugar, os parabéns pelo seu empenho no actual Governo,
quero-lhe dar os parabéns pela sua competência, quero-lhe dar, sobretudo, os
parabéns pela sua coragem.
Senhora Ministra está de parabéns.
(PALMAS)
Mas se nós somos pessoas agradáveis e
testemunhamos e compreendemos o esforço da Senhora Ministra, há quem não o faça
e entre os seus vários críticos, que normalmente são os Partidos da oposição,
eu só posso ser levado a compreender uma, de duas coisas:
Quando a criticam ou por um lado julgam que a
Senhora Ministra não sabe fazer melhor, que eu sou obrigado a desmentir. Aliás,
o seu percurso, o seu currículo político desmentem isto com grande facilidade
ou pelo contrário acham que a Senhora Ministra não quer fazer melhor ou não lhe
apetece fazer melhor, não está para aí virada.
A Senhora Ministra é mãe! Eu não acredito que haja
uma mãe com responsabilidades governativas, como é o caso da Senhora Ministra,
Manuela Ferreira Leite, que não fizesse e não desse diariamente o seu melhor
para que o futuro dos seus filhos, que no fundo, somos todos nós (APLAUSOS),
fosse melhor daqui a uns anos. (APLAUSOS)
É então chegada a altura, Senhora Ministra, de
propor um brinde em nome do meu Grupo. O Grupo Roxo e em nome de toda a
Universidade de Verão, para brindarmos com a Senhora
Ministra.
À sua saúde Senhora Ministra!
(BRINDE) (URRAS) (PALMAS)
Carlos Coelho
Senhor
Secretário-Geral Adjunto do PSD.
Senhor Presidente da JSD.
Senhores Deputados da Assembleia da República.
Senhor Governador Civil.
Senhores Presidentes de Câmara.
Minhas Senhoras e Meus Senhores.
Eu pensava que tinha que apresentar a Senhora, que
está sentada ao meu lado, mas o Daniel antecipou-me e já explicou que esta
Senhora é a Doutora Manuela Ferreira Leite. (RISOS)
É a segunda pessoa na hierarquia do Governo, é a
Senhora Ministra do Estado e das Finanças, e esta é a terceira função
governativa que já exerceu: A Dra. Manuela Ferreira Leite foi Secretária de
Estado do Orçamento, foi Ministra da Educação, eu, obviamente, sou suspeito
para dizer que foi uma excelente Ministra da Educação (RISOS), mas digo-o com
sinceridade e, está agora a exercer, com coragem, como o Daniel teve ocasião de
sublinhar e bem, as funções de Ministra de Estado e das Finanças.
A Doutora Ferreira Leite foi também já
Vice-Presidente do Partido. Foi Presidente do Grupo Parlamentar. É uma grande
Senhora do PSD com currículo partidário e de serviço público muito vasto.
No retrato falado que nos proporcionou, confessa
que o seu hobby são tapetes de Arraiolos e a comida preferida é fondue. Resta
saber se é frito ou grelhado que é uma preferência muito diferente; um tem
muita gordura, o outro é mais saudável. Portanto, é o frito, é o pior, logo
percebi. (RISOS)
O animal preferido é o cão tal como grande parte
dos nossos convidados e dos nossos participantes.
O livro que nos sugere é A Cidade e as Serras e,
um filme, que seguramente a marcou , um filme muito comovente, a Lista de Schindler.
Este é o retrato falado, que nós temos pedido a
todos os nossos convidados e que dá um retrato humano de nós próprios,
reflexões que partilhamos no Quem é Quem, logo no primeiro dia e os nossos
convidados, em cada um dos dias em que estão connosco
Devo confessar porém que eu, relativamente à
Doutora Manuela Ferreira Leite, não tenho apenas um grande respeito, tenho
também um grande carinho e portanto, ficar-me-ia mal ficar apenas pelo retrato
falado, teria que juntar mais qualquer coisa e desculparão que o faça.
Há quem considere a Doutora Manuela Ferreira Leite
uma Senhora com ar frágil e é possível que o tenha, mas quero assegurar-vos que
por trás deste ar frágil temos uma Senhora muito determinada. Ela é franzina,
mas é rija (RISOS) e para aqueles que, com razão a consideram austera e alguns,
com alguma injustiça, a consideram uma mulher dura, eu quero dizer-vos com
testemunho de causa que é uma pessoa de extrema sensibilidade, capaz dos gestos
mais comoventes e mais tocantes. E digo-vos isso com experiência própria.
Doutora Manuela Ferreira Leite, muito obrigada por
ter aceite o nosso convite e estar aqui entre nós.
Cabe-me a honra e o privilégio da primeira
pergunta, aquela que será o “pontapé de saída” para a conversa que vamos ter
aqui esta noite.Creio que a pergunta que lhe quero fazer, é aquela, que está no
espírito na maior parte dos Portugueses e seguramente também na atenção dos
participantes, que com grande qualidade, têm desenvolvido uma intensa
actividade nesta Universidade de Verão, pedíamos-lhe pois Senhora Ministra que
responda a esta simples questão:
O combate ao défice é assim tão importante?
A palavra é sua.
(PALMAS)
Manuela Ferreira Leite – (Ministra de Estado
e das Finanças)
Começava por cumprimentar o Senhor Reitor (RISOS),
que representa aqui esta Universidade tão simpática e começo por agradecer,
cumprimentar todos e agradecer-lhes, mais uma vez, o terem-me convidado a vir
cá.
Não é a primeira vez que venho a este tipo de
iniciativas, mas é sempre com muito gosto que o faço e portanto, mais uma vez
tenho todo o gosto e prazer em estar aqui presente.
Não vou, evidentemente, responder àquilo que o meu
amigo Carlos Coelho esteve aqui a dizer, porque há um ponto que é absolutamente
inultrapassável e do qual ninguém dúvida, é que nós somos dois grandes amigos e
portanto, quando as palavras vêm da boca de amigos (APLAUSOS), têm que ter,
efectivamente, importância relativa.
Agradeço também, ali ao nosso companheiro, os
cumprimentos, que fez no brinde que propôs e cumprimento todos com a mesma simpatia.
Vamos, então, agora àquilo que parece ser um pouco
mais sério, que é a questão que o Carlos Coelho pôs e que, a despeito de ele
ser uma pessoa que tem sempre soluções inesperadas e perguntas inesperadas
(RISOS), devo dizer que isto não era nada inesperado. Estava cansada de saber
que só podia ser assim, tinha de ser esta a questão. Mas, em todo o caso,
gostaria que vocês todos não ficassem a pensar que eu que sou obcecada (RISOS)
e muito menos de que estou à beira de um internamento (RISOS). Será bom que
consigamos explicar, espero poder fazê-lo, penso que não tenho assim muito
tempo, não é? Mas, tentar fazê-lo de forma sucinta para ver se conseguimos
entender a questão.
O primeiro aspecto, que seria bom que todos
tomássemos consciência, é o seguinte:
O problema, neste momento, com que nos
confrontamos, não é o problema orçamental. O problema da economia portuguesa
não é o problema orçamental. Aquilo com que nos deparamos, é com o problema de
competitividade. O País não é competitivo. E ao longo dos últimos anos, dadas
as políticas que foram seguidas, perdeu uma parte importante da sua
competitividade. Percebem todos, com certeza, o que é que significa ser
competitivo? Não preciso de estar a explicar para não perdermos tempo com
problemas mais elementares.
Nesta nossa não competitividade não produzimos,
mas consumimos e como não temos recursos para pagar aquilo que andámos a
gastar, endividámo-nos e endividámo-nos a um nível extremamente preocupante. De
tal forma preocupante que caso nós não estivéssemos, neste momento, no sistema
de moeda única, teríamos com certeza cá o Fundo Monetário Internacional neste
momento a intervir na nossa política económica.
Atingimos um nível em que todos nos endividamos.
Todos vivemos ao longo de um conjunto de anos acima das nossas possibilidades;
viveram as famílias, viveram as empresas, viveu o Estado.
Portanto ao vivermos todos acima das nossas
possibilidades, endividamo-nos e atingimos um nível de endividamento
nomeadamente o sector financeiro, os próprios bancos, para poderem emprestar cá
dentro; às famílias, às empresas e ao Estado. Aquilo que fizeram, foi eles
próprios, irem pedir dinheiro lá fora, portanto, eles próprios se endividaram
externamente.
Portanto, está todo o sistema endividado, motivo
pelo qual, numa situação destas, uma economia não cresce por mais medidas que
se tomem.
Nos primeiros momentos até pode ser bastante
agradável. Todos nós, com certeza, já passámos pela experiência ou pelo menos
imaginamo-la de que é extremamente agradável viver-se acima das possibilidades.
Quem não gosta de ir a uma viagem mesmo não tendo dinheiro para ela, pagando
logo se vê quando. Quem não gosta de ter acesso a determinados bens logo e
imediatamente, pagando-se logo se vê quando. E, portanto, é um sentimento de
bem-estar, que se instalou na sociedade, que não é fácil ultrapassar ou que é
difícil depois abandonar e que corresponde a uma situação verdadeiramente
artificial, que tem limites. Qualquer um de nós sabe que isso assim é! Nós,
pelo nosso orçamento familiar, sabemos que isso assim é. Podemos andar uns tempos em que nos endividamos, não temos
dinheiro para tudo, mas endividamos. Pagamos coisas a prestações. A certa
altura, quando recebemos o ordenado no princípio do mês e as prestações, que
temos que pagar, já são superiores ao rendimento que recebemos, é evidente que
percebemos que temos que parar. E o País estava nesta situação.
Estava nesta situação e, em moeda única, o que
significa, (pelo menos os economistas que aqui estão, perceberão, que significa
estarmos em moeda única,) que faltaram instrumentos de política económica que,
com alguma facilidade, fariam esta correcção. Isto é, se nós não estivéssemos
em moeda única o que faríamos imediatamente, que era aquilo que faria o Fundo
Monetário Internacional das outras vezes que cá estava, era desvalorizar o
escudo. Aí as importações, aquilo que compramos ao exterior, fica relativamente
mais caro, aquilo que vendemos ao exterior fica relativamente mais barato e
portanto, vendemos mais, não compramos e portanto equilibramos , com mais
facilidade a nossa economia.
Por outro lado, eleva-se a taxa de juro e ao
aumentar a taxa de juro, as pessoas têm menos tendência a endividar-se, porque
o encargo no endividamento é muito forte. E, portanto, o aumento da taxa de
juro evita que as pessoas, as empresas e o Estado se endividem.
E, portanto, através destes instrumentos havia uma
correcção , não direi que era automática, mas demorava pouco tempo, meia dúzia
de meses, quase que diria que era suficiente para fazer este ajustamento.
Acontece que na moeda única nem existe política
monetária, nem existe política cambial e portanto, eu não posso mexer na taxa
de câmbio e nem posso mexer na taxa de juro, porque isso é algo que, como na
moeda única não existe câmbio e, a política monetária (portanto a variação da
taxa de juro) compete ao Banco Central Europeu e não a cada um dos Países, e, portanto,
não temos esses instrumentos.
É a primeira vez, na nossa história que nos
deparamos com uma situação de desequilíbrio externo gravíssima sem ter
instrumentos para o corrigir. Porque estamos em moeda única. E, portanto, tudo
se torna mais difícil.
Qual é o único instrumento, que temos para fazer
esta correcção? Temos apenas um único instrumento que é a política orçamental.
Não existe outra. A política orçamental e também, nalguma forma, a política de
rendimentos. Portanto, aquela política que define o nível dos salários.
Portanto, nós estamos perante esta situação e mais
uma vez refiro que o nosso problema não é um problema orçamental, é um problema
económico.
O País não cresce, não se desenvolve, enquanto
estivermos com este desequilíbrio e este endividamento, porque isso,
efectivamente, impede-nos de sermos competitivos. E, tanto isto é assim que,
nos últimos anos houve imenso investimento. O investimento público cresceu de
uma forma muitíssimo significativa. E nós, desde 1997, não é de agora, desde
1997 que o País não crescia a ritmos que nos fizessem aproximar dos nossos
parceiros europeus. Crescíamos, mas a um ritmo inferior ao dos outros Países.
E, quando, evidentemente, alguém corre mas há outros, que correm mais do que
nós, nós não conseguimos apanhá-los nem nos aproximarmos deles! E, portanto,
era a situação em que estávamos desde 1997. Porque, efectivamente, a situação
de falta de competitividade da nossa economia, fazia com que não pudéssemos
crescer, não nos pudéssemos desenvolver.
