4º tema
somos cidadãos portugueses
10. Setembro. 2003
(Textos não revistos pelos oradores. Quaisquer erros são
atribuídos à transcrição não
revista das cassetes)
Como o orador se afastou diversas vezes do
microfone, há partes não audíveis que não foram, naturalmente, transcritas.
Carlos Coelho
Dou as boas vindas ao Professor Fernando Seara que como todos sabem foi o
homem que infligiu uma pesada derrota aos Socialistas em Sintra
em especial à Dra Edite
Estrela. O Doutor Fernando Seara é um dos nossos convidados que têm como hobby
a leitura, também que têm o “cozido à Portuguesa” como comida preferida, o
animal preferido é a águia, vai-se lá saber porquê..., o filme que refere é .A Campanha
Alegre, e o filme que nos sugere de Steven Spielberg “O Resgate do Soldado
Ryan”.
Todos o conhecem, não precisa de mais apresentações, a palavra é do
Professor Fernando Seara.
Fernando Seara
Muito bem, eu falo sem microfone, em primeiro lugar queria cumprimentar o
Carlos Coelho,
cumprimentar o Secretário-Geral Adjunto que está na sua terra. Estou na Sintra
do Alentejo que é Castelo de Vide (RISOS). Queria pedir-vos desculpa porque vou
ter que ter o telemóvel ligado, é uma coisa que não se deve fazer nas aulas.
Tenho uma questão pendente que é a queda duma passagem pedonal do IC19 no meu
concelho. O
Carlos Coelho
pediu-me para vir falar sobre um tema que genericamente no vosso programa, está
como “Somos todos Portugueses”. Vou fazer uma intervenção inicial
suficientemente provocatória em que me vou recordar do meu tempo de aulas na
Universidade, de Ciência Política, de Direito Constitucional. Mas hoje, após 18
meses de Sintra, só tenho uma certeza, é que não tenho certeza nenhuma. Estou a
falar perante homens e mulheres, futuros quadros políticos de Portugal que têm que
ter a noção que na política nada é perfeito, e, que quem julgar que a política
é a perfeição está enganado.
Dois elementos introdutórios passam por aquilo, que identificaremos como
a crise do Estado. Ou melhor, o estado a que o Estado chegou. Esta construção
passa fundamentalmente por três momentos. Primeiro momento Maquiavel, se
quiserem teoricamente Maquiavel, o Príncipe. Realmente Maquiavel a formulação
do Estado e dos elementos do Estado. A clássica delimitação de Bodin, a
soberania, o conceito de soberania e o envolvente subjacente ao Bodin, na
soberania o povo que num determinado território não tem igual na ordem interna,
nem superior na ordem externa. Com esta construção de Bodin, desenvolveram-se
os mecanismos (já lá iremos chegar) das Instituições do Estado. Das
Instituições de controle do Estado, fundamentalmente no momento do aparecimento
das clivagens do Estado moderno.
O segundo elemento, (vamos saltar na história) vamos situá-lo no
princípio do século XX. Conscientemente como autor marxista, Gramsci que nos
escritos da prisão (e é fundamental, lê-lo porque ele é um dos primeiros
elementos de desconstrução de um modelo) nos identificou os novos príncipes.
Reparem o príncipe e, os novos Príncipes. Ou se quiserem, não no plural mas no
singular: o novo Príncipe. Quem é o novo Príncipe? São os partidos políticos.
Os partidos políticos tornam-se na transição do século XVIII para o século XIX,
os elementos centrais da mediação política com todas as construções teóricas
envolventes dos partidos políticos, a Lei da Oligarquia, a Lei de Bronze dos
partidos políticos, as formas de não renovação das elites, as formas da
corrupção inerentes ao funcionamento das lógicas dos partidos, o aparecimento
dos partidos de massas e das suas lógicas fascistas e comunistas, os
desenvolvimentos dos partidos de eleitores como elementos de agregação. Para
aqueles que gostam da teoria política, os “catch all parties” ou seja os
“partidos apanha todos”, ou “partie attrappe tout” para aqueles que forem
francófonos, está aqui o
Carlos
Coelho que nos tem presenteado com as duas línguas “Passe Partout”
do século XIX, e a “Passe Partout” do século XX, porque a do XXI é a “Net”.
E a questão dos partidos políticos aí está. Reparem bem a crise do Estado
de hoje, Maquiavel, Gramsci, os novos príncipes, e, chegamos à década de 80.
Estavam vocês a nascer, certo? Genericamente já tinham nascido. Chegámos à
década de 80 do século passado, e, vão começar a surgir, (hoje em dia
teoricamente aceito, a ciência política Norte Americana desenvolveu no final da
década de 90 do século passado) os príncipes electrónicos. Deixei umas
fotocópias, são múltiplos autores, daquilo que identificamos como os príncipes
electrónicos. Os príncipes electrónicos são aqueles que vão dar a razão a um
professor Francês, Jean Marie Coutteret, que num livro fundamental para vocês
lerem, chamado, (vou traduzir em Português) “Governar é Aparecer”, em que os
príncipes electrónicos são aqueles ligados àquilo que se chama a personalização
do poder, e à capacidade de comunicação face à opinião pública.
Meus caros amigos, os príncipes electrónicos aí estão. Alguns chamam
“populismo”, outros chamam “individualismo”, A questão dos príncipes
electrónicos estão aí, os príncipes electrónicos surgem da mistura de factos,
posso dar exemplos. Vocês têm o maior exemplo do príncipe electrónico, é do
PSD, chama-se Pedro Santana Lopes. E o príncipe electrónico que é o Pedro
Santana Lopes, é o exemplo concreto dos mecanismos de construção do Maquiavel,
do desenvolvimento do Gramsci e da afirmação dos príncipes electrónicos no
subconsciente. Se quiserem, na desconstrução do príncipe electrónico, há um que
não consegue ser príncipe electrónico chama-se Ferro Rodrigues. (RISOS, PALMAS)
Esta construção é fundamental. Não quero tomar conta do tema do Agostinho
Branquinho, mas para percebermos, vocês têm aqui seis painéis da audiência das
televisões Portuguesas nos últimos 15 dias. Atenção, nos últimos 15 dias, onde
os dois únicos factos importantes chamam-se: “Casa Pia” (não há política) e
Futebol, por vezes com grande angústia existencial, mas... (RISOS, PALMAS)
...estou a dizer isto pelo seguinte: sou Presidente da Câmara de Sintra, e, não
tenho tempo no prime time das televisões a não ser quando me acontecem
desgraças... (PALMAS)... Não estou a criticar. Só tenho que perceber
politicamente que os fenómenos de ocupação do prime time são aqueles, e, quem
perceber tem capacidade de analisar as circunstâncias e fazer opções de
política diferentes. Mas têm aqui com a estratificação, a estratificação é
fundamental na política. Daí as sondagens quantitativas e as sondagens
qualitativas. E esta questão também interessante, estratificação social, classe
“a”, classe “b”, classe “c”, classe “d”, vão ver que a classe “a” é aquela que
começa a ver mais o “Big Brother”, classe “a” maiores rendimentos. Fazendo a
teoria da “tenaz” com a classe “d”. E depois vão ver a estratificação por
idades, depois vão ver (entregue ao Carlos) elemento interessante para a
análise do príncipe electrónico, são as curvas diárias de audiência por
televisão. Hoje em dia isto consegue-se ver de 30 em 30 segundos, o que
significa que se consegue fazer política em termos de príncipes electrónicos de
30 em 30 segundos.
Isto é um dado que nos ajuda a perceber o segundo elemento que é a
questão do poder. A questão do poder, no primeiro momento o poder em si, em
segundo lugar os elementos do poder. Questão central: poder em si. O poder é
uma relação entre governantes e governados. E a grande questão do poder é
mantermos positiva a relação. Isto significa hoje em dia termos capacidade de
perceber quem são os elementos centrais do povo activo, os elementos
determinantes do povo semi-activo e as razões do povo passivo. Isto é
fundamental.
Sou Presidente de uma Câmara que tem tantos habitantes, quanto o meu
Distrito natal que se chama Viseu, 440.000 pessoas. Na minha Câmara tenho cerca
de 50.000 jovens. Sintra é hoje
em dia o Concelho com mais jovens em Portugal. Na
minha Câmara 15% da população jovem é não Portuguesa, repito, não Portuguesa. A
minha Câmara tem 15% das autorizações de residência globais em Portugal nos
últimos 4 anos, ou seja, 80.000 pessoas. A minha Câmara tem 320 Km2,
ou seja, a área da minha Câmara é igual à área da Câmara de Lisboa, mais
Oeiras, mais Cascais, mais Amadora, mais um terço de Loures.
