1º tema
Somos Cidadãos Europeus
09. Setembro. 2003
(Textos não revistos pelos oradores. Quaisquer erros são
atribuídos à transcrição não revista das cassetes)
Carlos Coelho
Os jovens Sociais Democratas marcam a diferença e
dão exemplo ao nosso Partido e a muitas instituições do nosso país que nunca
começam a horas.
Eu gostaria de começar por vos dizer duas ou três
coisas relativamente a pormenores que não ficaram muito claros na sessão de
ontem. Vamos todos, aprendendo uns com os outros, como é que vamos funcionando
colectivamente. Hão-de ter reparado (tanto repararam que eu já recebi três
sugestões) que há três formulários que vos foram distribuídos no primeiro dia.
Um chama-se: “Uma pergunta a”. Significa que independentemente dos debates em
sessão plenária, qualquer participante da Universidade de Verão pode dirigir,
por escrito, uma pergunta a uma personalidade, das personalidades que estão
contactadas por nós para esse efeito. Isso não significa que sejam obrigados a
fazê-lo. É uma faculdade, digamos que é um concurso. Quem quiser pode
apresentar essa proposta de pergunta até à hora de almoço. Até à hora de almoço
de cada dia podem devolver se o desejarem, repito não é obrigatório, a
formulação de uma pergunta à personalidade desse dia. Vamos ter mais algumas
personalidades, vão-se aperceber à medida que todas as manhãs forem recebendo
mais formulários. Dessas perguntas vamos seleccionar duas ou três para serem
publicadas no JUV. Vocês ontem á noite ou esta manhã, conforme os casos, já
viram no JUV que, na última página, há duas perguntas de dois participantes da
Universidade de Verão ao Ministro José Luís Arnault e as respostas deste
Ministro. Têm também um impresso chamado “Achei curioso”, é exactamente o
mesmo, ninguém é obrigado a responder, mas quem achar que achou curioso uma
coisa num determinado dia e quiser partilhar connosco isso, iremos seleccionar,
por dia, dois ou três “Achei curioso” e vamos publicar no JUV. E têm também uma
folha de sugestões que podem ser assinadas ou serem anónimas. Se forem
assinadas podem ser entregues a qualquer membro da organização, que me chegam
logo ao conhecimento. Se quiserem que sejam anónimas depositam na urna que
estará na recepção. Essa urna vai receber também a vossa votação secreta, que é
na prática um inquérito anónimo de avaliação do tema. Vão avaliar o tema, desde
as questões organizativas, sobre os audiovisuais, o caderno de documentação ou
a extensão do tema até questões relacionadas com a importância, utilidade e
interesse do tema e também relativamente aos oradores, aqueles que gostaram
mais e aqueles que gostaram menos. Essa avaliação é anónima, podem fazê-la
durante todo o dia e entregam dobrado na urna. Essa avaliação é obrigatória,
podem fazer um voto branco, se não quiserem avaliar, mas é obrigatório o
depósito do vosso boletim. O que é facultativo são as “perguntas”, “o achei
curioso” e as “sugestões”, e, sempre que usarem o impresso podem pedir à
organização a sua substituição para terem sempre oportunidade de participarem
nestas três áreas para os efeitos que referi.
E dou início à sessão, à primeira sessão da
Universidade de Verão, somos também cidadãos europeus e tenho o grato prazer de
acolher em vosso nome o Dr. Carlos Costa Neves, que é Secretário de Estado dos
Assuntos Europeus, é um homem discreto mas particularmente inteligente e
eficaz. Sou testemunha disso, bem sei que testemunha pouco isenta porque sou seu
amigo, fui seu colega no Parlamento Europeu e vi o que fez o prestígio do Dr.
Carlos Costa Neves pelo nosso país e pelo nosso Partido. Quando o Relatório Geral
do Orçamento da União era sempre atribuído aos grandes países, (alemães,
franceses, italianos), Portugal foi o primeiro país que não integrou o grupo
dos grandes a ter o Relatório Geral do Orçamento que é a única importante
competência deliberativa do Parlamento Europeu. A única
em que a Lei Europeia
só é eficaz com a assinatura conjunta do Presidente do Conselho e a do
Presidente do Parlamento Europeu, e, o Dr. Carlos Costa Neves foi Relator Geral
do Orçamento, foi o primeiro relator e até agora o último de um pequeno país no
orçamento comunitário. Foi durante 12 anos membro do Governo regional dos
Açores, foi presidente do PSD nos Açores, agora é Presidente da Mesa do
Congresso Regional, é um homem com uma vasta actividade política e competência
reconhecida nesta área. Confessou-nos que o seu hobby preferido é a culinária,
espero que todos estejam a partilhar comigo a expectativa de que um dia cozinhe
qualquer coisa para todos nós e que nos distinga com as suas especialidades.
Gosta de cozido à portuguesa, o animal preferido é o cão, o livro que vos
sugere, é um livro notável, “Memórias de Adriano” de Marguerite de Yourcenar e
o filme que sugere “O Pianista” de Roman Polansky.
Carlos Costa Neves, a palavra é do Secretário de
Estado dos Assuntos Europeus, nosso companheiro.
Carlos Costa Neves – (Secretário de Estado
dos Assuntos Europeus)
Muito bom dia a todos.
Eu gostava de começar por dizer mas dizer muito
sinceramente, (não é porque se costuma dizer isto no princípio das intervenções),
que é com grande satisfação que estou aqui a partilhar aquilo que considero um
ponto muito importante em termos da vida daqueles que se associaram a esta
iniciativa. Acho que é uma iniciativa muito oportuna, quer do Instituto Sá
Carneiro, do PSD, da JSD e é ao mesmo tempo uma iniciativa que espero que venha
corresponder ao vosso interesse, que seja útil e que daqui a uns anos seja
possível recordarmos com gosto e como momento relevante da nossa vida.
Um momento relevante por várias coisas, mas desde
logo um dos aspectos que me chamou à atenção é o facto de virem de todas as
zonas do país. Existem assim, oportunidades de estabelecerem laços entre vós e
destas experiências e destes encontros nascem muitas vezes oportunidades,
possibilidades de trabalho conjunto para toda uma vida, e, portanto, aproveitem
tudo o que puderem destes seis dias. O modelo penso que é um achado, acho que
não podíamos ter encontrado melhor e, obviamente, gostaria de cumprimentar o
Reitor da Universidade de Verão, o Carlos Coelho. Em relação ao qual eu gostava
de dizer duas coisas:
A primeira é a de que dá verdade ou é um exemplo
vivo de algo que resulta da sabedoria popular, que se expressa nas seguintes
palavras: Quando quiseres uma coisa bem feita pessam a uma pessoa muito
ocupada. Realmente o
Carlos
Coelho é uma pessoa com quem podemos contar sempre, tem
sempre muitas coisas a seu cargo, tem sempre um imenso entusiasmo, tem sempre
muita coisa a que está a dar atenção mas nunca até hoje aconteceu quem quer que
seja, mas eu posso falar por mim, dizermos ao Carlos eu precisava desta tua
colaboração, desta tua ajuda ou deste teu envolvimento, que ele tivesse
falhado. Portanto, realmente é verdade, quando quiseres uma coisa bem feita
pede a uma pessoa muito ocupada.
Para além disso é uma pessoa de quem é um
privilégio ser amigo, tive a oportunidade de o conhecer mais de perto no
Parlamento Europeu onde todas as relações são mais intensas e mais próximas,
somos muito poucos, somos 25 portugueses, somos 9 PSD no meio de 626 Deputados.
O que também nos torna mais exigentes uns com os outros, e, portanto, quando
conseguimos passar na exigência uns dos outros é algo que depois também se
solidifica e se mantém para sempre.
O Carlos, é alguém em quem podemos confiar, se
tivermos num riacho é uma daquelas pedras que não escorregam. Porque é que ele
me acha piada? Bom é daqueles mistérios insondáveis mas ainda bem que é mútuo.
Em relação a este nosso tema “Somos cidadãos
Europeus” e continuando no campo dos ditados populares, eu espero que o facto
deste seminário de Verão começar exactamente pela abordagem deste tema, também
dê expressão aquele ditado popular que diz: “Candeia que vai à frente alumia
duas vezes”. E, portanto, espero que este vosso encontro mais intenso com as questões
europeias, que eu procurarei pôr-vos da forma mais interessante possível, não
porque ela não seja interessante mas porque às vezes quando queremos dizer
muita coisa num curto espaço de tempo podemos não escolher as que nos movem
mais a cada um de nós, mas em relação a “candeia que vai à frente alumia duas
vezes” dá-me uma especial responsabilidade. A responsabilidade de mostrar-vos a
União Europeia como eu a vejo, como um projecto, como um ideal tão importante
para o nosso país, para a Europa, para o Mundo e, portanto, aquilo que espero é
conseguir conquistar-vos a uns ainda mais, a outros conquistar-vos agora para
este projecto e para esta ideia da União Europeia.
Estas questões tão relevantes têm que ser cada vez
mais debatidas com os cidadãos, desde logo têm muito a ver com o futuro dos
próprios cidadãos e agrada-me também especialmente quando tenho a oportunidade
de tratar isto com cidadãos jovens, com europeus jovens, porque a construção da
Europa só será efectiva se for feita com os jovens e pelos jovens com os
cidadãos e pelos cidadãos. Claro que quando lidamos com jovens, digamos que a
sementeira é a mais longo prazo, e, portanto, se aderirem a este projecto, se
aderirem a esta ideia, se forem mobilizados por ela, se ela vos disser alguma
coisa, se vos mover isso quer dizer que nós teremos a garantia de termos quem a
defenda, quem a influencie, quem a questione durante os próximos 60 anos, que
espero que seja a vossa vida. E, portanto, temos pelo menos garantido até ao
ano
2060 a
perenidade deste projecto.
Esta ideia de participação, de influenciar, de
questionar, de se interessar por aquilo que afinal lhes diz respeito, porque a
União Europeia tem nos mais pequenos pormenores intervenção na vossa vida do
dia-a-dia, é afinal um direito mas também é um dever de cidadania. Não é só “ser
cidadão”, os cidadãos têm direitos, que resultam do simples facto de o serem
mas têm também deveres, porque se não houver quem se envolva, quem participe
nos projectos eles não têm hipótese de sobrevivência.
Este projecto europeu é tal como vós, e precisaria
de continuar a ser, dinâmico e jovem, e, está em constante evolução, porque é
um projecto que tem a ver com a vida das pessoas, tem a ver com a vida do
continente, tem a ver com a vida do Mundo. E, portanto, é um projecto que tem
que estar em constante evolução, que deve estar em constante debate, que deve
estar, como tudo na vida, também em procura de constante aperfeiçoamento, com
as tensões que são naturais porque se há debate, se há dinamismo há tensões e
não devemos ter medo das tensões, há interesses que não são convergentes e
devemos ter coragem de defender os nossos interesses e as nossas perspectivas.
E, portanto, aqui também neste projecto para que seja um projecto vivo, ele tem
que ser água corrente, e, para ser água corrente obviamente que tem tensões,
obviamente que tem perspectivas diferentes, obviamente que tem interesses
diferentes e os interesses também não são sempre algo que nós devemos esconder.
Há interesses legítimos do nosso país, há interesses legítimos dos nossos
cidadãos, há interesses que nós temos o direito de os defender. E, portanto,
aqui há também um sistemático debate, uma sistemática tensão e é bom que ela
exista. E, neste debate não se pode prescindir do que são muito características
que vos marcam, características vossas, que é uma capacidade de entusiasmo, que
é mais força, que é ambição e que, se o projecto conseguir conquistar essa
vossa força, esse vosso entusiasmo, essa vossa ambição, obviamente de que o
projecto vai ser mais forte.
O projecto europeu, na minha perspectiva,
constitui um dos projectos centrais assumidos pela Europa ao longo de toda a
sua história e constitui um passo histórico, na minha perspectiva também, para
Portugal. É uma das decisões mais importantes que Portugal tomou ao longo da
sua História. E na sua origem o grande desígnio, o grande objectivo, foi
contribuir para a estabilidade e para a segurança do continente Europeu. Foi
com base nesta ideia, de paz e de segurança, que se reuniram as pessoas para a
construção deste projecto. Aliás um dos fundadores, um dos primeiros neste
projecto, “Monet”, afirma numa declaração que proferiu exactamente a 9 de Maio
de 1950, portanto, nas circunstâncias históricas da época, (9 de Maio que veio
depois a ser consagrado como dia da Europa), que este projecto pretendia
introduzir o fermento de uma comunidade mais larga e mais profunda entre países
durante longo tempo opostos por divisões sangrentas. E esta é uma outra ideia
que me parece uma ideia chave, estabilidade, segurança, paz e a história da
Europa, a Europa onde nós vivemos, ao longo dos séculos desde que Portugal
existe como país é uma história se sistemática situação de guerra, desde o
tempo anterior à fundação destes Estados, desde o tempo
em que os Romanos
andaram por aí. Felizmente interrompida nestes últimos 50 anos, talvez por isso
é que, se virem o tal questionário das respostas pessoais a que o
Carlos Coelho fazia
referência, em relação ao cozido à portuguesa e ao hobby culinária, obviamente
que a figura o comprova, mas se calhar a questão do filme “O Pianista” de Roman
Polanski, que foi um dos últimos filmes que vi que me marcaram, tem muito a ver
também, provavelmente, com esta consciência, esse filme para quem não o viu,
passa-se na Segunda Guerra Mundial, gueto de Varsóvia e demonstra uma série de
situações que se viveram nessa altura, de perseguições, de assassínios, de
morte, de guerra. E faz lembrar, também, o outro da “Lista de Schindler”,
também aborda, grosso modo, o mesmo tema. E não posso deixar, quando olho para
esses filmes, de me interrogar como é que isto era possível nesta Europa, como
é que isso foi possível acontecer. Não é para mim hoje algo fácil de admitir,
como é que foi possível que nesta nossa Europa isso acontecesse. Mas aconteceu
mais recentemente, não é preciso descer ao fim da década de 30 ou ir para o
princípio da década de 40 do século passado, muito recentemente do outro lado
da Itália, portanto, aqui nesta nossa Europa, houve as mesmas situações, quando
se desfez a ex-Jugoslávia, a situação no Kosovo, na Bósnia Herzegovina, na
Sérvia, toda essa situação é uma situação dos nossos dias, é uma situação do
nosso presente.
Foi este projecto de aproximação entre os europeus
que foi possível através desta ideia de Europa. Claro que onde há paz, onde há
estabilidade, onde há segurança, há outras condições para haver desenvolvimento
e, portanto, há condições não só para haver desenvolvimento, como para aquilo
que me parece tão difícil, às vezes, de medir mas que eu acho que vale a pena
nós procurarmos, são as condições para a felicidade, não há felicidade
possível, não há realização pessoal possível num país em guerra, numa situação
de guerra. E, se nós temos o direito a buscar a nossa felicidade quando
passamos por este Mundo, obviamente que há condições propícias para essa
felicidade apenas numa situação de paz, numa situação de segurança, numa
situação do desenvolvimento que lhe está associado.
A característica mais marcante destas comunidades
europeias foi, em termos políticos, uma ideia inovadora, e, portanto, até aí o
que havia era cooperação entre Estados, cooperação bilateral. Portugal tinha
acordos bilaterais com a Espanha, com a França ou com o reino Unido ou com os
Estados Unidos.