Temos, como digo, um único instrumento que é o
instrumento orçamental, o qual, está em desequilíbrio, porque o próprio Estado
também estava e está ainda na situação de fazer mais despesas do que as
receitas que recebe. Ele próprio provoca esse desequilíbrio na economia.
Portanto, é também um elemento potenciador desse desequilíbrio e que se não for
corrigido, então também não serve de instrumento.Estou a querer consertar
alguma coisa com um único instrumento, que tenho e ainda por cima esse
instrumento também está estragado! Portanto, eu tenho que consertar o
instrumento para poder consertar o que está estragado e ainda por cima esse
instrumento também está a provocar esse estrago.
Quando temos perante nós a situação de termos que
equilibrar o problema orçamental, é um problema específico da nossa economia. E
eu estou a fazer isto com a intenção de reafirmar de que não vale a pena
pensarmos que o nosso problema é uma submissão simplesmente à União Europeia!
Isto é, a União Europeia diz: “vocês não devem ter um défice superior a três
por cento”. E, nós obcecados, então não temos um défice superior a três por
cento.
Vamos imaginar que não estamos na Europa!
Imaginemos que não estamos na Europa!
Ou imaginemos que a Europa nos deixa ter um défice
de cinco, seis por cento. Que não liga nenhuma à nossa questão do défice.
Imaginemos isso!
Nós temos que fazer esta correcção por motivos
internos. Não é por motivos externos. E, portanto, é um erro pensar-se que não
deveríamos ser tão submissos à Europa. Que devíamos ter a nossa política
absolutamente independente, porque precisamos de crescer e então devíamos fazer
investimento ou devíamos fazer qualquer outra coisa.
Começa por ser um problema interno. Junta-se a
este facto um outro que é que na comunidade em que estamos, assumimos o
compromisso de ter défices superiores a determinados níveis.
Não creio que tenha tempo, porque talvez isso
desse para um dia daqui da vossa Universidade de Verão, explicar-vos porque é
que, em termos de União Monetária, de União Comunitária em que estamos, nenhum
País deve ter, deve funcionar com défices orçamentais excessivos. Seria uma
explicação técnica mais complexa, mas a verdade é essa! Em União Monetária não
podemos estar com défices excessivos. Tem que haver uns limites para esses défices.
E, quem não cumpre, vai ter que sofrer algumas penalizações.
A juntar à nossa necessidade nacional, nós temos o
compromisso com a Comunidade de cumprirmos os objectivos do acordo, que
assinamos. Foi o País que assinou! De resto, nem sequer foi o nosso Governo,
foi o Governo anterior. Assinaram um acordo. Entramos para a Moeda Única e ao
entrarmos para a Moeda Única ficámos sujeitos a determinado tipo de obrigações.
E, o que é que acontece, se violarmos essas
obrigações? Como de resto violámos...! Há penalizações!
O Tratado explicita quais são as penalizações, que
os Países têm; multas, mas não são multas assim daquelas, que não se pagam. São
multas para pagar a sério! É uma percentagem do PIB.·
É a impossibilidade de podermos, em determinadas
circunstâncias, aceder ao Fundo de Coesão, que é uma ajuda importantíssima de
que o nosso País, neste momento, beneficia.
Quando tomámos conta desta responsabilidade,
estávamos, efectivamente, perante a situação mais grave, que eu julgo que é
possível imaginar e que é simultaneamente termos um défice externo, portanto a
economia está desequilibrada, está com um défice externo, e, simultaneamente
ter um défice orçamental. Porque na história económica as duas coisas, não sei,
se muitas vezes coexistirão; ou havia défice externo, mas em que o orçamental
estava mais ou menos ou o contrário.
Agora, as duas coisas ao mesmo tempo, não me
lembra de ter sucedido com muita frequência para além de ser a primeira vez,
que estávamos nesta situação, na Moeda Única e portanto sem instrumentos.
Devo dizer que não creio que haja algum economista
que seja capaz de arranjar uma política alternativa a esta! Uma alternativa só
pode ser esta, não existe outra! Pode-se criticar, mas então tem que se dizer:
“fazer o quê?” Que não se poderia reforçar o erro em que se estava a cair!
Portanto, tinha que se fazer exactamente o contrário.
Como disse, simultaneamente tínhamos o problema
Comunitário e o problema Comunitário em 2001, Portugal violou. Foi o primeiro
País a violar.
Portugal violou. Foi o primeiro País da Moeda
Única a violar o Pacto de Estabilidade e portanto, a ultrapassar o nível dos
três por cento, em termos do PIB, que era o limite máximo, a que estávamos
autorizados e portanto passível das sanções, que são aplicáveis aos Países que
violam o Pacto.
Como sabem, nós, imediatamente, em 2002, alterámos
o Orçamento, de forma a ficarmos abaixo dos três por cento.
Este ano, vamos tentar novamente ficar abaixo dos
três por cento.
Agora, começa a surgir uma sugestão dos tais economistas
de bancadas, que há bocadinho se falava e, que é o seguinte:
Vamos agora a Países, como por exemplo a França e
a Alemanha, que vão com certeza e já assumiram isso, violar o Pacto de
Estabilidade e portanto ficar com défices acima dos três por cento.
Porque é que a França e a Alemanha podem e
Portugal não pode?
Bom, Portugal pode porque já fez! (RISOS)
Em 2001, nós fomos logo o primeiro a inaugurar a
época. (RISOS)
E portanto, em 2001, nós violámos e portanto eles
agora já vêm atrás de nós (RISOS), já vêm na situação de imitação.
Mas há um ponto, que acho que as pessoas, enfim,
eu acho fácil o dizer-se: a França e a Alemanha são Países mais importantes
podem, porque é que nós, somos mais pequenos, não havemos de poder?
A França e a Alemanha também não podem. Não podem
tanto quanto nós não podemos e há uma coisa que não poderemos nunca aceitar, é
que nós fossemos penalizados e eles não sejam penalizados.
Agora eu, todos os meses, vou à reunião dos
Ministros das Finanças da Comunidade para onde vou, amanhã novamente, e ainda
ninguém lá disse que quem violar o Pacto, não tem a penalização. Ainda não ouvi
lá dizer isso. Bem, pelo contrário. Desde o Presidente Prodi, até ao Comissário
Solbes, que tem esta tarefa, todos reafirmam que o Pacto é para cumprir e o
cumprimento do Pacto significa, se violares, apanhas. Porque, quando temos um
código de estrada isso não significa que eu não viole as regras do código. Eu
violo, o código continua a existir, aquilo que é preciso, é que eu tenha uma punição.
Se eu não tiver uma punição, realmente o código não serve para nada.
Agora, não é o facto de haver países a violar que
significa que acabou o Pacto! Só acabará o Pacto, se isto não tiver penalização
e isso ainda ninguém disse que não há.
E, nós estamos numa situação muito diferente da
França e da Alemanha. Há pelo menos dois aspectos, que são diferentes:
Em primeiro lugar, nós fomos o primeiro País a
violar o Pacto e portanto, violamo-lo em 2001. Tivemos o processo de défice
excessivo, pelo qual fomos, enfim, alertados a que tenhamos esse processo
desencadeado contra Portugal, em 2002, que é o ano em relação ao qual se vê que
em dois mil e um houve uma violação. E é sobre 2003 que nós vamos ser
avaliados. Se estamos ou não estamos a fazer a correcção. Isto é, no início de
2004, Portugal vai ser analisado por aquilo que fez em dois mil e três.
Acontece que a França e a Alemanha violaram o
Pacto em 2002, o que foi dito em 2003, vão ser analisados no inicio de 2005
sobre aquilo que corrigiram ou não em 2004. Portanto, eles estão com um
desfasamento temporal em relação a nós sobre o momento em que vamos ser
avaliados, se estamos ou não estamos a fazer a correcção.
Portanto, nós estamos rigorosamente numa situação
diferente da deles por este ponto.
Segundo ponto pelo qual estamos numa situação
diferente:
Uma das punições é a impossibilidade de nós
acedermos a Fundos Estruturais ou Fundo de Coesão. Fundo esse a que nem a
França nem a Alemanha têm acesso! Só nós é que temos. (RI) E portanto, a eles
bem lhes podem ralar, que não podem aceder ao Fundo de Coesão, eles também não
o têm! E nós temos!
Acho que a situação não tem nada a ver uma com a
outra.
A única coisa, que eu acho que teria, era se nós,
por exemplo, fossemos penalizados e a França e a Alemanha não fossem.
Agora a ideia que existe, neste momento, de que
podemos perfeitamente violar os Acordos que estão estabelecidos e que podemos
ultrapassar os limites, porque há outros mais poderosos que o fazem, é uma
ideia verdadeiramente bizarra. É um discurso demagógico, mas que não
corresponde a nada.
O que consideraria extremamente grave, era que nós
fossemos atrás deste tipo de crítica e alterássemos a política que estamos a
seguir. Porque se alterássemos a política que estamos a seguir, isso significaria
que nós recuávamos no conserto, que estamos a fazer à situação económica.
Como vocês, com certeza, já ouviram e porque lêem
os jornais e ouvem as televisões, uma das críticas máximas, que fazem, é a
correcção Orçamental, que está a ser feita, que impede ou que limita que, por
exemplo, o Estado faça mais investimento ou que limita as despesas do Estado,
provoca ele próprio uma situação de menor crescimento na economia.
Diria que se fizéssemos o contrário, era verdade
que melhorava. Não nego que melhorava. Melhora. Mas melhora temporariamente.
Tem rigorosamente o mesmo efeito dum analgésico, quando se tem uma dor.
Quando se tem uma dor e se toma um analgésico, é
evidente que passa a dor. Ninguém nega que passa a dor, só que não trata. E,
quando passa o efeito do analgésico, eu estou pior do que estava antes de o
tomar. Passou o tempo, eu não fiz nada, limitei-me a estar aliviar a dor, tomei
o analgésico e fiquei toda satisfeita. E portanto, é a diferença clara que
existe entre tomar o analgésico ou tomar o remédio, que me cure, que do meu
ponto de vista, é a diferença que existe entre a política económica, que está a
ser seguida e aquela que dizem que nós devíamos de seguir.
Fazer neste momento despesa só para,
momentaneamente, a economia crescer, quando estava a crescer de uma forma pouco
saudável, porque neste momento, se quiser fazer mais despesa, se quiser fazer
mais investimento público, posso fazer, só que, como não tenho receita para o
fazer, de uma, duas; ou aumento os impostos, o que não me parece adequado,
quando quero que a economia cresça ou endivido-me. Agora, tenho que pagar a
despesa!
E, se me estou a endividar, quer dizer, estou a
fazer investimento ou a fazer despesa para ver se melhoro a economia, mas faço
através do endividamento, que é aquilo que estou a querer tratar, estou a fazer
“pior a emenda que o soneto”.
O Professor Miguel Beleza tem uma frase, que cito
muitas vezes, mas que me parece muito elucidativa e que diz:
“Que aquilo que estão a querer que a gente faça, é
rigorosamente beber o vinho para tratar a ressaca”.
Portanto, a pessoa não quer passar pela ressaca,
ainda vai bebendo até que entre no coma alcoólico, e portanto, é rigorosamente
aquilo que nós não devemos fazer!
Quando o meu amigo Carlos Coelho pergunta:
Se é mesmo assim importante?
Direi que nem é importante nem deixa de ser. Do
meu ponto de vista, é vital. É vital.
(PALMAS)
Portanto, admito e aceito que não seja nada
popular.
Admito que o discurso contrário, é um discurso
populista e que soa bem e acho que aqui é que eu acho que temos de ter alguma
clarividência, alguma firmeza, admitir que possam falar, criticando com a
consciência nítida e eu tenho essa consciência nítida até porque não oiço
alternativas.
Com a consciência nítida de que este é o único
caminho capaz de levar a economia a crescer de forma saudável.
Dir-me-ão:
Mas, nós temos estado, no que se chama, numa
recessão. Pois, temos, mas não somos só nós! Essa aí tanto fazia “estarmos
assim como assado”. Quando a Alemanha está, a França está, toda a Europa está.
Houve o problema da guerra.
Houve todo o problema dos preços da energia.