Isto é a análise dos elementos do poder, para eu perceber os elementos
naturais do poder para ter percepção de como é que tenho capacidade para
exercer o poder. Quando digo isto da Câmara, digo isto do Governo, digo isto de
qualquer micro realidade de exercício de poder, mesmo que seja organização não
governamental, associação de estudantes, estrutura empresarial ou o que quer
seja. Esta questão da relação entre governantes e
governados, se quiserem na expressão juridicamente idónea “eleitores/eleitos”,
que é o fenómeno central da mediação dos partidos políticos, temos o elemento
de análise dos elementos onde situamos classicamente, o povo que no
território exerce um poder político autónomo, vamos dizer (para
irmos ao artigo sétimo da Constituição) independente.
O povo: Hoje em dia temos dois tipos de análise. Vocês sabem que nalguns
concelhos do Algarve quem já decide, e, pode decidir o voto são as Comunidades
de imigrantes que desencadearam o mecanismo do registo? Vocês perceberão a
curto prazo que basta haver uma Associação de conjuntos de interesses dos
cidadãos originários destes Estados, para terem uma capacidade de influência
política nalgumas freguesias de algumas zonas da Área Metropolitana de Lisboa?
E atenção, fazer política não é apenas prover. Fazer política é prever para
prover. O que eu sei é que (estou a dar um exemplo) 15% da população de Sintra
não é Portuguesa, o que eu sei é que a maior parte dela está entre os 14 e os
20 anos, é originária de Países em relação ao qual Portugal equiparou direitos,
inclusive, equiparou direitos políticos, ou seja, a curto prazo tem capacidade
eleitoral nas autarquias e nalguns tipos de outras eleições se for desenvolvida
a revisão constitucional como alguns defendem.
Isso é o que eu sei a curto prazo. E sabendo a curto prazo, tenho que
dizer que o conceito tradicional do povo (direito do sangue e o direito do
solo) tem um conceito novo que necessariamente tem que ter por trás um outro
fenómeno de análise, que é em primeiro lugar o estatuto de cidadão europeu e os
mecanismos e titularidades da carta dos direitos fundamentais da Europa e alguma coisa subjacente ao projecto da Constituição Europeia,
e ao outro, o elemento que é o efeito de globalização, sobre aquilo que se chama
a democracia electrónica ou se quisermos como aquilo que se chama a democracia
do sujeito. Aí está. Se quiserem mais exemplos a democracia do sujeito tem mais
um nome, hoje em dia chamam-se “blogs”. Atenção, cuidado, porque as “blogs” de
hoje são a forma na net da teoria dos rumores oblatos. Sabem qual é? Não sabem?
Peço desculpa mas é fundamental na política, é a teoria dos 3 “S”. Boatos ou
rumores são científicos. Os boatos ou rumores são sempre científicos na
política. Quais são os 3 “S” dos chamados rumores oblatos, querem ver, (RISOS,
PALMAS) sexo. Houve um candidato Presidencial Norte Americano que foi
liquidado à nascença. Houve um Presidente Norte Americano que foi atacado com
isto, para perceber. Outro “s” “SANTÉ”. Querem uma destruidora. Tem sida… Destrói,
então se for do mundo dos espectáculos e das letras deixa de ter contratos, se
for da actividade política desaparece. É bom terem a noção, sexo, hoje em
Portugal a primeira tem novas fórmulas, para quem anda distraído... (RISOS)
...atenção, repito, para quem anda distraído… Não tem nada de extraordinário
meu caro amigo, isto é clássico. Nós que estamos na política temos que perceber
o que é clássico, o que não é clássico metermos os elementos de modernidade ne
análise. Não tem nada de extraordinário, por vezes é que julgam que a gente
anda desapercebido. Há livros clássicos da ciência política que explicam isto
muito bem. Terceiro “s”, (e se conjugarem os três já vão ver o que é de
explosivo), “sur”, sabem o que é “sur”? Debaixo, bolso, cheio, corrupção, agora
juntem os três “s”, vejam o que é isso importante para a relação
governantes/governados, e, para a relação eleitores/eleitos. Juntem, conjuguem
os três elementos fundamentais da reprodução do rumor ou do boato e o rumor ou
boato, é fundamental. Dantes era de “boca em boca”, o “boca em boca” é verdade,
hoje em dia é na “net”, o que significa que atinge determinado tipo de elites,
são as elites reprodutoras. “www”
muito mentiroso “ta, ta, ta”, dá para ser citado no artigo do Deputado “x”, no
Jornal Y quando convém. E perturba os elementos.
O segundo elemento
é o território. E, o segundo elemento do território está aí, é a
desterritorização a que nós assistimos. Não tem nada de extraordinário,
explicar-vos isso é dizerem lá vem os gajos a chatear a cabecinha e dizer-nos
aquilo que é óbvio. A desterritorização está aí. É evidente que, com certeza, o
José Correia falou de todos os mecanismos inerentes, mas esse elemento tem a
ver com o outro lado do globalismo, que se chama localismo, e, o localismo tem
a ver com o elemento do localismo, sabem qual é? As formas de agregação do
localismo. Sabem o que é que isso tem a ver? Tem a ver com os modelos de Estado
e agora ficam só para reflexão.
Os modelos de Estado
têm a ver com o conceito de descentralização, de regionalização,
desconcentração de poderes.
Uma nota pessoal:
nós em 2003/2004/2005, vamos viver com estes conjuntos de elementos. O Miguel Relvas
amanhã peçam-lhe para explicar isso, porque ele tem que explicar... (RISOS) ...Eu
fui claro, peçam para ter, sem perturbar ninguém de Santarém que esteja aqui
presente... (RISOS) ...estou a falar da Distrital. Em 1916/17, 1920/21… (situemos,
primeira Guerra Mundial, revolução Bolchevique, criação de um conjunto de novos
Estados-tampões para impedir a expansão da revolução Bolchevique, a uma pátria
industrial bem destruída chamada Alemanha). Criaram-se assim uma série de Estados
a partir dos 14 pontos do Presidente Americano Wilson vertidas de um tratado
que os Estados Unidos não ratificaram. Criaram-se uma série de Estados, só para
vos dar nota de um, Checoslováquia. O Estado ponto, vamos criar ali o Estado
ponto para não chegar a revolução ali à Alemanha. Por acaso depois de 1989. Um
dos primeiros estados a desaparecer foi a Checoslováquia, mera casualidade…
(RISOS) Vamos ali criar estados tampão para o Mar Báltico, Lituânia, Estónia,
Letónia e vamos criar mecanismos na lógica de acesso ao mar fechado das três
regiões chamado Mar Mediterrâneo, estabilidade Grega, um tal império otomano, a
laicização do estado turco, etc. E agora, (saltei), e vem a reconstrução de um
modelo de 19 no espaço internacional, vejam a reconstrução que aconteceu em
Portugal, crise do Estado da primeira República, multiplicação de partidos políticos, Brito
Camacho é um indivíduo que esteve 9 horas a falar no Parlamento. Os colegas
dele de partido vinham de comboio do Porto, ele nunca mais chegava, porque teve
uma avaria na carruagem. Quando eles chegaram à Câmara dos Deputados, um
interlocutor diz: “quero cumprimentar Vossa Excelência, mas acima de tudo a
bexiga de Vossa Excelência”... (RISOS) ...já nessa altura a bexiga era um
elemento fundamental de percepção do humor.
Mas reparem em 1917/18
e 21 em Portugal, sabem o que é que aconteceu? O primeiro momento da
descentralização. Sabem como? Com a construção das primeiras Juntas de Turismo
em Portugal, ou seja, as primeiras áreas de jogo para a burguesia comercial e
industrial das zonas de Lisboa poder ir jogar, ao Estoril e a Sintra na altura,
que eram distintas, à Serra da Estrela ou a Entre os Rios, e, construiu-se um
modelo de descentralização com grande reflexão, e agora aqui vejam bem, número
de concelhos existentes, número de províncias existentes, formas de apoio às
províncias existentes. Territorialização, não me cabe entrar no Tema do Miguel
mas a territorialização interna no espaço tem a ver com estes modelos reais,
que é: como é que eu descentralizo? Perceber porque é que não regionalizei,
entender como é que desconcentro, e peço desculpa, saber se eu estou a
descentralizar para uma nova regionalização subtil, ou se só estou a
descentralizar para uma redefinição dos estatutos dos 308 concelhos existentes
em Portugal. Isto tem a ver com futuro imediato e com uma percepção da relação
governantes/governados, certo?