A ideia inovadora deste projecto é que em vez desta
cooperação inter-estadual, mantendo a soberania de cada Estado Membro, fosse
possível introduzir-lhe elementos de Federação e de Confederação que
aproximassem e pusessem a cooperar estreitamente esses Estados Membros da União
Europeia. E, portanto, é uma experiência completamente nova, baseada naquilo
que a partir daí pode ser designado como método comunitário. Este método
comunitário assenta no modelo, novo mas muito especial. A Comissão Europeia é a
legitimidade comunitária, aquilo que se põe em comum, é quem trata daquilo que
os Estados resolveram pôr em comum, e, tem uma tripla função, é a única
instituição da União Europeia que tem iniciativa, que propõe novas políticas,
que propõe novas respostas, é a guardiã dos Tratados, isto é, aquela que procura
assegurar aquilo que os Estados acordaram entre si, é respeitado e é levado a
efeito, e, por último é a entidade executora dessas políticas da União
Europeia. É a instituição por excelência.
Depois temos o Conselho, o Conselho da União
Europeia que representa a legitimidade estadual, inter-governamental, de cada
um dos Estados porque há muitas matérias em que há coordenação mas em que não
puséssemos em comum a nossa soberania, e, portanto, há um processo
em que os Estados
continuam a ter, obviamente, peso na decisão.
Em terceiro lugar há o Parlamento Europeu, que tem
um outro tipo ainda de legitimidade, que é a legitimidade democrática, a
legitimidade de representação dos cidadãos.
E é da coexistência destas três legitimidades, do
equilíbrio entre estas três legitimidades, destes três pólos do que poderíamos
chamar um triângulo institucional, que resulta esta evolução e esta dinâmica
constante da União Europeia, do Projecto Europeu. Numa tensão constante, da
Comissão através das suas iniciativas, do Conselho através do seu controlo e da
sua motivação e dos Parlamentares Europeus que representam os cidadãos da
Europa, através daquilo que se espera seja uma cada vez maior exigência. E,
portanto, é desta coexistência, desta tensão, deste equilíbrio entre as três
instituições que resulta o dinamismo da União Europeia.
A União Europeia precisa, na minha perspectiva, de
continuar a assentar na ideia de preservar estas características únicas, e,
portanto, este perfil de organização, este perfil de entidade, porque ela tem
permitido, e a experiência é essa, que Estados tão diferentes entre si, com
diferentes dimensões, com diferentes geografias, com diferente cultura, com
diferente língua, com diferentes interesses, possam partilhar poderes soberanos
em benefício da tal paz, da tal estabilidade, da tal segurança, da tal
prosperidade no Continente Europeu. E tem permitido isso, na medida em que, tem
assegurado que todos os Estados Membros se sintam parte integrante do projecto.
Cada um dos Estados Membros, e o projecto tem força enquanto conseguirmos
manter que todas têm algo a ver com aquele projecto. Que ele também é seu e que
não há uns mais do que outros, que o projecto é tão de Portugal como é da
Espanha, que é tão da Espanha como é de Itália, que é tão da Itália como é do
Reino Unido e que é tão do Reino Unido como é do Luxemburgo, e, portanto, que
todos têm uma forma de intervenção, que todos têm uma forma de influenciar e
que há algo de comum que partilhamos voluntariamente. Enquanto esta
flexibilidade existir este projecto terá pernas para andar. Se esta
característica desaparecer teremos, com certeza, uma situação muito difícil
para este projecto. E é esta ideia de comunhão mas comunhão no respeito porque
cada um é, que está presente no lema que foi aprovado recentemente para a
Europa, na proposta do novo Tratado Constitucional que já vos vou falar mais à
frente, de “unidade na diversidade”. Penso que isto explica bem este
compromisso: unidade na diversidade.
A par de outros símbolos que obviamente a União
Europeia tem, e que conhecem, tem um hino, tem uma moeda, tem o Dia da Europa
celebrado a 9 de Maio, uma série de símbolos deste projecto comum. Mas o lema
dá noção da força que resulta da característica tão especial da União Europeia
de respeitar a diversidade, de procurar a unidade. Em conjunto com esta ideia
precursora do método comunitário deste grande objectivo de paz, estabilidade e
segurança, a União Europeia assenta em outros princípios basilares que também
merecem uma referência, e nomeadamente o da igualdade entre os Estados Membros,
o da solidariedade entre os Estados Membros, e em terceiro lugar confiança
mútua. Confiança mútua é algo a que por vezes não estamos suficientemente
despertos é aquilo em que assenta qualquer relação seja ela entre pessoas, seja
ela entre Estados, seja a nível político, não há uma relação sem confiança. E,
portanto, a confiança é um elemento também essencial neste processo da
construção europeia.
Gostava de vos chamar especial atenção, também,
para este princípio da igualdade. Hoje fala-se muito em eficácia,
em tornar a União
Europeia mais eficaz. Eficácia, com certeza mas sem perder de
vista estes princípios gerais, eficácia porque há um que diz como é que é e os
outros vão todos atrás, é uma eficácia que não interessa e é uma eficácia que
vai levar a União Europeia ao seu fim, e, portanto, essa eficácia não
interessa, tem que ser uma eficácia com respeito pelos princípios. Mas uma
eficácia onde as suas instituições tenham credibilidade e aceitabilidade, ou
seja, não sejam só credíveis, sejam aceites pelos cidadãos e sejam aceites
pelos cidadãos na base daquilo que me parece natural os cidadãos assumirem, que
é: Os cidadãos aceitarão essa União Europeia se reconhecerem a sua participação
e a dos Estados em que se integram no processo. Pôr de acordo as regiões de 15
Estados Membros é complicado, pôr de acordo os mais de 300 milhões de cidadãos
dos Estados Membros ou uma significativa maioria é complicado porque a história
é diferente, porque a língua é diferente, porque a dimensão é diferente, porque
os interesses são diferentes, porque a actividade económica é diferente mas só
na medida em que nos derem a capacidade de nos exprimirmos e que nós virmos que
realmente temos capacidade para intervir no processo de decisão, só nessa
medida é que a União Europeia será credível e aceitável, e, portanto, mais vale
alguma complexidade, embora a busca da eficácia seja sempre algo de estimável.
A União Europeia, neste momento, confronta-se com
uma série de desafios, o primeiro dos quais é o da Reforma dos Tratados. A
União Europeia como instituição viva que é, tem que acompanhar o bater do
Mundo, o bater de coração, a evolução, a tal água corrente, e, portanto, o
Mundo vai mudando, pelos desenvolvimentos tecnológicos, pelas situações políticas,
pelas situações sociais, pelas situações económicas. O Mundo vai mudando muito
rapidamente, cada vez mais rapidamente, já é lugar comum falar em aldeias
globais, claro que sabemos que estamos todos em contacto com todos, sabemos 20
segundos depois de haver um terramoto em qualquer lugar do Mundo que ele
aconteceu ou que rebentou a bomba ou que houve um desastre, uma inundação,
portanto, tudo isto é a era de informação instantânea. Portanto, o Mundo vai
mudando, as barreiras vão caindo, existe a Organização Mundial de Comércio, as
barreiras alfandegárias e os proteccionismos vão desaparecendo, e, portanto,
tudo isto circula e obriga a União Europeia a estar actualizada em relação aos
desafios do Mundo presente, portanto, é natural que ela se ajuste periodicamente.
Depois há novos desafios que se põem à União
Europeia. Conquistada uma etapa, normalmente ela é ponto de chegada e ponto de
partida. Um dos principais desafios para a União Europeia foi a construção de
um mercado comum, onde houvesse livre circulação de mercadorias. Ora o mercado
comum acabou por trazer à discussão a necessidade de uma moeda única. Só que
obtida a moeda única, outros desafios se colocam. Agora que temos o mercado
comum, que todos podemos circular livremente dentro desta União Europeia,
simultaneamente se temos esta moeda única e se queremos ser competitivos vamos
começar a aproximar os nossos sistemas fiscais, os nossos sistemas de segurança
social, mantendo as nossas características próprias mas é natural que haja uma
aproximação senão perderemos competitividade em relação a outros. Se os
serviços circulam, se os cidadãos circulam, se as empresas circulam, se o
capital circula, coloca-se a questão de saber se temos condições tão aliciantes
ou mais aliciantes que outros ou estamos em desvantagem nesse combate. Chegou-se
portanto à etapa euro. O euro não foi um ponto de chegada, o euro foi um ponto
de chegada e é simultaneamente um ponto de partida porque traz novas exigências
e vai exigir novas coordenações
em novas políticas. Ao
mesmo tempo o tal Mundo de que vos falava, este fenómeno da imigração, para o
qual o nosso país vai despertando e para o qual não estaríamos muito preparados
porque para nós o que havia era emigração. Os portugueses saíam do seu país mas
nós não recebíamos muitos imigrantes, hoje é uma relação nova. Mas a imigração
legal, (a imigração que vem, de alguma forma, compensar os filhos que os
europeus não têm), é boa e ajuda ao nosso desenvolvimento e até a aguentar os
nossos sistemas de segurança social. Mas a imigração descontrolada, a imigração
clandestina que ninguém sabe quantificar com rigor, que é feita por máfias que
exploram seres humanos tem de ser combatida. Tudo isto não pode ser feito por
um país isolado, e, portanto, estas novas necessidades face à imigração, face
às questões de justiça e assuntos internos, em que o nosso Reitor é
especialista, todos estes novos desafios fazem com que a União Europeia tenha
que despertar para novas funções, para novas actividades.
É preciso, também, termos em conta que cada vez
mais se põe à Europa o desafio de ter uma posição comum em relação àquilo que
se passa à nossa volta. Não podemos ter um mercado único, um euro, políticas
comuns em diversas áreas e depois quando se chega à nossa relação com os outros
Estados ou com as outras regiões do Mundo cada um falar a sua voz. Assim
perdemos capacidade, perdemos força. Pelo contrário, juntando a nossa força e a
nossa representatividade temos outra influência no Mundo, e, aí a necessidade
de uma política externa e de segurança comum.
E depois houve o alargamento que muda
completamente a União Europeia. Começaram por ser 6 Estados Membros, foi
aumentando gradualmente, chegámos aos 15 mas este alargamento próximo é o maior
alargamento da História Europeia, nunca houve 10 Estados a entrar ao mesmo
tempo, entraram 2, entraram 3, entrou 1, nunca 10. Mas apartir do próximo dia 1
de Maio nós vamos ter mais 10 países fazendo parte da União Europeia. Os três
Bálticos, portanto, a Estónia, a Letónia e a Lituânia. Depois na Europa Central,
temos mais um conjunto deles, a República Checa, a Eslováquia, a Eslovénia,
depois temos a Polónia e depois temos Malta e Chipre no Mediterrâneo. E estão
na calha a Roménia e a Bulgária e está na calha a Turquia com os seus mais de
70 milhões de habitantes. Portanto, isto exige que a União Europeia, em termos
das suas instituições, das suas políticas, das suas ideias, se adapte, se
adapte a um Mundo novo, se adapte aos resultados do seu próprio sucesso, se
adapte aos novos desafios que se põem à Europa, que a esta situação de
alargamento. Os Tratados tinham que ser mudados. Os tratados são a carta
fundamental da Europa, são aquilo que determina a forma de funcionamento, as
políticas, os valores da União Europeia.
Esta reforma dos Tratados, a que está a correr
agora neste momento, está a ser feita de, usando um método inovador, o método
da Convenção. O método da Convenção é um método inovador e é de alguma forma
uma resposta ao esgotamento dos processos anteriormente utilizados. A reforma
dos Tratados é feita através de um mecanismo de representação dos Estados, que
se chama Conferência Inter-governamental, quando é preciso reformular os
Tratados há uma Conferência Inter-governamental, a sigla é CIG. Mas normalmente
esta Conferência Inter-governamental é preparada antes, foi preparada por
grupos de reflexão, por grupos de sábios, por relatórios encomendados aos
países que têm a Presidência, já foi feita de muitas maneiras. Mas
considerou-se que todos esses modelos estavam esgotados. E há 3 anos foi preparada,
uma Carta dos Direitos fundamentais que usou este método de Convenção. O método
de convenção é um método que junta gente com representatividades diversas e que
pretende ter outra visibilidade e mais transparência. O que acontece em relação
à convenção é que ela recebe como participantes representantes dos parlamentos
nacionais, representantes dos governos, representantes de associações várias,
representantes do Parlamento Europeu, representantes da Comissão Europeia põe
toda essa gente em conjunto. Essa gente reflectiu no caso, sabe o futuro da
Europa, porque esta Convenção foi feita sobre esse lema, “Convenção sobre
futuro da Europa”, e, depois entrega à Conferência Inter-governamental as suas
conclusões para a revisão do Tratado.
Ora esta “Convenção sobre o futuro da Europa”,
decorreu entre o princípio do ano 2002 e Junho deste ano, exactamente
trabalhando na revisão do tratado. Todos os respectivos trabalhos estiveram
disponíveis, quer para os jornalistas quer para quem os quisesse seguir
directamente na Internet. Em Portugal procurou provocar-se o debate, esteve
muito centrado nas Universidades ou a partir das Universidades, também
obviamente com a comunicação social no sentido de que se soubesse e que
houvesse participação e se incentivasse a participação de todos que quisessem
participar neste processo. É um método inovador e a conclusão é que valeu a
pena utilizar este método porque é uma forma de agitar, de pôr mais gente a
participar, nomeadamente quando se põe Deputados de parlamentos nacionais, no
caso português a Assembleia da República a participar, o que se espera é que
depois haja ondas de choque dentro do próprio Parlamento e que haja ondas de
choque junto do próprio eleitorado.
No fim do ano e meio a Convenção entregou um
projecto de Tratado Constitucional. O balanço é positivo, está muito facilitado
o trabalho da Conferência Inter-governamental, é importante que tenhamos em
conta o que é que foi o trabalho da Convenção.
E o que é que conseguiu no essencial este trabalho
da convenção?
Por um lado integrou a Carta dos Direitos
Fundamentais, (que tinha sido trabalhada 3 anos antes) no próprio Tratado e
dá-lhe força vinculativa. Carta dos Direitos Fundamentais como o próprio nome
indica é um documento que estabelece um conjunto de princípios em relação à
nossa inter-relação e ao respeito que cada cidadão deve merecer e à protecção
desses direitos de cada cidadão. Ora essa Carta passa a fazer parte do Tratado.