Todos os países estão nessa situação, acho que
seria um bocadinho inesperado que nós também não estivéssemos. E aí, o nosso
objectivo fundamental deverá ser o de nós nos tornarmos saudáveis para termos a
capacidade de ir atrás das economias fortes como a Alemanha ou a França, quando
começarem a crescer. Porque se nós não nos fortalecemos, entretanto, eles vão
começar a crescer e nós não somos capazes de acompanhar este crescimento e aí,
seria efectivamente o desastre de cada um começar a crescer e afastar-se cada
vez mais e nós em vez de estarmos a olhar para aqueles que estão à nossa frente
e ver de que forma é que os vamos alcançar, vamos continuar a olhar para trás a
ver por quem é que somos ultrapassados.
Gostaria bem, ainda por cima a falar aos jovens,
de que continuássemos a olhar para a frente e deixássemos de olhar para trás.
(PALMAS)
Carlos
Coelho
“Muito obrigada Doutora Manuela pela resposta.
Vamos agora ter cinco blocos de duas perguntas:
Armando Vieira (Grupo Laranja)
Boa noite Senhora Ministra da Finanças e de
Estado.
Boa noite Senhor Magnífico Reitor da Universidade.
Caras companheiras e companheiros.
Com o presente alargamento da União Europeia, deixaremos
de ser apenas 15 Estados Membros para passarmos a ser 25 , originando desta
forma o novo mapa geográfico, político e económico.
Analisando o novo mapa económico, facilmente nos
apercebemos que temos dez novos países, que se apresentam no mercado
internacional de captação de investimento com claras vantagens comparativas em
relação a Portugal.
Assim, o Grupo Laranja gostaria de saber que
preocupações tem a Senhora Ministra das Finanças de Portugal perante esta nova
realidade, nomeadamente sobre a hipótese de uma futura harmonização fiscal
Europeia. Obrigado.
(PALMAS)
Rui André
(Grupo Beje)
Boa noite Senhora Ministra.
Boa noite Carlos Coelho.
Boa noite Nuno.
Boa noite colegas.
Quero começar por felicitá-la pela sua coragem e
terminação, que tem sido, certamente, a “pedra de Toque” deste nosso Governo.
Assumir o papel de vilão ou mau da fita não é
certamente uma posição fácil nem tão pouco um papel desejável e pretendido por
ninguém. Contudo, este revela-se um papel necessário e, se é verdade, que
muitos se demitiram de o assumir, também é verdade que poucos demonstraram
competência para tal (MUITO BEM) (APLAUSOS), tendo optado por uma trágica
novela cor-de-rosa, que nos proporcionou o Governo Socialista.
(PALMAS)
Todos nós aqui presentes quer enquanto militantes,
quer enquanto autarcas, somos junto das populações, o rosto deste Governo, que
se por um lado tem tomado medidas eficazes e indiscutivelmente necessárias, por
outro tem sido, em algumas situações e mais na Pasta, que a Senhora Ministra
tutela, impopular e até muitas vezes contestado.
Queremos, então, sugerir que sejam criados
mecanismos de informação acerca das medidas deste Governo, pois permita-me que
lhe diga, que nem sempre é fácil desempenhar este papel de defender o que está
certo. (MUITO BEM) (APLAUSOS)
Agora a pergunta que os meus colegas e eu
elaboramos e, permitam-me que personifique um bocado em mim:
Sou proveniente de um Concelho do interior
Algarvio, que por acaso, actualmente, está a arder o resto, que ficou da outra
vez, e não poderia deixar de lhe perguntar porque é que cada vez temos mais
jovens formados e, por outro lado temos menos jovens no interior do nosso País,
para quando o fim das burocracias e um verdadeiro incentivo fiscal para que os
jovens possam criar o seu próprio emprego, a sua própria empresa e se fixar na
sua terra natal e assim dar vida ao interior, que cada vez é mais pobre e mais
velho. Obrigado.
(PALMAS)
Manuela Ferreira Leite
Ora, o Grupo Laranja não pode deixar de ser
simpático, não é? (RISOS)
Perguntam sobre as preocupações do futuro
alargamento, não gostaria de lhe chamar “preocupações”. Gostaria, talvez, mais
de considerar que temos de estar atentos aos aspectos inerentes ao alargamento.
Porquê?
Porque é também a primeira vez que nós nos vamos
integrar, vamos alargar o espaço em que os países aderentes são mais pobres do
que nós.
Nós em todas as outras uniões em que nos
integramos, os outros países eram todos mais ricos do que nós e portanto, nós
beneficiamos à partida dessa..., entramos num grupo mais rico, beneficiamos
deles.
É a primeira vez que nós vamos ter aqui um
alargamento com países mais pobres do que nós, donde não podemos estar à espera
propriamente de benefícios directos por isso.
Em segundo lugar, são países, todos eles,
praticamente, com mão-de-obra muito mais barata e muito mais qualificada do que
nós. O que significa que têm poder de competição superior ao nosso. Portanto, é
mais um motivo para nós termos como objectivo fundamental criar competitividade
no País. E portanto, não diria tanto “preocupação”, porque nós fazemos,
concerteza, todos parte da ideia de que a Europa deve ser alargada e portanto,
consideramos bem-vindos os países, que querem connosco colaborar, que é uma
abertura, que é um alargamento do mercado enorme e portanto, que desse
alargamento só nos pode trazer benefícios.
Agora, temos que estar atentos. E temos que estar
atentos para podermos perceber que, efectivamente, há aqui um conjunto de
aspectos com o qual, nós temos que sobreviver.
E um dos
aspectos, que há pouco não falei, enfim, já pensava que estava a falar há muito
tempo, tem a ver, exactamente, com o aspecto fiscal. Nós temos que ser
fiscalmente competitivos com outros países. Mas, nós não podemos baixar os
impostos, sem baixarmos a despesa.
Qualquer despesa tem que ser paga.
Estão aqui economistas e os economistas sabem,
mesmo aqueles que só fizeram ainda o primeiro ano (RISOS) praticamente é na
primeira aula de economia em que se aprende que a economia é uma ciência
relacionada com a escassez dos recursos. Há escassez de recursos e, portanto, é
sobre a teoria, que se desenvolve sobre o problema da escassez dos recursos.
E, lembro-me que, no meu tempo, que (sou muito
mais velha do que vocês), uma das coisas que se dizia, nessa primeira aula, era
que o ar, que nós respiramos, não era um bem escasso e portanto, esse não
entrava na avaliação económica.
Passados estes anos, agora, até isso não é
escasso.
Agora, até para nós termos bom ar para respirar,
temos de ter recursos disponíveis para o tornar respirável. E, portanto, até o
ar, o ar bom para respirar, deixou de ser um produto livre, passou também a ser
um produto escasso.
E portanto, para tudo é necessário recursos para
poder fazer, para termos acesso a determinado tipo de produtos.
Quando se diz:
“Não se deve aumentar mais a despesa!”. Deve-se
fazer mais despesa em tudo e mais alguma coisa? Está bem? Desde que se perceba,
que isso é para ser pago. E, temos que pensar como é que é pago. E, portanto,
mais uma vez digo:
Ou é pago com impostos ou é pago com dívida.
Ou ficamos a dever ou pagamos.
Acho que aquilo que torna competitiva a nossa
economia, é baixar os impostos, não é fazer despesa.
Eu sou, não digo que seja ferozmente contra a
despesa, mas sou verdadeiramente adepta de que a despesa pública tem que ser
muito seleccionada. E tem de ser muito seleccionada, primeiro:
Porque ela é paga pelos nossos impostos e
portanto, tem que ser selectiva. Não pode ser, agora, a despesa, que me passa
pela cabeça, que interessa ou que não interessa. Tem, que ter objectivos, que
se perceba que dali sai um benefício para todos. Se estamos a pagá-las, temos
que ter benefícios para todos.
O endividamento é algo que acho que, em todo o
caso, já está mais ou menos assimilado, que é algo com o qual não podemos
conviver. Podemos conviver até determinados limites. A partir de determinados
limites, isso não é possível.
E, o que é que faz crescer uma economia?
O que é que faz fomentar as empresas?
É menor ou maior carga fiscal.
Nós próprios, se pagarmos menos impostos, ficamos
com um rendimento disponível, maior (o rendimento que recebemos depois de pagos
os impostos), teremos mais capacidade para consumir, para comprar e as
empresas, se pagarem menos impostos, ficam com mais dinheiro para investir,
para crescer.
É essencial o objectivo número um, a minha
obsessão sobre a questão do défice. É uma obsessão, para conduzir à redução de
impostos. Portanto, a ideia também que às vezes está generalizada de que este é
um ano mau e o próximo também , é capaz não ser muito bom, mas depois isto
alivia. E portanto, depois já consigamos fazer despesa. Eu acho que não! Eu
acho que todos temos de meter na cabeça, que a despesa é para não fazer. Só nas
coisas essenciais. Naquilo que nós decidimos que é função do Estado. Porque
senão não conseguimos baixar os impostos!
O nosso objectivo de redução do défice tem de ser
para baixar os impostos.
Temos de controlar a despesa, não para dar margem
a haver mais despesa, mas para haver margem para baixar os impostos. Sem o que
não somos competitivos. E, temos de ter, efectivamente, muito cuidado com a
questão do alargamento. Porque senão qualquer dia, somos invadidos por tudo o
que é produto, que não é nacional. Que de resto, como sabemos, isso nota-se já
na mão-de-obra. O que faz, inclusivamente, alterar, de alguma forma, os nossos
conceitos.------------
Há uns anos atrás, era fantástico investir-se em
obras públicas, porquê? Porque as obras públicas era o tipo de investimento,
cujo resultado era todo nacional e portanto o investimento em obras púbicas
dava uma taxa de crescimento no País muito significativa.
Ora neste momento o investimento em obras públicas
tem uma parte de mão-de-obra pesadíssima, que não é nacional e cujo dinheiro
portanto vai para fora e não fica cá dentro!
O efeito das obras públicas ou do investimento em
obras públicas, actualmente, não é o mesmo do que era há uns anos. Porque,
neste momento, o peso da mão-de-obra não nacional é muito significativo.
Estes pontos têm que ser todos bem ponderados antes
de nós tomarmos decisões e antes de se aperceber, efectivamente, quais as
questões que estão em causa. E a questão, que levantou, do alargamento, temos
que ter em atenção a questão fiscal, temos que ter em atenção a questão da
qualificação da nossa mão-de-obra e qualificação dos nossos recursos humanos.
É fundamental a questão da educação.
Mas não é a educação só pela educação, tem que ser
uma educação efectivamente qualificada e exigente. Temos que ter em completa
atenção para podermos, efectivamente, competir para além dum aspecto, que neste
momento também não pode deixar de ser tomado em consideração que é o problema
da moderação salarial. Neste momento é um aspecto também decisivo para
reganharmos a nossa competitividade. Porque os países, quando estão connosco a
concorrer, têm níveis de vencimentos muitíssimo mais baixos do que os nossos.
Como não estamos no mundo isolados, nós estamos no
mundo de competição, temos só de saber, se queremos ser engolidos ou se
queremos estar a par dos outros, que connosco estão a competir.
Falou-me na questão da harmonização fiscal, enfim,
penso que já, mais ou menos, respondi, dada a ideia da competição da parte da
competição fiscal.
Depois temos o Grupo Bege.
Penso que começou por fazer uma queixa sobre a
falta, às vezes, de informação que faz com que as pessoas não consigam sempre
defender aquilo que querem defender, porque não estão informadas, não estão
elucidadas.
Eu sei que é uma crítica que é feita ao Governo
sobre esse aspecto.
Também lhe devo dizer que se me perguntar como é
que isto se resolve, eu dir-lhe-ei que não sei. E dir-lhe-ei que não sei,
porque pela parte, que me toca e não tenho dúvidas que com os meus colegas
acontece outro tanto, acho que ainda nunca recusei de ir a lado nenhum, a reuniões
como estas, a reuniões promovidas pelo Partido, e por instituições da sociedade
civil. Nunca recusei. Posso não ir hoje, mas vou amanhã. Exactamente para
explicar e percebe-se que, efectivamente, as pessoas estão ávidas de
compreensão. Mas, não é fácil chegar-se a todos, porque o chegar a todos, é a
função da comunicação social. É para isso que existe a comunicação social. Se
chegássemos a todos, não precisávamos de comprar os jornais e nem precisávamos
de abrir a televisão. O problema é que, é necessária a comunicação social,
exactamente por causa disso, para transmitir mensagens e a nossa mensagem não
passa na comunicação social (APLAUSOS), ou passa a maioria das vezes deturpada,
truncada e dando sempre interpretações que os próprios jornalistas sabem que
não é verdade.