Só para dar nota
para quem estiver distraído, o meu concelho representa 4% da população activa
portuguesa… para quem estiver distraído… fundamental para quem quiser ganhar
eleições Presidenciais. (RISOS, PALMAS)
Terceiro elemento
de poder, os elementos do Estado no poder. E aqui o poder, não vamos discutir o
poder político, para não perturbar as origens dos que aqui estão presentes de
direito..Para não perturbar o Fernando Jorge, Gomes Canotilho, (RISOS), escola
de Coimbra, a de Lisboa, a Católica, a Lusíada….
ia questão de
poder está essencialmente ligada às Instituições de controle do exercício do
poder. àquilo que para mim é mais relevante quanto às Instituições de Controle,
que eu vou chamar formais e as Instituições de Controle jurídico formais para
acabarmos aqui com uma perturbação existencial para o nosso chefe Carlos
Coelho.Instituições de Controle de poder, quais são as Instituições que o
Estado moderno construção Maquiavel. Esteve presente o
modelo maquiavélico e o modelo democrático que são modelos sistemáticos. O
modelo maquiavélico, Triunfo dos Porcos, somos todos iguais, mas há uns mais
iguais que outros, certo? Modelo democrático, somos todos iguais, estes dois
modelos na vida internacional, na vida interna lá sempre estão presentes e
temos que perceber isso, na nossa percepção de que somos todos portugueses,
porque nós somos o exemplo disso mesmo.
Instituições
formais de Controle, querem ver? Primeira Instituição de Controle
historicamente, a Igreja. Foi aquela que em primeiro lugar determinou o aparecimento
dos primeiros partidos políticos, partidos cristãos ou laicos com outros nomes:
a democracia cristã surge com outro nome, mas primeiro momento eram aqueles que
estavam a favor da igreja ou contra a igreja. A igreja deixou de ser uma
Instituição de Controle. Meus caros amigos, minhas caras amigas, cuidado com as
igrejas…. No Brasil “x”, não vou dizer nomes. Númrero“x”
Deputados Federais respondem perante o Bispo da Igreja Universal do Reino de
Deus e é ele quem vota. Para perceberem, Lula da Silva acabou de os conquistar
e daí ter a maioria para a reforma da Previdência, e a reforma Tributária. São
78. As pessoas já não pagam só o dízimo, pagam o dízimo, e comprometem-se. Cuidado
para quem for das Áreas Metropolitanas, na análise da relação de poder.
Igreja hoje
acrescentam-se, em sentido amplo e não no sentido da liberdade religiosa que
aprovamos, Igreja. Não era apenas ontem que a Igreja Católica era uma instância
de poder, as novas Igrejas mais não fazem do que acolher o elemento de controlo
que a Igreja Católica ensinou. Não tem nada de extraordinário. A esmola na
Páscoa tinha um nome, o dízimo hoje tem um nome, e cuidado com isso.
Segundo elemento
de tradicional controle: a família. E a desconstrução da família é um número
fundamental na análise. Tenho escolas em Sintra em que 50% dos jovens são
filhos de pais separados, não por falecerem. Eu repito, é um dado novo das
relações de poder: 50%. A maior freguesia da Europa está no concelho de Sintra,
chama-se Algueirão/Mem-Martins, tem hoje 90.000 pessoas…, sim minha senhora
90.000 pessoas. Ou seja, é o mesmo que o concelho de Viseu e as 32 rotundas.
Mas também já agora aproveito, tenho o maior Bairro clandestino da Europa, hoje
em dia legalizado, chamado área urbana de génese ilegal, chama-se Casal de
Cambra e tem 35.000 pessoas. Segundo elemento a família.
Terceiro elemento:
as Forças Armadas... (RISOS) ...atenção, terceiro elemento as Forças Armadas,
as Forças Armadas eram um elemento de integração social. Eu ainda sou do tempo
do Serviço Militar Obrigatório de “x” meses. Quem era de Viseu ia para a
recruta para Tavira, quem era do Algarve ia para o Regimento de Infantaria 14.
Eu sou desse tempo, depois havia os chamados casamentos temporais para a
afeição nas férias, pronto... (RISOS) ...este elemento de integração hoje
acabou, as Forças Armadas não são elemento de integração, reparem; igreja, toda
a questão envolvente a família, os mecanismos das Forças Armadas e agora a
questão Forças Armadas Profissionais, etc., etc.,.
Quarto elemento de
integração: os partidos políticos. E a questão dos partidos políticos nas
clivagens que fizeram emergir,os partidos políticos; centralistas e
periféricos, urbanos e rurais, a favor dos proprietários e dos trabalhadores,
ou se quiserem na linguagem burgueses e proletários, depois de 1917 ocidentais
e orientais, já sabíamos que estou a falar da Europa Ocidental de que
falávamos, falar da Europa Oriental de que é falávamos. Desconstruímos isso e
portanto, todos os livros que nós estudámos na Universidade e nos primeiros
anos que ensinávamos estão na última prateleira da nossa biblioteca.
Desenvolvimentistas e ecologistas, os verdes e todos os mecanismos ligados
fundamentalmente ao desenvolvimento da estrutura social do Estado de bem-estar,
e, as lógicas das elites sociais a condicionaram o exercício de poder,
professores, quadros superiores da administração pública, o partido dos verdes
na Alemanha, 80% são professores e quadros superiores da administração pública
dos Lander que é onde está grande parte da administração pública, e, percebe-se.
Originariamente democracia participativa, transformação da democracia
participativa em democracia representativa, democracia representativa chegada
ao condicionamento de poder. E, a lógica dos partidos políticos com todas as consequências
relacionadas também eles próprios com a crise, porquê? Com as identificações do
mecanismo de de Krinsk o Mikal Kerenski, já identificava em 1917, depois
reproduziu em
1921 a
Lei Bronze dos partidos a incapacidade de renovação etc., etc.
E isto, das
instâncias de controle, a estas quatro vocês juntam uma outra têm uma nova
instância de controle, sabem qual é? Peço desculpa de dizer tem um nome
chama-se comunicação social.
Adoptemos a tese
estruturalista ou adoptemos a tese déo-campeã, custa-me um bocado fazer uma
análise Marxista, mas… (RISOS) A comunicação Social tem estes dois dados
fundamentais. Ela determina o que existe. Só o que é visto é que existe,
sublinho, só o que é visto é que existe. Num País em que os graus de leitura de
jornais é reduzido, sendo certo que muitas vezes são os jornais que levam a que
o que é posto nos jornais seja visto. Sublinho, só o que é visto é que existe.
Para o exercício do vosso poder, não para o poder micro de Castelo de Vide e Gavião, aí não estamos a falar.
Estamos a fazer a análise do Estado.
Segundo ponto: Tem
que ser dar a percepção de governabilidade, ou seja, o que é governabilidade? É
a eficácia da gestão e a eficácia. Para conjugar as duas questões, se governar
é aparecer, ao aparecer tem que se governar. A minha questão fundamental no domingo,
sabendo eu que só aparece nos momentos de crise foi esta! Eu quando fui à
televisão, tinha que ter uma mensagem específica que era: a responsabilidade
não era minha, e dar uma imagem de segurança a 200.000 pessoas que passam por
cinco viadutos, todos os dias, similar àquele que caiu. Quando eu fui à
televisão, sublinho, uma hora e meia depois do acidente, sublinho, uma hora e
meia depois do acidente, a minha noção por vezes falha, era aquela, eu não sou
responsável, indiscutível, segundo a percepção de insegurança não se podia
reduzir. Se consegui passar a mensagem, governar é aparecer, aparecer é um
sentido de governabilidade, muito bem. E é essa questão.
Onde o José Manuel
Durão Barroso nessa matéria tem sido hiper eficaz, hiper eficaz, principalmente
a conjugação das duas realidades, por um lado é aparecer, aparecer é dar um
sentido de governabilidade. Fez isso exemplarmente na altura dos incêndios, aí
graças a algumas pessoas, eu não estou lá nelas mas, o José Correia e o Miguel
Relvas, indiscutivelmente. Isso também tem que ter um enquadramento, para além
dos outros Ministros políticos só estou a falar, dessas duas realidades, e, da
comunicação.Vocês reparem bem, isso hoje é tão relevante quanto o seguinte: há
três meses que não há política em Portugal, caso “Moderna”, “Casa Pia”,
incêndios, RTP Casa Pia, e agora Rui Teixeira, sim ou não, (RISOS) ...peço desculpa, ontem e anteontem
os primeiros 42 minutos de todos os telejornais, 31, 42, 40 “Casa Pia”, advogados,
Júdice, tudo o resto não existe. E atenção e agora damos uma nota para os
juristas estando acontecendo em Portugal uma das coisas mais complexas, que eu
como jurista me perturbo que é o juiz das liberdades, eu sublinho, o juiz das
liberdades, ou seja, o juiz de Instrução Criminal que eu sempre aprendi, (tendo
uma nota fantástica em processo penal), vai com o Procurador da República
visitar uma prisão onde vai haver o local para a inquirição para memória futura. Peço
desculpa, e toda a gente em silêncio Sendo certo, que todos perceberão, porque
somos todos políticos, que o caso só acelerou para outras vertentes, depois de
se ter dúvidas, se ia haver nos próximos tempos,
declarações para memória futura, no processo da “Casa Pia”. E quem é jovem, e é
político e sabe mais que eu, tira as conclusões todas. É para acabar? Então,
tive muito gosto. (PALMAS)
Carlos Coelho
Vamos então entrar
na fase das perguntas e das respostas, e, como combinámos vamos fazer um lote
de duas perguntas seguidas, uma por cada grupo. Sublinho que cada grupo tem
apenas uma pergunta e, propunha quer aos perguntadores quer ao respondente –
Professor Fernando Seara, para termos mais animação, independentemente do
orador ser um exemplo de comunicação, fazermos perguntas e respostas curtas
para dar espaço a mais pessoas perguntarem.