Depois há um reforço do papel dos parlamentos
nacionais, os parlamentos nacionais passam a ter fórmulas que lhe possibilitam
uma maior intervenção, um maior envolvimento na vida da União Europeia, passa a
haver um mecanismo que implica que as instituições europeias muito
precocemente, antes de tomarem as decisões informem os parlamentos nacionais
dessas decisões, de forma que elas possam controlar o princípio da
subsidiariedade. É um nome complicado mas o princípio de subsidiariedade não é
mais do que isto: Nenhuma instituição mais distante dos cidadãos deve intervir
se uma mais próxima o puder fazer. E, portanto, se um órgão de poder pode
intervir vantajosamente para o cidadão na resolução de uma carência do social,
da sociedade ou de uma carência dos cidadãos individualmente considerados,
quando isso corresponde a um direito do cidadão deve ser a instituição mais
próxima que o deve fazer, a uma boa tradução do principio da subsidiariedade
será: “Eu não devo deixar para os outros aquilo que eu posso fazer por mim
próprio”, ou seja só deve chegar à União Europeia, só deve chegar a Bruxelas
aquilo que vantajosamente não puder ser exercido, ao nível da Junta de Freguesia,
a nível da Câmara Municipal, a nível do Poder Regional onde ele existir, a
nível dos Governos dos Estados Membros. Só quando não se puder intervir
vantajosamente em relação a uma questão é que ela deve ser tratada a nível
europeu. O que vai acontecer é que tendo os parlamentos nacionais a
possibilidade de controlar esta subsidiariedade, vão ter também a possibilidade
ou a necessidade de conhecer tudo o que a União Europeia está a preparar em
relação a medidas para o futuro. E, portanto, vai, esperamos, provocar um maior
debate à volta das questões europeias do que existe. Porque há aqui um
paradoxo: as questões europeias, na minha perspectiva, são tão importantes,
entram na nossa vida de tão variadas maneiras, têm tanto a ver com o nosso
presente e com o nosso futuro, um projecto tão marcante na história do nosso
país e da Europa, mas se repararem bem o debate a que ele é sujeito, a reflexão
a que ele é sujeito até no nosso Parlamento Nacional é relativamente reduzida,
e, portanto, há aqui qualquer coisa que temos procurar alterar, de tal forma
que haja uma maior relação entre aquilo que é o projecto europeu e a influência
nas nossas vidas, e, por outro lado o debate a que ele está sujeito e a nossa
capacidade de intervenção em relação a ele.
Em terceiro lugar, como resultado da Convenção,
foi atribuído a personalidade jurídica da União o que lhe dá uma identidade
clara e lhe permite uma outra intervenção ao nível da acção externa. Havia
vários Tratados, eles foram fundidos num só e foram simplificados os métodos de
trabalho, os instrumentos jurídicos da União Europeia. Reforçou-se o papel
legislador e controlador do Parlamento Europeu, há avanço
em matéria de Justiça
e Assuntos Internos, há avanço em matéria de política externa e mantém-se
algumas características essenciais, como seja o poder exclusivo de iniciativa
da Comissão. Aqui vale a pena uma explicação, sobre a Comissão e o método
comunitário. Porque é que Portugal opta claramente por este método comunitário
e não por uma solução entre governos? É que sendo este processo de União
Europeia, de construção europeia um processo de partilha de soberania,
em que os Estados
entregam parte daquilo que é faz mais sentido entregar a uma entidade que é
comum, formada a partir de cada um dos Estados do que entregar ao conjunto de
Estados, porque se entregarmos ao conjunto de Estados obviamente que a relação
é desequilibrada porque uns são maiores e mais ricos, outros são menores e menos
ricos. E, portanto, se a solução fosse Inter-governamental e se eu entregar a
uma plataforma Inter-governamental o meu poder soberano, eu estou provavelmente
a reforçar o poder daqueles que já têm mais poder. Mas se eu puser em conjunto,
onde todos põem em conjunto, esse controlo e essa perspectiva de comunidade e
de comunitário reforça-se.
Agora vai-se seguir a Conferência
Inter-governamental. Começa no próximo dia 4 de Outubro, com uma reunião de
Primeiros-Ministros e de alguns Chefes de Estado. E o que se vai procurar fazer
é clarificar e harmonizar o trabalho que a Convenção fez. Sempre na busca
daquele que é o equilíbrio necessário nesta construção europeia, que é o
equilíbrio entre Estados Membros e cidadãos. A União Europeia é composta por
Estados Membros, Estados soberanos, já vos disse isso e é composta por cidadãos
desses Estados Membros, e, é preciso considerar um e outro, é preciso
estabelecer em algumas instituições esses mecanismos de diferença, é preciso
considerar que a Alemanha tem 80 milhões de habitantes e que Malta tem umas
centenas de milhares mas também é preciso considerar que cada um deles é Estado
Membro. Os alemães dirão: “Não, isto o que é importante é a população.”
Malta dirá: “Não, o que é importante é sermos um
Estado soberano.”
É deste equilíbrio entre aquilo que é a densidade
em termos populacionais de cada Estado e o facto de cada Estado ser um Estado,
que nem sempre é muito fácil de conseguir. Mas que é um debate interessante,
complexo, essencial de que poderá resultar a boa solução.
O alargamento, é um processo com que também
estamos confrontados. Passamos de 15 para
25 a partir de 1 de Maio de 2004. Este
alargamento é por si só a prova do êxito da União Europeia. Há 10 Estados
Membros para quem o grande objectivo dos últimos anos, desde que caiu o Muro de
Berlim no fim da década de 80, é juntarem-se à União Europeia. Isso quer dizer
a União Europeia é realmente um projecto que vale a pena. E, esses novos
Estados Membros ou porque se reencontraram com a sua independência há muito
pouco tempo, como são os Bálticos, a Estónia, a Letónia, a Lituânia ou porque
tiveram em regimes autoritários, como foi a República Checa, Eslováquia ou a
Eslovénia ou a Polónia, são muito ciosos da sua independência, da sua
soberania, e portanto, isto também nos dá mais uma indicação de quanto é
importante mantermos este modelo flexível e de carácter aberto, que tem
permitido o sucesso da União Europeia. As razões que os fazem juntar a nós são
as mesmas razões que nos fizeram querermo-nos juntar à União Europeia, é uma
busca de fazer parte de um espaço de paz, de estabilidade, de segurança, de
prosperidade, de solidariedade, de igualdade. E, é afinal o encontro da Europa
com a sua História,.Há pessoas que reagem ao alargamento, vai haver mais, a complexidade
vai aumentar, vão disputar fundos connosco. Mas a questão é que a intenção
destes Estados se juntarem é afinal o encontro da Europa com a sua História. O
que não é natural é a existência do Muro de Berlim, o que não é natural é a
existência de regimes autoritários como eram os desses Estados, o que não era
natural era esta separação entre uns e outros, o que não era natural era a
Guerra Fria, o que é natural é que nós estejamos em conjunto dentro do mesmo
Continente e colaboremos uns com os outros. Portanto, nós estamo-nos a
encaminhar no sentido do destino natural da União Europeia.
É verdade que o alargamento para Portugal traz
vantagens e traz desvantagens. Não somos, por exemplo, os que beneficiam mais,
em termos de capacidade de termos acesso aos respectivos mercados, porque eles
estão longe mas também é verdade que eles terão mais dificuldades de chegar cá.
Acima de tudo é interessante que fiquemos todos a respeitar as mesmas regras de
concorrência, estejamos todos obrigados pelos mesmos princípios, que tenhamos
algumas políticas comuns. E, portanto, penso que o saldo é de clara vantagem
para esses Estados Membros mas também é de clara vantagem para a União Europeia
porque esses Estados Membros vindo de novo vão reforçar o dinamismo da União
Europeia e vão, por outro lado, reforçar o papel de actor na cena internacional
da União Europeia, e, isso também é, na nossa perspectiva, importante. E vão
beneficiar de algo que eu também gostava de vos falar, que se calhar é mais
importante que os fundos que nós temos recebido, nesta nossa participação na
União Europeia, que é o estímulo. Aquilo que eu venho concluindo, a minha
opinião pessoal, é que algo foi mais importante que essas ajudas que foram tão
relevantes para as auto-estradas, para as estradas, para as pontes, para os
sistemas de abastecimento de água, para os sistemas de abastecimento de
energia, para a formação de novas empresas e os apoios da União Europeia estão
aí um pouco por todo o lado. Mas tão importante ou mais importante que isso é o
facto de com novas regras, com novos desafios, com novos objectivos nos terem
forçado à modernização. Muito do que é hoje a nossa busca de competitividade,
dos sucessos que também temos tido a nível interno, têm a ver com objectivos
que nos vêm sendo fixados, em cuja decisão nós participamos e que depois
procuramos atingir. Este estímulo, este contarmos com nós próprios, não é
qualquer coisa que cai por milagre, é algo de essencial.
Outro desafio da União Europeia, com que a União
Europeia está confrontada é a questão das próximas perspectivas financeiras. A
União Europeia funciona com um quadro de programação por 6/7 anos, onde estão,
por exemplo, os apoios comunitários. O período actual acaba em 2006 e teremos
um novo período de
2006 a
2013, e, portanto, já se está a discutir tudo o que é esse futuro quadro, o que
vão ser, os apoios que teremos da União Europeia e as arrumações, as adaptações
das políticas. Aqui é natural que Portugal venha a fazer uma certa inflexão nas
suas prioridades, da prioridade às infraestruturas à prioridade na
competitividade. E há uma certa preocupação à volta dos recursos próprios da
União Europeia. A União Europeia tem um orçamento anual de 100 mil milhões de
euros, parece muito dinheiro, dá para ter uma política comum agrícola, para ter
uma política de coesão, para ter esses apoios estruturais, etc., etc., etc.,
mas 100 mil milhões de euros são uma gota de água no oceano, porque apenas
representam 1 por cento do PIB combinado da União Europeia, representam apenas
1 por cento da riqueza que a União Europeia gera, e, portanto, ter tantas
ambições e dedicar-lhe 1 por cento é claramente pouco, penso que esse é um dos
grandes debates do futuro.
Tal como um dos grandes desafios para o futuro é a
aproximação dos cidadãos à União Europeia. Penso que é claro que há alguns
sinais de hesitação nos cidadãos, que há algum desconhecimento em relação ao
processo, que há algum distanciamento em relação ao processo e nós estamos
confrontados com com esta necessidade de aproximarmos os cidadãos.
Simultaneamente estamos confrontados com a necessidade de afirmar, em termos
externos, a União Europeia em termos de política externa. Toda a gente comentou
muito que a União Europeia apareceu dividida, por exemplo, quando foi a
discussão da questão do Iraque e da intervenção no Iraque, é preciso termos
consciência disso, que neste momento não há uma política externa e de segurança
comum, que mereça esse nome, há alguma coordenação mas não há uma política
comum. Mas simultaneamente é preciso termos consciência que estamos numa área
especialmente complexa e especialmente delicada. Quando se fala em política
externa e de segurança comum, está-se a falar em guerra e paz, está-se a falar
em mortos, está-se a falar em situações extremas, está-se a falar em decisões
que têm grande impacto em cada um dos países, países que têm tradições
diferentes, histórias diferentes, alianças diferentes e é uma área essencial
daquilo que se considera a soberania de cada Estado Membro. E, portanto, é
natural que a matéria de política externa seja tão difícil esta conjugação.
De qualquer forma são dados, nesta revisão do
Tratado, alguns passos, nomeadamente a criação do Ministro dos Negócios
Estrangeiros da União Europeia, que vai ter a responsabilidade de ser o motor
desta política externa e de segurança comum, que há-de avançar por pequenos
passos. Para construirmos o mercado comum e para fazer a moeda única demorámos
50 anos. Esta ideia de política externa e segurança comum começou a aparecer a
seguir à queda do Muro de Berlim há cerca de 10 anos, e, portanto, temos que
dar algum tempo ao tempo, nomeadamente quando estamos a falar de questões tão
complexas.
Em relação a estas matérias da União Europeia,
Portugal tem tido sempre uma posição construtiva, uma posição aberta e uma
posição empenhada, não considerando a União Europeia um mero espaço de
projecção dos nossos interesses nacionais, porque se cada Estado considerar a
União Europeia como um mero espaço de projecção dos seus interesses nacionais é
óbvio que a União Europeia implode, rebenta por dentro, porque é impossível
acomodar os interesses nacionais específicos de cada Estado, e, portanto, é
preciso procurar aqui um constante equilíbrio, mais uma vez. O equilíbrio entre
os interesses nacionais e o equilíbrio entre o interesse do todo e é preciso
salvaguardar o todo, é preciso ter empenho no todo, e, portanto, ter empenho na
eficácia, na vitalidade da União Europeia. A União Europeia não pode ser um
simples somatório dos interesses nacionais. Aquilo que nós nos batemos é por
uma Europa mais forte, mais democrática, mais transparente, mais solidária,
mais coesa e logo mais integrada. Nós defendemos, portanto, e em suma, mais e
melhor Europa, é essa a postura que temos defendido. E quando digo que queremos
uma Europa mais coesa, estou-me a referir também à necessidade de haver
políticas voluntaristas da União Europeia, activas da União Europeia que levem
ao equilíbrio dos níveis de desenvolvimento dos vários Estados Membros. A
Europa só será coesa se os níveis de desenvolvimento dos vários Estados Membros
se continuarem a aproximar. E, portanto, esta política de coesão que é
importante para nós porque apoia o nosso desenvolvimento, é também importante
para a vitalidade da União Europeia, porque uma União Europeia forte é uma União
Europeia coesa, e, uma União Europeia só é coesa se for, em termos de níveis de
desenvolvimento, mais harmoniosa.
Para concluir, a União Europeia é acima de tudo
uma visão, um ideal, uma ideia, não é um supermercado, não pode ser encarado
como algo de utilitário, não pode ser olhado com um certo egoísmo e se alguém
pode compreender esta ideia, este traço forte de uma ideia, de uma visão de
valores são exactamente aqueles que estão desse lado, são exactamente os
jovens. E, portanto, precisamos de preservar esta ideia da Europa, porque esta
ideia da Europa é muito importante para o nosso país, é muito importante para o
Continente Europeu, e pode contribuir para o equilíbrio no Mundo. É uma ideia
que vale a pena e que eu espero ter conseguido transmitir-vos o quanto vale a
pena. Como complemento desta minha busca de vos transmitir o quanto esta ideia
vale a pena, já agora vejam o filme que eu aconselhava, vejam “O Pianista” e
continuemos a construir a União Europeia para que não aconteça mais o que é
retratado nesse filme ou o que é retratado na “Lista de Schindler” ou o que era
retratado nos telejornais que nos entravam em casa há meia dúzia de anos e que
se passava naqueles países dos Balcãs. É esta ideia de Europa que pode
contribuir, para além de tudo o que se diga, para a felicidade de todos e de
cada um que eu queria vos trazer aqui hoje. Muito obrigado. (PALMAS)
Carlos Coelho
Muito obrigado Dr. Carlos Costa Neves.
Vamos agora para a fase de perguntas e respostas. Recordo-vos,
esta sessão começa às 10 e acaba ao meio-dia, temos uma intervenção inicial e
temos agora perguntas e respostas de todos os grupos, de acordo com os
porta-vozes que indicaram na vossa reunião de ontem e que vão ser quem vai
fazer as perguntas ao nosso convidado.
A seguir a essa fase de 10 perguntas e 10
respostas, se houver tempo eu pergunto quem deseja levantar mais questões
levantarão o braço na altura. E o sistema “Catch the eye”, usado nalguns
Parlamentos, que é apanhar pela vista quem está mais interessado. Nessa altura a
pessoa identificar-se-á com o nome e fará a sua pergunta. Se houver muitas
perguntas podemos prorrogar durante meia-hora a sessão, até ao meio-dia e meia.
Ao meio-dia e meia aconteça o que acontecer fechamos os trabalhos. Como vos
disse há horas para começar, há horas para terminar. O almoço é servido no
sistema de buffet entre a 1 hora e as 2.
Rafaela (Grupo amarelo)
Bom dia a todos.