Os jornalistas económicos tinham obrigação estrita
de haver certas coisas, que não podiam dizer, porque sabem que está errado,
mesmo do ponto de vista económico, bastava que sejam técnicos, bastava que
minimamente soubessem que aquilo não podia ser assim.
E, portanto, é um facto difícil com o qual nos
defrontamos, não sei muito bem como é que isso se resolve.
Acho que tem razão, mas também não tenho soluções.
Depois falou no incentivo fiscal aos jovens,
devo-lhe dizer que não sou muito defensora dos incentivos de natureza fiscal
para fazer isto ou para fazer aquilo, e, vou-lhe explicar minimamente porquê.
No Governo anterior, tenho a impressão que o
Carlos Coelho se lembrará disso, estávamos nós na oposição, fizemos uma
proposta de alteração das Taxas do IRC para empresas localizadas no interior.
Baixamos a Taxa do IRC para vinte e cinco por
cento para todas aquelas empresas, que se localizassem no interior. Foi
proposta do PSD. Isso acabou por ser aprovado e portanto, passou a ser assim.
Acho que qualquer um de nós entende que quando nós
tomámos aquela medida, foi, obviamente, com o objectivo de atrair e portanto,
haver empresas que pelo facto de saberem que se estiverem localizadas numa
região interior, têm uma Taxa de IRC menor, então se localizam lá.
Querem saber o que é que aconteceu?
Só ainda não acabei com isso, porque acho que já
não vale a pena, porque está a terminar o prazo, termina este ano.
Foram imensas, portanto subiu em exponencial o
número de empresas, que se localizou no interior, não estando lá nenhuma.
Portanto, mudaram a morada, mudaram a sede social e depois mantiveram-se todas
no sítio em que estavam. Só para beneficiar dos benefícios fiscais.
E, portanto, como acho que tudo, o que é benefício
fiscal, normalmente tem sempre interpretações perversas, aquilo que acho que é
absolutamente essencial e por isso me vou continuar a debater, é pela redução
séria dos impostos. Porque a ideia do incentivo fiscal é porque os impostos são
muito elevados. Se os impostos não fossem tão elevados, não havia necessidade
tanto desse incentivo fiscal! O incentivo fiscal é porque o peso fiscal é
grande e isso é que é necessário reduzir.
E, também lhe digo que não é possível reduzir os
impostos se nós dermos muitos benefícios fiscais. Isto é, se houver muitas
pessoas em regimes especiais porque depois a base sobre a qual incidem os
impostos, é muito pequena. E, portanto, aquilo que nós temos de fazer, é
alargar a base e portanto pôr toda a gente a pagar o mesmo, porque só quando toda
a gente paga o mesmo, é que os impostos podem baixar.
Para além de efeitos de natureza perversa, acho
que é essencial, é que os impostos baixem e baixem significativamente.
Obrigada.
(PALMAS)
António
Soares ( Grupo Castanho)
Não é que seja muito difícil verem-me ao longe,
mas eu vou pôr-me aqui mais à frente um bocadinho. (RISOS) (APLAUSOS) (MUITO
BEM)
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a
presença da Senhora Ministra Manuela Ferreira Leite em meu nome e em nome do
Grupo e de todos os companheiros. Muito obrigado pela sua presença e obrigado
também ao Carlos Coelho por trazer aqui nobres pessoas do elenco Governativo.
Também em segundo lugar, gostaria de parabenizar a
Ministra Manuela Ferreira Leite por ter o pulso rígido e saber manter a estabilidade,
porque o português, como sabe, muitas vezes, fica chateado por não ter mais
dinheiro no bolso, mas que são medidas necessárias para o bem geral da Nação. E
isso é que é preciso. Um grande bem-haja. (APLAUSOS)
O meu antigo Professor de Direito Fiscal e de
Finanças Públicas, o Doutor Armando Almeida, que penso que foi, salvo o erro,
foi Secretário de Estado na época de quando o Professor Cavaco Silva estava no
Governo. Ele ensinou-me uma coisa que não me esqueci mais que é, o sistema
fiscal para ser rigoroso tem que seguir a regra dos três és, ou seja, tem que
ser; eficiente, equitativo e equilibrado para que seja mais fácil o controle da
evasão fiscal. Porque, normalmente, o português é dado a tentar..., com
jeitinho safar-se. Quando pede uma factura é:
“Olhe, acrescente aí mais um bocadinho por
causa..., dá mais jeito, sabe! Para meter nas despesas do IRS.” (RISOS)
(APLAUSOS)
Quando vai pagar a factura do carro, recebe a
factura...
“Eh! Tão caro!”
“Sabe o que é que é? Com factura é mais caro, sem
factura era mais barato.”
Lá vai... (RISOS)
E depois, quando recebe em casa o cheque:
“Eh pá! Não estava à espera desse cheque! Duzentos
contos! Ah! Isso é muito bom! Não estava à espera desse dinheiro. Embora com a
família para férias.”
Portanto para dizer que a evasão fiscal é um
problema sério e claro que a Senhora Ministra sabe, concerteza!
Fazendo uma ponte em relação também ao equilíbrio
orçamental, a Senhora Ministra tem que ter, como eu digo, uma grande paciência
para (RI) quando possivelmente tem Conselho de Ministros e claro, que aquilo é,
imaginemos um bolo, e, a Senhora Ministra tem de escolher as fatias para cada
Ministério, não é? E sempre aqueles Ministros que:
“Pronto, agora, eu mandei a força especial de
elite, que é a GNR, entre aspas, (RI) (RISOS) (APLAUSOS) para o Iraque e
portanto, eu preciso mais um bocadinho, não é?”
E depois, quando chega para ser discutido o debate
orçamental no Parlamento, lá está a Esquerda, que depois vem com aqueles
argumentos:
“Os trabalhadores, (RISOS) (APLAUSOS) os
camaradas, os sindicalistas não estão satisfeitos com esse orçamento. (RISOS) É
preciso um orçamento mais equilibrado.” (RISOS) (APLAUSOS)
E, a pergunta vai esta:
Quais são as medidas mais concretas e mais rígidas
para o controle à evasão fiscal e também para que haja, ao fazer a distribuição
da fatia do bolo, quais são as medidas, neste momento, mais necessárias para o
desenvolvimento de Portugal?
Muito obrigado.
(PALMAS)
Roberto
Grilo (Grupo Cinzento)
Senhora Ministra boa noite.
Senhor Reitor.
Senhor Secretário-Geral Adjunto.
Presidente da JSD.
E também cumprimentar a Mesa de Honra e o Grupo,
que está lá hoje.
Senhora Ministra, sendo Vossa Excelência uma
referência no décimo quinto Governo Constitucional no País e no Partido Social
Democrata, queremos felicitá-la pelo exemplo, que transmite de rigor e de
determinação.
Não podemos deixar de a brindar pelas lições de
cidadania, sensatez e lealdade, bem como a forma ímpar com que resiste às
pressões e às críticas injustas. Por isso bem-haja Doutora Manuela Ferreira
Leite. (MUITO BEM) (APLAUSOS)
Há pouco acerca da questão do défice e não falando
de cenários, como referiu, estando no contexto Europeu e como uma questão
vital, gostava que nos respondesse ao Grupo Cinzento sobre uma afirmação dos
Analistas do Banco de Portugal que, há poucos dias, fizeram a seguinte
afirmação:
“O défice de 3% não poderá ser cumprido, quando a
economia real estiver a crescer pelo menos na vizinhança de 1,75%.
Penso que isto tem alguma importância ainda por
cima com a reunião, que vai ter amanhã e não nos congratulando com o exemplo de
não cumprimento provável quer da Alemanha, quer da França.
Penso que é uma questão pertinente e gostava de
ouvir, peço desculpa aos companheiros, é mais teórico, mas penso que é de vital
importância. Obrigado.
(PALMAS)
Manuela
Ferreira Leite
Ora, foi uma pena que o companheiro do Grupo
Castanho não tivesse falado mais, não tivesse feito a pergunta e dada a
resposta também, (RISOS) mas portanto a sua preocupação tinha a ver
fundamentalmente, um dos pontos com o problema da evasão fiscal.
O problema da evasão fiscal é um problema muito
sério, sabemos todos em que é que consiste.
Não é fácil de resolver a despeito de que não se
pode desistir, mas não é nada que seja susceptível de ser resolvido assim com
uma “varinha mágica”. Porque nós estamos confrontados nesta matéria com vários
tipos de limitações.
Acho que não há ninguém, em primeiro lugar não há
nenhum partido político, não há nenhum programa de governo seja ele de que cor
seja, que não diga que é fundamental combater-se a evasão fiscal e que o
combate à evasão fiscal é uma bandeira absolutamente essencial a defender. Não
há ninguém que não diga isto! O problema é na prática. Porque de acordo estamos
todos nas frases. Na prática, os obstáculos, que surgem para se montar a
máquina, são seríssimos. Eu dou-lhe um exemplo:
Nós, passados poucos meses de estarmos no Governo,
uma das medidas, que se tomou, foi um protocolo entre as Contribuições e
Impostos, a Direcção Geral das Contribuições e Impostos e a Polícia Judiciária
e porquê? Porque neste momento a evasão fiscal e fraude fiscal já têm uma
sofisticação, que não se compadece com aquele tipo de fiscalizações ou de
controles, que se faziam há uns anos atrás.
E portanto, há redes, há coisas organizadas e
pensámos fazer um protocolo com a Polícia Judiciária.
Eu lembro-me que o Primeiro Ministro, Doutor Durão
Barroso anunciou a realização desse protocolo na anterior rentrée, portanto fez
agora um ano, e eu devo-lhe dizer que conseguimos assinar o protocolo para aí
há 3 meses, porque tudo aquilo que nós queríamos fazer, era tudo
inconstitucional. Porque, por exemplo:
É inconstitucional praticamente o cruzamento de
dados.
Por exemplo:
Ainda não consegui fazer cruzamento de dados com a
Segurança Social. Estou nisso há mais de oito meses..
Como sabem, muitos dos benefícios da Segurança
Social são dados em função do rendimento das pessoas. Se as pessoas têm
determinado rendimento não têm aquele benefício. Se têm o rendimento mais
baixo, têm esse benefício.
Neste momento existe uma técnica que é assim:
Eu vou às Contribuições e Impostos e faço uma
declaração falsa dos meus rendimentos e digo que sou tão pobrezinha que pago
quase nada ou não pago, portanto faço uma declaração falsa. O funcionário
recebe aquilo, ferra-lhe um carimbo. Eu fico com aquela cópia e com aquela
cópia eu vou à Segurança Social pedir o benefício de que estou..., a que tenho
direito por não ter rendimentos. E, passado meia dúzia de dias, eu vou, outra
vez, às Contribuições e Impostos corrigir a minha declaração e pôr a minha
declaração certa. E, portanto, fiquei bem com a Segurança Social porque tenho
lá uma declaração a dizer que não tenho rendimentos e fiquei bem com o fisco,
porque corrigi a declaração. É evidente, que isto é uma coisa tão elementar,
que, se houver cruzamento de dados entre a Segurança Social e as Contribuições
e Impostos, no momento em que eu faça a correcção, isso sai na Segurança
Social. Isto não é possível. Parece impossível, mas ainda não foi possível.
Espero que venha a ser, mas ainda não foi possível. Porque há uma Comissão de
Protecção de Dados que agora nos barra no caminho a toda a hora e que diz que
nada é possível.
O combate à evasão fiscal, para além de ter dificuldade
já de organização, tem também dificuldade de natureza legal e até
constitucional para se montarem determinadas coisas.
Mas há um ponto que esse ainda é uma ideia, que
não está generalizada e que é a seguinte:
Eu não posso pôr um fiscal atrás de cada cidadão!
Não posso! Não há hipótese de haver um fiscal atrás de cada contribuinte para
saber se pagou ou se não pagou os impostos.
A grande campanha de combate à evasão fiscal tem
de ser feita com a colaboração dos próprios contribuintes. Enquanto os próprios
contribuintes, eles próprios não colaborarem nesta batalha, da luta contra a
evasão fiscal, não é só a máquina fiscal que o consegue fazer e aí desempenha
uma função importante da questão, que estava a brincar, a questão das facturas.