Vânia
(Grupo Rosa)
Boa tarde Senhor
Professor Fernando Seara, queria desde já dar-lhe os parabéns e agradecer-lhe a
magnífica exposição. O Grupo Rosa gostaria de saber a sua opinião sobre um
assunto que é o seguinte: a constituição portuguesa mesmo apesar de todas as
revisões que já sofreu, é manifestamente desadequada ao nosso sistema, à nossa
realidade económica e social. Ggostaríamos de saber quando é que antevê uma
vontade política, tendo em conta todos estes condicionalismos de que falou,
para acabar definitivamente com os traumas da infância conturbada da nossa
democracia, e, definitivamente fazer uma verdadeira reforma do sistema
político.
Muito obrigado.
João Rego
(Grupo Encarnado)
Muito boa tarde
Doutor Fernando Seara, é com grande orgulho que o temos cá, o Grupo Encarnado
acho que como todos nós agradecemos a brilhante intervenção que deu.
É com grande
tristeza que o Grupo Encarnado e penso que todos nós, verificamos que os jovens
de hoje na sua grande maioria estão a modos nas questões políticas, parece que
se têm perdido bandeiras, basta ver os números de abstenção aquando do
exercício do direito de voto. Esta falta de ideias de juventude é generalizada,
é um vírus que alastra sem se saber bem porquê. Isto para lhe perguntar o
seguinte: será que temos que reavaliar a condição do eleitor para dar soluções
à democracia portuguesa?
Muito obrigado.
Fernando
Seara
Muito obrigado
pela pergunta. Se reparou, o
Carlos
Coelho pôs-me um papel à frente, eu acabei, faltava aqui uma
chaveta, que é um dos elementos jurídicos penais onde eu ia falar do elemento
Constitucional. Eu acho que a Constituição é uma força de bloqueio. Sabe
porquê? Porque eu acho que nós no Governo com uma Constituição tipo, Francesa,
Espanhola, Americana, não tínhamos perdido 16 meses para reformar a Legislação
Laboral, nem teríamos perdido, (que estamos a perder), para reformar a
Administração Pública.(PALMAS)
Isto dói, dói
porquê? Porque é evidente, vamos pôr as questões lineares. A construção da
constituição portuguesa, é uma construção de uma Constituição de compromisso. E
eu posso contar isto: Eu estava na Assembleia em 1982, os primeiros juízes do
Tribunal Constitucional, foram eleitos à 8.ª vez, sublinho, 8.ª vez. E posso
dizer isto hoje, um terço dos votos não foram secretos,. (RISOS)... À 8.ª vez,
nós sabemos como é que é hoje, hoje são 13 não é? É assim seis, seis, “um”...
(RISOS)... um naquela escala de zero a dez que nós vemos, identifique-se lá;
5,1 (RISOS) sobre a Legislação Laboral penso… dou 5, e a Legislação de
Administração Pública à sim, pois bem… (RISOS) o juiz do Tribunal
Constitucional “x” anos é nosso e “x” anos é do outro e tem o equilíbrio.O
tempo que nós vamos demorar para reformar a Administração Pública, é um tempo
excitante para o jurisconsulto, a Senhora já viu o único debate, relevante que
na altura em Portugal, não é necessário reformar, ou urgente reformar, “mas a
questão central é: é constitucional ou inconstitucional. Há sempre quem diga “
é inconstitucional”, mas nós já sabemos. A interpretação da Constituição, de
uma Constituição semântica é uma interpretação política. Tenho lido os últimos
acordos do Tribunal Constitucional para os meus momentos de deleito,
principalmente depois de algumas angústias ao fim-de-semana, (é quando o
Benfica não ganha...), (RISOS) agora digo o seguinte: as Constituições dos novos
Estados são flexíveis, a constituição do Estado Português continua a ser
político rígida. É esta a questão central. Eu vou estar em concorrência daqui
por “x” meses com a República Checa, onde não haverá nenhum debate no Tribunal
Constitucional Checo sobre a questão formal da audição de “x” comissões sobre
“A Reforma da Administração Pública”.
O grande problema
é que eu já não estou com o conceito do Boudan, de soberania ou com o conceito
concorrencial. Eu dou o exemplo: tenho
em Sintra a Fábrica
“Philip Morris - Tabaqueira”, de Sintra que estava em directa concorrência com
a Fábrica “Philip Morris” de Praga para a expansão. Foi decidido pela Empresa
“Philip Morris” da Europa, era aquela que mais rapidamente as autoridades
locais e nacionais flexibilizassem. Chamei a minha direcção de urbanismo e
disse: durante 15 dias eu posso levar pancada de todo o lado, como levei. Durante
15 dias a questão administrativa do urbanismo da “Philip Morris” é decidida por
nós. Eu estou
em concorrência com Praga, estou em concorrência com
uma empresa que paga quatro milhões de euros de derrama à Câmara, ou seja, veja
quanto é que paga ao Estado Português, que trabalha 24 horas sobre 24 horas,
que fornece 49%, não vou discutir o produtos, 49% de mercado Italiano de
Malboro, portanto, meus amigos estou cá politicamente para assumir as
responsabilidades, se houver criticas, que vai haver. Mas eu quero ganhar a Praga,
porque ganhando a Praga ganho emprego, ganho impostos, ganho receitas. Foi uma
opção política minha. Estou disponível para ser julgado por isso, mas durante
quinze dias aquela gente do meu urbanismo, optou por uma decisão minha com
todas as consequências daí inerentes dos graus de relação de poder e a Fábrica
da “Philip Morris” de Sintra ganhou à Fábrica da “Philip Morris” de Praga e
está a expandir-se. (PALMAS)
É evidente que
isto é para ficar aqui, se eu disser nalgum momento será nas minhas memórias
(RISOS). A questão da relação com a política é esta: repare bem, o que é que
dizem dos políticos. Dizem dos políticos tudo: corrupto, mandriões, não faz
puto, (RISOS) só vai para a política aquele que não sabe fazer mais nada,
certo? Vou contar um exemplo de campanha eleitoral
em Sintra: Centro Comercial
de Massamá. Massamá cuidado, querem saber onde vivem parte dos Desembargadores
e Juízes de Lisboa, é em Massamá, cuidado que é a cidade dos Juízes. Lá vou eu,
quando julgava que (RISOS) continuava na Assembleia da República a fazer os
meus pareceres aquelas coisas todas, (RISOS) estava eu no Centro Comercial de
Massamá para distribuir os papéis com a minha cara e tal aquelas coisas que
eles fazem. ( Colocaram-me base para parecer mais bonito, aquilo que normalmente
as mulheres fazem e tal, e que eu aprendo com a minha mulher). (RISOS) Centro
Comercial de Massamá, lá vou eu, com as 20 pessoas que me acompanhavam. É
evidente que às dez da noite de domingo, do dia 16 de Dezembro eram 2000.
(RISOS, PALMAS)
Centro Comercial
de Massamá, lá vou eu entregar panfletos, vou entregar. Dou um papel ele
manda-me para o raio que o parta. (RISOS, PALMAS) Eu aí pela primeira vez
virei-me e disse assim: desculpe lá, mas o senhor quem é que é para me estar a
ofender? Passe aqui para o lado…, (a minha gente toda, aqueles assessores de
imprensa diziam, “professor cuidado, não vá”). E digo-lhe, olhe desculpe lá, o
senhor julga que me pode ofender? Eu nem lhe admito. (RISOS, PALMAS) A certa
altura ele diz uma frase típica de Lamego, veja bem, o que faz um gajo ser de
Viseu, ser Deputado de Viseu e conhecer a frase típica, era de uma terra ao pé
de Lamego que todos conhecem por causa do champanhe, eu disse ao homem: Então você
é de Lamego ?, você é disso ?, você está-me a mandar à merda quando sou seu
primo ?... (RISOS) ...parte da família da minha mãe é dali, você quem é? Eu sou
o Seabra. Oh porra, já me podia ter dito, somos primos, tenho visto na
televisão. É pá eu sou dono aqui do talho, já te ofereço cinco borregos para a
festa. (RISOS) Sabem o que é que foi mais emocionante? A partir daquele dia,
sempre que eu ia para campanha o gajo ia atrás e dizia assim: “É pá este gajo é
dos nossos votem nele”. (RISOS)
Nós temos que ter
a noção do seguinte: nós temos que assumir politicamente que somos
irrepreensíveis, e não podemos admitir que digam que é corrupto, não faz nada,
etc., e uma coisa é a seguinte, houve uma vez que me disserem isso na
Assembleia Municipal, um Deputado Municipal, e eu levantei-me e disse: eu ao
vir para a Câmara de Sintra perco milhares de euros por ano. E se quer um
exemplo de serviço público, para mim o serviço público não é um conceito
abstracto, é um conceito concreto. Estou aqui com muita gente mas não admito
que o senhor ponha em causa o meu nome, porque senão o cidadão Fernando Seara
que é antes do político Fernando Seara, resolve as questões consigo
juridicamente. Isto nós temos que ter a capacidade de enfrentar. Se tivermos a
honra é isso que temos que fazer.