O grupo amarelo na discussão que fez ontem sobre a
Europa, sobre este tema em particular “Somos cidadãos Europeus”, queria colocar
uma questão ao Dr. Costa Neves, que tem a ver exactamente com as expectativas
que podem os portugueses ter, enquanto cidadãos europeus, nesta situação agora
de implementação de uma Constituição para a Europa, do ponto de vista da
mobilidade profissional, tendo em consideração que nós temos proclamado na
nossa Constituição o princípio da igualdade de oportunidades de igualdade de
ensino, formação e emprego, por outro lado temos a liberdade de circulação de
pessoas e estamos confrontados com uma falta de harmonização de currículos, com
dificuldades para o reconhecimentos de cursos entre os diferentes Estados
Membros e com uma crescente competitividade entre as empresas do ponto de vista
económico.
Costa Neves
Muito obrigado à pergunta vinda da Madeira.
Constituição, mobilidade, constituição de
currículos, crescente competitividade. Vamos por partes:
Em teoria, no campo dos princípios, neste momento
existe a livre circulação das pessoas, e, portanto, a livre circulação dos
trabalhadores, como a livre circulação dos bens, como a livre circulação dos
serviços. É aquilo que normalmente é designado por a existência de um mercado
interno, e, portanto, existe um mercado interno onde tudo se move livremente,
as empresas, os capitais, os serviços, as pessoas. E, em termos de princípio
ele funciona, quando não funciona há mecanismos que obrigam a fazer com que ele
funcione, e, portanto, o princípio está definido. Onde é que existem problemas
que foram aqui bem assinalados? São problemas ao nível do reconhecimento de
habilitações e daquilo que ele implica de harmonização de currículos para haver
reconhecimento de habilitações. Tem sido um processo mais difícil, onde não se
conseguiu ainda atingir o objectivo, há um chamado, designado processo de
Bolonha, com certeza já ouviram falar, que busca essa aproximação, que busca o
estabelecimento de regras conjuntas mas que não tem força obrigatória,
portanto, digamos que é um conselho, uma orientação, um esforço de coordenação.
Na legislação, que suponho que está na Assembleia
da República, que enquadra estas questões do ensino superior, tem-se tido em
conta esse processo de Bolonha, essas orientações de Bolonha, e, portanto, uma
busca de equiparação, já iniciativa deste governo, e a expectativa é que seja
possível através dessa conjugação de regulamentação, em relação a currículos,
tempos de formação e conteúdos de formação, seja possível depois também um
reconhecimento cada vez mais eficaz das habilitações profissionais. É uma das
áreas, onde eu acho que é claro, primeiro, que ainda não se atingiu o
objectivo; Segundo, é uma das falhas do mercado interno; Terceiro, é uma das
áreas onde nós precisamos de mais e melhor Europa.
Quanto à crescente competitividade é algo que tem
muito a ver com cada um dos Estados Membros, e, eu acho que a grande batalha
com a qual Portugal está confrontado é com a batalha da competitividade. Não é
com proteccionismos, que só alimentam a mediocridade que nós chegamos onde quer
que seja. Nós estamos, efectivamente, uns perante todos os outros, é assim,
estamo-lo individualmente, estamo-lo como região, estamo-lo como cidade,
estamo-lo como Estado Membro, e, portanto, essa batalha que tem muito de
responsabilidade do Estado mas tem muito também como preocupação de cada
cidadão, é uma batalha essencial e eu penso que não pode deixar de ser uma
batalha a merecer prioridade no próximo Quadro Comunitário de Apoio em relação
a Portugal. Dizer que não é possível empresas estrangeiras entrarem cá ou que
não é possível as empresas de cá saírem de cá ou que, que, que, que, que tudo o
que seja proteccionismo afoga, mata e não é a solução. A solução é fazermos
melhor.
Ricardo Delgado (Grupo Laranja)
Muito bom dia.
Em nome do grupo laranja e depois da reflexão de
ontem, e, obviamente, após a sua intervenção, dizendo que o projecto europeu é
um projecto dinâmico, jovem e que deve estar em constante evolução e sabendo
nós que essa evolução, por vezes, dá-se com passos gigantes, como é o caso do
CIG que agora vai começar mas que a grande evolução da Europa é feita pelo
dia-a-dia dos seus órgãos comunitários. Ora, sabendo também que a construção
desse ideal europeu que deve ser tão Português como Alemão, passa então por uma
participação directa de Portugal e dos portugueses no dia-a-dia da Europa,
tentando influenciar aquilo que é o processo de decisão europeu, nomeadamente
através das forças de lobby que se pode exercer directamente nos órgãos
comunitários mas também pela participação de e pelo trabalho de portugueses nos
órgãos comunitários, o que o nosso grupo gostaria de lhe perguntar era:
Enquanto governante e tendo essa pasta, quais são
em concreto as medidas que Portugal está a tomar para fazer crescer esse lobby
europeu, nomeadamente com a contratação de mais portugueses para os órgãos
comunitários e tendo a certeza que através disso iríamos sempre conseguir
influenciar a tal tomada de decisão europeia. Obrigado.
Costa Neves
Muito bem, muito obrigado.
Aí pareceu-me divisar dois sotaques, um sotaque da
Madeira e um sotaque de Bruxelas… (risos) … sou um especialista de sotaques.
(Risos)
É uma boa questão, a presença do nosso país na
União Europeia afirma-se de várias maneiras, de várias formas e há algumas
fórmulas que, foram muito esquecidas por Governos anteriores. Uma das fórmulas
é através dos nossos Deputados no Parlamento Europeu; outra das fórmulas é
através da nossa representação na Comissão, portanto, temos um Comissário
Europeu; outra das fórmulas é através da nossa participação, da nossa presença
nas reuniões dos Conselhos de Ministros Europeus; outra das fórmulas é a nossa
presença no Comité das Regiões ou a presença no Comité Económico e Social, mas
muitas vezes se esquece que uma das fórmulas é através de portugueses a
trabalharem nas instituições europeias. Têm um papel essencial porque estando
lá a trabalhar, não estão lá para serem funcionários do seu Estado, são
funcionários das instituições europeias mas, podem emprestar uma sensibilidade
às medidas, às decisões que têm a ver com a nossa cultura, com a nossa forma de
ser, de estar, de encarar as coisas. E, portanto, esta participação de
portugueses trabalhando nas instituições europeias é algo de essencial.
Faz do programa deste Governo procurar apoiar, por
um lado a evolução na carreira dos que já lá estão, todos os Estados Membros o
fazem, e também apoiar a preparação de candidatos portugueses a concursos da
União Europeia. Consta igualmente a ideia de procurar colocar em comissão de
serviço, portanto, (embora fazendo parte da administração portuguesa), gente
nas instituições europeias. Tudo isso está a ser feito de forma sistemática,
pela primeira vez por este Governo. Fizemos um levantamento que não existia de
todos os funcionários nas instituições europeias, e são pouco mais de mil
portugueses, só que são mil portugueses que em termos da nossa representação
relativa nem estamos maltratados, quer dizer, em termos proporcionais temos
mais funcionários do que representa a nossa proporção de população no total da
Europa, só que a nível de cargos dirigentes praticamente não existem. Quando
chegámos ao Governo não tínhamos sequer um Director-Geral na União Europeia,
que foi entretanto nomeado já no princípio deste ano. E, portanto, houve um
deixar cair, enquanto que os ingleses, os espanhóis, os alemães levam muito a
sério o acompanhamento da carreira dos seus profissionais, nós fizemos como se
eles não existissem durante anos e anos e anos.
Agora fizemos, como primeiro trabalho, esse
levantamento para sabermos onde é que eles estão, quem é que eles são. Sabendo
onde é que eles estão isso permite-nos depois, a nível dos organismos centrais,
contactarmos os que estão ligados às áreas que nos interessam. Concluirmos que
há áreas extremamente importantes na União Europeia, como, por exemplo, a
concorrência onde praticamente não temos ninguém, e, portanto, começou-se uma
política activa de pessoal agora. Assim como se organizou a formação, a
preparação de candidatos para um grande concurso que decorreu recentemente e do
qual nós esperamos melhores resultados. Não é uma questão de nós sermos piores
que os outros mas, por vezes, a nossa forma de ser e o nosso sistema de ensino,
não nos prepara para o tipo de provas que são feitos. São tipos de provas muito
anglo-saxónicos, e, portanto, pusemos os candidatos com gente que trabalha nas
instituições, com funcionários portugueses, que por um lado lhes deram uma
orientação de como é que funcionam esses concursos, como é que é fórmula de
lhes responder e que até em relação às provas orais, os ensinaram como é que
eles devem reagir, como é que eles se devem apresentar, porque depois tudo isso
é classificado. Nós, normalmente, temos aquele princípio que mesmo
inconscientemente, se calhar, introduzimos algures no passado e que se calhar
vem de algumas ideias tipo, entras numa sala e sentas-te no último banco e se
mereceres mais do que o último banco alguém te há-de vir buscar. Nas
instituições europeias se nós nos sentarmos no último banco e se ficarmos à
espera que alguém nos vá buscar, criamos raízes no último banco porque ninguém
nos vem buscar, e, portanto, há até quase que uma atitude que tem que ser uma
atitude diferente. Nessa preparação para esses concursos foi exactamente isso
que tentámos fazer.
A registar a relevância da questão. A registar que
os funcionários portugueses nas instituições europeias são um dos elos da nossa
ligação à União Europeia, é relevante a sua presença e de que finalmente há uma
política activa que procura ter em conta a situação dos funcionários
portugueses na União Europeia e que procura incentivar a entrada para a União
Europeia. Espero é que não venha tarde, porque se isto fosse há 5 ou 6 anos
atrás era melhor. Porque agora estamos a concorrer nessa procura de acesso com
todos os 10 novos Estados Membros que vão entrar e que obviamente vão ter os
respectivos profissionais também lá, como nós tivemos quando entrámos em 86.
Joana (Grupo Encarnado)
Bom dia.
O Grupo Encarnado gostaria de lhe colocar a
seguinte questão:
Falou no “Pianista” e no entendimento entre as
Nações Humanas, qual é a mais valia que o português pode oferecer à Europa e
qual o contributo que a Europa pode dar ao nosso país.
Não nos referimos às questões económicas mas sim
às mais valias culturais, questões cívicas, sociais e organizativas.
Carlos Costa Neves
Uma das coisas que eu tenho uma certa capacidade é
também de divisar a profissão das pessoas. Parece-me que a Joana deve ser
médica, se eu apanhei bem pela entoação.
É também uma pergunta muito interessante, como as
duas anteriores, porque me parece que a vitalidade da Europa, a Europa vive de
princípios, vive de valores, a Europa é uma ideal, é uma ideia. E se nós
reduzirmos esse ideal, àquilo que eu há pouco procurava dizer ali, a um
supermercado, portanto, a uma ideia económica, se a União Europeia for algo de
meramente económico é óbvio que não tem força suficiente para se afirmar,
porque o que é suportado em princípios e em valores, o que é utilitário se é
mais útil usa-se se é menos útil põe-se de lado, e, portanto, é um brinquedo
que depois de usado se põe de lado, é uma novidade que depois de lhe esgotarmos
as potencialidades todas pomos de lado. E, portanto, ou há um maior
envolvimento, que pode vir em termos culturais, que pode vir em termos de
valores, que pode vir em termos de princípios que o valoriza e que nós
contribuímos para ele e que nos aproxima e onde nos vamos conhecendo mais e
melhor, e vamos partilhando esses valores e circulamos mais e conhecemos melhor
e apreciamos mais ou, efectivamente, é algo que tem tendência a desmontar-se.
A nível daquilo que é a actividade de vós, ou que
foi até há bem pouco tempo, há uma série de possibilidades de intercâmbios, de
estudar 1 ano ou 2 noutro Estado Membro, que dá esse conhecimento, que dá essa
circulação. Há imensas manifestações culturais, capital de cultura que faz
também circular essa informação. Agora, não é um ponto ainda suficientemente
forte, é preciso não esquecermos que a União Europeia foi até muito
recentemente, até à década passada, foi Comunidade Económica Europeia. E,
portanto, a passagem do económico para o político e o político envolve a
presença externa, o cultural, uma presença na vida, no Mundo, é uma passagem
muito recente mas é uma passagem fundamental. Esta pergunta dá para sublinhar
isso mesmo, dá para sublinhar que a dimensão da Europa tem que ser não
unidimensional, tem que ser multidimensional e tem que incluir o relevo a dar a
estes aspectos dos valores, dos princípios e também àquilo que eu procurei dar
importância na minha intervenção, ao estímulo, ao que nos ponha objectivos que
nos esforcem a irmos mais longe. É isso que se põe, por exemplo, ao desafio da
competitividade.
Henrique (Grupo Verde)
Bom dia.
Após uma grande reflexão por parte do nosso grupo,
decidimos tentar especificar ao máximo uma questão, que julgamos não foi
tratada e que, de facto, é um desafio para todos os Europeus mas também um
desafio para nós, nós enquanto políticos.
A questão passa, sobretudo, pela questão cívica e
pela legitimidade política. Tendo em conta a problemática actual e todas as
questões económicas, sociais, culturais…, qual é, de facto, a sua opinião
relativamente à falta de participação cívica e aos grandes níveis de abstenção
que quer queiramos quer não põem em dúvida a legitimidade política e temos aqui
um Euro Deputado, que deve compreender isso melhor do que nós, porque afinal de
contas para o ano que vem temos eleições europeias, somos políticos, no fundo o
que eu quero é sugerir um desafio mais do que colocar uma questão. É só isto.
Carlos Costa Neves
Essa é uma questão que é real, que nós não podemos
iludir e que nos põe um desafio a todos em termos de engenho e arte. Eu faço o
mesmo diagnóstico que o Henrique faz e tenho provavelmente as mesmas
perplexidades que o Henrique tem em relação ao fenómeno, porque se eu tivesse
uma solução, enfim, procuraria influenciar a que ela fosse posta em marcha. Há
razões para preocupação. Em
94
a taxa de participação nas eleições europeias foi de
35%, em
99 a
taxa de participação foi de 40% e há aqui uma série de paradoxos. Como sabem a
União Europeia faz muitos inquéritos, faz muitas auscultações, faz muitas
sondagens, ainda recentemente e veio em todos os jornais de grande tiragem no
país, houve um trabalho que não foi da União Europeia, foi de uma entidade
privada mas em que a fundação Luso-Americana esteve envolvida e as respostas
são sempre respostas paradoxais depois em relação a esta participação mas
também paradoxais entre si. O que demonstra que tem que haver um esforço muito
grande mas um esforço muito grande a todos os níveis e em que temos que ser
exigentes na medida do concreto e na medida do equilibrado, e agora vou passar
a explicar o que quero dizer com isto:
Primeiro: As respostas a estes inquéritos dizem,
por exemplo, que a União Europeia é óptima, que os portugueses confiam muito na
União Europeia. Confiam mesmo mais nas instituições da União Europeia do que
nas instituições políticas do seu próprio país. Quem querem o desenvolvimento
da União Europeia. Que apoiam largamente o alargamento, etc., etc., etc.
Portanto, a relação de empatia entre os portugueses e a União Europeia é muito
grande, de confiança e empatia é muito grande.