Porque, ainda há bocadinho estava aqui falando com
o Carlos Coelho, acho que já foi assimilado, acho que está assimilada a ideia
de que todos devem pagar impostos. E a ideia de que alguns anos havia das
pessoas até se vangloriarem de não pagar impostos, dizer, chamar um bocadinho
parvo a quem paga impostos, porque “eu sou esperto e sei fugir”.
Acho que esse discurso já não se faz em público.
Pode ser que se faça lá em casa, mas em público, acho que já não se faz. Acho
que já há um sentimento generalizado de que isso é uma vergonha. Acho que as
pessoas já não o dizem. Em público, acho que já não dizem.
Agora, a ideia de que, quando vou a um
restaurante, pago a conta e não peço a factura, isso é uma fuga ao imposto e eu
estou a colaborar nessa fuga. Acho que isto, as pessoas ainda não assimilaram.
De cada vez que mando arranjar o carro, vou à
oficina da esquina, pago ali qualquer coisa ao homem, estou a fugir aos
impostos, eu não estou a fugir aos impostos, estou a provocar que uma pessoa
fuja aos impostos. Eu paguei.
Quando vou à mercearia, compro o que entender
comprar, no fim pago e não trago a factura, estou a fomentar que o dono da
mercearia fuja aos impostos. Isto não há controle possível.
Há várias medidas susceptíveis de serem tomadas,
que outros países têm tomado, mas que acho que nós ainda não estamos
suficientemente maduros para poder fazer. Mas há várias; desde sorteios com
facturas até brindes. Vários elementos para fomentar o interesse das pessoas em
coleccionar facturas. Porque a verdade é que também não quero a factura para
nada. Se for à lavandaria mandar limpar o fato, realmente não quero a factura
para nada e portanto preciso de ter um incentivo para me lembrar trazer a
factura, uma coisa que não me interessa absolutamente para nada.
A verdade é que lhes devo dizer que por esse
facto, agora levo sempre da lavandaria, por esse facto já não consigo limpar os
fatos na lavandaria, porque como elas não querem pagar facturas, quando me
vêem, dizem que estão com a máquina avariada. (RISOS) É verdade! Porque
evidentemente, que quando pago, pago imposto. A pessoa, que não passa a
factura, meteu o dinheiro ao bolso e portanto não chegou aos cofres do Estado.
É evidente que há muitas coisas a fazer.
Nós, nomeadamente, vamos, dentro de duas ou três
semanas, vamos iniciar uma campanha, espero que forte, na comunicação social a
favor das facturas, portanto, para levar as pessoas a perceberem, que devem
pedir as facturas, mas isto é algo que demora tempo e aí é bom que todos
colaboremos nisso.
Quando pergunta, quais as medidas que estão a ser
tomadas no combate à evasão?
Acho que a resposta a isto é basicamente uma e que
é informática.
Se todo o sistema de cobrança de impostos
estivesse informatizado, retirava do processo de cobrança, liquidação e
fiscalização, as pessoas. Entrava a máquina. Porque também as pessoas são
elementos distorçores do pagamento correcto dos impostos.
A própria máquina fiscal com 13000 funcionários
há-de concordar que não é fácil de gerir.
Por exemplo a Espanha que tem um sistema fiscal
razoavelmente eficaz, que não tem uma fuga muito sensível, a resposta deles,
nós já lá estivemos, já lá estiveram técnicos a ver o que é que eles faziam, e
não trazem de lá outra resposta a não ser a informática. Onde nós estamos a
investir fortemente. Aí está uma zona em que não tenho negado um cêntimo
(RISOS) exactamente para o investimento em informática nas contribuições e
impostos.
Estou convicta de que isto vai dando os seus
efeitos. Não é um efeito que se dê repentinamente, mas que, é um investimento
sério, que está a ser feito e do meu ponto de vista, quando pergunta
concretamente, medidas concretas, digo-lhe: informática nos impostos.
Quais as medidas mais necessárias para o
desenvolvimento de Portugal?
Dizia-lhe: uma maior produtividade.
Precisamos de uma maior produtividade para seremos
mais competitivos. E portanto, essa para mim será a medida, é o aspecto
fundamental.
Peço desculpa mas o Grupo Cinzento, não por ser
cinzento, concerteza, mas não percebi exactamente a pergunta, porque acho que
aquilo que estava a quer dizer do Relatório do Banco de Portugal ou duma
análise, que veio do Banco de Portugal, era uma coisa um bocadinho diferente
disto. Era a dizer, julgo eu, que a Comissão Europeia está com um entendimento,
que não está ainda estabelecido, mas que admite, que um país que tenha um
crescimento negativo até setenta e cinco por cento do PIB, negativo, e não um
setenta e cinco, porque um setenta e cinco seria muito bom, poderá ficar isento
da penalização que decorre da violação do limite dos três por cento.
Carlos
Coelho
Vamos fazer uma ligeira alteração nos agrupamentos
e vamos fazer dois agrupamentos de três.---------
Grupo Azul, Alberto Luz.
Alberto Luz
(Grupo Azul)
Muito boa noite.
Senhora Ministra de Estado e das Finanças.
Magnífico Reitor da Universidade de Verão.
Minhas amigas e meus amigos.
A pergunta da Equipa Azul é a seguinte:
Sendo certo que se mostra imperativo proceder a
uma reforma da Administração Pública, como é que compatibiliza o congelamento
de admissões com a necessidade de se contratar gente com mais formação por
forma a se segurar uma estrutura renovada e eficaz? Muito obrigado.
(PALMAS) (MUITO BEM)
Carlos
Sezões (Grupo Roxo)
Ora, muito boa noite a todos.
Começo por cumprimentar muito especialmente e de
forma muito sentida a Senhora Ministra de Estado e das Finanças, Doutora
Manuela Ferreira Leite.
Se me permite aqui numa nota muito pessoal, uma
consideração muito pessoal, considero-a, tal como já foi frisado por alguns dos
meus companheiros, uma figura emblemática deste Governo e que na minha opinião
personifica, corporiza verdadeiramente os elementos fundamentais
característicos da actuação do nosso Governo.
A saber:
Objectividade;
O rigor;
E, fundamentalmente a coragem.
Muito obrigado pela sua coragem e pela sua
firmeza.
(APLAUSOS)
A questão que aqui trazia vem complementar um
pouco a intervenção do meu caro companheiro Alberto Luz e tem a ver
fundamentalmente com a reforma da Administração Pública, aquela que a meu ver,
uma consideração também pessoal, penso que também aqui a nível de Grupo a
fizemos, poderá ser a reforma que seja considerada a mais importante desta
legislatura – a reforma da Administração Pública.
Lembro-me nitidamente, há um ano meio, dois anos
atrás, os últimos tempos do Governo Socialista, de ter lido na imprensa uma
reportagem de fundo, que descrevia a estrutura da Administração Pública
Portuguesa e houve, de facto, dados que me impressionaram e fundamentalmente um
dado – o número de funcionários públicos em Portugal.
Falávamos, há cerca de ano e meio, dois anos
atrás, se não estou em erro, em setecentos e quinze, 720000 funcionários
públicos em Portugal. Confesso que fiquei impressionado com o número.
Imagino a estrutura gigantesca, desmesurada e
totalmente desfasada da realidade atrás deste número e sendo objectivamente um
leigo nesta matéria, não me custa muito imaginar, assim como qualquer outra
pessoa não custará muito imaginar, que este número é perfeitamente passível de
ser flexibilizado, desta estrutura ser desmontada e ser incrementada de forma
qualitativa para prestar melhores serviços aos cidadãos portugueses.
A grande questão, que coloco aqui é a seguinte:
Como é que iremos, de facto, fazer este esforço?
De que forma é que iremos fazê-lo?
Não podemos objectivamente enviar directamente
150000 ou 200000 pessoas para o desemprego, não é, obviamente, essa a nossa
forma de estar na política, a nossa matriz social democrata é uma matriz
humanista também de preocupações sociais, Portanto, não o podemos fazer nem
efectivamente o queremos fazer. Agora, há, de facto, de delinear, penso eu, um
caminho, de delinear um rumo, temos aqui uma espécie, permitam-me a expressão,
do “Road Map”, de algo que passo a passo, etapa a etapa, nós permita construir
aqui estrutura mais flexível, mais leve e a questão que lhe queria colocar,
aliás as questões, muito concretamente seriam:
Que passos é que temos de dar?
Onde é que queremos chegar fundamentalmente? Ou
como é que será considerado pela Senhora Doutora Manuela Ferreira Leite um
ponto óptimo ou eventualmente como “o óptimo é inimigo do bom” pelo menos o
ponto bom?
E, fundamentalmente quanto tempo é que demoraremos
a chegar lá para que quando lá chegássemos eventualmente, em termos de
competitividade de Portugal com os seus parceiros europeus, não seja
eventualmente dar demais?
No fundo são estas questões, que queria colocar.
Terminaria apenas deixando aqui uma mensagem, uma mensagem que é partilhada por
todos os meus companheiros de grupo, uma mensagem de apoio fundamentalmente e
de incentivo para prosseguir no rumo traçado, que a Senhora Ministra e este
Governo delinearam. Muito obrigado.
(PALMAS)
Carlos
Coelho
A última pergunta deste bloco vai ser do grupo da
casa.
Aproveito a oportunidade para agradecer ao Grupo
Rosa a hospitalidade desta noite, uma vez que nos acolheu na sua mesa e é a
Vânia, que tem a palavra.
Vânia
(Grupo Rosa)
Boa noite a todos.
Boa noite Senhora Ministra.
Queremos desde já dizer que é uma honra para o
nosso Grupo tê-la aqui à nossa mesa.
Temos consciência de quão cobiçados são estes
lugares, principalmente para a Associação de Taxistas Portugueses. (RISOS)
(APLAUSOS)
Elogiamos e agradecemos a forma séria e correcta
como tem desempenhado as suas funções.
Somos jovens e preocupados com o futuro do nosso País
e portanto, espero que encare a reverência da nossa pergunta como um sinal
disso mesmo. E a nossa pergunta é a seguinte:
Para atingir os objectivos do défice, o ano
passado alienámos património do Estado, este ano recorremos aos Fundos dos CTT.
Existem ainda rumores, que é possível uma redução do PIDAC em quinze por cento.
Entendemos o esforço, que está a ser feito.
Compreendemos, mas também percebemos que as manobras contabilísticas são
efémeras.
O que lhe pedimos, é um exercício de futurologia –
daqui a dez anos, quando for a nossa geração a presidir os futuros deste País,
os destinos deste País, que solução nos restará? Tendo em conta as limitações
de um País pequeno como Portugal. Teremos todos de ir para o inferno ou voltar
a nacionalizar tudo e voltar ao princípio?
Manuela
Ferreira Leite
Não achava mal! (RISOS) (APLAUSOS)
Ora dada a proximidade, atendendo à proximidade da
questão, ia começar por responder aqui ao Grupo Rosa. Que a despeito de ser
simpático tem uma cor horrorosa. (RISOS) (APLAUSOS)
Na sua pergunta abrangeu muitas questões, que não
toquei aqui.
De resto, começo já por lhe agradecer a ideia de
tornar a nacionalizar tudo para tornar a privatizar. Acho isso uma ideia
fantástica. (RI) (RISOS) Não vejo porque não? Está a ver? (RISOS)
E foi a questão dos taxistas. (RISOS) Percebi a
piada. (RISOS)
Mas aqui está um tema que é o seguinte:
Todos estão de acordo que se combata a evasão
fiscal, e, quando se toca no ponto de combate à evasão fiscal, todo o mundo
grita. E o caso, que estava aqui em causa que foi os taxistas, que foi os que
fizeram mais barulho, enfim, tinham possibilidades de o fazer, tem pura e
simplesmente a ver com o instrumento de combate à evasão fiscal.
O chamado Pagamento Especial por Conta que foi
instituído em relação às empresas e que não tenciono recuar, é pura e
simplesmente um elemento de combate à evasão fiscal!
Quem grita é quem não pagava os impostos.
Quem pagava, não tem que se queixar. (
(MUITO BEM) (APLAUSOS)
mais, não
foi tomada nenhuma medida para os taxistas! Foi tomada uma medida para às
sociedades.