(PALMAS)
Sandra
(Grupo Verde)
Muito boa tarde
Senhor Doutor Fernando Seara. O Grupo Verde mesmo correndo o risco de se
repetir não pode deixar de o felicitar pela sua intervenção, pela energia, pelo
dinamismo da sua intervenção.
A pergunta do
Grupo Verde é a seguinte: havendo uma crise de identidade, nomeadamente, nas
novas gerações, uma crise de cidadania que tem exactamente maior reflexo nos
mais jovens, e, eu aqui permita-me felicitar a pertinência e a oportunidade de
iniciativa, porque a formação dada à JSD é a formação dada à juventude, neste
sentido queria felicitar todos os que ajudaram e puderam permitir que esta
iniciativa ficasse de pé, vou fazê-lo na pessoa do nosso magnífico Reitor
Carlos Coelho. (PALMAS)
A nossa pergunta
seria: em que medida e concretamente ao nível das políticas a implementar, é
que os municípios, o poder local, uma vez que são os poderes mais próximos dos
cidadãos, é que podem assumir o papel de verdadeiros agentes de promoção de um
conceito de exercício numa cidadania plena, consciente e activa.
Antes de terminar
só mais uma questão, sei que não é muito regulamentar, gostaríamos, se é que
existem e se estão perfeitamente definidas, que acho que não estão, quais as
fronteiras da autonomia local, onde é que começa e onde é que termina a
autonomia local.
Muito obrigado.
(PALMAS)
António Miranda (Grupo Amarelo)
Muito boa tarde.
Como Castelo Vidense, peço que o Doutor
Carlos Coelho me perdoe,
mas gostava de o saudar pessoalmente e de lhe desejar as boas vindas a este Concelho,
e, como é bom Senhor Doutor viver num concelho com quatro freguesias e 5000
habitantes... (RISOS) ...onde sessenta votos decidem para que lado é que as
eleições são ganhas, para não demorar mais, há bocado referia que o seu
concelho, tem 15% do concelho de cidadãos estrangeiros, residentes em Sintra,
e, a nossa questão vai nesse sentido: como autarca legitimamente eleito, na sua
óptica qual é que acha que deve ser o papel do Estado, perante os imigrantes e
os emigrantes com participação activa na nossa sociedade?
Obrigado. (PALMAS)
Fernando
Seara
Muito obrigado
pelas duas perguntas. Vamos ao Poder Loca. Vou-lhe dizer a minha sensação, a
minha sensação de autarca é esta: eu sou regedor da monarquia constitucional,
está a ver? Onde a Dona Felismina de Almargem do Bispo que lhe rebentou a
fossa, está à minha espera às oito e meia da manhã, apanhando o autocarro às
cinco da manhã ou cinco e meia da manhã, para ir ao Cacém apanhar o comboio,
para depois vir a Sintra, portanto, faz quarenta quilómetros, para andar vinte.
Onde chega e diz: Senhor Presidente rebentou-me mais uma vez a fossa, tem que
lá mandar os Serviços Municipalizados, está a ver? (RISOS) E duas horas depois
entra na Câmara o Senhor André, Jordam Lusotur Belas/Vilamoura, para discutir a
aprovação da segunda fase do Belas Clube Campo, ou seja, “x” moradias, fogos e
loteamento, acesso à futura IC16 e IC30, construção de mecanismos de prazer
para o desenvolvimento do Campo de Golfe de Belas que precisa de mais lotes
para ser rentável, está a ver? Dona Felismina, reforma mínima, 150 euros, o
outro, duas horas depois, um milhão e quinhentos milhões de euros… (RISOS) …
entra na Câmara com o seu Assessor põe na secretária uma pilha do Belas Clube
Campo, só para os mais distraídos tem a área igual ao concelho da Amadora. E entre estas duas horas, eu de um lado tenho que
resolver o problema da fossa da Dona Felismina, do outro tenho que reflectir
sobre as consequências para o concelho, para a Amadora e para Lisboa da
autorização de “x” mil fogos no Belas Clube Campo e a versão urbanística das
acessibilidades. Este é o poder local de hoje. No poder local de hoje as
pessoas têm a sensação que nós podemos resolver tudo. O Governo dirige os
impostos, a política externa, a segurança social, os hospitais. Na educação eu
já resolvo tudo, porque como o Governo não tem dinheiro, eu tenho que construir
os pavilhões gimnodesportivos e serão pagos em 2005/2006, porque se não tenho a
crise, para a semana na abertura do ano escolar. Entre o globalismo e o
localismo, a autonomia do poder local é complexa.
Aproveito para lhe
dizer o seguinte: nós estamos perante uma das grandes reformas do Estado que o
Governo está a fazer na reformulação (e, estou a ser cauteloso), das
atribuições e competências dos municípios. O último reduto do Partido
Socialista ainda é algum poder local. Eu sou membro da Comissão Permanente da
Junta Metropolitana de Lisboa. Falei nalgumas reformas que vão ocorrer, espero
que não sejam tão rápidas, porque eu não vou admitir que o poder da cobrança de
certos impostos, na Área Metropolitana de Lisboa, seja dada a uma Junta
maioritariamente gerida pelo Partido Socialista. Mesmo que não gostem de me
ouvir, terão que me ouvir, mesmo que digam que não tenho razão, têm que ouvir a
minha reflexão. (PALMAS)
E, atenção que a
vida política tem que ser “tudo é perfeito sendo imperfeito”. Quem está todas
as semanas com os autarcas do PS e do PCP, porque a Área Metropolitana de
Lisboa começa em Setúbal e termina em Mafra, e, a Comissão de Coordenação de
Desenvolvimento Regional acaba em Tomar. Autonomia do poder local, atenção,
para quem gostar da constituição teórica é interessante. Se a construção
teórica tivesse sido rapidamente avante teria sido estimulante, mas como há um
hiato entre uma que ocorreu e outra que não ocorreu, cuidado. Só para dar nota
que somos nós que distribuímos as verbas dos fundos comunitários. Eu sou o
representante da Comissão Permanente da Junta Metropolitana que distribui. E eu
sou o único que distribui os fundos comunitários
em toda a Comissão
de Coordenação e Desenvolvimento de Lisboa e Vale do Tejo. Fui claríssimo, fui
suficientemente claro? Perturbantemente inequívoco? (RISOS)
A integração. Eu
acho que os mecanismos de integração, são mecanismos de integração que têm que
ser complementares entre a Administração Central e a Administração Local. Nós
estamos aí com um problema agora emergente dos Brasileiros. Já agora explicar
porque é que é Sintra? Como devem saber durante “x” tempo, os promotores
imobiliários que fazem as casas, estão isentos de contribuição autárquica, aquilo
que chamam as casas expectantes. Podem estar três ou simuladamente seis anos
sem pagarem contribuição autárquica, certo? Não vendem, estão à espera da
alteração de preços, agora estiveram à espera da redefinição das políticas de
crédito bancário para a aquisição de casas dos bancos. Sintra como tem um
número de casas expectantes grande, temos grande número de imigrantes a serem
instalados lá. E dou-lhes uma nota, que é uma nota de perturbação: eu em Sintra
já tenho a política da “cama quente”. Sabe o que é? A “cama quente” é uma cama
utilizada vinte e quatro horas por dia, com direito a ser utilizada por três
pessoas oito horas um, oito horas outro, oito horas outro. “Cama quente”,
dormes da meia-noite às oito, às oito entra outro das oito às dezasseis, às
dezasseis entra outro, porquê? As máfias tomam conta nalguns casos de 25% da
realidade de criminosos. O circuito é fácil, Espanha sexta-feira, sexta-feira à
noite passa, entra, casas específicas, distribuição na segunda-feira para os
diferentes sectores. Não tem nada de extraordinário, nós sabemos isso. Depois a
política da “cama quente” é fácil, para controlarem têm que ter um bloco, o
controlo da cozinha, o controle da portaria e não tem problemas, a carrinha,
vai levar “serviço de limpezas”. Os problemas é quando há os fenómenos de desviacionismo
interno e tentativa de fuga, ajuste de contas, problemas de insegurança, quando
não há o pagamento total, roubos nos pequenos mini-mercados ou nos grandes
supermercados da zona, portanto, lógicas de insegurança, terceiro momento
complexo, aí sim temos que fazer conjugação de esforços, percepção de elementos
rácicos, e principalmente não permitir a conjugação dos elementos, dos
elementos rácicos, como nalguns casos está a acontecer. Porquê? Porque depois
essa gente faz os desviacionismos e não no sítio, porque não podem ser
reconhecidos, mas nos outros.