Pergunta-se se concordam com o alargamento, uma
grande maioria concorda. Pergunta-se mas alargamento a quê, e uma grande
maioria dos cidadãos não sabe quais são os novos Membros da União Europeia e,
se calhar, não sabe quais são os actuais Membros da União Europeia, portanto, é
um paradoxo. Normalmente a gente diz que se gosta daquilo que se conhece ou que
se ama aquilo que se conhece, e, neste caso há por um lado uma intuição quase
que emocional que leva as pessoas a dizer sim, sim, sim, sim, mas depois todas
as perguntas que se destinam à avaliar a profundidade do desconhecimento das
pessoas
em relação à União Europeia demonstra um grande
desconhecimento. Primeiro paradoxo.
Segundo aspecto que é preciso ter em conta: Claro
que neste conhecimento também não podemos ter duas medidas ou duas bitolas,
quando se diz: há os portugueses não conhecem o projecto de Constituição
Europeia, podemos perguntar, mas os portugueses alguma vez conheceram algum
projecto de Constituição Portuguesa, quer dizer, nós podemos esperar que em
relação à União Europeia o grau de conhecimento seja superior ao grau de
conhecimento interno? Temos que encontrar aqui um equilíbrio, temos que
encontrar aqui a mesma bitola. Agora, isto não ilude a questão de que o
desconhecimento é grande e não ilude a questão de que esta consideração de que
esta questão da União Europeia é para todos, leva a níveis de abstenção muito
grandes e que põem em risco a própria ideia de União Europeia e de
representatividade, dos Deputados eleitos. Aqui, apesar de tudo, no mal há uma
coisa boa, é que o grau de participação é baixo em praticamente todos os
países. Como é que podemos alterar isto? É uma mesma pergunta com que estão
confrontados todos os militantes, todos os simpatizantes em qualquer Força
Política, nomeadamente a JSD, como é que para estas coisas do interesse comum,
nomeadamente da actividade política podemos motivar as pessoas e em conjunto
havemos de ir encontrando as soluções, as melhores soluções. Estes seminários,
outros processos de trabalho talvez sejam sementes, as visitas ao Parlamento
Europeu, que alguns de vós terão feito, também é uma semente, os programas
Erasmus são sementes mas são sementes que não têm sido suficientes, e,
portanto, precisamos de continuar a insistir.
Jaime (Grupo Azul)
Muito bom dia a todos.
A questão que o Grupo Azul tem para colocar é a
seguinte:
Tendo como ponto de partida a ameaça da soberania
do Estado/Nação na União Europeia, lembramo-nos que ainda há poucas décadas
atrás Portugal se considerava orgulhosamente só, isto não vai assim há tanto
tempo quanto isso, são poucas décadas. Qual será o papel de Portugal com as
alterações que se deslumbram a curto/médio prazo, nomeadamente na reestruturação
do poder político Europeu, acrescendo o facto da entrada de novos 10 Estados
Membros, ou seja, neste contexto Portugal não corre o risco de vir a ter uma
intervenção política minimalista?
Esta é a questão política. Se esta perda de
soberania não se pode depois, também, verificar na nossa identidade nacional,
se não corremos o risco de a nossa História ser um pouco esquecida, etc. É só.
Carlos Costa Neves
Muito obrigado pela pergunta. Quer
em relação ao
Henrique quer
em relação ao Jaime percebia-se que o animal
preferido era o cão… (sorrisos)
Outra boa questão. A União Europeia é uma entidade
muito complexa, ontem durante o jantar conversava-se, e, a certa altura, alguém
perguntava ao Deputado
Carlos
Coelho então e isso, o Parlamento Europeu cada vez tem mais
poder mas como é com a sua eficácia, o Deputado
Carlos Coelho dizia: “Pois
é complicado, vamos passar a ter 20 cabines de tradução”, para apresentar uma
emenda a um qualquer documento, essa emenda tem que ser traduzida para as
línguas todas, tem que ser circulada por toda a gente, tem prazos de votação, o
que obriga a um esquema complexo e demorado e a negociações profundíssimas e
complexíssimas, como ainda foi agora a da resolução sobre a questão dos
incêndios em Portugal, não é complexa, para quem não põem lá os pés, mas para
quem lá põe os pés é complexo.
E é muito complexo e é muito complexo porquê?
Porque são 25 Estados soberanos com mais de 400 milhões de habitantes,
praticamente tende a ser todo o Continente, portanto, Estados com dimensões
diferentes como eu dizia, interesses diferentes, línguas diferentes, culturas
diferentes, postos em conjunto à volta de um conjunto de valores comuns e de
interesses comuns. Portanto é, realmente, muito complexo. Nas vinte cabines de
tradução, eu espero que não aconteça um jogo que nós fazíamos em criança, não
sei se alguma vez algum de vós fez o exercício, mas o exercício até pelos
resultados é interessante, que é numa fila deste género cada um dizer um
segredo ao que está a seguir e depois o primeiro escreveu num papel e o último
escreveu num papel e o que o último diz não tem nada a ver com o que o primeiro
disse, porque cada um vai simplificando e introduzindo alguma criatividade na
mensagem. Se os intérpretes do Parlamento ou das Instituições Europeias forem
criativos, efectivamente, ninguém percebe nada do que é a mensagem que se
pretendia passar. Eu lembro-me uma vez, ainda estava no Parlamento Europeu e
estava muito avisado por um colega alemão no caso, que eu não podia deixar de
falar num determinado assunto e chegou a minha altura de falar e eu falei e
tinha visto tanto empenho dele que eu falasse naquela questão, que eu falei nela.
Mal acabei de falar ele veio muito zangado ter comigo e diz: “Então eu pedi-te
tanto que falasses naquilo e tu não falaste”. Eu disse: “Não falei! Desculpa
mas eu falei, foi até o essencial do que eu disse.” Ele respondeu: “Olha pá, na
tradução alemã não saiu nada disso.” Isto, portanto, é complexo, eu estou a
referir um exemplo, se calhar simplista para demonstrar que não é um exercício
fácil, é um exercício difícil. Agora, a sua sobrevivência está dependente de
cada um de nós continuar a ver-se reflectido na União Europeia. Se a
consequência do alargamento ou a evolução for, que cada Estado Membro tenha
maior dificuldade
em rever-se na União Europeia, e é isso que eu penso
que quer dizer o Jaime com a sua pergunta, quando fala em intervenção política
mínima, se a intervenção política passar a ser mínima ou nula, obviamente que
nós deixaremos gradual e tendencialmente de nos revêr na União Europeia. Portanto,
é uma questão essencial do projecto, vamos ter que continuar a emprestar alguma
coisa daquilo que somos à União Europeia, pela nossa localização, pela nossa
História, pela nossa forma de ver as coisas, pela nossa forma de abordar as
coisas. É preciso que se continue a ver que aquilo é algo de nosso e que não é
algo dos ingleses ou dos alemães ou dos polacos, é algo de nosso também, que
tem em conta o que nós dizemos e que nós olhamos para lá e podermos ver, há
traços comuns. Fazemos parte de um mesmo grupo, é mais o que aproxima do que o
que nos afasta. É um grande desafio.
Eu não
teria grandes preocupações, é a minha experiência, com a Identidade Nacional.
Portugal é o país com as mais velhas fronteiras estáveis dentro dos Estados
Membros da União Europeia, Portugal tem 9 séculos de História, Portugal tem
valores comuns, Portugal tem uma personalidade muito forte e estas
personalidades são articuláveis. Eu, como saberão alguns de vós, sou originário
dos Açores e acho que me entrosei bem com o grupo e que tive, acima de tudo, a
preocupação com o meu país e com a União Europeia no seu todo e acho que
consegui conciliar isso. Acho que as responsabilidades são mais nacionais, não
deixo de ser nem Açoriano nem Europeu e sou sempre Português, e, portanto, acho
que conseguimos casar isso dentro de nós. Não são realidades contraditórias,
nós podemos sentirmo-nos portugueses, podemo-nos sentir originários da nossa
região, do país e podemos sentir simultaneamente como parte de um todo que
partilha valores comuns e que nos faz, de alguma forma, que sintamos que são
próximos. É interessantíssimo quando nós ouvimos falar um catalão, porque à
primeira vista parece que é alguém que está a falar um português que nós não
compreendemos, porque tem os mesmos sons, porque tem a mesma abertura de
vogais, porque tem os mesmos “R” e a Europa é um pouco isso, é nós
compreendermo-nos sem sermos iguais, que afinal fazemos parte deste grupo mais
alargado. E, portanto, eu não teria preocupações muito definitivas com a
questão da Identidade Nacional, porque continuaremos a poder gostar de arroz de
cabidela.
Quanto à perda de soberania, a perda de soberania
é uma questão que nos leva muito longe, faço-me convidar para uma próxima
Universidade de Verão para continuar a discussão ou para uma próxima hipótese
de vos encontrar, porque a questão põe-se da seguinte forma:
Eu acho que mais que perda de soberania, quando
nós partilhamos a soberania com a União Europeia nós potenciamos soberania, o
que é que eu quero dizer com isto? Eu quero dizer que, nós temos mais soberania
tendo uma moeda comum, o euro, e temos mais estabilidade económica e temos mais
força do que tínhamos com o escudo e temos até mais capacidade de influir na
evolução do euro do que tínhamos com o escudo. Costumava-se contar uma história
interessante, em tempos, que era dizer que a nossa soberania em termos de
moeda, na altura durava algum tempo, durava a transmissão por fax da
desvalorização do marco na Alemanha ou da desvalorização do dólar nos Estados
Unidos, agora em tempo instantâneo quer dizer que não demorava nada, quer dizer
o marco desvalorizava e o escudo desvalorizava ou tinha pelo menos o directo
impacto imediatamente. Em relação ao euro, porque é uma moeda mais sólida, e
porque nós temos representação também no Banco Central Europeu, nós temos,
apesar de tudo, mais capacidade de influenciar a decisão do que tínhamos com o
nosso Banco Nacional, Banco de Portugal. E, portanto, o euro é uma perda de
soberania ou é uma potenciação de soberania?
Em termos de coordenarmos esforços numa coisa que
a Europa ainda não conseguiu fazer, não foi só o reconhecimento das
habilitações, também em termos de protecção civil. Nós tivemos um dia, desta
crise passada dos incêndios, em que houve 500 incêndios, noutro dia
explicaram-me isso muito bem, quando se começa a querer pôr muitas questões e
estávamos preparados, não estávamos preparados, podemos sempre preparar mais,
os portugueses podem sempre viver menos do improviso, tudo isso é verdade mas os
bombeiros costumam dizer que o terror dos bombeiros é o quê? É uma situação em
que há mais de 30 graus de temperatura, mais de
30 quilómetros
de velocidade de vento e menos de 30% de humidade relativa do ar e em Portugal
durante aqueles dias houve 47 graus de temperatura, houve
90 quilómetros
de velocidade de vento e houve 5% de humidade relativa do ar, e, portanto,
conjugaram-se todas… Mas eu fui buscar isto para dizer que a certa altura já
não havia bombeiros que chegassem, que era por todo o lado, houve um dia
determinado, no princípio de Agosto, que houve 500 incêndios, e, nessa altura a
coordenação europeia e a ajuda entre os europeus poderia ter ajudado, poderia
ter beneficiado. Se nós aceitarmos discutir com outros os nossos meios e pormos
em conjunto os nossos meios de tal forma que seja possível o reforço de meios
numa situação de necessidade, estamos a partilhar soberania, estamos a ganhar
soberania ou estamos a perder soberania?
Bom, é uma questão que nos leva muito longe mas eu
pedia-vos que não seguissem a concepção clássica de perda/ganho de soberania,
porque partilha de soberania na maior parte dos casos é ganho de influência.
Carlos (Grupo Roxo)
Muito bom dia a todos. Gostava de começar por
cumprimentar o Dr. Costa Neves e felicitá-lo em meu nome pessoal e em nome do
grupo roxo pela sua brilhante exposição.
O grupo roxo, começando já neste primeiro dia por
quebrar uma das regras, tínhamos aqui duas questões, não apenas uma, espero que
a organização compreenda, eu vou tentar ser breve para tentar compensar esta
pequena ousadia.
Fundamentalmente gostava de pedir a opinião do Dr.
Costa Neves acerca de uma questão, que é uma questão que tem sido recorrente
nos últimos tempos, fundamentalmente desde a questão do Iraque, é a questão
entre a aparente dicotomia, o aparente antagonismo entre a nossa vocação
atlantica e a nossa vocação europeia. Em bom rigor será possível continuarmos,
a ter valor acrescentado nas relações com os países africanos de expressão
oficial portuguesa, com o Brasil, com a América Latina, com o relacionamento
privilegiado com os Estados Unidos, portanto, privilegiando a nossa vocação
histórica/marítima que é a vocação Atlântica e se é possível conciliar esta
vocação com a participação activa na construção do projecto europeu, uma
participação activa e empenhada como temos feito desde 86, e, de que forma é
que, o conceito é muito bonito conceptualmente todos concordaríamos, mas de que
forma é que podemos, de facto, operacionalizar esta nossa dupla vocação, esta
dupla vertente.
Uma segunda questão que gostaria de colocar ao Dr.
Costa Neves tem um pouco a ver também com a sua sensibilidade quanto àquilo que
é hoje em dia o projecto europeu. De facto, o projecto europeu essencialmente o
que é? É um projecto geográfico? Acaba nas fronteiras da Europa? É um projecto
de valores que poderá ir para além das fronteiras da Europa e criar aqui um
espaço de estabilidade em toda a Europa, Médio Oriente e África? É um projecto
de tradição cultural e histórico, isto é, é apenas baseado nas raízes Judaico
ou Cristãs ou podemos ir um pouco mais além? Esta temática até esteve há pouco
tempo bastante em voga aquando da discussão do alargamento para a Turquia ou
eventualmente outros países. Portanto, qual será, eventualmente, o cenário,
estamos aqui a especular mas tínhamos também a curiosidade pessoal em saber um
pouco a sua sensibilidade, como poderá ser, eventualmente, uma Europa unida a
um espaço europeu, a um espaço Euro-Asiático unido daqui a 20, 25 Anos. Muito
obrigado.
Carlos Costa Neves
Tudo boas questões. Claro que o Carlos, além de
partilhar comigo o nome, só pode vir de Évora, isso faz-me recuar uns anos no
tempo porque eu fiz o que é hoje o 6.º,7º e 8.º ano de escolaridade em Évora,
e, portanto, também tenho um bocadinho de eborense.
Vamos então à questão completa, o Atlantismo e o
Europeísmo. Eu penso que não são questões antagónicas, que mais uma vez são
conciliáveis. Discute-se muito a organização desta futura política externa e de
segurança comum e quando se discute esta política externa e de segurança comum,
segurança implica defesa, defesa implica forças armadas, implica sistemas de
defesa e sistemas de defesa nós temos estado na NATO. A NATO tem feito a ponte
entre os dois lados do Atlântico ou das duas margens do Atlântico, tem feito o
encontro entre a Europa, a América, o Canadá, tem feito, portanto, o encontro
entre as duas margens do Atlântico. Dentro dos que defendem esta política
externa de segurança comum, que me parece que é mais ou menos pacífica em
termos de defesa para futuro e de necessidade, a Europa não pode aparecer
dividida e de braços caídos em questões como a questão do Iraque, por exemplo.
Dentro desta discussão há duas tendências. Há aqueles que dizem: A Europa só
terá força se, se afirmar sozinha, de alguma forma em rivalidade com os Estados
Unidos. E há aqueles que dizem: É preciso aproveitar a NATO, onde há uma
experiência de dezenas de anos de esforços conjugados, os Estados Unidos não
têm culpa nenhuma das fragilidades da Europa em matéria de defesa e que dizem
que nós temos que encontrar ou continuar a encontrar uma plataforma que junte
esforços.