Acontece que nós temos, no nosso sistema fiscal,
no nosso País, mais de cinquenta e sete por cento das empresas não pagam um
tostão de impostos, neste caso um cêntimo! Não é possível manter-se um País em
que cinquenta e sete por centos das empresas adoram viver em prejuízo. Não
percebo porque é que não fecham as portas? Portanto, que haja prejuízos
momentâneos, dois anos, três anos para isso a legislação está feita de forma
aperceber que isso assim é! Não se pode perceber que hajam sociedades que,
durante uma vida inteira, nunca na vida tiveram um lucro, um cêntimo de lucro!
Não é possível! Só pode ser evasão fiscal. E, por isso se estabeleceu um mínimo
para que todas as empresas paguem imposto.
Se a pessoa, se essa sociedade, no ano a seguir,
tiver lucros, não tem nenhum prejuízo porque abate aquilo que pagou já este
ano! Da mesma forma que eu trabalhando por conta doutrem, quando recebo o meu
ordenado, já venho com ele descontado do imposto, que me ficou retido e depois,
quando chegar ao fim do ano seguinte, se verificar que afinal paguei mais do
que aquilo que devia, devolvem-me. Ou então, se tenho que pagar mais, pago só,
pago aquilo que já paguei, é descontado.
O Pagamento Especial por Conta é rigorosamente
isso para as empresas. Há uma retenção, há um pagamento em adiantado, se depois
tem lucro, é-lhe abatido. Não tem nenhum prejuízo. Se tem prejuízo, aí perde,
nunca mais vê o imposto, mas tem que justificar porque é que gosta de viver em
prejuízo. Se justificar e se houver uma justificação, também o fisco lhe
devolve o dinheiro. Está a ver?
Bom, o caso da Associação dos Taxistas, já que me
falou na Associação dos Taxistas, que de resto é uma classe profissional
simpática contra a qual, não tenho nada nem tomei nenhuma medida contra os
taxistas, nem contra as empresas. Acontece que os taxistas, mesmo aqueles que
guiam sozinhos um carro, estão constituídos em sociedade. Disso tenho pouca
culpa. Limitei-me a dizer-lhes, deixem de ser sociedade, sejam trabalhadores
por conta própria, sejam sociedades em nome individual, não sejam, é sociedades
duma coisa que não existe, porque caiem no regime de sociedade.
Devo dizer que só em Lisboa, há quinhentos
taxistas; estão duzentos num único técnico oficial de contas, outros trezentos
noutro técnico oficial de contas, que por acaso é uma senhora. Todos têm
prejuízo. Não há um com lucro.
A Senhora também, se calhar, nunca pediu nenhuma
factura, quando entrou no táxi?
E, portanto, era responder-lhe à sua piada, entre
aspas, da Associação de Taxistas, (RISOS) que tem a ver efectivamente com uma
medida de combate à evasão fiscal.
No próximo ano, as estatísticas não tornam a dizer
que 57% das empresas, neste País, não pagam impostos, porque no mínimo pagaram
qualquer coisa. Podem ter pago menos do que o que deviam, mas alguma coisa
pagaram. E isso torna saudável o sistema fiscal e vai permitir que quem paga
impostos, pague menos, porque não é possível pagar, por cada um que não pague,
há outro que paga mais. Se todos começarem a não pagar, nós vamos ter que
aumentar os impostos a quem paga. Porque a receita tem que ser necessária para
fazer pagamento da despesa.
Relativamente à Associação de Taxistas, se eles
aqui estivessem, julgo que uma grande maioria deles percebe, o que é que está
em causa.
Depois falou-me na questão, desculpem começar a
responder aqui por o Rosa, mas foi por uma questão de proximidade.
O objectivo do défice, a venda do património e
outras coisas, que falou, penso e tentei explicar qual é que era o problema da
existência dum défice e vamos ter que o reduzir com alguma rapidez. Acontece
que para reduzir um défice, isto é, a despesa menos receita, tenho duas formas
de o fazer:--------------------------------------------------
Ou aumento os impostos para aumentar a receita ou
reduzo a despesa.
Penso que ninguém neste País defende o aumento de
impostos, então vamos ter que reduzir a despesa. Mas acontece também que a
redução da despesa não é automática, isto é, não tomo uma medida e no dia
seguinte a despesa reduz-se.
Vou agora sugerir uma medida que foi altamente
contestada pela juventude e que foi a eliminação do crédito bonificado.
A eliminação do crédito bonificado, até hoje, não
deu ainda nenhum efeito na despesa! Ainda não houve efeitos na despesa e já foi
tomado em 2002. Nem deu em 2002, nem deu em 2003 não sei se em 2004 começará a
ter algum efeito, mas terá efeito a médio prazo.
Portanto, tomam-se medidas de eliminação de
despesa e essa medida não tem efeito imediato.---------
Ora bem, vamos pensar nos nossos orçamentos
individuais, na nossa vida pessoal, que às vezes é útil para nós percebermos
como é que isto funciona. Se tiver lá em casa um problema de dívidas, toda a
gente se endividou e agora tenho que pagar essas dívidas. O meu ordenado já não
chega para pagar tudo, não tenho nenhuma dúvida em vender o que tenho para
pagar naquele momento para isso é que me interessa ter património, senão também
não me interessa para nada. Mas quero ter património para quê? É para quando
tiver uma necessidade o poder vender.
Ora bem, vou ter que reduzir o défice num período
de tempo razoável, porque senão não cresço.
Não posso aumentar os impostos.
A redução da despesa demora aqui um tempo até dar
efeito.
Pergunto-lhe o que é que faço durante este tempo?
Ou aumento os impostos ou endivido-me. Se me
endivido, não estou a corrigir nada.
Portanto, tenho que ter medidas de natureza
extraordinária para dar tempo a que esta redução da despesa comece a dar
efeito. Tenho que dar tempo para isto. Para entretanto, não me endividar nem
entretanto aumentar os impostos. E, como é que o faço? Vendendo aquilo que
tenho. Não estou a vender o Mosteiro dos Jerónimos! Nem estou a vender a Torre
de Belém! Direi que estou a vender, já tenho dito isso várias vezes até já
brincaram comigo com isso, não estou a vender jóias de família! Estou a vender
um pechisbeque, que tinha lá em casa e que não quero aquilo para nada (RISOS) e
então foi isso que eu vendi.
Não faço nenhum artifício, assumo que vendo aquilo
que tenho, que não me interessa para nada.-------
O que é que nós vendemos o ano passado?
Nós só vendemos uma coisa. Fiz várias operações,
mas só vendi uma coisa que foi a rede fixa da PT. O que é um benefício para os
utentes.
Não há nenhuma empresa que invista numa estrutura,
que não é sua! Por isso é que a PT se estava a deteriorar, em termos de
estrutura! Se quiser que o serviço seja bem prestado às pessoas, a estrutura
tem que ser deles, porque se não é deles, não investem!
Julgo que não há praticamente nenhum país em que a
rede, a estrutura da rede fixa não fosse do próprio concessionário! De resto,
como sabem, era uma medida, que inclusivamente já vinha do Governo anterior.
Até os estudos estavam todos feitos, limitei a fazer aquilo e a concretizar.
Não fiz mais nada. O processo estava absolutamente feito.
Porque o resto, por exemplo: a venda da concessão
da CREL foi uma medida de natureza estrutural. Foi introduzir portagens aonde
não as havia. Não foi uma medida única. Tem efeitos ao longo dos anos. Vai ter
efeitos ao longo dos anos.
Agora com a questão dos CTT’s, posso-lhe explicar
depois com mais tempo. Mas devo-lhe dizer que também não é nada disso que está
a pensar. Quer dizer, é algo que teria que ser feito independentemente.da
conjuntura. Até lhe devo dizer que não sei, se a receita conta para o défice.
Era uma medida que tinha que ser feita em nome dos CTT’s. Foi uma operação, que
era necessária para sanear financeiramente os CTT’s e eu tenho interesse em que
os CTT’s estejam saneados, porque senão não pagam impostos. Há que tempos que
não pagavam IRC, vão pagar este ano. Não tinha participação dos lucros, onde
devia de ter, nunca tive, vou passar a ter este ano. Portanto, daí é que eu
tenho a receita, porque os saneei financeiramente. Não tem a ver com uma
operação, enfim, percebe-se que lê os jornais, mas não é isso. (RISOS)
Espero bem que daqui a dez anos perceba que aquilo
que foi feito, foi tratar genuinamente a nossa economia para que então possamos
aguentar aquilo que é inevitável que são diferentes ciclos económicos. É que a
economia nunca funciona assim. A economia funciona sempre assim. (Havia gestos
a acompanhar o discurso)
E portanto, a seguir a um ciclo baixo vem
concerteza um ciclo alto e a seguir a um ciclo alto vem de certeza um baixo,
porque funciona sempre assim, em “U”, o que nos dá a confiança. Como estávamos
cá em baixo, que agora só podemos subir! (RISOS)
Mas temos também a certeza de que algum dia,
quando estamos a subir, algum dia vamos novamente cair, não sei se daqui a
cinco, se daqui a seis, mas há os ciclos, os ciclos são assim.
Exactamente o Pacto de Estabilidade e a ideia dos
três por cento tem rigorosamente a ver com isto. Tem a ver com aqueles limites
a que é possível nós irmos abaixo ou acima para que quando estivermos em baixo,
aguentarmos a baixa e quando estamos em cima e ser absorvido. Portanto, é esse
o aspecto.
A receita extraordinária, a venda do património,
eu defendo isso categoricamente. Como lhe digo, é para ganhar tempo até que a
despesa dê efeito. Porque a redução da despesa passa também por um aspecto...,
não é só cortar na despesa, aqui o ponto fundamental que este Governo tem
enfrentado e julgo que tem enfrentado com muita coragem por parte de vários
ministérios, são as chamadas reformas estruturais.
Quando se fala nas reformas estruturais é exactamente
isso, é alterar a forma de funcionamento dos diferentes serviços com
repercursão na despesa... O caso concreto da saúde; ninguém está a dizer que
haja menos recursos para a saúde, o que se está a dizer, é com os mesmos
recursos se faça mais ou se faça melhor. Porque só atirar com o dinheiro para
cima das coisas, não chega! Quer dizer, interessa alterar a forma de
funcionamento.
De resto vocês são muito novos mas quem não é tão
novo, lembrar-se-á de há uns anos, quando nós queríamos levantar um cheque dum
banco, estávamos horas numa bicha, ia tudo para a bicha e a conversa, que
havia, enquanto se estava na bicha, na maioria das pessoas, era:
“Também não põem mais funcionários! Deviam abrir
mais guichés. Por isso é que a gente está aqui tanto tempo!”
O que é que fizeram os bancos?
Despediram os funcionários e fecharam os guichés e
toda a gente, agora, não espera um minuto nos bancos. Portanto, o que eles
fizeram, não foi abrir mais guichés e meter mais funcionários, o que fizeram,
foi alterar a forma de levantamento dum cheque. Portanto, fizeram uma reforma.
Passou aquilo a funcionar doutra forma e por isso precisavam de menos, nem
precisam de tantos guichés e nem precisam de tantos funcionários. Portanto, nós
não podemos, quando olhamos para a saúde, quando olhamos para todos esses
temas, não podemos pensar, para isto melhorar, (todos queremos que os serviços
melhorem, porque os serviços não estão bem), o que é preciso é mais dinheiro.
Isto é mais do mesmo. Não pode ser mais do mesmo, porque não se resiste, em
termos de impostos a mais do mesmo. Tem que haver uma alteração do
funcionamento.
É necessário fazer reformas na forma de
funcionamento do Estado. E é aqui que encaixará as duas questões levantadas
pelo Grupo Azul e pelo Grupo Roxo sobre a questão da Administração Pública.
É evidente que a reforma da Administração Pública
é essencial para se conseguir isto, que eu estava acabar de dizer, que é no
fundo, fazer com a mesma despesa fazer melhor ou com menos despesa fazer igual.
Porque considera-se e aí todos os inquéritos resultam sempre nas mesmas
respostas que um dos elementos determinantes na nossa falta de competitividade
tem a ver com a forma de funcionamento da Administração Pública.
Quando uma pessoa para constituir uma empresa
precisa de não sei quantos meses para a constituir, às vezes anos, só pode
levar a desincentivar quem pensa constituir uma empresa.
Quando o sistema de justiça demora anos até
decretar uma falência ou julgar uma falência, impede a constituição de
determinado tipo de empresas.
E portanto, desde o sistema de justiça ao sistema
dos impostos ao sistema da Administração Pública, tudo isso é fundamental
alterar para que a economia se torne mais competitiva.