A linha de Sintra
vai começar a conquistar o quê nas duas últimas semanas? Sesimbra, e depois
percebe a notícia: gangs atingiu a baixa de Sesimbra. Portanto temos que ter
uma conjugação entre a Administração Central, o Feliciano aí está a fazer um
óptimo trabalho, indiscutivelmente. Incluindo a intervenção no 1º ano da Escola
Básica no Lourel ou no Sabugo, por exemplo, ou
em Casal de Cambra, onde
tenho a Tatiana e a Vanessa a falarem criolo nos entervalos, e os pais
portugueses de origem a irem ao Departamento de Educação da Câmara dizer; não
admitimos que os deixem a falar criolo, e a professora... E depois tenho uma
questão muito simples, sabem qual é? Tenho que fornecer 3 milhões de refeições
grátis, por ano, para ter alimentação minima para um conjunto de jovens. Sabe
porquê? Porque nalguns casos as crianças levam um hamburguer comprado no
McDonald’s para se alimentarem ao almoço.É a pobreza envergonhada comprou
McDonald’s, quando chega a casa mete na lancheira para o filho, e quando chega
à escola tira o pertenso almoço porque preferindo o da Escola, como o que levou
de casa por causa da realidade e da dignidade da família. O que eu tenho que
fazer é dizer-lhes: o seu filho come a comida de todos comem mesmo que o Senhor
queira parecer rico e lhe mande um hamburguer, mas isso aí é uma política pura
de autoridade.
(?) Laranja
Boa tarde, desde
já agradeço à sala muito emotiva e muito prática que temos estado a ter com o
Senhor Professor. A minha questão é um pouco sensível, penso que o Senhor
Professor tem essa sensibilidade para responder à questão do nosso Grupo, é o
seguinte: perante a constante invasão de culturas e modos de vida do exterior,
que aos olhos dos mais jovens são vistas como melhores do que as nossas, e,
também de uma inserção na União Europeia que nos leva, que nos poderá levar,
aliás, ao caminho para o Federalismo, pergunto: gostaria de saber o que é que o
Senhor Professor pensa sobre o futuro destas gerações vindouras, poderão viver
num País sem uma identidade e sem uma cultura própria?
Muito obrigado.
Mafalda
Cardoso (Grupo Bege)
Boa tarde Senhor
Professor Fernando Seara, é
em nome do Grupo Bege que falo, e, felicito-o pela
excelente aula que hoje aqui nos deu nesta Universidade de Verão de 2003.
A nossa pergunta
vai no sentido em que: analisando a sociedade vemos em primeiro lugar o poder
político, que é fiscalizado, é regulamentado e fiscaliza. Em segundo lugar um
poder económico que é fiscalizado, que regulamenta e fiscaliza, por outro lado,
vimos um poder mediático que fiscaliza toda a gente, é pouco regulamentado e
não é fiscalizado.
Considerando a
abordagem clássica da divisão tripartida do poder, ou seja, o executivo
legislativo e o judicial, a nossa questão é a seguinte: como pode a sociedade
responder aos desafios suscitados pela emergência deste quarto poder? (PALMAS)
Fernando
Seara
Vamos falar na
perspectiva comunitarista, que é alguma coisa que nos perturba. Nós estamos perante
duas lógicas de identidade. A identidade “Mcdonald”, quando estou a dizer
“Mcdonald”, estou a dizer simbólico, ou se quiser “Mac”. (RISOS) A identidade
“Mac” fez emergir nos últimos tempos, nos últimos cinco anos, a identidade do
local, está a ver? Nós estamos sujeitos a uma combinação de identidades. Estamos
mais perturbados, porquê? Porque estamos sujeitos à massificação e
universalização dos mecanismos de percepção das identidades? A única questão
que mudou em relação a todos os tempos, (vamos pôr as questões simples): na
Idade Média havia mecanismos de identidade, a língua era o Latim, os símbolos
de identidade eram as Universidades, e, os alunos iam procurar determinados
professores às Universidades – Francisco de Vitória – Salamanca – Derecho Internacionale,
toda a gente ia a Salamanca quem queria estudar Derecho Internacionale, estou a
dizer Derecho Internacionale hoje, na altura era só em Latim, tinham que saber
Latim, tinham que pagar para ir a Salamanca, e, pagavam para ter aquele
professor. Chegavam a Lisboa, a Coimbra, a Milão, às rotas das Universidades. Repare,
os caminhos das Universidades eram os caminhos das feiras, e, os caminhos das
feiras hoje em dia sabe o que é que são? As linhas do TGV. Se vir as linhas do
TGV, lá estão duas bananas a juntar as linhas do TGV da Península Itálica, da
Península Ibérica até França, Lyon/Frankfurt com distribuição para a Gália e
Bretanha, e, para a Germânia, lá está, onde estavam as Universidades?
Chega à revolução
Francesa e passa a ser tudo Francês, o metro, a medida, a língua. Ainda sou de
uma geração em que a língua dominante das elites, e, da grande burguesia
portuguesa, (estou à vontade porque sou originário de uma grande família de
Viseu), em que o menino começava a estudar o Francês. Em que o primeiro momento
cultural de saída era: Paris – Champs Elisées, sem ofensa, em que nas férias
tínhamos uma professora específica para aprendermos a expressar, ainda melhor,
Francês, eu sou dessa geração.
O meu filho,
Escola Americana, escreve melhor em Americano do que em Português, tem
Mcdonald, Visa, Reebock, Nike, U2, Prince, o enchido da avó... (RISOS)
...marmelada da terra, toca o Sérgio Godinho em Sintra ou o João Pedro Pais, é
o primeiro: oh pai, quero ir ver o João Pedro Pais, canta as músicas todas
dele, como canta as músicas dos U2, não estou preocupado.
Apenas constato o
seguinte: há 500 anos eram poucos, há 200 anos eram mais, agora são milhões. Graças
a Deus uniformizamos as identidades e depois não perdemos a identidade. Nunca
se cantou tanto o fado, nem nunca ouve tanta gente a comprar Mísia, ver a
“Amália” do Filipe
La
Féria, em todos os concelhos. Estou à vontade para dizer que
ontem o Filipe
La Féria
esteve comigo fiquei impressionado com os números da “Amália”, e, os números
dos pedidos das Câmaras, inclusive, do interior que pagam para vir ver a
“Amália”, Alexandra, não sei o quê.
Estive em Paris
com a minha mulher, numa conferência para imigrantes, na altura em que estava a
Amália em Paris. Tenho dois momentos da minha vida que me impressionaram: um
foi esse, foi na cidade de Maputo, ver a cidade parada enquanto toda a gente
assistia a um Benfica/Porto... (RISOS) ...o resultado foi um empate, mas o que
mais me impressionou foi no Maputo a cidade parada. Eu estava com o Presidente
da Assembleia da República de Moçambique, a cidade parada,. nós a vermos o jogo
no Hotel Polana. No final do jogo saímos para a rua e toda a gente saía com
bandeiras do Benfica e do Porto, com as camisolas antigas do Benfica e do
Porto, viravam-se para mim conheciam-me da televisão e diziam: “não jogámos
nada”. (RISOS, PALMAS)
Tenho um problema que é conhecido: sou casado com uma das pessoas com
mais influência na televisão em Portugal, disse. Eu sei demais de televisão,
afirmo. Eu não posso dizer muito por causa destes dois fenómenos. Você em
Portugal tem uma questão, não vou falar dos jornais, até porque estão aqui as
televisões são uma realidade económica.. As televisões medem-se por audiências,
não é? Vocês sabem quanto vale um ponto de share ao ano? São cem pontos de
share, quanto é que vale um ponto? Peço desculpa, televisões=capitalismo
mundial organizado. Não é por acaso que o capitalismo mundial organizado ajuda
a perceber, porque é que a SIC tem as telenovelas brasileiras que tem. Sabe
porquê? Porque ajuda a pagar a dívida da TV Globo, porque parte da dívida da TV
Globo foi avalizada sabe por quem? Pela SIC. Depois a TVI só tem dinheiro
porquê? Quem são os accionistas da TVI? Os accionistas da TVI são os fundos de
pensões Norte Americanos, que precisam de rentabilidade rápida, portanto, tem
que ter Big´s Brothers rapidamente para quê? Para subir de trinta e dois para
trinta e cinco por cento, porque cada ponto de share vale 7,5 milhões de euros,
15 milhões, dois pontos share 3 milhões de contos, e só assim é que vocês
conseguem ter “Morangos com açucar”, “Saber Amar”, etc. (RISOS; PALMAS). O
modelo é um modelo económico, e a questão central é que nós na política temos
que saber quem são os donos. Quando vêm dizer é o dono Médiacapital, quem é a Médiacapital?