Eu penso que a NATO é basilar em qualquer solução
de futuro, não acredito muito nesta ideia de pólo contra pólo, um pólo América
um pólo Europa, acredito mais numa situação de equilíbrio multipolar e de
equilíbrio multipolar conjugado. Aliás, uma das perguntas do Carlos era
exactamente, depois como é que nós pomos a Europa em conjugação com as zonas
tradicionais de relação de Portugal ou com as outras zonas do Mundo, com o
euro-asiático, com África, com o Brasil, etc. . Eu acho que a concepção tem que
ser sempre de abertura e tudo o que tentamos afirmar contra qualquer coisa,
nomeadamente contra aliados, normalmente dá mau resultado. Acho que é
perfeitamente possível o aprofundamento da relação da NATO e a NATO continuar a
ser a grande organização de defesa na Europa envolvendo os Estados Unidos.
Acho, aliás, que esta teoria dos pólos não é boa e acho também que isolar os
Estados Unidos não é inteligente. Deixar o papel e o campo todo aos Estados
Unidos não é inteligente, isolar os Estados Unidos não é inteligente, até
porque eles têm hoje a capacidade de defesa que mais ninguém tem e têm a
capacidade de defesa que têm porque fizeram as opções que fizeram e outros não
fizeram essas opções, e, portanto, a questão é, para mim, relativamente
comezinha.
Em relação à Europa, ao Brasil, à África, às relações de Portugal com essas zonas
tradicionais de relação, a Europa mais uma vez potencia esse interesse. A
questão é esta: Para o Brasil ou para Angola, para ir buscar dois exemplos,
interessa muito mais uma relação privilegiada com um Portugal que faz parte da
União Europeia e que tem consigo a União Europeia e que pode influenciar na
União Europeia do que interessaria um país com 10 milhões de habitantes no
canto ocidental da Península Ibérica, e, portanto, nós que estamos mais
despertos para a relação com o Mediterrâneo, para a relação com África, para a
relação com a América Latina, nomeadamente com o Brasil, podemos ter um papel
com esses países e dentro da Europa de sensibilização para essas áreas. Por
exemplo, nós temos tido um papel de estímulo à formação do MERCOSUL, uma
coordenação de mercado, na América do Sul,
em que o Brasil está
envolvido e a ter depois relações privilegiadas entre o MERCOSUL e a Europa,
temos tido aí um papel de estímulo e somos mais interessantes ao Brasil e à
Europa nesse papel, como o temos feito também
em relação ao Magrebe,
a Marrocos à Argélia, à Tunísia, como temo-lo feito
em relação a Angola
e a Moçambique. Somos, portanto, mais interessantes e mais úteis como parte da
União Europeia, potenciamos a nossa influência como parte da União Europeia,
mesmo junto dos nossos parceiros tradicionais.
Onde acaba a Europa, é uma excelente questão. Para
já tem limites geográficos, tem limites culturais, a Turquia está nos limites
geográficos mas é verdade que a Turquia entra nos campeonatos europeus de
futebol, a Turquia entra no festival da canção europeu, a Turquia entra na
NATO, a Turquia está na fronteira, efectivamente, entre a Europa e a Ásia, é um
ponto de conjugação de influências. Agora a Turquia não pode ser boa para estar
na NATO e não ser também aliciante para estar na União Europeia, até porque
penso que a adesão da Turquia à União Europeia poderia corresponder a uma maior
estabilidade na União Europeia. A União Europeia para ter eficácia já é tão
complexa com 25, com 27, com 28, que não pode ser uma organização mundial, e,
portanto, a União Europeia tem que ter os seus limites mas deve ter fórmulas, e
aqui é que me parece que há uma área importante a explorar, pode ter formas
especificas aprofundadas de cooperação com outras zonas do Mundo, nomeadamente
com aquilo que se chamam os novos vizinhos, com a Rússia, com a Ucrânia (não
vejo a Rússia na União Europeia nem é do interesse dela), com todos os países
da margem sul do Mediterrâneo, com Marrocos, com as Líbias, com as Argélias,
com as Tunísias, que sejam de associação tão profunda como se elas fizessem
parte da União Europeia apenas não fazendo parte das instituições, ou seja, o
conceito de associação pode ir tão longe, o mecanismo de associação ir tão
longe que apenas não entrarão na administração e no orçamento da União
Europeia, e, eu acho que temos que explorar isso, e assim vamos alargando o
espaço de abertura, alargando o espaço de flexibilidade, alargando o espaço da
prosperidade e isso é do interesse deles e é do nosso próprio interesse. Acho
que o futuro vai ser parar nos 34, 33, 35 quando entrarem os dos Balcãs, depois
de entrar a Bulgária e a Roménia, espaçado no tempo. A Ucrânia se ver-se-à,
estou convencido que a Turquia na melhor das hipóteses entra lá para 2015, e,
portanto, passo a passo. Com os outros não podemos fazer uma barreira ou uma
espécie de muro económico, temos que criar esquemas de associação cada vez mais
próximos.
Marco (Grupo Cinzento) (sotaque brasileiro)
Bom dia. Primeiro gostaria de agradecer ao Dr.
Carlos Costa Neves pela presença, como já foi dito, e também aos nossos colegas
dos outros grupos por terem limitado a minha pergunta, já que todas foram
óptimas perguntas… (Risos/Palmas) … e agora eu fiquei encavacado. (PALMAS)
Voltando à questão da cidadania, eu queria saber
mais em relação à sua opinião, já que é uma pessoa que tem conhecimentos em
Bruxelas e em relação a toda a Europa. Portugal é um país um pouco já
periférico a nível geográfico em relação ao centro de decisão europeu, acha que
o cidadão português também é periférico a esse nível, ao que é deliberado na
Europa e que em consideração aos outros cidadãos europeus se em França ou na
Alemanha onde há, onde são centro da Europa, há uma participação melhor não só
em quantidade mas em qualidade. E o que a nível nacional poderemos fazer (como
no caso a Universidade de Verão), para isso ser cada vez menos, o nível ser
cada vez mais igual entre todos os cidadãos a nível europeu. Obrigado.
Carlos Costa Neves
Acabei de receber uma lição de humildade porque
estava convencido que conseguia distinguir todos os sotaques dentro da sala e
deste nosso amigo não percebo donde é que ele vem… (sorrisos) … mas é bom às
vezes sermos confrontados com as nossas fragilidades que é para não ficarmos
cheios de nós.
Em relação à pergunta deste Grupo e formulada pelo
Marco e à periferia do nosso país. Espero que convosco se passe o mesmo, eu
sinto-me muito bem na pele de português e há uma frase, uma expressão que
começa a ser corrente também e que já muita gente usa, que os portugueses foram
pioneiros da globalização. Efectivamente os portugueses são cidadãos do Mundo,
nós temos uma certa capacidade de adaptação que nos faz viver com uma natural
capacidade, uma natural alegria, digamos assim, em qualquer sítio onde se
esteja e é interessantíssimo ter-se oportunidade de visitar portugueses
espalhados pelo Mundo em todo o lado. Tenho tido a oportunidade de correr
muitos sítios e tenho tido a oportunidade de encontrar portugueses nos sítios
mais inverosímeis, o último dos quais no Cambodja: É português? “Sou! Estou
aqui a trabalhar”. No Cambodja, onde não há uma embaixada portuguesa. Portanto,
há uma capacidade de adaptação, que vem de muito cedo e nós aí encontramos
alguns pontos de contacto, nomeadamente com os holandeses. Os holandeses embora
mais comerciantes, também são muito cidadãos do Mundo. Isto para dizer,
portanto, que a nossa periferia é relativa e a nossa periferia em relação a
quê? A nossa periferia, estamos no extremo da Europa é verdade mas estamos mais
perto dos Estados Unidos, e, portanto, podemos ter aí um papel de ponte. A
periferia é sempre uma periferia em relação a qualquer coisa, e, portanto,
neste caso concreto eu acho que dadas as nossas características próprias, nós
conseguimos superar essa localização geográfica que nos põe a dois mil
quilómetros do centro da Europa.
Claro que temos que ter um especial cuidado se
temos esse handicap da distância, em termos da nossa afirmação na Europa de que
já falámos, os funcionários portugueses o seguir também as questões, etc.
Na minha região há 9 ilhas, a ilha mais pequena é
a segunda mais perto da América chama-se Corvo e tem 376 habitantes e fica
longe, tem mau tempo, às vezes é difícil lá chegar e só se chega de barco, e, a
gente chega lá e ouve os Corvinos falar de tudo o que se passou no Mundo meia
hora antes e leram os jornais todos da semana anterior, os jornais não chegam
no dia, que foram publicados em Portugal e sabem mais do que se passa no nosso
país e do que se passa no Mundo do que nós, porque são uns consumidores
obsessivos de notícias para quebrar o seu isolamento natural. Se nós somos mais
periféricos temos que ter mecanismos e temos que desenvolver mecanismos que
aproveitem as nossas condições naturais, que nos empurraram para ser cidadãos
do Mundo, para podermos estar mais presentes na União Europeia e quebrarmos
estas barreiras. Depois se a participação é melhor na França e na Alemanha, não
é. A participação nas questões europeias, pelo menos em termos de voto, está
muito semelhante em todo o lado, o que é um problema com que a União Europeia
se confronta e é um dos grandes desafios com que a União Europeia se confronta,
que é aproximar-se mais dos cidadãos.
Por último, o que podemos fazer, participação. Eu
acho que nós não podemos pôr só o tema em termos europeus, como há pouco noutra
resposta tentei indiciar, temos que pôr a preocupação e o tema em termos da
nossa participação cívica em tudo. O que é que nós podemos fazer para que cada
um trate mais de si e das coisas que lhe interessam e se envolva mais no que
interessa a si e a todos é um grande desafio mas é um grande desafio com que
estamos todos confrontados, não só em relação à Europa. Esta Universidade de
Verão, como eu dizia, é uma hipótese, outras hipóteses haverá, mais
comunicação. O Grupo Parlamentar do Parlamento Europeu tem página na Internet,
o Carlos Coelho tem página na Internet, o Carlos Coelho tem um papel
fundamental na organização de um jornal que circula por tudo o que é sítio, por
tudo o que é instituição. Ensinem-nos também como é que pode ser mais
estimulante, se calhar pode haver aqui um inquérito, também a dizer: Dá duas ou
três ideias de como é que isto pode tocar mais, como é que pode desenvolver
mais ou porque é que não te envolves mais, não tem respostas definitivas
infelizmente.
Carlos Lopes (Grupo Rosa)
Muito bom dia. Depois de termos sido duplamente
assaltados e nos terem desaparecido três questões do papel, resta-nos falar-lhe
directamente e tentar conhecer melhor o perfil e a opinião estritamente pessoal
de quem, efectivamente, tem capacidade de decidir e de influenciar.
O que lhe perguntamos é se, efectivamente, se
considera um federalista ou um adepto de uma confederação de Estados/Nações.
Por último se embora tenha abordado
superficialmente a questão aquando de uma das perguntas do Grupo Roxo, acredita
numa União Europeia nos moldes da UEFA, de Reiquejavique a Telavive, de Lisboa
a Moscovo.
Carlos Costa Neves
Muito obrigado ao Carlos Lopes, que só pode ser de
Mangualde efectivamente.
Quanto às duas questões, como é que eu me carimbo,
é muito difícil carimbar as pessoas e é muito difícil carimbar os projectos e é
muito difícil carimbar e acho que é escusado carimbar.
A questão põe-se da seguinte forma: Se me
perguntarem, acredita no projecto da União Europeia? Acredito. E acredita de
que forma? Acredita que a União Europeia possa esbater o que representa ser Portugal,
Estado soberano e Estado Nação? Eu digo não. No dia
em que a União Europeia
não for uma união de Estados, as pessoas reagirão e a União Europeia acabará.
Portanto, dentro de mim o que há é um compromisso.
O conceito federalista é pôr um carimbo que tem
sido posto para Estados…, uma Federação de Estados é uma entidade política, é
em si um Estado. O
exemplo mais conhecido de Federação de Estados são os Estados Unidos, é a
Alemanha. Mas nós quando olhamos para os Estados Unidos vemos os Estados Unidos
da América como um Estado soberano. Se me perguntarem se eu quero ver a União
Europeia como um Estado soberano, não. Eu quero ver a União Europeia como a
soma de 25 Estados soberanos, que encontre formas de pôr soberania em comum,
que através de um Tratado que acorde pôr em comum partes que tradicionalmente
estavam reservadas a cada Estado em particular, que as aceite pôr em comum mas
sem perder a sua identidade como Estado com 9 séculos de história. Portanto,
dentro de mim o que há é um compromisso, que todos nós percebemos quando nos
perguntam: Gostas mais do papá ou da mamã? Gosto mais dos dois. Portanto,
aquilo que eu quero preservar é os dois.(Risos, Palmas) Aquilo que quero
preservar é os dois, e, portanto, é escusado estarmos aqui com grandes oratórias.
Esta construção europeia é uma solução política
original, que tem aprofundado as áreas de cooperação e de coordenação, tem
aprofundado as áreas postas em comum. Olhando para as experiências do passado é
verdade que tem traços daquilo que no passado conhecíamos das federações mas
tem uma diferença essencial em relação às federações porque é formado por
Estados soberanos, e, portanto, não quer que Portugal seja um Minnesota, quer
que Portugal seja Portugal Estado/Nação, Estado/ Soberano dentro de uma associação
de Estados. E, portanto, não deixo de reconhecer os traços federalistas mas
quero uma União Europeia de Estados e de cidadãos.
Segundo: Onde é que acaba a Europa? Tentei
responder antes, eu acho que a Europa está a atingir os limites das suas fronteiras,
suponho que fará muito sentido ter um acordo de associação muito próximo, muito
estreito com a Rússia, um acordo de associação muito forte, muito estreito com
o Norte de África, tendencialmente acordos de associação cada vez mais
estreitos, mais fortes com outras áreas do Mundo, com a Austrália, com a
América Latina, com o MERCOSUL, com os Estados Unidos. Mas que a União Europeia
partilhando instituições comuns acaba com mais 1,2,3 alargamentos. Acaba,
portanto, algures nos Balcãs, acaba algures em Lisboa, acaba algures em
Reiquejavique, acaba algures em Roma ou na Sicília e depois sim acordos de
associação muito fortes, por uma simples razão é que depois esta originalidade
do projecto tenderá a desaparecer. Eu não vos oculto que um dos perigos, há
dois perigos nesta construção europeia neste momento e com estes alargamentos.
O primeiro perigo é aquilo que é normalmente designado por Directório, ou seja,
que haja um conjunto de Estados que sejam mais que os outros, mais Estados que
outros, são todos iguais mas uns são mais que outros, um perigo é esse do
Directório. E outro perigo é o esbatimento das regras democráticas,
nomeadamente da capacidade de controlo, e, portanto, há uma dimensão máxima
possível e eu suponho que nós vamos atingindo o máximo possível.
Vanessa (Grupo Castanho)
Bom dia. O nosso Grupo Castanho também tem duas
questões a colocar, contudo uma delas já foi parcialmente respondida, por isso
não irá tirar muito tempo, isto é, até que ponto o melting pot europeu que
corre nos dias de hoje, nos faz perder a nossa própria identidade.