O Grupo Roxo fala-me do número de funcionários.
O número de funcionários da Administração Pública
nos anos dos Governos Socialistas aumentou em termos líquidos de mais de cem
mil funcionários, o que significa que entraram mais de duzentos mil. Porque em
média saem vinte mil funcionários por ano por motivos de reforma e portanto, se
o aumento líquido foi de cem mil, devem ter entrado cerca de duzentos mil
funcionários na Administração Pública. O que evidentemente teve como efeito uma
melhoria da taxa de emprego e portanto o emprego, neste País, que estava com
taxas baixas e era uma das glórias do Partido Socialista era um emprego
artificial. Porque não há empregos reais, se eles não corresponderem a uma
necessidade e a uma maior produtividade. Portanto, a produção manteve-se ou até
piorou e aumentaram o número de pessoas. E esse é um ponto grave com que nós
nos debatemos, evidentemente. Porque uma das grandes, um grande peso da despesa
pública tem a ver com o pagamento dos vencimentos dos funcionários.
Estamos pelo menos com 100.000 ou 150.000 a mais.
Perguntam-me se por uma questão ideológica, nós
não vamos despedir funcionários nem vamos despedi-los por motivos ideológicos
nem vamos despedi-los por motivos legais, porque não existe legislação que
permita o despedimento dos funcionários públicos.
E por isso, se é verdade que a reforma da
Administração Pública implica que haja rejuvenescimento dos quadros e que haja
requalificação dos quadros e portanto deve entrar gente mais nova e mais
qualificada, se isso é verdade, em todo o caso há aqui um aspecto que eu não
sou capaz de resolver e que é; não posso despedir pessoas e não tenho dinheiro
para pagar a mais. E portanto, estou a fazer aquilo que é contrário àquilo que
eu acho que era necessário que era o rejuvenescimento e a requalificação, mas
há aqui um período necessário em que a medida, que está a ser tomada é
contrária a esta, porque é a única possível e que é: não entra ninguém.
É evidente que entram naqueles sectores em que é
necessário absolutamente sempre entrar como é o caso; da saúde, da educação, da
segurança, na justiça. Mas nos outros sectores efectivamente não entra.
Aprovámos uma Lei em que torna possível a
mobilidade dos funcionários, portanto passarem duns sítios em que haja a mais
para outros onde haja a menos, mas direi que é um mal necessário e em todo o
caso devo-lhes dizer que, nos últimos quinze anos, pela primeira vez, o número
de funcionários está a reduzir. Neste momento temos uma diferença de cerca de
menos 4.000 funcionários em valores absolutos. Não é muito, mas como sempre têm
crescido aos milhares, quando em termos brutos vai reduzindo um pouco. É claro
que isto tem efeitos no emprego. Porque a Administração Pública estava a ser
uma fonte muito importante de absorção de emprego.
E é também por causa destes ajustamentos, já agora
aproveito para referir que é o ponto preocupante, que é o aumento da taxa de
desemprego. É evidente que não atingiu níveis como até os outros países têm.
Estamos ainda com um nível, que não é tão elevado como os países, mas que é o
resultado claro, é a consequência evidente de que este desequilíbrio de que
lhes falei há pouco, desequilíbrio externo, portanto, desequilíbrio na economia
é a manifestação mais nítida de que essa correcção está feita. Porque esta
correcção nunca é feita sem dor e a dor é o desemprego. O qual também se
verificaria se nós não ganharmos competitividade, porque se não ganharmos
competitividade, as empresas fecham e despedem as pessoas e portanto há aqui um
elemento que é sintoma de uma correcção, que está a ser feita.
Quando perguntam, onde é que queremos chegar, a
pergunta era em termos de número de funcionários, não tenho nenhum número
específico na cabeça, direi assim, aquilo que tenho, é objectivo de tornar a
Administração Pública a funcionar nos moldes e nos objectivos, objectivos não, nos
moldes do sistema empresarial. Portanto, funcionar por objectivos e não
funcionar só porque funciona. Funciona por objectivos e são avaliadas as
pessoas por objectivos. E portanto, é esse o caminho por onde estamos a
caminhar. Mas penso que é efectivamente uma reforma absolutamente essencial e
que pode ser decisiva na evolução e no crescimento do nosso País.
(PALMAS)
Carlos Coelho
Bem, chegamos à última ronda de perguntas.
Como é já tradição da nossa Universidade, eu
aproveito a oportunidade para a agradecer à nossa convidada para ter a cortesia
de lhe deixar a última palavra. Agradecer-lhe as explicações, que nos tem dado
e ainda nos vai dar e agradecer-lhe, sobretudo, a sobriedade que empresta às
suas palavras; a simplicidade, a clareza e a forma pedagógica com que nos
explica como vê as coisas e como entende, que elas se processam e como se devem
processar. E, desejar-lhe o maior sucesso para si, Doutora Manuela Ferreira
Leite, como disse o seu sucesso é vital para o nosso Governo e para o nosso País.
(APLAUSOS)
E convido os últimos três grupos a formularem as
suas perguntas:
Pedro Cardoso – Grupo Encarnado
Muito boa noite Senhora Ministra.
Em primeiro lugar, as lindíssimas meninas do Grupo
Encarnado pedem-me que lhe transmita uma saudação muito especial.
(PALMAS)
A nossa questão é complementar a uma já formulada
pelo Grupo Castanho e aqui vai:
Doutora Manuela Ferreira Leite, Portaria catorze,
1446/2001.
Preços de transferência.
Sabemos que durante o ano 2003, vários
funcionários do Ministério da Justiça tiveram formação no estrangeiro para a
criação de um grupo de trabalho na área dos preços de transferência.
Que medidas pensa a dotar a curto prazo para
combater e minorar a fraude e as evasões fiscais nesta área específica?
Obrigado.
(MUITO BEM) (PALMAS)
António
Pereira – Grupo Verde
Muito boa noite Senhora Ministra.
Magnífico Reitor.
Secretário-Geral Adjunto do PSD.
Presidente da JSD.
Caros colegas
Antes do mais queria felicitar a Senhora Ministra
em nome do Grupo e queria-lhe dizer que teve um pouco de azar, porque também há
um grupo verde, se calhar, até se identifica pelo menos a sua família, não é?
(RI) Em geral. (RISOS) E, teve um pouco de azar, porque este é um Grupo um
pouco irreverente no sentido das perguntas, tanto que eu tenho, inicialmente, a
todos pedir desculpa, porque hoje a sua presença fez-me tomar uma decisão à
Manuela Ferreira Leite, aqui nesta mesa, porque eu estava aqui e os meus
colegas, eu tinha só uma pergunta, e, num instante, eles devem ter tantas
questões para lhe colocar que eu, neste momento, tenho este papel cheio.
(RISOS) Pode imaginar o que é isto! Portanto, eu imagino o que é que não será,
às vezes, na sua governação, o que é que terá de fazer! (RISOS) Imagino. Mas
pronto, lá vamos e eu sei que a vamos colocar numa situação um pouco complicada
em relação a esta questão. Mas tem que ser. Compreende. (RISOS)
Bem, se estivesse, agradecia-lhe, se estivesse,
neste momento, no exercício das funções de um autarca, seja um presidente da
câmara ou qualquer outro, como é que confrontava o Ministro das Finanças, que
às vezes é identificado “assim e assim”, não sei se percebeu… que dê muito
dinheiro, mas está sempre, permita-me, teso para todos (RISOS). Como é que o
confrontava... (RISOS) Eu formulo, repito. (RISOS) (APLAUSOS) Posso? (RISOS)
Como confrontava o Ministro da Finanças, sabendo
dos cortes que iria sofrer no orçamento?
Pedimos-lhe que seja muito objectiva, porque
muitas das vezes o nosso Grupo, isto não é em relação à Senhora Ministra porque
até tem sido objectiva nas respostas, mas à maioria dos prelectores. Nós temos
visto que têm dado cento e cinquenta voltas à política. Nós também somos
políticos e não precisamos dessas coisas. E somos objectivos, os jovens pelo
menos.
Agradecíamos-lhe uma resposta muito objectiva e
concisa. Sei que não é fácil, sendo Ministra... Muito obrigado.
(PALMAS)
Mariana
Teixeira – Grupo amarelo
Senhora Ministra muito boa noite, mais uma vez.
Magnífico Reitor muitos parabéns. Está a ser um
sucesso.
Caro amigo, Jorge Nuno Sá e Presidente da JSD.
Senhor Secretário-Geral Adjunto do PSD e também
anfitrião desta bonita terra.
Senhora Ministra, antes de mais deixe-me
cumprimentá-la por ser a primeira e única oradora desta Universidade, note-se
oito dias em que nos traz aqui a forma brilhante como as mulheres podem estar
na política, duma forma construtiva e de causa pública. (APLAUSOS) (MUITO BEM)
Permita-me também agradecer-lhe enquanto filha,
por ser mãe de todos os portugueses, que têm sido uns filhos gastadores, habituados
às mesadas elevadas, das quais não trazem nada de trabalho, antes pelo
contrário e ainda a banca, que também ela endividada. Muito obrigada.
(APLAUSOS)
A pergunta que o Grupo Amarelo lhe traz provém do
discurso inicial, que fez. Todos nós já percebemos a que estamos doentes.
Estamos numa fase do antibiótico e a nossa pergunta é:
Que vitaminas é que precisamos de tomar para
passarmos de doentes a saudáveis, mais fortes e saudáveis, tendo a nossa
economia assente sempre numa competitividade assente em baixos salários?
Muito obrigada.
(MUITO BEM) (PALMAS)
Manuela
Ferreira Leite
Realmente entre o Verde e o Encarnado, sim, sim, o
meu coração balança, não há dúvidas. (RISOS)
Mas, não sei, o que é que se estava a referir. Não
sei, a esta questão do preço de transferência do Ministério de Justiça. Não sei
o que é. Não faço a menor ideia do que estava a falar.
Quem foi o jovem que fez a pergunta?
Pedro
Cardoso
Bem, Senhora Ministra, eu não sou formado na área,
mas a questão foi formulada pelo Grupo, tem a ver com a perversidade nas
relações entre empresas do mesmo grupo. Quando vendem serviços umas às outras a
vários preços e deturpam a concorrência. Penso que será isso!
Manuela
Ferreira Leite
Bom, admito isto sejam, direi um título relacionado
com determinado tipo de operações que..., sim, mas o Offshore não é
propriamente uma fuga fiscal, não é uma evasão fiscal. Vamos lá..., não vale a
pena armarmo-nos em Bloco de Esquerda. (RISOS) (PALMAS)
Nós não somos Bloco de Esquerda e portanto não posso
olhar para o Offshore como sendo uma forma de evasão fiscal e o Offshore é o
mal de todo o sistema fiscal. Admito que haja vários males, resultantes dos
Offshores, os quais se resolvem exclusivamente e unicamente no dia em que se
acabarem com todos no Mundo. Não é acabar com o Offshore da Madeira como penso
é sempre a tese que é defendida pelos nossos opositores e portanto, existem
efectivamente várias fórmulas, que às vezes se utilizam em mediações bancárias
e em transferências bancárias, em relações entre as empresas, em consolidação
de empresas.
Devo-lhe dizer que nesta matéria, aquilo que posso
dizer, é que está a ser feita uma análise muito profunda de toda a legislação
relacionada com estes movimentos de empresas e que essa análise e essa fiscalização
têm tido efeitos concretos, mas não definitivos e portanto, mais uma vez eu
digo aqui a resposta: informática.
Quando a informática conseguir unir todo o tipo de
operações ou seguir todo o tipo de operações, que são susceptíveis de ser
feitas neste tipo de operações, então conseguir-se-à concerteza com mais
eficácia.
Mas portanto, não há nenhuma medida específica.
A pergunta que era: qual a medida específica? Não
há nenhuma medida específica. Há a montagem dum sistema de controle de
informação que servirá para isso e para outras coisas. Portanto, não há uma
medida específica para essa matéria.
Depois o Grupo Verde. O Grupo Verde pergunta, se
eu fosse autarca como é que confrontava o Ministro das Finanças, depois de
saber, que tinha cortes no orçamento?
Eu genuinamente digo-lhe o seguinte:
Se o Poder Local sobrevive eternamente à custa de
transferências do Estado, diria que o Poder Local pensa que acabaria daqui a
uns anos. E portanto, se eu fosse autarca lutaria pela manutenção do Poder
Local, no qual acredito. E, nessa luta aquilo que eu faria, era autonomizar-me
tanto quanto possível do Estado e do Ministro das Finanças.