Uma das coisas que nós temos que saber é: nós lidamos com o poder político, com
o poder económico, e com poderes informais e com poderes inatos,e temos que
saber quem são. E, sabendo quem são, não temos dúvidas.
Os fundos
americanos de pensões são 3 anos. Olham para o mercado, perante a crise, onde é
que eu vou rentabilizar, mais estes milhões de dólares? Portugal, televisões
privadas, que têm capacidade para fazer aquelas telenovelas e não têm problemas
nenhuns. E a Senhora está lá em casa, sabe o que vê? Porque no meio de
telenovelas, tem 12 minutos de publicidade, já doze, Danone, automóvel, produto
para a mulher, produtos para as crianças, no meio da “Ana e os
7” que é para ser de tal maneira
atractivo, que em vez de ter 120 episódios terá 170, e ainda há-de ter 220. O
José Fanha lá está para os produzir. Sabe porquê? Porque só são produzidos,
porque está lá a publicidade e os meios de publicidade dizem à Administração:
isto tá a dar dinheiro, queremos mais Alexandra Lencastre, Virgilio Castelo, e
principalmente pegadinho ao Prof. Marcelo porque então é resultado certo para a
publicidade que 5 minutos depois temos no fim do Jornal Nacional, a “Ana e os
Sete”, interrompe doze minutos e você está ali “ah, ah”... (RISOS, PALMAS)
Gonçalo
Gamboa (Grupo Castanho)
Muito boa tarde,
muito boa tarde Senhor Presidente e vizinho, visto que sou de Mafra.
Aquilo que nós
queremos perguntar é o seguinte: nos nossos dias o discurso político das várias
forças partidárias, recorre várias vezes a exemplos de políticas e acções de
que são feitas nossos Países, como forma de comparação e de forma de resolução
dos nossos problemas internos. Aquilo que lhe queremos perguntar é: se acha que
as referidas políticas quando são adoptadas ou não, cá em Portugal, se têm em
conta a nossa especificidade social, económica e a nossa parte cultural?
Obrigado. (PALMAS)
Michele
Mendonça (Grupo Cinzento)
Boa tarde. O Grupo
Cinzento quer antes de mais agradecer a presença e a grande lição de cidadania,
e, a nossa questão é: falou nos modelos de estado, regionalização e
descentralização, ora, muitos politólogos e autores afirmam que o Estado como o
conhecemos se encontra em crise, tanto a macrodimensão País/Estado, como a
microdimensão Cidade, são modelos que já não dão respostas, por seu lado a
mesodimensão Região, e, a megadimensão Uniões de Estado, são cada vez mais
modelos dos quais as populações se agarram. Estaremos perante a ascensão do
fenómeno regional no contexto da mundialização da política? Não será essa a
resposta atractiva para os homens e mulheres do País Basco, Catalunha,
Bretanha, Escócia, Irlanda do Norte e tantos outros?
Podem os Países no
futuro ter uma existência de jura mas não de facto? Terá Portugal a dimensão de
uma região neste contexto?
Aquilo que nós
queríamos perguntar é: por vezes cá em Portugal as várias forças partidárias
fazem várias comparações sobre políticas, como exemplos bons ou maus, por vezes
não se tem atenção a nossa realidade cultural e económica.
Fernando
Seara
Estive no Brasil
agora há pouco tempo, há poucos dias, até porque é público e notório uma das
coisas mais impressionantes foi um dia comprei o Globo, no Globo vinha uma
entrevista do Lula da Silva a dizer: “eu não sou de esquerda”... (RISOS)
...está a ver? É evidente que foi nas vésperas da negociação com o partido dos
Bispos, para a reforma da previdência. Só para dar a nota, no Brasil a reforma
da providência está atingir formas tais, que se fosse em Portugal, o Partido
Socialista, até porque agora não sei como é que o Engenheiro António Guterres
vai explicar ao Lula, aquilo que o Lula está a fazer não pode ser feito, porque
a nível da reforma social está a diminuir as expectativas de reforma de milhões
de cidadãos Brasileiros, que julgavam que se reformavam com “x” sem impostos,
agora de repente, a política de esquerda veio: “pagam os impostos”, portanto,
está a ser uma coisa interessante.
Mas o que eu
entendo é o seguinte: a nível de políticas públicas não há grandes diferenças. Há
diferenças é na gestão das políticas. Hoje em dia a gestão das políticas, uma
das coisas fundamentais é em Portugal e estarmos perante um dilema de
aproximação de políticas, no fundo aquilo que chamamos aproximação de
legislações, aí a forma de gestão é que é a grande novidade, ou melhor, a
grande diferença, está a ver?
Ao nível de
políticas públicas, cada vez mais perante o envelhecimento da população e a
diminuição do número piramidal de activos, temos um problema de reflexão global
ao nível da segurança social.
Ao nível da
administração pública, cada vez mais temos necessidade de agilização das formas
da administração pública.
Ao nível de
mercado laboral, cada vez mais temos mais uma flexibilidade formal, ou uma
flexibilidade informal. Quer dizer não vale a pena ter dúvidas, ou é formal, ou
é informal. Flexibilidade informal é o que temos aí. Aqui temos que ter uma
lógica de gestão e uma lógica de capacidade de regulação, aí é a grande questão
central
A sua questão,
estou a dizer isto porque o
Carlos
Coelho pediu-me para acelerar, portanto, já estou no IC19 sem
trânsito, porque há bocado estava no IC19 parado,(RISOS) eu sei uma coisa, hoje
em dia pertenço a uma Área Metropolitana que tem que ser competitiva com duas
áreas metropolitanas, independentemente das questões formais e informais. Sei
que a Área Metropolitana de Lisboa tem que ser competitiva com a Área
Metropolitana de Madrid, e, com a Área Metropolitana de Barcelona, isso é o que
eu sei. Tenho que ser competitivo para atrair para a Área Metropolitana de
Lisboa mais Empresas, trazer elementos de diferenciação
em relação ao
Aeroporto, porque o Aeroporto de Barajas é menos competitivo
que o actual Aeroporto da Portela, tenho que ter competitivo no Porto de Lisboa,
e, portanto, gerar mecanismos. Tenho que ter elementos de complementaridade nas
Áreas Metropolitanas, elementos de atractividade turística, atractividade
empresarial, de nichos de excelência e de plataformas logísticas.
Por exemplo, neste
preciso momento em Sintra, estou a atrair um conjunto de nichos de excelência
de produtos farmacêuticos, principalmente de produtos farmacêuticos Norte
Americanos, que tenham capacidade para se instalarem em Sintra, e, de Sintra
tenham lógicas competitivas com motas potentes para chegarem rapidamente a
Hospitais, inclusive, Hospitais de Madrid. Por isso perceberão a minha luta com
a CREL. A luta com a CREL, é uma luta de competitividade, não de Sintra, mas eu
sei o que é que tinha, e, que hoje tenho instalado em Sintra, neste preciso
momento tenho instalado
em Sintra uma Fábrica, que é a única Fábrica que viu
reconhecido pela parte das autoridades federais Norte Americanas, um produto
específico de soro para o conjunto dos principais Hospitais da Europa e Norte
Americanos. Essa Empresa que é uma multinacional a nascer, comunicou
imediatamente quanto é que tinha aumentado o custo de transportes. Se pensasse
no meu concelho localisticamente, é uma coisa, tenho que pensar cada vez mais
“a minha Área Metropolitana”, porque eu só sou complementar com Lisboa, com
Cascais, com Oeiras e com Sintra. Só sou complementar e concorrencial, tenho
que ser concorrencial não é o município de Sintra, com o município de Madrid, é
a Área Metropolitana de Lisboa com a Área Metropolitana de Madrid.