A segunda questão é: Falou de mercado comum e da
necessidade de existir uma aproximação de sistemas fiscais. Nós gostaríamos de
saber até que ponto é que Portugal cumpre com o seu objectivo. Obrigado.
Carlos Costa Neves
Muito bem. Parece que a Vanessa será daquele sítio
que está aqui em minoria, ontem ouvi dizer que Lisboa tinha apenas 20. Nós
todos, de alguma forma, somos de Lisboa. (RISOS) (PALMAS). Em contrapartida não
há ninguém que seja verdadeiramente de Lisboa. (RISOS) (PALMAS).
A questão do sistema fiscal e da segurança social,
esses são desafios que estão em cima da mesa. Não há hoje em dia uma política
comum fiscal de segurança social, há uma certa coordenação, e, portanto, há uma
aproximação de sistemas. O sistema fiscal, grosso modo, é o mesmo mas diverge
nas taxas, diverge nas prioridades, tem a ver com a prioridade de cada Estado
Membro, daquilo que ele valoriza, do respectivo estádio de desenvolvimento,
daquilo que ele quer promover. Agora, não deixa de ser é um aspecto que não
pode deixar de estar em linha de mira, porquê? Porque, suponhamos que nós
descobrimos que em termos económicos os nossos principais concorrentes são a
República Checa, a Hungria, um terceiro qualquer e suponhamos que em termos
fiscais, nomeadamente para instalação de empresas e em termos de eficácia da
respectiva administração, eles são mais eficazes e mais interessantes do que
nós. O que é que vai acontecer? Vai acontecer que onde houver condições mais
favoráveis as coisas vão-se desenvolver. É exactamente o que acontece com
qualquer cultura, quer dizer, se nós pusermos uma semente em terra mais rica e
mais tratada e mais trabalhada o sucesso ou as possibilidades de sucesso são
uns e o contrário também é verdade e as possibilidades de sucesso são menores.
Com a segurança social é a mesma coisa. Temos um
sistema que divide a responsabilidade dos descontos para o sistema de segurança
social, entre patrões e empregados e que faz mais ou menos a proporção de dois
terços/um terço e que chega aos 30%. Se esses Estados assegurarem as mesmas
respostas de forma tão eficaz e a preços mais baixos, e, se o contributo dos
patrões ou dos trabalhadores para a segurança social for mais baixo, eles são
mais competitivos. E, portanto, no momento em que tudo circula livremente, no
momento em que houver um mercado interno, no momento em que tivessemos, por
absurdo, todos a mesma competitividade, todos a mesma capacidade profissional,
se houver uns com sistemas fiscais mais efectivos, mais reduzidos e mais
eficazes, com menos fuga ao fisco, por exemplo, e, portanto, aproveitando mais
todas as possibilidades e todas as capacidades esses Estados estão em vantagem.
Portanto, isso são áreas onde cada vez que damos um passo, em termos de União Europeia,
nos confrontamos com novo desafio. E, portanto, sim senhor, mercado interno
realizado. Mercado interno realizado agora era preciso uma moeda única. Sim
senhor, mercado interno realizado, moeda única, aproximação dos graus de
desenvolvimento, o desafio da competitividade. Sim senhor, vencemos o desafio
da competitividade, bom mas para sermos competitivos como país, temos sistema
fiscal e temos sistema de segurança social que também precisam de ser
coordenados, e, portanto, umas arrastam as outras e umas coordenações arrastam
as outras coordenações, e, é isso que leva aos pequenos passos que a União
Europeia tem dado. E os pequenos passos que a União Europeia tem dado é tornado
simultaneamente ponto de chegada e ponto de partida de cada um dos passos que
se vão dando. Nesta Conferência Inter-Governamental vai ser muito discutido
(não a intervenção da Comissão em matéria fiscal, já toda a gente a aceita),
alguns Estados Membros dizem que essa decisão deve ser por maioria, outros
dizem que a decisão deve ser tomada por unanimidade. Nós achamos que
provavelmente em matéria fiscal justifica-se que por mais uns tempos a decisão
seja por unanimidade, portanto, que a União Europeia só tome decisões nessa
matéria por unanimidade, embora simultaneamente estejamos apostados em reduzir
a unanimidade ao mínimo possível. Não é possível uma União Europeia a 25
funcionar, sem que a regra seja o voto por maioria, não é possível termos
unanimidade. Em cada um dos grupos azuis, roxos, verdes, amarelos que nós temos
ouvido falar agora, se a cada um de vós perguntarmos o que é que preferiam para
almoçar, nós teríamos profundas divergências. É óbvio que em relação a questões
fundamentais da nossa vida, nós não vamos conseguir sobreviver com a
unanimidade e devemos reservá-la para a excepção onde estão interesses vitais
em jogo. Aonde? Política externa de segurança comum, fiscal, e, mesmo aí, penso
que como fase intermédia.
Carlos Coelho
Por acaso estás errado, porque se perguntasses a
todos os grupos o que é que queriam almoçar, por questão de delicadeza todos
diriam: Cozido à Portuguesa. (RISOS)
Nuno (Grupo Beje)
Muito boa tarde a todos. Começava, desde já, por
agradecer esta exposição tão interessante. O grupo beije depois de aturada
discussão e grande investigação sobre a temática da Europa, chegou à conclusão
que gostaria de voltar a discutir a questão da soberania, partindo de alguns
pressupostos, que é o seguinte:
A essência política costuma-se caracterizar, a
soberania de um Estado ou de um país pelo facto de ter, em primeiro lugar,
moeda própria. Em segundo lugar ser agente e dono e senhor e detentor do poder
político no seu ordenamento jurídico interno. E, em terceiro lugar ser agente
de Direito Internacional. Portugal já abdicou de parte da sua soberania ou como
o Secretário de Estado diz: “ potenciou soberania ao entrar no euro”. Logo
podemos dizer que, na verdadeira acepção de classificação de essência política,
já não é um país 100% soberano. E, nesse sentido também, poderemos afirmar, e
vai de encontro àquilo que se falava há pouco de tentar caracterizar o que é
União Europeia, que a União Europeia pode ser considerado já um espaço
PROTOFEDERAL, no sentido em que tem características de Federalismo. Assim sendo
e a nossa pergunta, do grupo beije, era a seguinte:
De que forma encara o Governo Português o processo
de integração europeu, em particular a possibilidade de Portugal abdicar ou se
quisermos “potenciar” o poder de ser um agente de Direito Internacional, com o
objectivo de se implementar na União Europeia uma real política de segurança e
de defesa comum.
No caso de não ser esse o entendimento ou que até
que isto venha a ser uma realidade, de que forma poderá a União Europeia se
afirmar como uma potência, como um todo, homogénea, no Mundo, tanto a nível económico
como a nível político sem avançar para uma política de defesa comum. Muito
obrigado.
Carlos Costa Neves
Muito obrigado. O Nuno tem uma das características
essenciais para ser um bom cidadão europeu, porque é um especialista de
compromisso. Quando me perguntaram, apesar de também ser um especialista de
compromisso não vou tão longe que possa ser tão abrangente, quando se pergunta
ao Nuno a comida preferida, ele diz que são petiscos tradicionais portugueses,
portanto, são todos, o meu Cozido à Portuguesa, os vossos Arrozes de Cabidela,
e com um tiro mata todos... (Ri)...e, portanto, efectivamente procura o máximo
denominador comum e tira o proveito do máximo denominador comum.
Quanto à questão propriamente dita preparada por
este grupo e estas novas concepções, acho que nós não podemos por um lado
reconhecer que o Mundo globaliza, que o Mundo avança, que o Mundo é outro, que
tudo muda com a aproximação dos vários Continentes, de estarmos aqui hoje e dez
horas depois podermos estar no Japão, de estarmos aqui hoje e uma hora depois
ou duas horas depois podermos estar em Bruxelas, estarmos aqui hoje e podermos
entrar em contacto com qualquer lugar do Mundo por esta via em termos
instantâneos de termos à nossa frente ou nos nossos bolsos os telemóveis, de
termos o esbatimento das distâncias, de nos vermos uns aos outros na televisão,
podermos ter tudo isso e simultaneamente querermos cristalizar determinados
modelos, não podemos. Não podemos cristalizar esses modelos, porque os desafios
são outros, tudo mudou e porque nós deixámos de ser o nosso pequeno espaço e
fazemos parte de espaços cada vez mais alargados, e, portanto, essa é uma
realidade. Mas também em termos de organização política nós temos que ter essa
evolução e a União Europeia, na minha perspectiva, é uma resposta a esta
necessidade de alargamento de espaços e de inter-cooperação. A distâncias são
menores e para nós termos afirmação nesse Mundo mais globalizado, mais geral
temos que ter outra capacidade de afirmação, temos que juntar a nossa capacidade
de afirmação à capacidade de afirmação de outros. E, portanto, daí que surja
esta ideia de União Europeia e que nós não podemos, como eu dizia há pouco,
carimbar porque a União Europeia não existe sem cada um dos Estados, portanto a
União Europeia existe com estas parcelas e nós somos elementos essenciais da
União Europeia. A União Europeia é um conjunto de que nós somos um
sub-conjunto, para entrar na matemática, que não sei se ainda se diz assim. É
esta concepção, que é uma concepção nova, que é uma concepção que pretende
responder aos desafios e às exigências do tempo que passa, que representa a
União Europeia. Claro que vai buscar e vai beber experiências do passado, claro
que tem traços que foram comuns noutras experiências, claro que tem traços que
vêm dos Gregos, dos Romanos e se calhar dos Lusitanos, tem, efectivamente,
traços que vêm desses tempos. Como tem traços que vêm das experiências
federalistas, como tem traços que vêm das experiências da Suíça,
confederalista, como tem traços que vêm de agora e que vai ter traços que virão
do tempo que se lhe seguirá e disso depende a sua vitalidade. Portanto, a União
Europeia, na minha opinião, deve continuar a ser uma construção flexível e
original, em que Portugal é uma das parcelas, e, deve actuar como uma das
parcelas, ou seja, deve ser relevante, não deve ser zero, deve ser 5,6,7, deve
contribuir para o total da soma.
Como é que nós nos afirmamos ou como é que a
Europa se afirma como um todo também no campo económico/político ou militar. No
campo económico já se afirma, por exemplo:
Começa hoje exactamente em Cancun uma reunião,
considerada importante, da OMC, que põe todos os parceiros da Organização
Mundial de Comércio em conjunto, a discutir a continuação do esbatimento de
determinado tipo de barreiras comerciais, nomeadamente. Nessa reunião
em Cancun a União
Europeia aparece com uma posição da União Europeia. A
Política Comercial está comunitarizada, portanto, em matéria económica, em
matéria comercial a União Europeia tem uma política de conjunto. E não se ouviu
dizer que tivesse havido grandes divergências para se chegar a essa posição
conjunta. Claro que houve debates, houve reuniões, às vezes parecem infindáveis
mas chegou-se a uma conclusão.
Agora há o desafio do político e do político mais
do que o político o da defesa e o militar, esse é mais complexo. E nesse, todos
têm querido ter “sol na eira e chuva no nabal”, ou seja, a França está muito
empenhada numa política europeia mas se perguntarmos à França: Está disposta a
abdicar do seu lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e
dar esse lugar à União Europeia? Ela responde: Era o que faltava! Portanto,
“sol na eira e chuva no nabal”, o que é difícil, só não é difícil para alguns
políticos muito habilidosos e normalmente mais próximos do Partido Socialista,
esses conseguem ter sol na eira e chuva no nabal, de resto normalmente é uma
impossibilidade, tudo na nossa vida são escolhas e até agora não houve vontade
política suficiente, desses Estados mais fortes, para abdicarem de parte do seu
poder de decisão e da sua capacidade de decisão nesta matéria. E, portanto, o
Reino Unido, a França, a Alemanha, essencialmente esses, não têm tido grande
vontade de alterar a situação por muito que digam que o querem alterar. Temos
que reconhecer, ao mesmo tempo, para não sermos injustos, que estamos numa área
especialmente delicada e especialmente complexa. Temos que reconhecer, ao mesmo
tempo, que a continuação lógica deste processo e como forma de afirmação no
exterior, não podemos aparecer muito mais vezes como aparecemos perante a
situação do Iraque, Perante a necessidade de coordenar e perante a dificuldade
de o fazer vamos ter que encontrar mais uma vez um compromisso, uma solução que
afinal nos permita dizer: gosto de todos os petiscos tradicionais portugueses.
Permita ter a resposta às duas questões essenciais, que são sempre as duas
questões que baralham aqui, União Europeia/Soberania de Estado, União
Europeia/Soberania de Estado, encontrar o compromisso, a ponte. Agora, a ponte,
como qualquer escolha, implica abdicação, escolher é abdicar, e, portanto,
também se vai pôr o problema, um dia, de quem tem assento no Conselho de
Segurança das Nações Unidas ser a União Europeia, e, espero que nesse mesmo dia
também, se dê por finalizada finalmente a Segunda Guerra Mundial, porque a
França e o Reino Unido têm assento no Conselho de Segurança mas a Alemanha não
tem, porquê? Porque foi a potência derrotada na Segunda Guerra Mundial.
Passaram 60 anos, somos todos Membros da União Europeia, porque carga de água é
que o Japão, a Alemanha, o Brasil e alguns Estados Africanos não são Membros do
Conselho Permanente de Segurança das Nações Unidas? Portanto, há toda uma
rearrumação aqui a fazer, mas é preciso que se queira fazer e que eles também entendam
que partilhando acrescentam. Nesta matéria ainda não é consensual.
Carlos Coelho
Fizemos a ronda dos 10 grupos, estamos mesmo em
cima do nosso tempo, ainda podemos ter 1 ou 2 perguntas, tipo pergunta rápida,
resposta rápida. Tenho um pedido do Luís Newton para fazer uma pergunta. Alguém
mais deseja fazer uma pergunta ao Senhor Secretário de Estado?
Vamos fazer um conjunto de perguntas rápidas e o
Dr. Costa Neves responde rapidamente.
Luís Newton
Bom dia Senhor Secretário de Estado dos Assuntos
Europeus, Dr. Carlos Costa Neves.
A minha intervenção agora é como coordenador do
Grupo Encarnado, relativamente à questão que lhe colocámos não nos sentimos
totalmente esclarecidos. Com o devido respeito julgo que terá eventualmente a
ver com a forma como colocámos a questão.
Nós quando lhe perguntávamos qual a mais valia que
o português trazia à Europa e o que o europeu traz ao português, era no sentido
de compreender qual a postura, qual a atitude, quais, eventualmente, alguns
princípios culturais, que como o senhor Secretário de Estado na altura como
Deputado Europeu tenha sentido no seu período… passando ao lado das questões
financeiras, a questão dos subsídios não é relevante, está presente também mas
refiro-me sobretudo às questões culturais, aquilo que tantas vezes nos separa,
de que forma é que isso nos pode unir. Essas questões culturais que se calhar
interferem em processos negociais, se calhar interferem em processos de
decisão, qual o seu “feeling” enquanto Deputado Europeu e enquanto Deputado
Europeu essa experiência que acumulou o que é que nos pode transmitir
relativamente aos outros Estados Membros. Muito obrigado.