O verdadeiro Poder Local implica que as pessoas
tomem as suas decisões, façam as suas políticas, que as ponham em confronto,
que escolham qual delas é a melhor ou qual delas tem prioridade e para fazer
isso genuinamente, têm que ser eles próprios a ter o ónus de ir buscar a
receita para o pagar. Porque, enquanto a receita vem do Estado e a despesa for
do Poder Local, não vamos longe ou por outra vamos sempre ficar mais perto do
que aquilo que os autarcas, legitimamente, desejam.
O autarca legitimamente deseja fazer obra,
responder às necessidades das populações.
De resto, é o poder mais próximo dos cidadãos e
portanto mais proximamente percebe quais são as suas necessidades e a forma de
os satisfazer.
Agora, para ter esse incentivo, tem que ter o
incentivo também dele próprio criar as suas receitas e nós estamos a trabalhar
nesse sentido. Quando nós, por exemplo, já fizemos, neste Governo, a reforma da
Tributação do Património. A reforma da Tributação do Património não foi a
pensar no Estado, porque a receita, que dali vem dos diferentes impostos,
praticamente nenhuma é do Estado, são todas das Autarquias. Portanto, no fundo é
transformar, haver instrumentos para que os autarcas tomando medidas assim ou
medidas assado, aumentado mais a taxa ou diminuindo menos a taxa, eles próprios
consigam obter as suas receitas.
Dir-lhe-ia que, obviamente que o Ministro das
Finanças não pode dar aquilo que não tem, só pode dar aquilo que tem. E, aquilo
que tem resulta daquilo que consegue cobrar de impostos. E, eu mais uma vez
digo que o objectivo de qualquer Ministro das Finanças deve ser, do meu ponto
de vista, baixar os impostos. E, portanto, nessas circunstâncias eu diria que o
Ministro das Finanças vai ter cada vez menos dinheiro para dar a quem o quer
gastar. Ou seja, cada um dos elementos ou das entidades gastadoras, uma de
duas: ou eles próprios têm o ónus de ir eles próprios buscar a receita e aí
hesitam. Aí vão hesitar entre lançar impostos ou fazer a obras ou então a
evolução natural é exactamente haver cada vez menos dinheiro a menos que se
pense que há cada vez mais impostos. É que, estas duas coisas não podem nunca
estar dissociadas.
Portanto, também não tenho dúvida que os autarcas
percebem isto! E estão solidários com isso! Mas evidentemente que é necessário,
primeiro: arranjar-se os instrumentos para que os autarcas tenham esse poder.
Que eles, neste momento, têm pouco poder deles próprios criarem as suas
próprias receitas e quando se fez a reforma da Tributação do Património já foi
para se lhes dar um poder sério nessa área, mas existem outras fórmulas.
Por outro lado, se eu fosse autarca pediria também
ao Ministro das Finanças que me desse mais competências, não só para cobrar
receita, mas para fazer despesas. Porque há muitas das tarefas que com mais
lógica e melhores efeitos, maiores benefícios para o cidadão, deveriam ser
desempenhadas pelos autarcas e não pelo Poder Central. Portanto, deveria haver
um reforço do Poder Local. (APLAUSOS)
E, portanto, se eu fosse autarca tentaria
compreender o Ministro das Finanças (RISOS) e pensar que efectivamente o
Ministro das Finanças tem um bolo, como há bocadinho aí foi dito, tem um bolo
do qual corta umas fatias. O pior é, quando a fatia é muito próxima da migalha
e portanto aí, é que surgem os problemas. Mas o ponto fundamental de todos,
está na forma de saber partir o bolo. O bolo tem que ser partido, depois do
Governo ou Estado ter feito as suas verdadeiras opções e temos que pensar que
grande parte das tarefas ou uma parte sensível das tarefas pode, com benefício,
ser desempenhadas não pelo Estado mas por outros; ou pelo Poder Local ou por
empresas privadas, pelo sector privado. Havendo aquelas funções que não podem
deixar de ser exercidas pelo Estado como é o caso da Defesa ou o caso da
Segurança ou o caso da Justiça ou o caso dos Negócios Estrangeiros. Não é
pensável, que haja empresas privadas a desempenhar essas funções! Essas são do
Estado. São genuinamente do Estado e para essas devem ser canalizados os
recursos para serem desempenhadas bem. As outras! Porque é que tem de ser
desempenhadas pelo Estado? Porque é que não podem ser desempenhadas pelo menos
em colaboração com outros?
Agora, se nós continuamos a quer fazer tudo e a
fazer cada vez melhor para cada vez precisarmos de mais dinheiro para isto. E
mais dinheiro para isto significa mais impostos e mais impostos não significa
maior desenvolvimento. Significa menos desenvolvimento. Portanto, esta
dicotomia tem que estar sempre presente no nosso espírito. Porque, como já há
pouco disse, nada cai do céu! Tudo tem um preço.
Portanto, não vale a pena dizer que: “quero mais
isto!”. Se sabem, quero mais isto, custa quanto? Aonde é que vais buscar o
dinheiro?
Portanto, eu se fosse autarca, como já vê, tinha
uma enorme compreensão pelo Ministro das Finanças (RISOS) e dar-lhe-ia uma
grande ajuda, achando que, eu queria mais poderes para mim, mais autonomia para
mim, e, não maçava tanto Ministro das Finanças. (RISOS) (APLAUSOS)
Peço desculpa, falta o Amarelo.
Do Amarelo era, era... Quem foi o Grupo? Ah! Foi
ali a Mariana.
Sim, tenho aqui o apontamento vitaminas, não tenho
dúvidas! Estava a pensar era..., a sua questão foi posta no sentido de que
estamos a antibiótico? Partindo da hipótese de que isto é uma infecção, admito
que sim! Que seja a antibiótico.
Quando é que vamos tomar as vitaminas?
Eu nem sei, se precisamos de tomar vitaminas! Acho
que se a doença for curada, não sei se preciso de vitaminas! Provavelmente
ficarei saudável e passarei a ter uma vida sem precisar também de tomar
vitaminas.
No momento actual, eu direi que nós estamos...,
batemos no fundo. Claramente todos os indicadores mostram que estamos a começar
a subir, portanto batemos no fundo. O que até em relação ao resto dos Países
Europeus, estamos numa situação mais avançada, porque os Países Europeus,
penso, por exemplo, o caso da Alemanha não bateu ainda no fundo.
Nós estamos, penso que, final deste ano, segundo
semestre deste ano, já estamos a subir e que 2004, claramente é um ano a subir.
Não creio, há pouco já o disse isso e reafirmo,
não creio que Portugal com a economia, que tem, com a sua dimensão e porque
somos uma economia muito aberta, e isso significa estarmos muito dependentes
dos outros, sejamos capazes sozinhos, só por nós, de termos autonomia
suficiente para crescermos a despeito de todos os outros não estarem a crescer.
Nós, neste momento, tivemos uma quebra nas
exportações da ordem dos catorze por cento, só provocada pela Alemanha porque,
o nosso principal parceiro comercial é a Alemanha.
Se a Alemanha está mal e não nos compra, porque
está mal! Nós caímos logo com as exportações, se amanhã estiver bem, começa a
comprar e nós aumentamos logo as exportações. Portanto, nós estamos muito
dependentes dos outros.
É ilusório pensar que Portugal sozinho, só por si,
consegue autonomamente de toda a Europa em crise e nós acrescermos por aqui
fora. É uma utopia.
De resto, devo-lhe dizer que ainda nos últimos
Conselhos de Ministros, a própria França diz que não tem capacidade para
crescer sozinha, para arrancar sozinha.
Se a França não tem capacidade para arrancar
sozinha que diremos nós!
Acho que nós não temos capacidade para arrancar
sozinhos, mas temos, mais uma vez torno a dizer, já tinha dito isso há pouco,
temos capacidade para estarmos suficientemente saudáveis no momento em que os
outros arrancarem. Para então, termos capacidade de ir atrás deles. Porque se
estivermos doentes e velhos, eles vão-se embora, nós ficamos e isso acho que
genuinamente, nós estamos nesse caminho. Acho que estamos no caminho já de
crescimento e que iremos lá, atrás, quando todos começarem a crescer de forma
mais nítida.
Depois disse, perguntou, como é que nós entramos
numa competitividade, quando a nossa competitividade tem sido sempre na base
dos salários baixos?
O nosso problema sério é que, neste momento, não
somos nós com os salários baixos! Vamos ter mais quinze com salários mais
baixos do que os nossos e portanto, mais uma vez me ajuda a dizer que não pode
ser da mesma forma que nós vamos crescer e esse é um ponto que eu ainda não
tinha referido, mas, que já agora aproveito para o referir, que dentro desta
correcção, que nós estamos a fazer à nossa economia, portanto, a corrigir os
desequilíbrios com que estava. Há um ponto em que claramente estamos a apostar
e que é alterar o nosso modelo de desenvolvimento.
O nosso modelo de desenvolvimento tem estado
sempre assente em consumo privado, consumo público e investimento público. E,
nós queremos apostar em exportações e em investimento privado. E, portanto isto
é um modelo de desenvolvimento completamente diferente. Não é pensarmos que nós
devemos crescer à custa do consumo e à custa do investimento público, portanto
no fundo, à custa do Estado e do consumo privado, mas à custa de uma forma mais
saudável que é, as exportações e quer o investimento privado. Porque eu
pessoalmente acredito que daqui surge um outro tipo de crescimento, que não tem
a ver com o outro, que é velho, porque no fundo não cria riqueza.
Um crescimento que é formado na base do consumo
esgota-se no momento em que se esgota esse consumo. É evidente, que se tenho
menos rendimento, paro logo. Enquanto que com o investimento privado e com as
exportações, conquisto outros mercados que é, o que é essencial, é que nós
somos muito pequenos, precisamos de conquistar outros mercados e precisamos de
investimento privado.
Nós precisamos de levar os nossos empresários para fora do País, não é
para fora, mandando-os embora, é estando cá, mas buscando mercados externos e
precisamos que haja investimento privado nacional e estrangeiro. Porque nós não
temos capacidade, nós não formamos poupança suficiente no nosso País para
conseguirmos crescer mais do que aquilo que crescemos. Para isso temos que ir
buscar as poupanças doutros. Para ir buscar as poupanças doutros, precisamos
que os estrangeiros venham investir em Portugal. E, para eles virem investir em
Portugal, aí está um ponto, precisamos de ter um sistema fiscal competitivo.
Eles não vêm para cá, se nós tivermos um sistema fiscal que é pior do que se
eles forem para outro lado qualquer! Nem vêm para cá, se a nossa mão-de-obra
for pior do que outra qualquer. Nem vêm para cá, se a legislação laboral for tão
retrógrada como é noutros sítios! E portanto, foi também importante a
alteração, que foi feita na legislação laboral.
De resto na área do Ministro da Economia, todas as medidas, que têm
estado a ser tomadas, têm sido no sentido de fomentar as exportações e de
fomentar o investimento privado tanto nacional como estrangeiro. E, acho que aí
vai haver resultados.
Em 2004, o que há, neste momento, de intenções de investimento
estrangeiro em Portugal, já é significativo. Isso vai ter que ter efeitos no
nosso crescimento. E portanto, é evidente que não podemos assentar o nosso
crescimento no nível de salários, temos que o assentar noutra óptica do nosso
crescimento. Não podemos pensar que ficamos aqui todos muito contentes porque
estamos todos a consumir e porque estamos todos a investir com o sector
público. Porque, como daqui decorre que nós não fazemos isto à custa de
poupança, mas à custa de endividamento. Nós fizemos isto durante cinco ou seis
anos durante os Governos Socialistas; crescemos, fizemos investimento público,
consumimos, o consumo público aumentou estrondosamente e o consumo privado,
esse nem se fala. Só que foi à custa das pessoas se endividarem. Não foi à
custa de poupança. Como foi à custa de endividamento, teve um limite. Teve um
limite e não dá para crescer.
E, portanto, é um modelo de desenvolvimento que tem que ser diferente e
é nele que estamos a apostar.
Não sei, se deva ficar por aqui? Se se quiserem mais alguma questão,
estava às vossas ordens e mais uma vez digo, que gostei imenso de cá estar.
(PALMAS)
JSD, JSD, JSD, JSD, JSD, JSD
(PALMAS)