Eu tenho o Tagus
Park Barcelona desenvolveu o turismo de uma forma específica e nichos de
excelência ao nível das universidades. Portanto, a minha visão, é uma visão que
eu estou em concorrência com um País que é Espanha, que já tem superavit
orçamental, superavit de segurança social, e, eu tenho que ter capacidade de
não deixar fugir nenhuma lógica do investimento global flutuante, Lisboa é
concorrente com Madrid, com Barcelona, Lisboa com Milão, Lisboa com Madrid, uma
Lisboa com Londres e com Paris nas suas dimensões próprias. Como não sou capaz
de ter dimensão concorrencial ao nível bolsa, tenho que encontrar nichos
específicos para isso, É essa a questão que se impõe, os elementos
institucionais, municípios grandes e há municípios mais pequenos, acho que como
modelo Português temos que dar mais competências e atribuições às freguesias. Ou
o município ser quase como que uma Empresa gestora de participações de
freguesias, acima ter uma autoridade que seja uma autoridade metropolitana com
poder, daí a autoridade metropolitana de transportes ser fundamental, e, ser
fundamental uma capacidade de gestão, tendo em conta os elementos políticos
existentes numa conjuntura de sermos concorrentes. Se não formos concorrentes,
Madrid ganha a disputa e Barcelona ganha a disputa, então nós somos
necessariamente periféricos, e, sendo necessariamente periféricos temos o drama
da periferia do País mais próximo do Atlântico Ocidental. Essa questão é uma
questão estratégica dos próximos cinco anos. Porque é a questão estratégica do
recentrar a Europa com o alargamento aos PECO – Países da Europa Central e
Oriental, que são mais competitivos do que eu, têm mais baixos salários com
maior especialização, etc., etc.
É essa a questão.
Quem não perceber isso, daqui por dez anos fala comigo.
Filipe
Raposo (Grupo Azul)
Senhor Reitor,
Senhor Professor, caros colegas, independentemente do Grupo que represento ou
da cor, enfim, a vida tem destas coisas, é para mim uma enorme satisfação e um
prazer ser a minha pessoa a colocar a pergunta ao Senhor Professor, até porque
tem dois requisitos fundamentais para ser um bom cidadão Português, é
Benfiquista e é Social Democrata... (PALMAS) ...depois também tendo vantagens
que nos meios Sociais Democratas por vezes faz jeito, onde chega as rosas e as
estrelas deixam de ser alguém, se algum dia foram alguém... (RISOS, PALMAS)
Em relação à
pergunta, a nossa pergunta é a seguinte: tendo em conta a temática “Somos
Cidadãos Portugueses”, constatamos inevitavelmente que esta designação é
incompleta nos tempos que correm, como sabe o Alentejo é a região mais pobre da
Europa que forçosamente traduz a expressão recorrente de “Portugueses de
primeira, e, Portugueses de segunda”. Gostaríamos de conhecer a sua opinião,
nomeadamente, como autarca sobre qual o caminho a percorrer por parte das
autarquias locais e do poder central, a fim de esbater esta assimetria, de modo
que nos possamos todos designar orgulhosamente como sendo todos Portugueses.
(PALMAS)
Muito obrigado.
Abílio
Costa (Grupo Roxo)
Queria agradecer
em primeiro lugar
em
nome do Grupo roxo, a brilhante exposição, repito, brilhante
exposição... (RISOS, PALMAS) ...dizer que o teste é fácil, é uma pergunta para
vinte valores, aí vai ela... (RISOS)
Nos recentes
vetos, o Senhor Presidente da República em seu entender fez uso do qual destes
conceitos de politologia, autoridade/relação/razão ou
poder/relação/coesão/força...
Fernando
Seara
Peço desculpa,
diga lá... (RISOS)
Abílio
Costa
Autoridade ou
poder. Desenvolva em dez linhas... (RISOS, PALMAS)
Carlos Coelho
Essas habilidades
vão ser proibidas... (RISOS)
Fernando
Seara
Sou-lhe sincero, a
minha percepção das autarquias, é uma percepção de uma grande autarquia segundo
o município de Portugal, portanto, segundo Lisboa, Sintra, Gaia, Porto, o Porto
está em quarto lugar, ao nível da população já, Sintra se continua a crescer
assim, dentro de seis anos é primeiro concelho, está a ver? Entre a minha
percepção, eu não tenho nenhuma freguesia com menos de sete mil habitantes, o
que significa que a minha mais pequena freguesia é maior do que dezenas de
concelhos de Portugal, a percepção que tenho, é uma percepção, vou dizer
provocatoriamente de um microestado.
Sou Presidente de
uma Câmara que tem 440.000 pessoas, sou Presidente da uma Câmara que está
envolvida num conjunto de Associações de Municípios do lixo da água, etc., que
significam no total 750 milhões de euros. Tenho a responsabilidade de um
concelho que tem uma importância significativa... nacional, portanto, a minha
percepção não é a percepção de um concelho do Distrito de Castelo Branco
pequeno, em que toda a gente se conhece, não é? A minha forma de cognoscibilidade
vem do elemento mediático. Portanto, as formas de valoração são diferentes, e,
as formas de aproximação também são diferentes, é evidente que, posso-lhe
dizer: eu sou Presidente de uma Câmara de um município de emigrantes, vou ser
preciso Oliveira de Azeméis.
Eu chego a Sintra
não conhecendo totalmente Sintra, a primeira coisa que me acontece um convite
para ir à casa de Resende, Resende/Viseu – cerejas “Ferrero Rocher”, (RISOS) e
chego lá e dizem-me assim: Senhor Presidente 30% desta gente da Várzea veio de
Resende. Vais ao Cacém 40% dos Restaurantes do Cacém são de gente da Beira Alta
e da Beira Baixa, ou a outra gente é a segunda geração dos filhos dos
Alentejanos, que foram construir a linha de Sintra e o desenvolvimento da linha
de Sintra, na segunda metade do século passado, depois de terem emigrado do
interior do campo Alentejano para a periferia Sul de Lisboa, portanto, para o
Seixal, Barreiro, etc., o primeiro momento da crise da siderurgia e a não
expansão da Lisnave e da Setnave, para passar para o outro lado. Portanto, em
Sintra tenho micropostos, depois tenho a gente saloia, a malta pura, os donos
das couves e das cenouras que alimentam Lisboa, os proprietários do vinho de
Colares, das maçãs rainetas e dos fofos de Belas, estás a ver? Em que uma
pessoa chega de carro, tem que ter um requisito, tem que ir de carro preto, de
condutor e de gravata, porque eles estão com o melhor fato, com a melhor
gravata, elas com os vestidos de seda, as meninas com rendinhas e dizem:
“chegou o Senhor Presidente”, e, tu recordas-te de José Maria Eça de Queiroz
uma “Campanha Alegre”, Julho de 1852: ”chegou o Regedor, o povo batia palmas,
rebentavam foguetes no ar, o chão estava cheio de flores. Sintra 2003, o povo
batia palmas, os foguetes rebentavam no ar, o chão estava cheio de flores”, tu
aí és poder, porque és a simbologia do poder. (PALMAS)
Chegas ao Cacém ou
a Massamá, vais de blusão normal, camisa aberta, porque ao fim-de-semana é como
eles andam, porque durante a semana foram no carro e demoraram quarenta minutos a entrar na IC19, chegaram ao
Ministério de gravata ou foram de comboio, porque agora até é mais rápido,
portanto, tu tens que ter duas coisas, no carro sempre uma gravata e um casaco
azul, porque tens o Portugal todo num município que é 20 Kms de Lisboa, tem
freguesias, ou tinha freguesias que não tinham saneamento básico, não tinham
água, nem esgotos, ou seja, igual ao de Castelo Branco e aí somos todos Portugueses, fui claro? (PALMAS)
Resposta, é
simples meu caro amigo, não racionalizo, o que não precisa de ser
racionalizado. O Presidente vetou, porque convinha vetar. (PALMAS)
Uma das coisas que
tu vais perceber, repito, tu vais perceber... (RISOS) ...é que nalguns casos o
veto é político. Eu sou do tempo, (o Senhor Reitor não se vai importar que eu
confesse),
em que o
Presidente da Assembleia da República substituía o Presidente
da República sempre que ele saía para o estrangeiro. Penso que se pode contar,
não é? E nós estávamos a chegar pela primeira vez ao poder. Sabíamos quando é
que o Presidente Ramalho Eanes ia para o estrangeiro, aprovávamos umas leis na
Assembleia para que saíssem da Assembleia quando o gajo estava a entrar nas
escadas do avião, e depois o Presidente da Assembleia ou era o Dr, Leonardo
Ribeiro de Almeida ou o Dr. Francisco Oliveira Dias, que chegava a Belém e
chegava um gajo da Assembleia com o Decreto na mão e diziam: foi promulgado. O
Eanes deixou de sair para o estrangeiro. (RISOS) Agora não há problema, porque os
vetos ou são políticos, ou são por vezes resultado de uma necessidade
conjuntural de aproximação de interesses não necessariamente reflectidos
publicamente.(RISOS, PALMAS)
Carlos Coelho
Nós agradecemos ao
Professor Fernando Seara. Vou acompanhá-lo à saída. Peço à Zita para ajudar o
Helder no exercício que fazemos sempre no final. Depois desse exercício vão
directamente para os grupos de trabalho.
Muito obrigado
Professor Fernando Seara. (PALMAS)