Alexandre
Bom dia. A pergunta que tenho refere-se também à
questão do sistema fiscal e económico. Com o aparecimento do euro foi criada,
até certo ponto, alguma expectativa. Do seu ponto de vista para quando antevê
um verdadeiro equilíbrio económico tanto a nível de ordenados, preços dentro da
Comunidade Europeia, se é que isto não será um mito. Obrigado.
Cláudia Bento
Tendo em conta a triste realidade mas é a verdade,
temos uma Europa dividida entre grandes e pequenos, gostaria de saber se
acredita que Portugal liderando os países pequenos vai conseguir impor o
sistema rotativo da Presidência da União Europeia.
Ricardo
Bom dia. Na apresentação fez referência à unidade
na diversidade na Europa, representada naturalmente pelos símbolos na União
Europeia, bem sei que o Dr. Costa Neves teceu críticas muito incisivas à
Comissão Europeia em Fevereiro de 2000 pelo esquecimento aparente dos
objectivos da coesão europeia.
Assim sendo, gostaria de saber a sua opinião sobre
como é possível assegurar a coesão interna e a credibilidade externa da Europa
perante a constante e continuada negação dos símbolos europeus, nomeadamente a
moeda por parte de alguns Estados Membros. Obrigado.
Carlos Costa Neves
Muito bem. Muito obrigado.
Em relação ao conjunto de questões, dirigindo-me
mais, agora, àquilo que parecia ser a vossa pergunta das mais valias de
Portugal na Europa e da mais valia do E.D. de Portugal mas ligando mais à minha
experiência, entramos no campo, um pouco, da abstracção e da emoção mas é uma
experiência que eu faço com gosto. Eu acho que quando nós olhamos para o grupo
de Portugal na União Europeia, há uma flexibilidade mental e uma capacidade de
tolerância e de procura de entendimento dos outros que ajuda a fazer pontes e
compromissos. Pela nossa forma de ser, de estar, da nossa história, somos um
determinado resultado e há coisas que são instintivas e aquilo onde eu penso
que nós temos uma certa facilidade de fazer, um contributo que nós temos de
dar, capacidade de dar, é este contributo para o compromisso para a busca de
entendimento, somos flexíveis, pensamos, improvisamos. O improvisar não é
sempre mau, quer dizer: “A capacidade de improviso dos portugueses é uma
coisa...”, é terrível quando só assentamos no improviso. Agora a nossa
capacidade perante uma situação, desenrascarmos a situação, somos muito mais
flexíveis que outros povos, somos muito mais originais, somos mais criativos,
isso nota-se e isso tem um efeito positivo.
Num outro nível, o contributo de Portugal para a
União Europeia é também Portugal, embora tenha uma pequena dimensão, tem uma
história que pôs em contacto com vários espaços do Mundo há muitos séculos, o
que aumentou o nosso grau de tolerância, a nossa capacidade de compromisso, a
forma como nos aceitamos a nós próprios mas também é uma boa fórmula,
emprestamos isso à União Europeia de os pôr em contacto com essas realidades
que não conhecem. O que é para um polaco África ou o que é para um polaco a
América Latina ou mesmo o que é para um polaco a Ásia? São Países Europeus, do
Centro Europeu, a sua relação com o exterior é sempre uma relação com algo de
estranho. Nós temos uma facilidade grande de pôr em conjunto os vários espaços
e acho que isso é um contributo que damos para uma riqueza da União Europeia.
A União Europeia em relação a nós, o que é que nos
pode emprestar? Pode-nos emprestar o rigor que nós às vezes não temos, pode-nos
emprestar, a título de exemplo comezinho, esta coisa de acabar reuniões a tempo
e acabar a tempo. Aqui entre nós, uma das vezes que fui ao Parlamento Nacional
tinha uma reunião às dez horas e a reunião era das dez à uma, e, pensei que das
dez à uma, começa às dez e acaba à uma, não começou às dez começou às dez e
meia ou às dez e quarenta porque havia outra reunião entretanto, razões
perfeitamente compreensíveis mas começou às dez e quarenta. Eu depois tinha um
almoço com os membros da Convenção nesse dia, os membros portugueses, e comecei
por telefonar às dez para a uma a dizer que estava um bocadinho atrasado,
depois telefonei à uma e meia a dizer que estava atrasado para as duas horas e
eles foram dizendo que podiam esperar, até que finalmente telefonei a dizer que
tinha que cancelar e eram duas e meia da tarde, saí de lá às três.
Bom, rigor, rigor, o tal estímulo que lhes falava,
o porem-nos metas, o porem-nos objectivos, porque se a capacidade de
desenrascar tem em certas circunstâncias e pela flexibilidade o seu encanto, o
ser capaz de planear e de prever e de organizar também tem o seu encanto, e,
portanto, nós podemos ir buscar essas coisas a outros. Digamos que seriam estes
os pontos que eu salientaria mais da minha experiência pessoal.
Quando é que o euro gerará preços e ordenados
iguais. Isso é uma situação ideal, é o fundamento da política de coesão. Acho
que não pode haver União Europeia sem política de coesão económica e social, e,
portanto, é para isso que tendencialmente caminhamos. Agora soluções igualitaristas
ou igualitárias não existem, existiam em regimes comunistas que faliram, quer
dizer, não existe. Portanto, isto vale como ideal, vale como busca, nós nunca
vamos ter toda a gente a ter ou a querer a mesma vida ou o mesmo estilo de vida
ou a ter o mesmo rendimento, até porque o esforço será diferente, as
oportunidades serão diferentes, as características das pessoas são diferentes,
há sempre diferenças. Agora, como ideal, como aproximação global, aproximarmos
ordenados e preço, acho que podemos manter a expectativa mas para isso temos um
desafio, que acho que é o maior desafio com que Portugal está confrontado, que
é o desafio da competitividade. Temos que nos preparar mais, temos que ter mais
gente nas nossas universidades, temos que saber aproveitar as pessoas que
passam pelas nossas universidades, não podemos continuar a ser o país que menos
pessoas com formação superior tem, mas simultaneamente aquele que mais
desempregados tem com pessoas com formação superior. Em função do estímulo que
a União Europeia nos pode dar nós podemos chegar lá, há trabalho de casa para
fazer, também depende de nós, não cai do céu e depende dos próximos 60 anos de
vós e nos próximos 30 de mim. Portanto, têm mais responsabilidade do que eu
nisso.
Quanto à questão dos grandes e pequenos e impor um
Presidente rotativo da União Europeia. Eu disse-vos que a União Europeia é
muito complexa, os interesses dos Estados são muito diferentes, nós não vamos
conseguir impor um Presidente rotativo. Aquilo que não conseguimos impor na Convenção,
não vamos conseguir impor na Conferência Intergovernamental, porque nós
queremos e achamos que tem encanto mas outros não querem e acham que não tem
encanto. Conseguimos que todos os Estados Membros mantenham um Comissário,
conseguimos que todas as línguas sejam línguas oficiais, conseguimos que a
Comissão Europeia continue a ter o exclusivo da iniciativa, portanto, metemos
alguns golos, mas temos que aceitar que isto é um conjunto e que outros têm que
meter também alguns golos, não é como no futebol em que pode acontecer uns
meterem e outros não meterem e claro que quando são verdes metem mais.
(Risos/Palmas) Esta referência aos verdes não foi tão inocente como isso, foi
para provar que o interesse dos verdes é provavelmente diferente do interesse
dos vermelhos, dos azuis, dos brancos ou dos amarelos e que isso também se
passa na União Europeia. E que numa Convenção nós temos que defender com toda a
convicção as nossas posições mas temos que reconhecer, pelo menos, o direito
aos outros de defenderem também as suas posições. E o compromisso é isso mesmo,
e um bom compromisso, costuma-se dizer, é um compromisso em que ninguém está
completamente satisfeito. Mas, vale a pena, sem criar grupos formais, vale a
pena esse grupo de reflexão que há organizado entre pequenos e médios porque,
obviamente, potencia a nossa influência e vamos continuar com esse grupo em
funcionamento, e, curiosamente a maior parte dos países desses Estados Membros,
desses Estados que são pequenos e médios, são como Portugal. E é uma das
vantagens que o alargamento tem para Portugal, há mais Estados pequenos e
médios com este alargamento na Europa, nove dos dez que vão entrar são da nossa
dimensão ou mais pequenos que nós, o que aumenta o grupo de pequenos e médios
Estados dentro da União Europeia.
Quanto à última pergunta do Ricardo, o melhor
organizador que eu conheço, a pessoa mais disponível, pessoa de quem eu gosto
muito está sentado ao meu lado esquerdo, o que não quer dizer que não precise
de estímulo e que não precise, por exemplo, de alguém que pense que se calhar o
Carlos Coelho, como os outros todos, precisa de almoçar, precisa de tomar
pequenos-almoços, não pode comer almoço Coca-Cola e bolachas e precisa de ao
pequeno-almoço comer nem que seja uma torrada, um ovo estrelado, etc., e,
portanto, embora o Carlos Coelho seja tão próximo da perfeição, nós temos que
chegar ao pé do Carlos Coelho e dizer-lhe: Isto agora é hora de pequeno-almoço,
tu vais-te sentar aqui ao meu lado e vais tomar o pequeno-almoço. E, portanto,
a Comissão tem as suas vantagens, tem as suas virtudes, tem os seus encantos e
acho que a construção Europeia deve ter muito como base a Comissão, mas
simultaneamente a Comissão precisa de ser estimulada e nós precisamos de ir
dizendo: Estou aqui, estou aqui, estou aqui, e atenção que o meu problema de
coesão não está resolvido, e atenção que eu tenho problemas de competitividade,
e atenção que eu preciso de mais ajuda na ajuda de emergência aos incêndios
porque eu tenho muito dinheiro para gastar na recuperação da floresta em
Portugal, e atenção, e atenção, e atenção, e atenção. Portanto, por muito que
eu esteja convencido das qualidades do Carlos Coelho, ele precisa de uns
empurrões e por muito que eu esteja convencido das potencialidades da Comissão
ela precisa de estar sobre pressão. E, portanto, é exactamente isso que explica
a aparente contradição ou a contradição real entre o que às vezes se diz numa
altura e o que se diz noutra. Mas, não deixo de assinalar que a pressão para
que a política de coesão continue a ocupar um lugar central nas políticas da
União Europeia é essencial, porque a União Europeia está a tentar fazer cada
vez mais omoletes com menos ovos e não é possível fazer cada vez mais omoletes
com menos ovos e aí entram outra vez os Estados Membros ou nós também criamos
novo esquema de definição de receitas da União Europeia ou não é possível
continuar a crescer em competências com o mesmo dinheiro. E, portanto, o grande
desafio é encontrarmos solução e encontrarmos solução mantermos a pressão para
que políticas que nós consideremos essenciais para o nosso país e para a União
Europeia se mantenha. (PALMAS)
Carlos Coelho
Muito obrigado. Antes de dar por encerrados os
Trabalhos, de acompanhar o nosso convidado lá fora conjuntamente com o Jorge
Nuno e de vos pedir para ficarem mais um minuto, que o Gonçalo virá aqui
fazer-vos um desafio, queria chamar a atenção para sete informações breves:
Primeiro: Alguns dos participantes pediram para
ter acesso ao PowerPoint do Dr. Carlos Costa Neves, ele está já na intranet,
portanto, podem fazer o download quando quiserem.
Segundo: Simpaticamente a região de turismo local
ofereceu-nos uns sacos com material regional, que estará disponível para todos
à saída.
Terceiro: Num registo de participação que me é
dado assinalar e agradecer, prova que estamos a ser de facto interactivos, já
recebi quase 20 sugestões, tão diferentes quanto a de me dizer onde é que eu
devo estar sentado ao jantar, qual deve ser a ordem rotativa dos grupos, fazer
perguntas porque os últimos podem ficar com as perguntas exauridas por aqueles
que falam antes, portanto, fazemos aqui um sorteio para alternar a ordem dos
grupos. Sublinhar que cada grupo só deve fazer uma pergunta porque quando fazem
muitas perguntas roubam as oportunidades aos grupos que falam a seguir, a
altura do écran por causa das últimas filas que não vêem parte do PowerPoint.
Há um conjunto de sugestões que nos estão a chegar e que nós vamos tentar
responder imprimindo alterações na forma como estamos organizados mas que prova
que estamos a funcionar. Quem está a dar sugestões não se esqueça de recolher
novos impressos de sugestões junto da recepção, bem como a quem já fez o
concurso “Eu achei curioso”, são fichas nominais, podem recolhê-las junto da
recepção.
Quarto e penúltimo: Recordo que até à hora do
almoço é o prazo, todos os dias, para entrega das vossas perguntas escritas às
personalidades, sob pena de depois não ser possível fazer a selecção, de
contactar a personalidade e obter a resposta. E o “Eu achei curioso que” deve
ser entregue até à hora do intervalo do café, ou seja, à hora do início dos
trabalhos de grupo, às dezassete e trinta.
Finalmente, não se esqueçam que é muito
importante, é essencial a vossa participação na avaliação anónima das sessões,
eu já preenchi a minha avaliando o tema “Europa” e, agora, quando for
acompanhar o Dr. Carlos Costa Neves à saída, já colocarei na urna. Não têm que
fazer já, podem fazer durante todo o dia, os cadernos de voto estão disponíveis
na recepção, e, portanto, a qualquer hora podem votar mas não se esqueçam de o
fazer.
Gonçalo Capitão para vos fazer o desafio, salta
para aqui e nós vamos sair. (PALMAS)
Gonçalo Capitão
Vamos à parte do desafio, que é ouvirem-me durante
três horas a dizer que isto é tudo mentira sobre a Europa e que a Europa é uma
fraude. (RISOS) Não, a verdade não é nada isto.
Tenho ao meu lado esquerdo o Hélder Santos, que é
Presidente da Distrital do Porto é o outro avaliador desta Universidade de
Verão que chegou agora, e por isso também se associa aqui ao desafio. O desafio
é muito simples e breve porque também gosto muito de vocês, e, por isso vou-vos
dizer para irem almoçar um ovo estrelado e coisas no género. (RISOS)
Fila por fila, começando pela primeira, noutra
ocasião começaremos pela última, terão nas vossas pastas uns cartõezinhos com
um ponto, suponho. E o que vos vou pedir, fila por fila eu dou-vos a indicação
quando a fila já tiver os pontos contados, é que classifiquem o mais
sinceramente possível esta iniciativa do ponto de vista da utilidade, que
utilidade é que este painel teve para vós. Isto é importante, obviamente como
calculam é impossível saber quantos pontos é que cada um deu, e, portanto é
confidencial mas é importante para em futuras organizações o Carlos poder
avaliar se o tema vos caiu bem ou não, se gostarem do orador. Enfim, resumindo
digam-nos por favor qual é a utilidade deste painel para cada um de vós.
Pedia à primeira fila que pontuasse este painel do
ponto de vista da utilidade e que tenham a bondade de esperar até eu ter a
indicação de que está tudo contado.
Obrigado. Agora pedia à segunda fila que pontuasse
o painel.
Terceira fila.
Quarta fila, por favor.
Quinta fila e quem está para trás da quinta fila
agradecia que votasse, por favor.
Agradeço-vos, peço-vos,
em nome do Carlos Coelho,
que sejam pontuais para a parte da tarde e de momento nada mais temos para vos
vender. (RISOS e PALMAS)